Monday, October 30, 2006

Al Gore, a Holanda e o pelicano rosa

Um pelicano rosa foi visto este verão em Texel, ilha holandesa no mar do Norte. Pode parecer um fato pitoresco aos olhos dos turistas, mas pelicanos rosas nunca apareceram antes no mar do Norte, eles raramente passam longe do Mediterrâneo.
Ontem fui ao cinema ver o filme de Al Gore, “The Inconvenient Truth”. Bem, o filme como diversão não serve (talvez como filme de terror), mas é uma excelente aula. Desde que perdeu as eleições presidenciais para George W. Bush, Al Gore voltou a se dedicar ao tema que lhe era caro desde os tempos do Senado, o aquecimento global. O filme em forma de documentário mistura cenas das palestras de Gore ao redor do planeta com cenas de suas memórias. O fato é que o homem é convincente o bastante quando fala, e o que ele fala tem uma base científica sólida o bastante para deixar apavorado quem assiste o filme.
As imagens de computador mostram lentamente o nível das águas dos oceanos subindo enquanto a temperatura do planeta sobe, engolindo as ilhas do Pacífico, a Flórida, Manhatan, São Francisco, Shangai, e obviamente a Holanda inteira, o país mais baixo do mundo...E minha casa fica a 6 metros abaixo do nível do mar. É para dormir tranquilo?
Ao mesmo tempo o clima começa a ficar cada vez mais biruta. Nunca tivemos tantos furacões e tufões como no ano passado. Até Santa Catarina viu um de perto ano passado, algo inédito no Atlântico Sul. Fora isso, inundações na Índia, China e Europa e seca excepcional em outros lugares. Epidemias de doenças favorecidas pelas ondas de calor. Extinções de espécies em uma escala nunca antes vista. A lista de desastres é imensa.
James Lovelock, cientista inglês autor de “A Hipótese Gaia” e do novo “A Vingança de Gaia” deu uma entrevista à Veja na semana passada. Suas previsões não são muito mais otimistas do que as de Al Gore. Segundo ele, daqui a 40 anos o planeta será quente e seco. Até o fim de século 80% da população mundial vai desaparecer e só áreas nas montanhas e nos pólos serão habitáveis.
Lovelock acredita que não há volta no aquecimento, a não ser que todos os países adotem hoje usinas nucleares como fonte de energia.
Al Gore acha que dá para fazer muita coisa antes que o pior aconteça. Veja em www.climatecrisis.net e www.fightglobalwarming.com.
Em 1953 a Holanda sofreu a última grande inundação de sua história. 1.835 pessoas morreram e 70.000 foram evacuadas, 200.000 hectares de terra ficaram embaixo d’água. Depois disso eles investiram bilhões de euros em diques e comportas com a mais avançada engenharia hidráulica do planeta para que a Holanda ficasse protegida de inundações por mais alguns milhares de anos. Em um dos diques há uma placa com os dizeres. Hier gaan over het tij, de wind, de maan en wij" (Aqui, a maré é comandada pelos ventos, pela lua, e por nós). Eu não sei se a engenharia holandesa estava preparada para o derretimento das calotas polares, mas se eu fosse eles prestaria mais atenção no pelicano rosa. Ele pode ser o arauto do apocalipse.

Sunday, October 29, 2006

4 anos mais...

Levei bronca de uma leitora por dizer que não conheço ninguém inteligente e bem informado que vota no Lula. Pode até ser que existam, mas o problema é que não conheço nenhum. A leitora poderia fuçar nos arquivos deste blog e ver que eu já meto o pau no Lula há muito tempo.
Em 2002 eu poderia até acreditar em argumentos favoráveis ao PT. Depois destes 4 anos não há argumentos que me convençam.
Passei metade da minha vida em São Paulo e na Europa. A outra metade passei em lugares como o sul do Pará e o Piauí. Vi mulheres com pencas de filhos tomando banho no rio, os peitos batendo nos joelhos, comendo caju com farinha. Vi muitas coisas mais, e sei que o aquela gente precisa e não precisa. E sei que votam em Lula por causa da Bolsa-miséria. Não voto em Alckmin porque sou de uma suposta “elite”. Geraldo Alckmin estava longe de ser um candidato perfeito, mas neste caso a intenção era mesmo escolher o mal menor. Nada do que o PSDB tenha feito se compara com o assalto organizado efetuado pela máfia petista.
Teremos 4 anos de atraso pela frente. Iremos preservar estatais ineficientes, iremos conservar uma imensa e dispendiosa máquina pública, aparelhada pelos companheiros, iremos ver mais 4 anos de escândalos e incompetência. Em vez de fazer a economia crescer iremos dar esmola aos pobres com o Bolsa miséria, roubando-lhes o futuro. Iremos institucionalizar o racismo com o Estatuto de Igualdade racial. Os projetos para controlar a imprensa voltarão a sair da gaveta. Os males que virão desta escolha são inúmeros. Isso sem falar nas possibilidades que PT encontrará para manter o poder em 2010. Mas bem, essa é a democracia, e como crianças é batendo a cabeça que se aprende. Eu estou é considerando seriamente a possibilidade de passar mais 4 anos na Europa.

