Monday, February 26, 2007

Saturday, February 24, 2007

Entre a favela e o dendezeiro


Uma amiga me enviou a foto acima. Trata-se de um projeto de dois holandeses que foram ao Rio com a intenção de pintarem murais, junto com moradores, nas casas e prédios da comunidade de Vila Cruzeiro.
Por enquanto eles terminaram a primeira pintura, um mural azul com um menino empinando papagaio. Dizem eles que outras virão.
François Miterrand já dizia muito antes dos incêndios de carros nas periferias de Paris que a feiúra daqueles prédios e cidades acabariam enfeiando também os pensamentos da juventude que ali vivesse.
Eu também acho beleza fundamental. Me lembro de um personagem de Júlio Verne que dizia que mesmo um ladrão ao fazer um buraco em um cofre deveria se preocupar em dar ao buraco uma forma de lira, de flor, ou qualquer outra coisa.
Viver em um lugar bonito realmente ajuda a viver melhor.
Mesmo assim acho fundamentalmente errada a idéia dos dois holandeses. A coisa funciona mais ou menos assim. Holandeses são reputados pão duros na vida quotidiana, mas extremamente generosos com causas nobres. Muito dinheiro da Holanda vai parar em boas ações na África, Sudeste Asiático e América Latina.
Os dois holandeses desocupados arrumam financiamento aqui para seu projeto. Viajam ao Brasil para o Rio de Janeiro, se integram na comunidade de Vila Cruzeiro, curtem um sambinha e um baile funk, contam aos amigos na Holanda sobre os tiroteios nas favelas e os raids da polícia, se sentem felizes pela boa ação que estão fazendo, os turistas vêem a favela bonita e colorida como nos filmes, e eles voltam para a Holanda para arrumar mais financiamento.
Isto é o que quero dizer quando digo que o Terceiro Mundo se tornou a Disneylândia do Primeiro. Assim como nossos jovens querem viajar para os Estados Unidos ou Europa, os gringos querem ver um pouco de pobreza e violência ao vivo. Eles vão à Africa ou ao Brasil, fazem alguma caridade e voltam para contar as aventuras na terra natal.
Inúmeras ONG’s têm trabalhado dessa maneira.
Eu também acho que a favela fica mais bonita pintada, mas eu não quero que ninguém pinte a favela.
Eu quero sim é que quem mora na favela tenha renda suficiente para poder pintar a própria casa, da cor que quiser e como quiser. Melhor ainda: eu quero que quem more na favela tenha uma renda suficiente para sair da favela. Eu quero que a favela suma. Como já dizia Joãozinho Trinta, quem gosta de pobreza é intelectual.
Por isso eu acho essencial que qualquer um que se interesse pelo tema leia a última edição da ReVista, Harvard Review of Latin America, editada pela Universidade de Harvard. A ReVista introduz o conceito de Market-Based Poverty Initiatives, fruto de um ciclo de estudos da Social Entreprise Knowledge Network formada por nove universidades da América Latina, Espanha e a Harvard Business School. São 18 casos estudados, 8 citados na publicação, que contam como empresas criadas nas camadas mais pobres da população puderam modificar a renda e a vida dessas pessoas. São iniciativas no agronegócio (como a produção de óleo de palma no Peru e no Pará e fazendas de borboleta na Costa Rica), na indústria de cerâmicas na Colômbia, no seguro saúde pré-pago na Venezuela, reciclagem na periferia de Buenos Aires e na construção civil no México.
Elio Gaspari em sua coluna de sábado passado no Globo cita a Revista e o impacto da iniciativa da Agropalma no Pará. São 150 famílias com renda acima da média, 4 hectares de mata preservados para cada 10 hectares de dendê plantados, biodiesel produzido, lucro para a empresa e impostos para os municípios. Sem trabalho escravo, sem extração ilegal de madeira.
Paradoxalmente, a melhor ferramenta para se reduzir a pobreza é capitalismo. Ë nessa idéia que ONG’s deveriam se concentrar.
A ReVista está neste endereço: http://drclas.fas.harvard.edu/revista/

Rodin erótico

Como todo adolescente fascinado pelos mistérios do corpo feminino, já gastei várias páginas de caderno desenhando sacanagem com colegas nas obscuras paragens do “fundão” da sala de aula. Muito mais instrutivo do que detalhes sobre a multiplicação de matrizes, algo para o qual até hoje não encontrei serventia. O que eu não poderia imaginar é que grandes mestres da história das artes também fizessem lá os seus garranchos pensando “naquilo”. Pois aqui vão alguns desenhos do famoso Auguste Rodin em melhor estilo Carlos Zéfiro!









