Saturday, September 30, 2006

Segundo turno já!


Eu desconheço as virtudes e os problemas da gestão de César Maia na prefeitura do Rio de Janeiro. Não sei se ele é ou não um bom prefeito, mas sei que ele é uma raposa da política e sabe muito bem o que diz.
Nas suas newsletter’s, ou o seu ex-blog como ele diz, César Maia destrincha análises, pesquisas e programas eleitorais como um mestre. Quinta passada, afirmou que já podemos contar com segundo turno nessa eleição. O que ele afirma é baseado nas seguintes prerrogativas, que para mim fazem todo sentido:
1) Alckmin vai continuar a crescer nestes últimos dias seguindo a tendência das últimas pesquisas;
2) Ninguém nunca teme mais votos do que a avaliação ótimo+bom do governo, que no caso de Lula vai de 44 a 47%. Este é seu teto de votos;
3) As pesquisas feitas durante a semana tem como base mais pessoas da população que não é econômicamente ativa, na sua maioria eleitores de Lula. Os resultados são ligeiramente distorcidos a seu favor;
4) As pesquisas indicam 7 a 9% de abstenção+brancos+nulos. No dia da votação essa porcentagem vai ser muito maior, no mínimo de 17,74% (igual ou maior a eleição de 2002. Grande parte destes não-votos estão entre a população de menor renda e menor grau de instrução, ou seja, eleitores de Lula.
Eu vou com César Maia e digo que a esperança é a última que morre!

Monday, September 25, 2006

Voto com ética


Quis participar de uma blogagem coletiva promovida pela Laura (www.lauravive.blogspot.com) com esse tema, o voto com ética.
Já disse aqui que por questões burocráticas não pude transferir meu título para a Holanda, e por isso, suspiros de remorso e arrependimento, me dei como missão convencer ao maior número possível de pessoas a votarem decentemente, suspiro de esperança.
Enquanto nos aproximamos das eleições, a imagem que me vêm à mente é a de Diógenes, um de meus ídolos, com sua lanterna em plena luz do dia à procura de um homem honesto nas ruas de Atenas.
Quando penso nos brasileiros chegando perto do momento de votar imagino-os todos de lanterna na mão, tentando decidir quem escolher na urna. Há canalhas, ladrões, vagabundos, sanguessugas, aproveitadores, cafetães, capachos, pelegos, coronéis, picaretas, mensaleiros, sacoleiros, e tantos outros simplesmente corruptos. Mas homens honestos há poucos. Na política brasileira existe apenas um Fernando Gabeira para cada cinquenta ou talvez cem Severinos Cavalcantis.
É preciso reler Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Hollanda para descobrir como chegamos até este ponto. O Brasil sempre teve esses políticos de rincões, populistas, daqueles que empregam toda a família no gabinete, privilegiam amigos nas negociatas de contrato, ganham aquele subornozinho por fora, constroem alguma obra superfaturada para inaugurar com o nome de alguém ilustre da família e se aposentam com o patrimônio quintuplicado depois de três ou quatro mandatos.
Esse tipo de político dá que nem saúva no país. Infelizmente só aprenderemos a nos livrar deles quando entendermos que político é o nosso empregado, e não o contrário. Mas por outro lado, esse tipo é facilmente identificável. Basta uma estudada mais profunda em suas biografias e comparar seus discursos e suas ações e já perceberemos de que tipo se trata. A ética dessa gente é a de usar o poder em benefício próprio, e o povo é manipulado para este fim.
Mas desde que o PT chegou ao poder há quatro anos atrás, descobrimos ou outro tipo de corrupção. Um novo, e mais grave do que o que conhecíamos. Mais grave porque atentou contra as instituições democráticas, bases do Estado de Direito e da República. Uma corrupção que, em nome de uma certa ética, pretendia criar um projeto de poder para o PT. Essa ética do PT pretendia que o fim, um suposto estado de bem estar social do povo, justificasse os meios, todos e quaisquer meios. “Nunca antes neste país” houve tamanha e obscena promiscuidade entre partido e governo, público e privado. "Nunca antes neste país" vimos tantas malas pretas sendo passadas de mão em mão, entre publicitários, empresários, ONG’s, estatais, políticos e contas nas Bahamas.
Será que tudo isso é permitido em nome do bem do povo? Essa é a ética torta e imoral de Marilena Chauí, Rose Marie Muraro, Paulo Betti e Zé Celso Martinez Corrêa. Essa é a ética dos que dançam enquanto ladrões são absolvidos no Congresso. É a ética dos capangas do presidente que se entregam aos leões para salvar o chefe que continua dizendo que nada viu e nada sabia. É Nero, cego e surdo, tocando a lira enquanto Roma arde. Será louco, incompetente ou conivente?
ESSA NÃO É A MINHA ÉTICA!
Tudo em nome do povo a quem Lula rouba o futuro com sua Bolsa Miséria. O ditado chinês diz que é melhor ensinar a pescar do que dar o peixe. O PT pode admirar o PC Chinês mas não liga para sabedoria milenar. Com sua esmola, mantém os miseráveis contentes enquanto o país cresce ao ano menos do que o Haiti, e os banqueiros ganham bilhões com nossos juros estratosféricos.
O PT quer fazer crer que esta eleição é uma disputa entre as misteriosas elites (que na verdade nunca lucraram tanto como no seu governo) e o povo. É mentira. É uma eleição a ser decidida entre os mais e os menos informados. E uma constatação cruel da sociedade brasileira é que os mais desinformados são os que ganham menos, por consequência os que mais se beneficiam com a Bolsa Miséria.
Vemos hoje Lula beijando a mão de Jader Barbalho e abraçando Newton Cardoso, dois dos melhores exemplares do primeiro tipo de corrupto que descrevi aí em cima...Até isso vale para se manter no poder, jogar a própria biografia no lixo e se juntar ao que há de mais imundo na política brasileira.
É preciso dizer com todas as letras, em nome da minha ética que não é a deles: o voto nesta eleição tem que servir a tirar o PT do poder. Em nome da justiça, da democracia, da república, do estado de direito, em nome simplesmente de quem trabalha e vive honestamente.
Diógenes, certa vez andava contra o fluxo na saída do teatro de Atenas. Quando lhe perguntaram o que estava fazendo disse: "o que fiz toda minha vida".
Informe-se, pense por você mesmo e saberá como votar com ética. Ou saíremos todos de lanterna na mão.

Maluco beleza...


E se esse fosse o cara que tivesse todas as respostas, e eu passei, vi, sorri, e nem perguntei...