Outono na Holanda

Saturday, October 28, 2006

Halloween brasileiro


Eu ainda esperava antes destas eleições que algum filme secreto pudesse aparecer, com os goodfellas do PT congratulando-se mutuamente por haverem roubado tão descaradamente e ainda assim estarem na frente na reeleição.
O PT ressuscitou o velho medo esquerdista das privatizações para garantir este segundo turno. Regressamos 30 anos de pensamento político e econômico por essa imbecilidade.
Me lembro dos tempos em que possuir uma linha telefônica era um privilégio de poucos. Os que não tinham eram obrigados a alugar a preços exorbitantes. Hoje não tem celular quem não quer. Falo com a minha família pelo Skype de graça. A Vale do Rio Doce e a Embraer tornaram-se multinacionais líderes de mercado. Para mim o Estado deveria privatizar tudo, já que não tem competência nenhuma para gerir empresas, e já que as nossas estatais hoje só servem como cabide de empregos de companheiros e fontes de verba para o PT. Ainda não encontrei nenhuma pessoa inteligente e informada que afirme com convicção que vai votar no Lula. Ainda há aqueles que votam porquem acham que ele é “do povo”, como se isso lhe conferisse alguma aura de superioridade.
Petista acha que urna é tribunal, e que a eleição absolverá Lula e o PT de seus crimes e pecados. Eu quero acreditar que se ainda houver um resquício de decência na sociedade brasileira, o LuLLa poderá até ganhar um segundo mandato, mas dificilmente o terminará. Golpismo, dirão os petistas. Eu pergunto desde quando obedecer às leis e à justiça é golpismo. Eleição em véspera de Halloween? A bruxa já está solta faz tempo.

The secret life of words


Assisti este filme de Isabel Coixet. É uma história de amor entre duas pessoas com histórias trágicas. Um homem cuja traição provocou a morte do melhor amigo e quse a sua morte e uma enfermeira saída do horror da guerra nos Balkans. No ambiente desolado e isolado de uma plataforma de petróleo, onde todos parecem querer fugir do mundo exterior, o filme mostra como na pior das dores o amor ainda pode nascer. Pode ser previsível, mas não deixa de ser tocante.
Josef: I thought um, you and I, maybe we could go away somewhere. Together. One of these days. Today. Right now. Come with me.
Hanna: No, I don't think that's going to be possible.
Josef: Why not?
Hanna: Um, because I think that if we go away to someplace together, I'm afraid that, ah, one day, maybe not today, maybe, maybe not tomorrow either, but one day suddenly, I may begin to cry and cry so very much that nothing or nobody can stop me and the tears will fill the room and I won't be able to breath and I will pull you down with me and we'll both drown.

We will always have Paris...

Les Peuples de l’Omo


A exposição que vi no Cantine de Faubourg são as fotos que Hans Silvester reuniu depois de sua viagem à Etiópia. Eu sabia da existência de Hans Silvester pelas belas fotos de cavalos na região da Camargue francesa. O trabalho que vi agora é muito mais impressionante.
O vale do Omo, berço da espécie humana, é uma região do tamanho da Bélgica nas fronteiras entre a Etiópia, o Quênia e o Sudão. Intocados pela colonização e pelos missionários, distante dos poderes de Cartum, Adis Abeba ou Nairóbi, ainda não afetados pela AIDS, os povos que habitam a região são pastores de gado zebu e caçadores ainda selvagens. O gado fornece o essencial de que necessitam para viver, sangue, carne e leite. O dote de um casamento é de 20 a 30 cabeças de gado. Uma Kalashnikov vale 8. O vale é habitado pelas tribos dos Hammer, Mursi, Karo, Surma, Bume, Galeba e Dasanech. Todos os homens se ocupam do pastoreio e da guerra. As mulheres ao cultivo do sorgo e do milho.
Os corpos nus são todos pintados de ocre vermelho e amarelo, extraído de rochas vulcânicas, e cal branca. Nas palavras de Hans Silvester: “os homens e mulheres usam os corpos como um espaço de expressão artística. É com imenso prazer que eles pintam o rosto e o corpo, em uma busca permanente de beleza. Viver com estes seres tão diferentes de nós me fez refletir muito sobre as “conquistas” da nossa civilização”.
As fotos são fantásticas, coloridas, provocantes, ternas ou audaciosas. Simplesmente genial. O livro saiu 5 de outubro, Éditions de la Martinière.