World Press Photo Award


Esta foto do americano Spencer Platt foi a grande vencedora do World Press Photo Award deste ano. A foto foi tirada em Beirute durante o bombardeio de Israel às bases do Hezbollah no ano passado.
O marcante na foto acaba sendo o contraste entre o primeiro plano e o fundo. Na frente vemos um bando de patricinhas em um conversível vermelho que poderia estar muito bem em Mônaco ou na Califórnia. Atrás os destroços de uma guerra absurda filha do fundamentalismo islâmico.
O Líbano já foi outrora chamado de a Suíça do Oriente Médio, com suas montanhas e florestas de cedros, negócios florescentes e uma capital cosmopolita. Dividido entre etnias e religiões o país acabou sendo destroçado pela guerra civil.
O mérito da foto de Spencer Platt é o de mostrar em um instante a enorme distância que ainda existe entre a realidade trágica e um futuro ocidentalizado que almeja uma parte da sociedade libanesa.
A galeria de vencedores do World Press Photo Awards está aqui. O tour das fotos vencedoras começa 24 de abril na Oude Kerk de Amsterdam.

Thursday, February 22, 2007

Perdeu malandro, perdeu!


Europeu pergunta: "- Nossa, você viu quantas pessoas morreram durante o Carnaval lá no Brasil !?"


Eu respondo: "- Pois é, mas você não sabe quantos bebês vão nascer por causa do Carnaval ..."

Wednesday, February 21, 2007

Millôr

Millôr Fernandes na Veja dessa semana. Clique para ampliar.

Tuesday, February 20, 2007

A Lição de Anatomia de Rembrant


Bodies



A Lição de Anatomia do Dr. Nicolaes Tulp, quadro de Rembrant de 1632 do acervo da Mauritshuis tinha sido o mais próximo que eu cheguei de um cadáver em exposição artística. Até domingo passado quendo visitei The Bodies Exhibition em Amsterdam. Esta exposição famosa já ganhou páginas da Veja e de outras revistas no mundo todo, e foi cenário de uma sequência rodada em Miami do último James Bond. A mostra exibe cadáveres verdadeiros, sem pele, abertos ou fatiados de modo a mostrar a estrutura de ossos, músculos e órgãos internos do corpo humano. O método de conservação à base de silicone preserva de maneira excepcional a aparência do corpo, e ao que parece foi inventado por um alemão (porque tinha que ser um alemão?). Os corpos são dispostos como esculturas representando ações musculares, como um jogador de basquete arremessando a bola, ou um maestro regendo uma orquestra. Além dos corpos há membros e órgãos devidamente fatiados em exibição. A impressão que se tem ao entrar na sala semi-escurecida é a de que estamos penetrando os porões do Dr. Frankenstein. A única maneira de relaxar é tentar destilar algum humor negro no meio do passeio, do tipo : "oh, coitado do homem-bomba" ao contemplar aquele corpo onde todos os músculos foram separados e esticados no ar mostrando como são formados. Ou : ''Ninguém assina o guest book ! Vai que as letras miúdas estão dizendo que você quer se tornar um doador''. Aparentemente até os expositores querem provocar piada, como nesta escultura em que os músculos e órgãos do sujeito seguram o próprio esqueleto enquanto parecem dançar a cirandinha.O fato é que, dizem eles, todos os corpos foram devida e legalmente doados (grande parte na Rep. Popular da China), e tratados com dignidade. A exposição é uma expêriência incrível para fisioterapeutas, anatomistas, médicos ou estudantes. Se você é como eu e quiser observar corpos, compre a última edição da Playboy. Eu acho que eles são bem, mas bem mais bonitos vivos e vistos pelo lado de fora.