Marisa Monte no Cirque Royal de Bruxelas


Lá estava eu, na turnê ''Universo ao meu Redor '' de Marisa Monte que promete ser um sucesso. Aplaudida de pé por um Cirque Royal cheio até o teto, a diva brasileira deu um show de verdade.
Cantando músicas dos dois novos trabalhos, Universo ao meu Redor e Infinito Particular e ainda canções dos Tribalistas, Memóras, Crônicas e Declarações de Amor e até de Cor de Rosa e Carvão, Marisa Monte esbanjou simpatia, conversou em francês ainda que esfarrapado com a platéia, fez graça e tocou violão e cavaquinho acompanhada de 10 excepcionais músicos. Sua presença e aquela voz exuberante encantaram o público misto de belgas e brasileiros.
O cenário com grandes blocos de luz móveis, e em certas músicas com imagens de velas, pássaros e bandeiras são uma atração à parte no show.
É engraçado observar as pessoas na platéia antes do show, principalmente os brasileiros. Brasileiro na hora do show começar ainda está lá fora conversando ou esperando alguém. Só entram mesmo na última chamada...Dentro do teatro, um brasileiro reconhece outro brasileiro amigo no canto exatamente oposto da sala e aí são gritos e acenos até ser visto. Atrás de mim uma brasileira contava a história da sua vida ao vizinho de poltrona, e em função da ótima acústica, ao resto da sala também. Brasileiro também curte ficar se ligando pelo celular para se encontrarem dentro do teatro. Brasileiro acha super legal ir a show de brasileiro com camisa da seleção. E brasileiro adora dar gritinho de uhuuuu ! quando acaba a música. Os brasileiros no final do show querem ir lá na frente sambar mas são barrados pelos seguranças do Cirque.
Os belgas por sua vez entram na hora e esperam sentados bem quietos. Mas saem no meio do show para irem buscar mais cerveja lá fora. e os brasileiros pelos menos tomam banho antes de saírem de casa para um teatro. Como se vê, às vezes diferenças culturais podem ser interpretadas como falta de educação, e não é bem assim. Entre os brasileiros barulhetnos e os belgas sem banho eu prefiro bem mais a animação brazuca. Mas tem também aqueles que acham que artista é juke box e ficam lá berrando o nome da música gostam na esperança de ver o pedido atendido. Às vezes a falta de educação é falta de educação mesmo.

Tribune de Bruxelles
Marisa Monte est l'une des plus importantes chanteuses de la musique moderne Brésilienne. Suite à sa fructueuse collaboration avec Carlinhos Brown et Arnaldo Antunes qui donna d’ailleurs naissance en 2002 au cd "Tribalistas", elle sorta 2 brillants albums, UNIVERSO AO MEU REDOR et INFINITO PARTICULAR. Le premier album est une compilation d’anciennes et nouvelles sambas innédites en collaboration avec David Byrne. Le deuxième cd est dans la lignée de son précédent travail mais avec un côté plus pop. Là aussi l'on retrouve plusieurs remarquables coopérations avec divers stars/acteurs/chanteurs tels Seu Jorge, le maître minimaliste Philip Glass, Carlinhos Brown et le violoncelle Jaques Morelenbaum (entre autre Caetano Veloso). Cela fait déjà 6 ans que Marisa s'est produite en Belgique lors d'un spectaculaire concert à l’AB où plus de 2000 personnes on pu admirer ce show des plus épatants. Il n'y a en effet pas que la musique et la voie de Marisa qui sont uniques, l'habillage des ces shows sont égalements des plus originaux. Le samedi 23 septembre, elle viendra présenter ses albums en compagnie d'un groupe de dix musiciens au Cirque Royal de Bruxelles.

Friday, September 22, 2006

Grizzly Man and Crocodile Hunter


Existe uma fronteira entre homens e animais que não se deve transpor. Uma linha invisível que surgiu desde que começamos a andar sobre duas pernas, a falar e a enterrar nossos mortos, há alguns milhares de anos atrás.
Assisti ao filme de Werner Herzog, The Grizzly Man, sobre o ambientalista Timothy Treadwell. Este ex-ator frustrado e alcóolico encontrou nos ursos do Alasca uma razão para viver. Passou os últimos treze anos de sua vida fazendo visitas anuais à uma reserva ambiental na península onde acampava todos os verões e registrava a vida dos ursos com suas câmeras. Em Outubro de 2003 foi atacado e devorado por um urso. O piloto que o vinha buscar ao final de suas temporadas na reserva encontrou apenas partes de seu corpo e do de sua namorada espalhados no local do acampamento. O resto foi encontrado dentro da barriga do urso, morto por caçadores dias depois.
Herzog peneirou horas e horas de documentários de Treadwell para fazer um filme surpreendente. Pelas suas próprias confissões, descobrimos que a vontade de Timothy Treadwell é de renunciar à civilização. Ele quer cruzar a fronteira de volta à Natureza que ele tanto ama e que tanto quer proteger. O filme surpreende porque em vez de assistirmos um documentário sobre ursos, assistimos ao drama de um homem, um excluído da sociedade que quis voltar a ser bicho para escapar de uma vida medíocre, e que acaba morrendo como um.
Impossível assistir o filme e não se lembrar do Crocodile Hunter Steve Irwin, embora este não partilhe com aquele a raiva do mundo civilizado. Irwin dizia que era fácil proteger cangurus e coalas, que todo mundo acha fofinhos. O grande trabalho dele era o de convencer as pessoas a admirarem e protegerem bichos como cobras, crocodilos e aranhas. Quando vi Steve pela primeira vez na National Geographic sacudindo najas venenosas pelo rabo e gritando “crikey, he almost got me!”, eu pensei que um dia ele se daria mal. O Crocodile Hunter morreu de uma ferroada de arraia há duas semanas atrás.
Lembrei me também de um outro casal de vulcanólogos franceses, que estavam sempre presentes para filmarem e estudarem todas as erupções de vulcões no planeta. Desapareceram no Japão durante a erupção do monte Uzen há alguns anos.
Muitos ambientalistas e ecologistas fanáticos acreditam por princípio que a Mãe Natureza é sempre boa, e nós é que não sabemos lidar com ela. Mentira.
A Natureza não é boa nem má, mas tem suas regras e se as violamos não perdoa nunca. Um urso com fome é capaz de devorar seus filhotes. Uma arraia acuada vai lançar seu ferrão, mesmo contra um ambientalista. Uma cobra ameaçada vai picar, nem que seja uma criança. Um terremoto no mar provoca um tsunami, mesmo que milhares de miseráveis percam a vida nele. O que nos parece cruel e impiedoso na verdade é a Natureza agindo dentro de suas leis. Quando cruzamos a fronteira, como Irwin e Treadwell estamos expostos à essa crueldade. E é justamente o fato de acharmos estas leis da Natureza cruéis é que o homem começou a inventar as suas próprias leis. É a aversão a esta crueldade que nos faz humanos,e o motivo pelo qual não se deve cruzar esta fronteira.