Paris


Passei essa semana em um hotel frio no aeroporto Charles de Gaulle. Business obligations. Vendo aviões da Air France decolando e aterrissando, o ar cheirando a querosene.
Para passar o tempo comprei um livro Particules Elementaires do Michel Houllebecq, o enfant terrible da literatura francesa atual. Vamos ver o porque do barulho todo. Por enquanto está promissor, conto mais depois.
Continuo achando Paris a cidade mais bonita da Europa apesar dos franceses. Sabem aquela Síndrome do Pequeno Poder, aquela que faz o porteiro achar que é o dono do prédio? Pois este problema nos franceses é elevado à décima potência. Tive discussões e problemas com a polícia da alfândega, com o gerente e todos os garçons do hotel, com taxistas, com seguranças de restaurante, com seguranças do parque de exposições...E olha que eu não gosto de discutir. Os americanos têm razão, eles são mesmo irritantes.
Mesmo assim Paris é capital cultural deste nosso mundo. Ainda quero voltar lá esse ano para visitar o Museu des Arts Premiers, inaugurado em junho passado por Jacques Chirac. Eu quis chamar este blog de Lumières não foi à toa, depois de ter passado dois anos na França. Paris é a Ville Lumière, os irmãos Lumière inventaram o cinema, a França é o berço do Iluminismo, precisa mais?
Claro que eu não ia ficar a semana toda no hotel, fui dar uma passeada na cidade e acabei jantando com bons amigos em um dos ambientes mais sofisticados que já vi. O Cantine de Faubourg fica na rua de Faubourg Saint Honoré, perto da Champs Elysées. O restaurante abrigava uma exposição de fotos de Hans Silvester, uma super decoração daquelas que só se encontra mesmo em Paris e Nova York, uma hotêsse que era a cara da Naomi Campbell vestindo Givenchy, uma música ambiente deliciosa e animada (Sweet Home Alabama, Can’t take my eyes of you, Sympathy for the Devil e por aí...), e uma cozinha deliciosa. Risotto de lula e costeleta de vitelo com cogumelos, imperdível. Apesar dos Porsches, Bmw’s, Bentley’s e até um Rolls-royce na porta, a comida não é absurdamente cara para Paris, e é farta. A bebida é um pouco mais salgada, a garrafa de Moet Chandon mais barata sai por 115 euros. Nada mal para quem frequentava o forró do Pau Queimado em Piracicaba.

The state of the world


Minha querida amiga Paula que sempre aparece por aqui me mandou este llink incrível, com fotos da Agência Reuters, publicadas agora em livro:

http://www.stateoftheworld.reuters.com

Nesta foto, uma muçulmana participa de um minuto de silêncio em Trafalgar Square pelas vítimas dos atentados à bomba em Londres em julho do ano passado.