Monday, February 19, 2007

O Ano do Porco


Eu não tenho a menor idéia do que o Ano do Porco significa na nossa antípoda China, mas para minha mente ocidental não soa lá muito bem.
Pode ser algo positivo para, sei lá, palmeirenses talvez. Mas um Ano do Porco? E de fogo?
Meus piores pressentimentos se agravam quando leio o projeto de lei petista para ampliarem-se consultas populares por meio de plebiscitos. Parece ser o primeiro passo no caminho do terceiro mandato do Nosso Guia, e da venezuelização das instituições brasileiras. É assim que funciona a lógica torta das ditaduras de esquerda: usar o povo para justificar e sancionar a repressão.
Se essa lei passar, a pauta do Congresso e talvez mesmo o mandato dos congressistas será definida pelo que decidirem a CUT, o MST e a militância organizada petista.
É Lula 2010.
Enquanto isso o país leva uma tunga da Bolívia de US$ 100 milhões com o aumento do preço do gás, debaixo da complacência de Lula e do Itamaraty.
É realmente o Ano do Porco. E para aguentar só de fogo mesmo.

Carnaval


Eu odeio Carnaval. É mentira, eu só odeio Carnaval porque nunca pulei um Carnaval decente. E tenho inveja de quem pula.
E se nunca tive uma folia decente não era na Holanda que isso ia acontecer.
Fui a um Carnaval Afro-Brasileiro, na Holanda, organizado por italianos, e a festa era para angariar fundos para uma tal de Siva 4 Kids, uma ONG que ajuda crianças órfãs no Sri Lanka.... É a globalização momesca. Precisa contar mais?
Samba, axé, salsa e zouk. Zouk para quem não sabe é uma dança angolana, a última moda por aqui. E já encontrei holandeses que juraram de pés juntos que era uma dança brasileira. Para os gringos aqui é tudo uma festa, seja Brasil, África ou Sri Lanka. Passou para o lado de baixo do equador, é pobre mas é alegre. O Terceiro Mundo virou a Disneylândia do primeiro.
Depois eu falo mais disso. Por enquanto continuo sem ter um Carnaval decente, mas pelo menos tenho a felicidade de fazer um Carnaval sempre que estou junto a meus amigos, e isso me basta.