Monday, September 18, 2006

Istoé uma vergonha


É uma vergonha que a Istoé, e outros da imprensa, tenham se vendido tão inescrupulosamente aos interesses do PT. Quando se pensa que o PT chegou no limite eles dão um passo a mais e tentam nos levar junto para o abismo. Eu ainda estava acompanhando a estória das cartilhas pagas com dinheiro público que desapareceram quando aparece o PT tentando comprar de um mafioso dossiers falsos contra José Serra.
Porque há sempre um petista com uma mala de dinheiro atrás de todo escândalo que surge?
Do blog do Reinaldo Azevedo: A canalhice que uniu petistas e parte podre da imprensa em 10 passos
Ainda se faz alguma confusão sobre qual era exatamente a seqüência imaginada pelos bandidos do petismo e da imprensa no caso que tentou envolver Serra com os sanguessugas. Então vamos refazer o roteiro:
Primeiro Passo
Dia 14/09 – Quinta-feira - Luiz Inácio Lula da Silva concede uma alegre entrevista a Franklin Martins e Fernando Mitre, da Band, em que diz que mais de 80% dos casos de corrupção começaram em governos anteriores. Entrega no ar o que seria um dossiê sobre as quadrilhas de governos passados.
Segundo Passo
Dia 14 – Quinta-feira - No mesmo dia, sai publicada a seguinte nota no Blog do Noblat: “Luiz Antônio Vedoin, dono da Planam e chefe da Máfia dos Sanguessugas, deu entrevista que ocupará sete páginas da próxima edição da revista ISTOÉ. Ele disse que pagou propina a José Serra, na época ministro da Saúde, e a Barjas Negri, secretário-executivo do ministério, para que liberassem grana destinada à compra superfaturada de ambulâncias. "
Terceiro Passo
Dia 15 – Sexta-feira - Um outro blog, chamado “quidnov”, traz a reprodução, em PDF, da matéria da IstoÉ antes mesmo de a revista chegar às bancas. Monta-se uma verdadeira rede para espalhar a matéria-bomba.
(Aqui, leitor, vamos fazer de conta que os bandidos não tivessem sido presos, Ok? Então segue o roteiro. A matéria é um lixo, conforme já desmontei aqui. Os Vedoin não têm nada. As “provas” são cheques que, dizem, estavam ao portador. Importante: na entrevista, pai e filho sustentam que os tucanos tinham um jeito diferente de trabalhar: prefeririam as emendas coletivas de parlamentares. Agora segue a parte do plano que falhou)
Quarto Passo
Dia 15 – Sexta-feira – Serra, naturalmente, negaria qualquer envolvimento com a quadrilha. Mesmo assim, a denúncia iria parar no horário eleitoral. Como foi — só que no de Orestes Quércia, do PMDB. A mídia tenderia a ignorar a fragilidade e a picaretagem da entrevista, como vinha ignorando. E levaria o caso para a TV. Na sexta, Serra era o entrevistado do SPTV. Certamente seria obrigado a falar sobre o assunto e a negar seu envolvimento.
Quinto Passo
Dia 16 – Sábado – Vazaria para a imprensa um “vídeo comprometedor” — como já está circulando na Internet — em que Serra aparece, como era sua função, entregando ambulâncias. E fazendo elogios justamente às emendas coletivas. Que, de resto, são mesmo melhores dos que as individuais.
Sexto Passo
Dia 17 – Domingo – Os jornais noticiariam o vazamento do vídeo. Aliás, mesmo depois de toda a safadeza comprovada, estão noticiando.
Sétimo Passo
Dia 18 – Segunda – O PT e o PMDB levariam ao horário eleitoral gratuito os jornais com os títulos dando conta do surgimento de fotos e vídeos. Mas nem tudo seria liberado, é claro.
Oitavo Passo
Dia 22 – sexta-feira – A uma semana das eleições, a IstoÉ antecipa de novo a sua edição, com a transcrição completa do vídeo supostamente comprometedor.
Nono Passo
Dia 23 e seguintes – PT e PMDB fazem um escarcéu danado, acusando Serra de estar envolvido com a máfia dos sanguessugas, provando a tese de Lula exporta na Band lá no primeiro passo, dia 14.
Décimo Passo
No melhor dos mundos, a candidatura de Alckmin estaria definitivamente enterrada e haveria uma chance de se levar a disputa em São Paulo para o segundo turno.

Razão, fé e fanatismo

Li a famosa aula que o Papa Bento XVI deu no dia 12 de setembro passado na Universidade de Regensburg.
O argumento do Papa, a posição em geral da Igreja Católica, e no fundo a base da nossa civilização Ocidental é a de que a fé e a razão não são excludentes, e sim complementares. A fé pressupõe a existência de Deus, sendo que a razão é um dom divino dado aos homens para descobrir os mistérios de Sua criação.
A conversa citada entre o imperador Bizantino Manuel Paleologus e um sábio persa serviu só para demonstrar a tese do Papa.
“Deus”, ele diz, “não se regozija com sangue – e não agir com razão é contrário à Natureza de Deus. Fé nasce do espírito, não do corpo. Qualquer um que queira levar alguém à fé precisa da habilidade de falar bem e raciocinar propriamente, sem violência e ameaças...Para convencer uma alma razoável, não se necessita um braço forte ou armas de qualquer tipo, ou qualquer ameaça de morte... A conclusão decisiva neste argumento contra a conversão violenta é esta: não agir de acordo com a razão é contrário à natureza de Deus.”
"Mostra-me então o que Maomé trouxe de novo e não encontrarás senão coisas malignas e desumanas, tal como o mandamento de defender pela espada a fé que ele pregava."
Os muçulmanos acusam o Papa de ofender o Islã e o Profeta. Afirmam que são uma religião pacífica. O modo de demonstrar este pacifismo é obviamente dando tiros para o ar, incendiando igrejas, ameaçando de morte todo cristão que aparecer pela frente e pondo a própria cabeça do Papa a perigo. Todo mundo sabe como são tratados cristãos em países como Sudão, Irã e Iraque.
Notker Wolf, da ordem dos Beneditinos sugere que o exemplo do diálogo entre Manuel e o Persa sejam uma indireta ao presidente do Irã Mahmoud Ahmadinejad. Este cínico aparece esta semana em uma entrevista à Time americana desejando paz e amor aos homens de boa vontade enquanto seus seguidores gritam Death to America e ele continua tentando construir bombas nucleares em seu quintal.
O fanatismo islâmico se espalhou pela população miserável dos países muçulmanos. Nesse processo deixou reféns os líderes destes mesmos países, pois ninguém consegue mais governar sem o apoio dos radicais.
O Papa não tem de que se desculpar. Os últimos moderados muçulmanos, se é que ainda existem, é que deveriam ter a coragem de estender a mão ao convite pelo diálogo que Bento XVI lançou.