Business


Aqui estou de volta às minhas madrugadas solitárias.
Fui a uma feira de negócios, uma das maiores feiras de alimentos na Europa. Estas feiras são como desfiles de alta costura, servem além dos negócios para divulgarem as tendências mundiais no ramo. E a mega tendência é comer saudável. Entre as novidades uma espécio de margarina feita a partir de azeite de oliva, espetinhos de frutas para crianças, pacotes de legumes orgânicos em quantidade já balanceada para a mãe que não confia em potinhos e quer cozinhar a papinha do próprio bebê... E embalagens mais bonitas para quem compra com os olhos.
Negócios de algumas centenas de milhares e às vezes de alguns milhões de euros são fechados ali. A pressão é grande, minha receita para aguentar é Jack Daniels à noite e omeprazol pela manhã.
Há algo no entanto que me faz apreciar o ambiente. Pela experiência que a História nos traz, vemos que dificilmente povos que entretêm relações comerciais saudáveis entram em guerras uns com os outros. Estar ali ouvindo cinquenta línguas ao mesmo tempo dá uma certa esperança. Dezenas de nacionalidades diferentes estão ali tentando entrar em algum tipo de acordo, se entender, se conhecer melhor. Todo vendedor sabe que você consegue vender mais quando conhece quem está comprando. Meu chefe holandês me perguntou o que um holandês faz de diferente de um brasileiro nos negócios. Eu disse que o brasileiro é por natureza incapaz de dizer não. Se o holandês pechicha um preço, ou pergunta se aquele container será embarcado mesmo naquela data, o brasileiro mesmo sabendo que está mentindo diz que fará todo o possível, que vamos dar um jeito, ou que vamos conversar, ou que se Deus quiser tudo dará certo. Obviamente não dá certo e o holandês fica indignado.
O que eu disse não se aplica só aos negócios, o grande trauma dos brasileiros que vivem na Holanda é saber fazer a diferença do que é a mentira cordial e do que é falta de educação. Um holandês que pede para trocar o presente de aniversário que você acabou de dar acha que está sendo sincero, o brasileiro acha que ele é um grosso.
O comércio desde a aura da humanidade tem feito povos muito diferentes se entenderem uns com os outros. E eu acredito ainda que o livre comércio seja a ferramente mais eficaz na luta contra a pobreza. O fim dos subsídios agrícolas na Europa, Japão e nos Estados Unidos fariam mais pelo terceiro mundo do que toda a ajuda financeira enviada por esses mesmos países desde o fim da segunda guerra mundial.
Estive com gente de todas as nacionalidades e todas as personalidades. Vi um príncipe árabe comendo picanha brasileira, vi uma fazendeira rica se passando por manicure, vi ricos generosos e duros arrogantes. Mas vi que na hora do happy hour, quando brasileiros se abraçam com argentinos, americanos conversam com iranianos, europeus com africanos, o que todos percebem é que por trás de uma gravata também bate um coração. O que todos querem é se fazer entender.

“Ele se crê no direito de nos destruir...”


Porque tenho tamanha aversão a Putin? Porque neste verão, fará 5 anos que estourou a segunda guerra da Tchechenia e não temos jeito de ver seu fim... Eu o detesto por sua temível grosseria, pelo seu cinismo, pela sua xenofobia, por suas mentiras, pelo gás usado durante o sítio do teatro de Moscou, pelo massacre de inocentes que a durou todo o seu primeiro mandato. Eu o detesto porque ele não ama o povo, ele nos despreza, ele só nos vê como um meio para conseguir seus fins, estender e conservar seu poder. Ele se crê no direito de fazer o que quer de nós, de nos manipular e de nos destruir se assim achar necessário. A Rússia já teve dirigentes dessa espécie. A cada vez isso nos levou a banhos de sangue, a guerras civis.

Extraído de “A Rússia segundo Putin”, de Anna Politkovskaya. E eu estou aqui tomando uma vodka CTAHДAP (desculpem mas não sei como traduzir) em homenagem à Anna.

Saturday, October 21, 2006

Paris...


Pessoal, estarei em Paris até a sexta feira que vem, infelizmente a trabalho...Volto logo!

Friday, October 20, 2006

Will go down...

Thimothy Garton Ash escreveu na New York Review of Books um impecável texto sobre o Islam na Europa, comentando os livros "Murder in Amsterdam" de Ian Buruma e "The Caged Virgin" de Ayaan Hirsi Ali. O livro de Buruma é sobre o assassinato do cineasta Theo van Gogh ocorrido em novembro de 2004. Van Gogh foi morto a tiros e punhaladas por Mohammed Bouyeri, um filho de imigrantes marroquinos de 26 anos.
O livro de Hirsi Ali, deputada holandesa de origem somali, é sobre a situação das mulheres nas comunidades islâmicas, livro que a levou a co-produzir com Theo van Gogh o filme Submissão. Este foi o filme que motivou Bouyeri a assassinar van Gogh, e o motivo de Hirsi Ali estar igualmente ameaçada.
Vocês já me viram falar neste blog tanto de Hirsi Ali como de Theo van Gogh, e sabem que os dois contam com minha inteira admiração e solidariedade.
O texto de Garton fala de um sentimento crescente de vitimização entre os muçulmanos no mundo. A situação no Iraque, Palestina, Afeganistão e o preconceito que sofrem no Ocidente só reenforçam este sentimento, e desperta a ira nos imigrantes que vivem nos guetos europeus.
Segundo Buruma, quando confrontados entre o Islam e o liberalismo de uma sociedade como a holandesa, a desorientação não é só cultural, passa a ser psíquica. Uma mulher imigrante ou um homem da primeira geração de imigrantes tendem a sofrer de depressão. Um homem de segunda geração de imigrantes tem dez vezes mais chances de desenvolver esquizofrenia do que um homem holandês.
Mohammed Bouyeri, o assassino de Theo van Gogh passou a noite de núpcias em seu apartamento com a noiva assistindo vídeos da Al Qaeda degolando infiéis.
O bilhete cravado com um punhal no corpo de Theo van Gogh dizia no final :
I know for sure that you, Oh America, will go down
I know for sure that you, Oh Europe, will go down
I know for sure that you, Oh Netherlands, will go down
I know for sure that you, Oh Hirsi Ali, will go down
I know for sure that you, Oh unbelieving fundamentalist, will go down
Ontem, um grupo de 5 jovens descendentes de marroquinos foi expulso de um cinema em Rotterdam. O motivo foi o de terem levantado e aplaudido na cena em que os aviões batem nas torres gêmeas do World Trade Center no filme de Oliver Stone. Há algo de podre no reino da Holanda. Muçulmanos existem vários, muitos, com diferentes crenças, diferentes interpretações do Al Coran, diferentes etnias. Os americanos estão aprendendo isso no Iraque da maneira mais dura. Libertos do terror de Saddam Hussein, xiitas e sunitas se enfrentam agora em uma guerra fratricida, que é não consequência da invasão americana e sim das diferenças internas ignoradas pelos americanos. Mas nunca é demais repetir que as primeiras vítimas do fundamentalismo islâmico são os próprios muçulmanos. Cabe aos europeus e aos ocidentais encontrarem uma forma de dialogar com o islam que aceita seus valores.