Saturday, February 17, 2007

State of Fear


Este livro de Michael Chrichton é um desses livros que você lê imaginando o blockbuster que sairá no próximo verão usando o texto como roteiro. E um é desses livros que você não consegue parar, tem sempre que virar a próxima página.
O gatilho da história toda é um famoso processo judicial que a nação de Vanuatu, um arquipélago do Pacífico e uma das nações mais baixas do mundo, pretendia lançar contra a Environmental Protection Agency, órgão do governo dos Estados Unidos da América. A razão do processo é que os EUA seriam os maiores emissores de gás carbônico do planeta contribuindo para o aquecimento global e para a elevação do nível dos oceanos, o que a longo prazo faria Vanuatu desaparecer do mapa. O processo nunca foi em frente. Segundo Crichton, porque nunca foram encontradas evidências sérias sobre o aquecimento global.
No livro, o autor transforma em vilões as organizações de proteção ao meio ambiente. Enquanto estas tentam planejar catástrofes climáticas na Antárctica, nos EUA e no Pacífico, uma equipe formada por um agente do governo, um milionário filantropo e seu advogado e duas belas moças tentam conter as tragédias. Esta é a trama que dá todos os ingredientes de tensão deste best-seller. Cenários exóticos, assassinatos, perseguições, atentados, intrigas. Mas o livro de Crichton é na verdade bem mais do que isso.
A idéia central é a de que o Poder nas sociedades ocidentais, para se manter no poder, precisa manter a população dócil, e por isso amedrontada. Vivemos em um mundo infinitamente mais seguro do que nossos antepassados mas ainda assim vivemos com medo de tudo. De atentados, de doenças, de contaminações, de assaltos. (O mesmo tema tinha sido explorado por Michael Moore em Bowling for Columbine na questão da proliferação de armas de fogo nos EUA). Segundo o autor, o complexo militar-industrial dos tempos da Guerra Fria estaria hoje sendo substituído por um complexo midiático-ambiental-jurídico. Basicamente o medo da guerra nuclear teria sido substituído pelo medo de uma catástrofe ambiental. E aí, Michael Crichton traz mais de 20 páginas só em referências bibliográficas com estudos científicos publicados comprovando entre outras coisas que:
- o mundo estava esfriando na primeira metade do século, até a década de 70 os cientistas apostava mais em uma nova Era Glacial do que em aquecimento global;
- A temperatura hoje voltou aos níveis em que estava em 1930;
- Não houve aumento do nível do mar;
- A Groenlândia está sim derretendo, mas como esteve pelos últimos mil anos;
- Embora a península Antártica esteja perdendo gelo, no interior do continente a espessura da calota polar está aumentando;
- O Kilimanjaro está perdendo neve por causa do deflorestamento na base, não houve mudanças de temperatura no topo;
- Eventos extremos em meteorologia como furacões continuam ocorrendo com a mesma frequência de sempre;
- O Sahara está diminuindo;
- Se houver aquecimento global ele pode ser mais benéfico do que prejudicial à população;
A idéia de que ONG’s e outros picaretas estejam semeando pânico para defender um negócio de bilhões de dólares é perfeitamente plausível.
Os militares preferem criar medo com armas de destruição massiva inexistentes.
A verdade é que a beleza da ciência está em buscar a verdade continuamente através de experimentos. Mesmoq ue o experimento de hoje desminta o que foi descoberto ontem. O problema é que os cientistas normalmente tendem a buscar resultados que agradem a quem os financia, sejam eles indústrias ou ambientalistas. Em sua conclusão, Michael Crichton sugere entre outras coisas (como concentrar-se em reduzir a pobreza) que a pesquisa seja “blind funded”, ou seja, receba dinheiro sem saber de quem. Para que cientistas estejam livres de consciência e para que certos aproveitadores não possam se apropriar de resultados fabricados para criar medo.

Valentine’s


Sim, continuo comemorando Valentines Day enquanto ainda não inventarem o Dia da Esposa. Flores, bonbons, jantar, comprei até Casablanca na Amazon.com para assistir em casa... Há dia das Mães, mas não é a mesma coisa. Não há nada para celebrar esposas que ainda não são mães. Não há nada entre Dia dos Namorados e Dia das Mães. Do namoro passa-se à maternidade nas comemorações... Então continuemos a comemorar o dia dos namorados, que para brasileiros expatriados é duplamente cobrado já que as namoradas/jovens-esposas-não-mães exigem que o dia seja comemorado no dia de São Valentim, 14 de fevereiro, assim como na data brasileira, 12 de junho (ou 14?, sei lá).
O dia dos namorados nos EUA significa Hall-Mark Day. Na Holanda significa 40 milhões de flores vendidas. Mas o que o dia dos namorados significa mesmo é o que estava em uma foto que circulou em todos os jornais do mundo essa semana. Esta foto de dois esqueletos da Idade da Pedra abraçados, encontrados por arqueólogos na Itália. Talvez eles estivesse morrendo de fome, ou frio ou os dois. Ou talvez tivessem morrido felizes, olhando a paisagem. Mas pelo menos naquele momento, eles tinha um ao outro para compartilhar tristeza ou felicidade. E passados alguns milhares de anos daquele momento, as pessoas que se emocionaram com essa imagem descobriram que mesmo depois de séculos de história e evolução ainda buscamos a mesma coisa. Alguém para compartilhar. Um(a) namorado(a).