Riobaldo, Lula e o Cramulhão


Elio Gaspari citou Lula em sua coluna de domingo passado. “Durante jantar de plutocratas a que Lula compareceu na quinta-feira, o empresário Eugênio Staub perguntou-lhe como pretendia fazer, durante o segundo mandato, as reformas que julga necessárias. Nosso Guia respondeu: ‘Staub, não acorde o demônio que tem em mim, porque a vontade que dá é de fechar esse Congresso e fazer o que é preciso’”.
O Demo, o Coisa-ruim, o Cramulhão, o Coxo, Satanás, Lúcifer, Asmodeu, Belzebu, o Sete-peles, o Cão, que meda! Estaria o Demônio tentando Lula como fez com Cristo no deserto? Seria a vocação totalitária do PT fruto das energias dos infernos?
Essa gente já mostrou e demonstrou sua ojeriza à democracia desde muito.
Para Lula, ofereço-lhe os pensamentos de Riobaldo, o jagunço de Grande Sertão Veredas, de João Guimarães Rosa que releio nestes tempos. Riobaldo é sertanejo como o presidente um dia foi, mas ao contrário deste oferece profundas verdades na simplicidade do que diz: “O senhor vê: existe cachoeira, e pois? Mas cachoeira é barranco de chão, e água se caindo por ele retombando; o senhor consome esta água ou desfaz o barranco, sobra cachoeira alguma?? Viver é algo muito perigoso. Explico ao senhor: o diabo vige dentro do homem, os crespos do homem – ou é o homem arruinado, ou o homem dos avessos. Solto por si, cidadão, é que não tem diabo nenhum. Nenhum! – é o que digo... O diabo regula seu estado preto, nas criaturas, nas mulheres, nos homens. Até nas crianças... O diabo na rua, no meio do redemunho...”
É como diz Riobaldo, assim como não há cachoeira sem água ou barranco, não há diabo sem quem o sustente. O demônio da ditadura só virá pela mão de gente como Lula, de gente como a que há no PT...

Tuesday, September 12, 2006

11/09

O dia de 11 de setembro de 2001 é uma daquelas datas fatídicas onde cada um se lembra exatamente onde estava e o que estava fazendo no momento em que ouviu a notícia de que dois aviões haviam se chocado contra as torres gêmeas do World Trade Center. Aqui na Holanda já era um começo de tarde, e o escritório inteiro parou para acompanhar o drama na TV.
Documentários sobre tudo o que aconteceu é que não faltaram nesse aniversário de 5 anos da tragédia. Conheço toda a história de Bin Laden e da Al Qaeda, e todos os “se” que poderiam ter impedido o atentado em Nova York.
A verdade é que aconteceu e teria acontecido de um jeito ou de outro. Inacreditavelmente há gente no planeta que passa os dias a planejar como matar os outros e achando ainda por cima que desse jeito chegará ao Paraíso.
A política externa de Bush, que tomou só coragem de sair do rancho depois do ataque, não ajudou em nada a tornar o mundo um lugar mais seguro. Basta olhar os jornais todo dia e ver que a guerra está acontecendo todo dia em Bagdá, no Afeganistão, no Paquistão, na Índia, nas Filipinas, na Indonésia e nos guetos europeus.
Esta é a verdadeira vitória de Osama Bin Laden, a guerra. Como ele mesmo disse, vocês amam a vida, nós amamos a morte.
Para os islamitas fanáticos, o Islã é uma religião pacífica e justa, obviamente depois que todos os infiéis estejam mortos ou convertidos. O Islã fanático não tem futuro, é um sistema que pressupõe um controle total da mente de seus fiéis. O bicho homem felizmente é incapaz de parar de pensar, e um sistema desses só tem como fim a auto-implosão. Essa é minha esperança e minha convicção.
Enquanto isso é o papel do Ocidente convencer o Islã moderado das vantagens da democracia, de estabelecer a paz com Israel, e finalmente de fazer chegar aos jovens iranianos, iraquianos, sauditas, jordanianos e todo o resto informação suficiente para que nunca parem de pensar. Esta será a única maneira de vencer o fanatismo. A pena vencerá a espada.

A ditadura do suor

Preciso emagrecer. Passos os dias no carro, no telefone e atrás de um computador. Meus dias de jogador de rugby já foram há muito tempo. O meu esporte no momento é levantamento de xícara de cafezinho. Bem, de vez em quando eu tento um squash, mas fico ali na quadra correndo como louco esperando a hora do enfarte bater.
Cheguei agora de uma destas modernas câmaras de tortura, horror dos horrores, uma academia de ginástica. Eu já tinha uma academia, e ficava com aquele remorso por pagar e não ir. Agora arrumei uma academia maior, mais bonita e mais cara para que o remorso seja ainda maior e eu me obrigue a ir de qualquer jeito. Uma loira com ares de aeromoça explicou o uso dos aparelhos, o computador que controlará seu desempenho e registrará suas atividades. Eu me sentindo na masmorra de Torquemada e ela lá falando como eu deveria saltar de um aparelho para outro quando a luz verde acendesse. E os xiitas da forma lá, pedalando no spinning com aquele olhar superior que quem está com os abdominais aparecendo através da camiseta suada...
Eu sei que tenho que emagrecer e me alimentar bem para ter uma vida saudável, mas recuso a patrulha e a obrigação.
Drogas são proibidas, já querem proibir ou no mínimo inibir o consumo de cigarro e álcool. Do jeito que vamos daqui a pouco será proibido ser gordo, ou os gordos pagarão mais impostos. Gordos são apontados na rua como doentes, assim como fumantes.
Por isso digo que a mídia, a sociedade, a moda, a propaganda e o governo estão no perigoso rumo de infantilizar as pessoas. Infantilizar porque privam cidadãos de decidirem o rumo das próprias escolhas.
No maço de cigarro está escrito: Fumar mata. Todo mundo sabe que bomba de chocolate engorda. Mas não temos mais o direito de escolher algo que diz respeito somente à nossa própria vida? A patrulha acha que não. Acham que o governo deve proibir, taxar, controlar, e se o governo não faz nada fazem eles. Como aquele que tosse desesperadamente quando alguém acende um cigarro a 50 metros de distância ou o outro que humilha o gordo na fila para entrar no avião.
O pai da criança obesa fala desesperado: o governo precisa tomar uma providência porque meu filho é obeso. E quem escolheu dar dinheiro ao guri para se entupir de chips e coca-cola na escola?
Desde que a pessoa esteja minimamente informada dos riscos que suas escolhas podem trazer, o resto é com ela. Toda tentativa de controle caminha para o perigoso rumo da ditadura.
Vou tentar emagrecer porque quero, sem que nenhum computador me diga: oh, santa Jane Fonda, você comeu uma rosquinha ontem, fora deste sagrado recinto de suor, e só volte depois de passar um mês comendo alface!
Minha vontade mesmo era voltar à pré-história e ao mais eficiente e saudável método para permanecer em forma: caçar para comer.

Sunday, September 10, 2006

Vivendo na Holanda


Acho que aproveitando o sucesso das Páginas da Vida, o jornal Opinião de Araras, terrinha de minha esposa, nos pediu um relato da nossa vida e experiência aqui na Holanda. Aí vai o que eu mandei. Saiu no Opinião deste domingo dia 10/09:

Vivendo na Holanda

Viver na Holanda é uma experiência no mínimo curiosa. O país tem de fato uma paisagem de novela. São casinhas de boneca, pontes e canais, bicicletas, barquinhos, flores, moinhos e vaquinhas pretas-e-brancas. No começo parece que chegamos a um país de brinquedo.
Amsterdam é provavelmente a única cidade que os turistas que vêm naquelas excursões dez-países-em-7-dias conhecem daqui, mas a Holanda de verdade é diferente e só morando aqui para se ver. É só nas cidades mais pequenas e antigas que vemos o holandês como ele é, andando de tamanco em casa, tomando litros de cerveja nos bares, vestido de laranja no Dia da Rainha e nos jogos de futebol do time nacional, indo trabalhar ou para a escola sempre de bicicleta. Sem grandes preocupações ou ambições. Uma casa, um trabalho, uma viagem de férias uma vez por ano. O que eles mais prezam é que (quase) ninguém por aqui quer ostentar um carrão ou uma mansão. Há políticos que fazem questão de irem trabalhar de bicicleta. As casas têm janelas de vidro enormes para que quem passe da rua veja que não há nada demais acontecendo ali dentro, nem muita coisa de valor a invejar. O crime de maior ocorrência é o roubo de bicicletas. É claro que a situação muda nas maiores cidades, onde também há lugares mal recomendados.
O choque seguinte vem com a língua holandesa. Para um brasileiro recém chegado, a quase ausência de vogais nas placas é desesperadora, e o som áspero das frases faladas ainda mais. É inacreditável que eles consigam ter música popular neste idioma, mas depois de alguns anos aprendendo viramos até fãs de alguns cantores e bandas holandesas.
Depois de algumas idas e vindas, acabamos por nos instalar na cidade de Gouda, de onde vem o queijo de mesmo nome, onde vivemos já há quatro anos e meio.
Gouda, é uma antiga cidade da província de Zuid Holland a seis metros abaixo do nível do mar. Da janela do nosso pequeno apartamento de cem anos de idade vemos as pás do velho moinho Rood Leeuw, a pontuda torre da igreja Gouwe Kerk, a simpática torre da antiga capela de Santa Bárbara, a austera torre da igreja de Sint Jan e a ponta do telhado da Stadhuis, a antiga prefeitura. Atrás de casa estão estacionados no porto da cidade antigas barcas de transporte, hoje transformadas em casas.
Mais à frente há uma tradicional fábrica de stroopwafels, os biscoitos típicos daqui. Aliás, biscoitos são o que a Holanda faz de melhor quando se fala de comida. A fábrica faz com que o bairro inteiro cheire a caramelo pela manhã. Pelas rua de pedras da Kuipstraat passamos pelo canal do velho mercado de peixe e chegamos em cinco minutos ao Markt. Esta é a praça, o centro vital de toda antiga cidade holandesa onde tudo era comprado e vendido desde a Idade Média e onde ainda hoje há feira todas as quintas e sábados.
Os holandeses sempre foram uma raça de negociantes. Eles ainda se lembram com orgulho da gloriosa Era de Ouro, no século XVII quando eram a maior potência econômica do planeta com colônias nos quatro cantos do mundo, incluindo o Brasil de Maurício de Nassau. Aliás por causa do comércio é que vim parar por aqui. O porto de Rotterdam é a porta de entrada de grande parte do que entra na Europa hoje, incluindo a carne brasileira que eu vendo por aqui.
A Juliana veio para cá com um diploma de fisioterapia brasileiro. Aí a conversa foi mais difícil. Exigiram o domínio da língua e um estágio para validar o diploma, em um processo que demorou dois anos e meio. Enquanto isso trabalhou com flores, foi babá e até professora de português. Hoje é ela quem fala melhor holandês em casa, e já trabalha contratada por uma clínica e ainda faz especialização em uma faculdade holandesa.
Sempre há o que fazer por aqui. Eu gosto do inverno, de ver os canais congelados, as crianças patinando, a neve e as árvores sem folhas. Gosto do charme dos cafés, dos restaurantes com velas, de ir ao cinema, aos bares e de tomar café com torta de maçã. A Juliana gosta do verão, dos passeios de bicicleta e de barco nos canais, de sair na rua de bermudas e ir à praia. E nós dois gostamos da primavera, com as tulipas por todo lado, e do outono com as folhas das árvores todas amarelas e vermelhas.
Felizmente fizemos amigos suficientes para termos companhias e festa quase todo fim de semana. O problema é que tem que por tudo na agenda por aqui, e é difícil arrumar uma desculpa para não ir àquela festa chata sendo que você está sendo convidado 3 meses antes do evento. Entre nossos amigos por aqui acabamos encontrando muitas mulheres brasileiras casadas com holandeses. Aparentemente as holandesas estavam tão preocupadas em se tornarem iguais em direitos aos homens que para alguns o feminismo passou do ponto...O casamento é perfeito já que a brasileira encontra um homem fiel e que divide as tarefas do lar, e o holandês encontra uma mulher que gosta de agradar e que é “caliente”como poucas holandesas sabem ser.
Apesar de imagem cosmopolita de Amsterdam e da Holanda em geral, a imigração ainda é a pedra no tamanco holandês. Durante o período de grande crescimento econômico do pós guerra chegaram levas e levas de imigrantes principalmente do Marrocos e Turquia e das ex-colônias Indonésia e Suriname. As grandes diferenças culturais principalmente com os muçulmanos são uma fonte de tensão constante na liberal sociedade holandesa. Frequentemente as comunidades de imigrantes isolam-se em bairros dentro das grandes cidades e vivem ali sem integrar-se ao país. Eles se dizem multiculturais, mas a verdade é que a Holanda é um arquipélago de culturas com poucas pontes entre elas. Com medo de serem acusados de racismo ou intolerância, os políticos holandeses preferiam ignorar o assunto, dando ênfase na manutenção de um estado de bem estar social como poucos no mundo. Isso até antes do 11 de setembro de 2001. Aliás foi logo depois que o país entrou em choque com o assassinato de Pim Fortuyn, um político extremista anti-imigração e de Theo van Gogh, um cineasta que criticava a intolerância dos muçulmanos. Fortuyn foi morto por um ecologista fanático por usar casacos de peles e Theo van Gogh, que era um descendente do famoso pintor, foi morto por um marroquino ultra-religioso.
Mas as gerações de imigrantes nascidas na Holanda e os filhos destes certamente são diferentes dos pais, e há esperanças de que consigam conviver em paz e harmonia com os princípios deste país.
Realmente, o vanguardismo da Holanda pode chocar as mentes mais conservadoras. Afinal o casamento gay, e adoção de crianças por gays, o aborto, a prostituição, o uso de drogas leves, a eutanásia, tudo foi legalizado aqui primeiro. Isso pode dar a impressão que esta terra tenha se tornado a Sodoma moderna, mas embora os holandeses apreciem a liberdade que o país lhes proporciona, você verá muito poucos deles rondando o Red Light District de Amsterdam, cujas ruas estão sempre lotadas de turistas em busca de sexo e drogas.
E finalmente, a Holanda é um país que gosta de arte. Grandes pintores e artistas surgiram aqui.
Desde a Idade Média com Bosch, passando pela Era de Ouro Holandesa com Rembrant e Vermeer até o impressionismo de Van Gogh e o modernismo de Mondriaan. Há excelentes museus para se visitar e ainda podemos ver nos bairros mais modernos de Haia, Rotterdam e Amsterdam o louco design dos arquitetos mais famosos no momento.
Enfim, dizem eles que Deus fez o mundo mas os holandeses fizeram a Holanda. Tomaram esta terra em séculos de luta contra o mar, lutaram pela sua indendência contra os espanhóis de Carlos V, depois contra os franceses de Napoleão, depois contra os alemães de Hitler. Navegaram o mundo todo, criaram obras de arte imortais e hoje vivem em um dos países com melhor nível de vida no planeta. É um lugar que vale a pena conhecer, e nem que seja só pela paisagem de cartão postal. Se querem um conselho venham em abril, quando florescem as tulipas, e ainda aproveita-se para tomar uma cerveja comemorando o aniversário da Rainha no dia 29. E venha de alaranjado.