Post musical


Algumas descobertas da semana:

“Half the Perfect World” é o novo álbum de Madeleine Peyroux. Descobri essa cantora em rádios de jazz, e comprei o disco agora. Madeleine nasceu na Geórgia, e passou pela Califórinia e por Paris aprendendo música. Embora sua voz faça pensar imediatamente em cantoras como Billi Holiday, Madeleine tem seu próprio timbre e estilo. Neste álbum, ela canta músicas de compositores com temporâneos, que são deliciosamente arranjadas para combinar perfeitamente com sua voz de veludo. Jazz em seu melhor estilo.
Clique aqui para ver Madeleine Peyroux cantando “I’m All Right”.

“It’s not too late” é o novo disco de Norah Jones, ganhei de Valentine’s... Em “Feels like home” a cantora parecia ter acentuado mais o sotaque country das canções e arranjos. Em “It’s not too late”, há sempre uma surpresa. Algumas canções como Wish I Could parecem country, em outras como Sinkin’ Soon dá para imaginar as velhas bandas de jazz de Nouvellle Orleáns. E outras como Broken e Wake me Up trazem um pouco de tudo, belas letras e a voz maravilhosa de Norah que fazem desse um álbum diferente e tão bom ou melhor do que seus dois primeiros. É uma voz que nunca canso de escutar.
Aqui está Norah Jones cantando e contando sobre suas canções Little Room e Rosie’s Lullaby.

Em 2003, durante um concerto em Londres, Natalie Maines, uma das Dixie Chicks disse à platéia que elas tinha vergonha de saber que George W. Bush era do Texas, assim como elas. O comentário valeu um “gelo” de pelo menos 3 anos das rádios do meio oeste americano, base eleitoral republicana. Ouvintes furiosos organizaram reuniões para pisotearem cd’s do trio em público. No ano passado elas lançaram “Taking the Long Way”, que virou um sucesso de público apesar do boicote. Apesar disso, a Country Music Association deixou o trio de fora da sua premiação do fim do ano passado. A vingança veio agora quando Natalie e suas colegas Martie Maguire e Emily Robison descolaram 5 Grammy’s incluíndo melhor álbum e canção... Enquanto o prestígio de Bush cai, o das Chicks sobe, e mostra o quanto a Califórnia ainda está longe de Nashville. Veja aqui o clipe de “Not Ready to Make Nice”.

Sunday, February 11, 2007

De volta à barbárie


O inverno deu as caras pela primeira vez no ano esta semana aqui na Holanda. Temperaturas abaixo de zero, vento, gelo e neve. A única vantagem nisso é a de poder ver a neve caindo na janela. Ainda mais para quem nasceu nos trópicos, o branco da neve cobrindo ruas e prédios é bonito demais de se ver. Os flocos caindo fazem imaginar uma imensa briga de travesseiros entre querubins no céu. Ver a neve dá paz. As pessoas até melhoram o humor. Neve, um livro, um café ou uma taça de vinho em uma casa aquecida, tulipas no vaso. Há vantagens na civilização.
Então inevitavelmente leio notícias sobre o Brasil. E invariavelmente notícias que estragam o meu dia. Leio sobre a morte horrível desse garoto João Hélio, arrastado pelas ruas do Rio no carro da família, roubado por bandidos menores de idade.
Nas histórias antigas de folclore, com raízes medievais, recontadas por Câmara Cascudo e Monteiro Lobato, o malvado sempre terminava seus dias sendo arrastado por cavalos bravos pelas ruas da cidade. Aquiles arrastou o corpo de Hector diante das muralhas de Tróia, como nesta pintura de Donato Creti. Naqueles tempos bárbaros, esse era o pior castigo e o maior sinal de desprezo pela vida do outro. É o que acontece no Brasil hoje, os bandidos desprezam a vida. Voltamos à barbárie. A morte e o terror viraram um cotidiano banal, anestesiando-nos para o horror a cada dia que passa. A vida nas ruas do Rio e de São Paulo não valem muita coisa.
Há falsos “humanistas” que defendem os bandidos, dizem que a culpa não é deles, que é o ambiente, que é a sociedade, que a culpa enfim é nossa. É uma cretinice. Há milhões de pobres levando uma vida honesta. Dizer que pobreza causa crime é uma mentira. O que causa crime é impunidade.
Eu lhe asseguro, se você trabalha todo dia, paga seus impostos e vota direito a culpa não é sua. E é seu direito exigir que bandidos sejam punidos, mesmo os menores.
Eu já perdi um amigo na escola baleado por um menor, que a essas alturas deve estar por aí solto e aprontando outras. Basta! Se tem idade para matar é porque tem idade para ser punido pelo que faz.