Saturday, September 09, 2006

7 de setembro


No começo do ótimo filme “La Haine” de Mathieu Kassovitz, o narrador diz que esta é a história de um homem que cai do alto de um prédio. Durante a queda, para se sentir melhor, ele vai repetindo para si mesmo: até aqui tudo vai bem, até aqui tudo vai bem, até aqui tudo vai bem...
Me pergunto se não estaríamos vivendo assim hoje no Brasil. Até aqui tudo vai bem. Levamos tiros nos semáforos mas ainda estamos bem. Nous roubam a cada dia em Brasília enquanto nos matamos de trabalhar mas sempre há uma cervejinha no fim da tarde e um churrasquinho no final de semana. Faltam escolas e hospitais mas queremos ver as novidades na Caras e desfilar no Carnaval. Seus filhos podem comprar droga na esquina e suas filhas estão grávidas aos treze anos, mas nas novelas tudo acaba bem.
Estamos em queda livre, sem ter onde nos agarrararmos mas somos brasileiros e não desistimos nunca.
Há algo profundamente errado no modo como brasileiros encaram a vida. Estamos sempre esperando que nossos problemas sejam resolvidos por algum salvador da pátria no governo, milagres de algum santo ou ajuda da natureza. Somos infantis, nada do que fazemos ou nada do que nos acontece é culpa nossa.
Na minha faculdade, cada imbecil que batia o carro bêbado voltava na semana seguinte com um carro mais novo, presenteado pelos pais.Toda vez que tentava entender isso ficava tonto.
Uma mulher que abandona o filho ou o joga na lagoa é porque é mal compreendida e mal amada, toda a explicação está nas revistas femininas.
Os sem-terra que invadem e destroem propriedades privadas podem fazê-lo porque são oprimidos.
A Bruna Surfistinha virou puta porque o pai brigava com ela porque ela roubava e estava infeliz sendo a gordinha do Colégio Bandeirantes.
Alguém que sequestra e traumatiza um ser humano como Abílio Diniz é devolvido à sua terra porque é um “preso político”.
O Marcola tem o direito de transformar São Paulo em Bagdá porque os presos são mal tratados nas penitenciárias.
Para a Igreja Universal (e tantas outras, como diz o Reinaldo Azevedo não respeito nenhuma igreja com menos de 400 anos) se sua vida está dando errado é coisa do capeta, se dá certo é por influência deles, e trate de pagar seu dízimo e garantir já seu lugar no paraíso.
Nosso presidente será reeleito depois de ter promovido o maior esquema de corrupção da história do país porque sempre foi assim e como diz o Paulo Betti todo político tem que por a mão na merda.
Somos infantis, temos sempre a quem culpar pelos nossos erros e crimes.
De onde vem essa infantilidade toda? Herança cultural de portugueses, índios e negros misturados? Da mídia de massa e da publicidade? Ou será que a mídia e o marketing só se aproveitam disso?
Não sei, só sei que a cada momento que uma nova ideologia politicamente correta aparece já estamos nós lá a encontra uma desculpa nova.
Eu acredito que em cada indivíduo é que está o poder de separar civilização e barbárie.
E não adianta que o problema não é só educação. Os piores ditadores africanos estudaram nas melhores universidades européias. Não são todos doutores os políticos que nos roubam? Educação é muito mas não é tudo. Há muito pobre analfabeto com moral e muito advogado sem nenhuma.
Essa moral individual que nos dá a capacidade de distinguir certo e errado tem muitas fontes. E o Cristianismo é a fonte que mais influenciou nossa civilização ocidental.
Mas acredito em uma força mais poderosa ainda do que o Cristianismo para podermos nos agarrar nessa nossa queda livre: nossa própria história.
Somente olhando e estudando nosso passado é que evitaremos repetir os mesmos erros que outros já cometeram. A história não recisa necessariamente se repetir, nem como tragédia e nem como farsa.
Vai ser difícil, já que não nos lembramos mais nem do que aconteceu no mês passado. Mas somos brasileiros, e mesmo com toda a fama, com toda a brahma, com toda a cama, com toda a lama, a gente vai levando essa chama.