Saturday, February 10, 2007

Blood Diamond


A África, este continente esquecido por Deus, é um poço de tragédias das quais temos um conhecimento relativo e distante. Filmes como The Constant Gardener, Lord of War, The Last King of Scotland, Hotel Rwanda e agora Blood Diamond ajudam a dar uma imagem ao que antes só imaginávamos por notícias vagas.
O filme de Edward Zwick é feito sob medida para criar uma culpa nas consciências do público de primeiro mundo que o assiste.
A história passa-se durante a guerra civil em Serra Leoa, 1999. Danny Archer, um traficante de armas e diamantes se junta a um refugiado, um em busca de uma pedra rara, o outro da família. Os dois seguidos pela bela e destemida repórter Maddy, personagem da linda Jennifer Connely. Leonardo di Caprio, que faz Archer, mostra que realmente se tornou um excelente ator (já fora muito bom em Aviator), caprichando até no sotaque sul-africano.
Durante o conflito, milhões de dólares em diamantes saíram ilegalmente de Sierra Leone para serem exportados legalmente da vizinha Libéria financiando assim uma guerra cheia de atrocidades com amputações em massa e uso de crianças soldado.
Martin Meredith em seu livro The State of Africa conta alguns detalhes dessa guerra sangrenta. Só na tomada de Freetown, cerca de 6.000 civis morreram e outros milhares tiveram mãos ou pés amputados. Em seu auge, estima-se que metade dos efetivos das forças da RFU tinha idade entre 8 e 14 anos.
Em uma das sequências finais, o refugiado africano Solomon Vandy, interpretado por Djimon Hounsou, contempla um colar de diamantes em uma vitrine de Londres.
Aí a gente se pergunta o porquê de tudo aquilo. Um dos melhores filmes que vi este ano.

Os 12 Macacos


O homem é o animal mais pernicioso a ter andado sobre a superfície deste planeta. Envenenamos nosso ar, poluimos nossas águas, queimamos nossas florestas, assassinamos animais para nos alimentar e vestir, fizemos incontáveis espécies desaparecerem, e ainda por cima nos matamos uns aos outros à torto e à direito.
A Terra estaria bem melhor sem a civilização humana por perto. Será?
O relatório sobre o aquecimento global das Nações Unidas despertou um certo sentimento de apocalipse geral entre os que se interessam pelo tema, e em especial entre uma certa espécie que se multiplica em praias desertas e pousadas de turismo rural: o eco-chato. O eco-chato quando se junta em ONG’s e consegue finaciamento pode evoluir para um outro sub-tipo mais perigoso: o eco-terrorista, daqueles que explodem carrinho de hambúrguer.
Basicamente estes são indivíduos que acham que a natureza e os animais merecem uma proteção maior do que seres humanos. São os que gostam mais de baleia e coalas do que de gente. São os que dizem que devemos comer só o que a natureza nos dá, como frutas.
É preciso desconfiar dessas pessoas tão generosas e amantes da paz e do amor.
Sim, o aquecimento global é um problema imenso, causado em grande parte pela queima de combustíveis fósseis. Segundo os eco-chatos apocalípticos nós deveríamos abandonar nossas cidades e ir viver como índios novamente.
Nós temos que matar animais como fonte de proteínas para nos alimentar. Sem proteína animal o homem provalvelmente nunca teria descido das árvores e começado a andar sobre dois pés. Mas não, para o eco-chato é assassinato. Deveríamos comer apenas frutas.
Desconfie. A ecologia tem que ser usada a favor do homem, e não contra. Não passamos por milênios de história e civilização para renunciar a tudo agora e voltar para as selvas.
Se toda a população do mundo passasse a alimentar-se somente de frutas ou nós teríamos que derrubar todas as florestas do mundo para plantarmos pomares ou 5 bilhões de pessoas morreriam de fome.
Se os combustíveis fósseis estão causando o aquecimento, deveriam ser substituídos por outra forma de energia. A única alternativa plausível que temos é a energia nuclear. Deveríamos estudar maneiras de fazê-la mais segura.
Enquanto consumidores devemos exigir que os animais que comemos sejam tratados o mais humanamente possível. Se podemos ter tecidos sintéticos ou vegetais não temos mais necessidade de usar casaco de peles.
Se algum teste em ratos pode ajudar a nos livrarmos de alguma enfermidade endêmica infecto-contagiosa que se façam as pesquisas necessárias.
O homem só chegou onde chegou por conseguir adaptar o ambiente a seu favor. A ecologia serve para ajudá-lo a manter o ambiente a seu favor.
O humanismo dos eco-chatos é como o do Exército dos Doze Macacos, aquele do filme com Brad Pitt e Bruce Willis. O homem está acabando com o planeta, é o fim do mundo. Deixem que os animais voltem a dominar a Terra, exterminemos os humanos.