Wednesday, September 06, 2006

Equador


Continuando minhas novas descobertas na literatura portuguesa, acabei de ler agora Equador de Miguel Sousa Tavares.
O belíssimo romance descreve como um certo Luís Bernardo Valença, um dândi lisboeta é enviado como governador às ilhas de São Tomé e Príncipe, então colônia portuguesa, no início do século passado.
A economia das ilhas, naquele tempo (e até hoje), baseava-se principalmente na exportação de café e cacau, cujo principal mercado era a Inglaterra. O trabalho duro das roças dos colonos era feito principalmente por negros vindos de Angola, inicialmente como escravos e depois da abolição por “contratos” de trabalho temporários.
O pano de fundo do romance está na grande polêmica da época, a existência ou não de trabalho escravo nas colônias portuguesas. O desafio de Luís Bernardo é o de provar que não existe escravatura ao cônsul inglês enviado especialmente à São Tomé para investigar as condições de trabalho nas ilhas.
Do bom desempenho de sua missão, que lhe foi confiada pelo rei de Portugal em pessoa, dependem as exportações e por consequência toda a economia da colônia. Isso levando em conta que os maiores concorrentes de São Tomé na produção de café são justamentes as colônias inglesas na África continental, e baseados no relatório do cônsul inglês é que a Inglaterra decretará um embargo ou não às exportações tomenses.
No ambiente inóspito de São Tomé e Príncipe, em plena linha do Equador, Luís Bernardo enfrentará uma natureza luxuriante, a mentalidade atrasada dos colonos, revoltas de negros, malária e o pior, seu ponto mais fraco, mulheres.
Um livro espetacular, com uma prosa excepcional e um quadro vívido do crepúsculo da monarquia e do Império colonial português.

Monday, September 04, 2006

The Seeger Sessions


Outro dia vi um show de Bruce Springsteen pela TV, chamado The Seeger Sessions.
Hoje comprei o CD, que vem junto com um DVD contendo o making of do show.
Bruce decidiu fazer reviver o mito de Peter Seeger com a musicalidade dos instrumentos tradicionais mas a vibração e o entusiasmo de seus arranjos.
Seeger é fundamentalmente um “folk singer”. Se sua música fosse tinta, suas canções seriam imagens daquelas casas e igrejas de madeira nos pântanos da Louisiana, vilarejos empoeirados no meio-oeste, ranchos na mata do Tenessee e o Mississipi fluindo largo no coração da alma americana. Disse ele uma vez “I want to turn the clock back to when people lived in small villages and took care of each other”. Este é o melhor de Seeger. Depois, mais tarde em sua carreira, o ativismo político e sua música engajada iriam influenciar e repercutir na contra cultura hippie dos anos 60, mas não é essa a razão de existir deste álbum. Bruce Springsteen definitivamente acertou em cheio ao buscar as raízes mais profundas do folk, nas antigas canções de dança americanas como Old Dan Tucker, nas músicas gospel negras e batistas como em Mary Don’t Weep e Jacobs Ladder, nas baladas irlandesas e escocesas como em Mrs. McGrath e Froggie Went a Courtin. Uma viagem a uma América distante e diferente.

Saturday, September 02, 2006

Conto - A mulher do cego

Ninguém sabia porque a Isadora casara-se com o Sebastião. Talvez fosse por pena, mas ali na ilha ninguém acreditava que alguém como a Isadora pudesse ser piedosa assim.
O que ela queria é que todos a admirassem, não porque era morena da cor de açúcar mascavo, sedosa e sensual, com os cabelos negros encaracolados. Queria ser reconhecida, apontada e bem falada por cuidar do marido com tanto zelo. Talvez fosse como naquele livro de Steven Zweig, onde uma paralítica força um soldado a se apaixonar por ela chantageando-o com sua própria piedade. Beware of Pitty. Mas nesse caso era o contrário, ela queria que todos se apaixonassem por ela porque ela é que era a piedosa. Mas ninguém na vila caia muito nessa coisa da Isadora.
Sebastião era cego, não de nascença, mas cego que só via breu. Antes trabalhava noporto, e um dia em um acidente estúpido um tambor com algum produto químico caiu de uma grua sobre um ferro de construção. O Sebastião que fiscalizava ali a operação recebeu um jorro direto nos olhos, e devido à demora do doutor perdera a visão para sempre.
Era aposentado por invalidez. Não era bonito nem feio, mas já tinha uma certa idade quando casou-se com a Isadora que trabalhava na venda onde o Sebastião fazia as compras acompanhado do moleque Neguim, que sempre ganhava umas moedas com isso. Durante a semana seguia um ritual cronometrado. A Isadora lhe fazia café e ia trabalhar. Ele ia na praça da cidade com o Neguim e voltava para almoçar peixe com banana e farofa. De tarde ia sozinho até os rochedos da ponta da praia do Vargas, que se chama assim desde que a ilha é ilha mas não se sabe porquê, mas lá era onde nunca ia ninguém. Dizia que conversava com os golfinhos mas na vila o povo começava a cochichar que o Sebastião estava embirutando. Nos fins de semana ficava ali à porta da sua casa, perto da bananeira, na última rua da vila ouvindo o rádio enquanto a Isadora passava roupa para fora.
Foi uns anos depois do casamento que começou o caso da Isadora com o Benício. O Benício era filho do dono da distribuidora de bebidas e era mais ou menos à toa na vida. Nunca há muito o que fazer na ilha mesmo. Ele era arruaceiro de provocar briga em bar e galantear as solteiras de família na rua. Sempre mexeu com a Isadora no mercadinho que lhe sorria de volta mas sempre o mandava passear. O certo é que ele tanto fez que em um fim de semana à tarde foi ver a Isadora em casa. A Isadora ligou o rádio e aumentou bem o volume enquanto o Sebastião ficava no seu banco na porta azul perto da bananeira.
O Benício ficou conhecido entre seus amigos arruaceiros como o cara que comia a mulher do cego. As visitas que eram de vez em quando tornaram-se semanais. E sempre do mesmo jeito, ela aumentava o volume do rádio elá entrava ele pelos fundos.
Na vila todo mundo sabia mas ninguém falava primeiro por pena do Sebastião, e segundo porque o Benício batia forte. Uma vez chegara a quebrar o maxilar do Bento que dissera que ele era viado. Na vila, Isadora não dava moral para o Benício porque não queria que falassem, mas em uma ilha destas como é possível? Todo mundo já sabia.
Só que um certo sábado cinzento dia a força acabou como acontecia de vez em quando, o rádio desligou e o Sebastião deve ter ouvido por um instante o gemido dela no quarto. Ninguém sabe o que aconteceu. Só se sabe que o Sebastião tinha em casa um Colt 38 que ele afanara do tempo em que trabalhou em uma firma de segurança no continente. O tiro foi tão certeiro que entrou pela boca aberta da Isadora sem estragar-lhe a bela cara. Ninguém acreditava como um cego poderia ter dado um tiro daqueles sem querer ou por querer. O sangue ensopou o colchão e um fio vermelho atravessou a casa e saiu pela porta azul fazendo uma poça embaixo do banco perto da bananeira que desde então esturricou, morreu e nunca mais nasceu dizem.
O Benício vive bebendo agora e nem se lembra de nada, dorme na praça todo vomitado e não fala coisa com coisa.
O Sebastião sumiu. O Neguim ainda disse que viu ele nadando no meio do oceano na praia do Vargas, se afastando da ilha.
O Neguim de vez em quando mente e a gente da ilha não lhe deu muito crédito. Só foram acreditar no dia seguinte quando duas dezenas de golfinhos morreram encalhados na praia do Vargas.