Sunday, February 04, 2007

Happy Birthday


Um ano de blog!

Ernst Haas


Manda Bala


O filme Manda Bala de Jason Kohn ganhou o Grande Prêmio do Júri de Documentário no Sundance Festival desse ano.
Mal posso esperar esse filme chegar por aqui.
Brasil, terra de corrupção e violência. Quem pode negar?
Mas que queria saber mesmo se o Lula vai querer prestigiar uma exibição desse filme que mostra tanto o lado podre das elites como o contra ataque dos pobres com sequestros e assaltos. O PT é quem defende a idéia de que a pobreza gera violência e de que as elites é que roubam o país.
O filme mostra Jader Barbalho desviando bilhões de reais usando uma fazenda de rãs da Sudam como fachada.
Eu queria saber se Lula vai ver o filme porque afinal foi Lula beijou a mão de Jader em setembro passado ao pedir seu apoio para a reeleição.
E a gente engolindo sapo.

Hrant Dink


Hrant Dink foi assassinado em 19 de janeiro passado por um ultra nacionalista turco. Em 2006 ele tinha sido preso por “insulto à identidade turca”. Dink era armênio, tinha fundado um jornal turco-armênio, defendia a idéia que os turcos teriam que admitir o genocídio dos armênios de 1915. Ohan Pamuk também já foi condenado pelo mesmo motivo.
A luta de Hrant Dink sempre foi para que turcos e armênios enfrentassem juntos o passado, sacodissem a poeira e olhassem juntos para o futuro. Daí seu assassinato ter sido um choque em toda a imprensa européia e mundial, e um atentado contra a democracia e a liberdade de expressão. Segundo o próprio Primeiro Ministro turco Tayyip Erdogan, “essas balas nos atingiram a todos”.
Sua morte, londe de ser em vão, trouxe a questão armênia mais do que nunca à pauta da modernização da Turquia. E a imagem de milhares de cristãos e muçulmanos, turcos e armênios, marchando juntos em seu funeral em Istambul trouxe uma nova onda de esperança à democracia turca.

Neve


O turco Orhan Pamuk ganhou o Nobel de literatura no ano passado. Li agora Neve, um de seus romances.
Neve conta a história de um poeta chamado Ka, que depois de muitos anos no exílio na Alemanha regressa à Istambul para o enterro da mãe. Depois decide voltar à sua cidade natal, Kars, na longínqua fronteira com a Geórgia sob o pretexto de investigar as eleições e uma onda de suicídios entre as jovens muçulmanas da cidade. Na verdade Ka quer se reencontrar com um amor de sua juventude, Ipek.
Uma nevasca isola Kars do resto do mundo. Com os islamitas em primeiro lugar na corrida eleitoral, um velho ator nacionalista decide dar um dramático golpe de estado apoiado pelas tropas locais.
No romance, Pamuk transforma a cidade de Kars fechada ao mundo pela neve, em um microcosmo que nada mais é do que um retrato da desorientação da Turquia atual. Oscilando entre Europa e Oriente, entre a herança laica de Kemal Atatürk e o islamismo fundamentalista, entre democracia e despotismo, a Turquia hoje vive dilacerada entre seus próprios dilemas.
O ultra nacionalismo que pretende defender a Turquia do islamismo radical também é o mesmo que se recusa a reconhecer o genocídio dos armênios. O islamismo crescente recusa a democracia européia e o laicismo do Estado turco.
Ka, colhido de surpresa pelo golpe se torna involuntariamente um de seus personagens principais. Entre nacionalistas, curdos, islamitas, comunistas e armênios, vendo a neve cair, Ka começa a reescrever poemas, o que não conseguia desde que tinha saído da Turquia. E percebe que no meio deste caos de mundo, que a verdadeira felicidade está em ficar ao lado de quem se ama. E que as pessoas, como os flocos de neve, nunca serão iguais umas às outras já que são tantas e tão diferentes as condições que determinam a forma de cada um. Um livro cheio de poesia e drama sobre um dos temas mais importantes da atualidade, no lugar que é a fronteira do que chamamos hoje de choque de civilizações.

The Heart Asks the Pleasure First


Lembram-se daquela maravilhosa música de Michael Nyman feita para o filme O Piano?
O clip tá aqui: http://www.youtube.com/watch?v=-PqXG-GC5QE

The Elegant Violence

A única vantagem de ter ficado de cama aqui neste fim de semana foi assistir rugby na TV todos os dias. Vi a abertura do Torneio das 6 Nações de Rugby com a Itália levando uma surra dos franceses. Também assisti Samoa ganhando de Fiji no Torneio de Seven a Side na Nova Zelandia. E testemunhei o fantástico comeback de Jonny Wilkinson, o abertura dos ingleses, botando pra quebrar contra a Escócia. E depois do que vi estou apostando na Inglaterra para levar o caneco das Seis Nações este ano, já que eles decepcionaram no ano passado. E acho que eles também não vão fazer feio na Copa do Mundo que começa em julho.
Finalmente o ano inteiro com este magnífico esporte bretão, muito mais bonito, emocionante, divertido e elegante do que o futebol. Lembrem-se do entediante show de horror foi a Copa do Mundo de Futebol do ano passado, especialmente com o desempenho da seleção brasileira.
Já volto. Agora está na hora de Gales e Irlanda jogarem.

Saturday, February 03, 2007

Wolverine


Eu entendo que Wolverine seja um dos mais populares X-Man. Em primeiro lugar se eu tivesse um esqueleto de adamantium nunca teria estraçalhado meu ombro no rugby. Segundo, aquelas garras nas mãos, além de que me tornariam muito mais persuasivo em qualquer discussão no boteco ou no trânsito, seriam uma mão na roda na hora do churrasco com os amigos. Uma lâmina para picar o vinagrete, outra para a maioneses e uma para fatiar a picanha.
Mas todo mundo sabe que o verdadeiro dom mutante de Wolverine é seu sistema imunológico perfeito, que o torna quase indestrutível. E é este que eu invejo agora que passei o dia inteiro em uma cama com gripe, essa praga que persegue a humanidade desde sempre. Qual a utilidade do vírus da gripe? Na hipótese de uma Guerra dos Mundos como pensou H.G. Wells, ele serviria pelo menos para impedir a destruição da humanidade por uma raça de ET’s malignos. Eu passo. Acho que esse vírus não serve para nada mesmo. Wolverine nunca pegaria uma gripe.
Aliás ele não pega nenhuma doença e seus ferimentos se regeneram em segundos.
Eu acredito que em um futura distante a raça humana ainda chegará a esse ponto. Obviamente será uma verdadeira catástrofe para os sistemas de previdência social já que ninguém irá morrer tão cedo, mas até lá acho que já terão mudado a idade mínima de aposentadoria.
Tirando esse mero detalhe do qual se encarregarão nossos competentes políticos, sinceramente eu espero que meus descendentes desconheçam esta humilhação que é estar prostrado por terra por um bichinho ridículo e inútil milhões de vezes menor do que você.