I've Got You Under My Skin


I've got you under my skin
I have got you deep in the heart of me
So deep in my heart, you're really a part of me
And I've got you under my skin

I have tried so, not to give in
I've said to myself this affair it never would go so well
But why should I try to resist when I know so well
That I've got you under my skin

I would sacrifice anything come what might
For the sake of having you near
In spite of a warning voice, that comes in the night and
repeats
in my ear
Don't you know you fool you never can win
Use your mentality, wake up to reality
For each time I do, just the thought of you makes me stop
before
I begin
Because I've got you under my skin

Romero Britto


Tem algo de Andy Warhol, um toque de Picasso, talvez Liechenstein ou Miró.
Como disse o reitor da faculdade onde se diplomou Gaudí, estamos diante de um idiota ou de um gênio.
Romero Britto é um artista brasileiro que ao que parece está surfando no sucesso no exterior. Suas pinturas e gravuras são vivas, coloridas, divertidas.
Em todo caso vale a pena ver.

http://www.britto.com/

The End

É incrível que há 10.000 anos atrás estavámos a jogar pedras e gravetos uns nos outros e escrevendo em paredes de cavernas. Hoje, nossos astrônomos já conseguem prever como será o fim do universo daqui a trilhões de anos. Está na Time dessa semana.
Eles chegaram a uma conclusão sobre o nosso fim depois de algumas descobertas recentes. A primeira delas é foi ter descoberto o Big Bang, baseado na radiação cósmica. Depois, pela observação de supernovas descobrimos que o universo está se expandindo, e aceleradamente. Outra é que o universo é plano. E depois me dizem que há matéria escura no universo na proporção de 10 para 1 em relação à matéria visível. Não me pergunte como, pois as descobertas de astrônomos me trazem muito mais perguntas do que respostas. Bem, quando puseram tudo isso junto em um caldeirão de equações e descobriram The End.
As galáxias estão se afastando umas das outras. Apesar de sua força de gravidade, o universo não vai desacelerar e regredir em um Big Crunch. As estrelas do nosso céu sumirão uma a uma. Nosso sol será reduzido a um anão branco e terá uma morte lenta que durará 100 trilhões de anos enquanto a Terra e os outros planetas serão reduzidos a pedaços de rocha e gelo vagando no vazio negro e gelado do espaço. Eventualmente tudo o que sobrará no universo serão buracos negros, que por sua vez se desintegrarão em partículas soltas. E nós, existiremos ainda como alguma forma de consciência etérea? Boa pergunta, mas vamos nos perguntar primeiro se conseguiremos chegar vivos até a semana que vem. Em todo caso é melhor olhas mais as estrelas antes que sumam de vez.

Fatigare

Em napolitano, dialeto de meus ancestrais maternos, não existe uma palavra para se dizer trabalhar. Diz-se “fatigare”.
Ainda tenho sorte, tive uma semana de cão mas gosto do meu trabalho. Meu cansaço não é físico, já que não faço muito além de sentar no computador e passar o dia ao telefone. Em semanas como essas o cansaço é moral, e na maioria das vezes causado por gente grossa, arrogante e/ou ignorante com as quais sou obrigado a me relacionar profissionalmente. Como disse ainda tenho sorte, mas me pergunto quantas pessoas no planeta realmente estão satisfeitas com o trabalho que têm. Nada a ver com o gosto pela profissão que escolheram, mas sim com o posto de trabalho em que se encontram hoje. Quem tem prazer no trabalho? Porn stars talvez?
Na Europa e nos EUA fazem sucesso séries de TV, livros e quadrinhos sobre a vida no escritório de grandes corporações. Dilbert sem dúvida é um excelente exemplo. O chefe cretino com metas irrealizáveis, reuniões sem nexo, colegas imbecis, o universo empresarial é uma festa. Li no jornal esta notícia de que um chefe de empresa fazia os empregados que não alcançassem metas dançarem na boquinha da garrafa. Uma outra empresa fazia os empregados irem fantasiados toda sexta feira ao trabalho. Fui em uma entrevista de emprego onde cada grupo de candidatos tinha que fabricar um dispositivo capaz de segurar um ovo em queda livre com uma folha de papel, dois lápis, alguns elásticos, um copo descartável e durex. Tudo em nome da integração, da produtividade, do bom trabalho de equipe. Ainda bem que não tenho que esperar esse tipo de embromação corporativa na minha empresa, mas mesmo assim tenho que aturar comportamentos que normalmente não suporto.
Nosso mundo urbano vive apressado, irritado, consumindo cada vez mais, mais rápido, querendo cada vez pagar menos. Comemos lixo, consumimos lixo, assistimos lixo, obviamente vamos acabar tratando gente como lixo. Seremos todos descartáveis. Um número no computador da empresa.
Aliás, a coisa mais difícil em uma corporações é saber exatamente o que faz cada um.
Ouvi dizer que Daniel Day Lewis deixou a vida de ator em Hollywood para ser sapateiro no interior da Inglaterra. Quem sabe um dia voltaremos todos a ser agricultores, sapateiros, padeiros, marceneiros, pedreiros, açougueiros, ferreiros, pintores. Algo com sentido.