*****

Depois de eu ter escrito este post, uma amiga (a Clarisse que escreveu aí embaixo depois de passar umas semanas no Qatar) me mandou um excelente artigo escrito por Khalid Al Maaly no Berliner Zeitung sobre a "dupla personalidade" dos intelectuais islâmicos. Essa é a frese mais emblemática do texto: "The Arab intellectual behaves like a despotic father. No internal family matter may be exposed to the outside world; regardless of what the reality may be, a façade of unbroken unity must be maintained." Pois é, se nem nos intelectuais podemos confiar...Europe will go down.

Vermelhos e Azuis


Fui editar meu perfil no orkut, algo que eu tinha feito muito “nas coxas” e só depois de muitos meses é que fui lá olhar de novo.
Há um item a ser preenchechido que pergunta sua orientação política ou algo parecido. E dá as opções direita/conservador, centrista, esquerda/liberal.
É engraçado como quinze anos depois da queda do muro de Berlim ainda pensamos em esquerda e direita nestes termos.
Eu estudei agronomia nos anos 90 em Piracicaba (a melhor cidade do Brasil), na gloriosa Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”. Na faculdade, os estudantes se dividiam entre azuis e vermelhos. Pela cor vocês imaginam, mas a disputa ia muito além da ideologia capitalismo/socialismo. Os azuis defendiam a agricultura como um negócio, defendiam o uso de defensivos agrícolas, a mecanização e a modernização da agricultura, a venda de commodities pelo mercado de futuros. Os azuis davam trote nos bixos, moravam em repúblicas, andavam de calça jeans, botina e canivete.
Os vermelhos defendiam a agricultura orgânica (para eles não existe praga, existe inseto com fome), o MST e a fabricação de produtos artesanais em pequenas propriedades (queriam transformar o Brasil em um grande produtor de geléia e compota caseira). Vermelho morava na Casa do Estudante da USP, bancados pelo Estado, e eu que ia a pé do centro da cidade à Escola passava ali vendo os carrões no estacionamento deles. Os vermelhos consideravam o trote uma humilhação (devo dizer que os meus melhores amigos são os que conheci no trote). A vestimenta de vermelho eram sandálias havaianas e bolsa de tricô ou couro a tiracolo.
Bem, posso afirmar que o Brasil não se tornou uma potência agroindustrial pelas idéias dos “vermelhos”. Já deu para notar de que lado eu estava, mesmo não sendo nenhum fazendeiro rico? É claro que estes são estereótipos estúpidos, mas que dão uma idéia do clima de guerra na minha faculdade nos tempos de eleição para o Centro Acadêmico.
Quando vejo o Brasil hoje parece que estou vendo o país inteiro dividido entre azuis e vermelhos. Mas o que significam hoje esquerda e direita, liberal e conservador?
Para mim não há nada mais conservador do que ser de esquerda hoje. Defender a estatização de empresas privadas como a Bolívia fez, defender a política assistencialista do Bolsa Miséria, defender a censura à imprensa como na Venezuela ou em Cuba... O comunismo morreu e só esqueceram de enterrar na Coréia do Norte e na América Latina. Incrivelmente ainda há gente aqui que pretende fazer a revolução que a Rússia fez em 1917, e que deu errado. Mas ao mesmo tempo é esquerdista um governo que deixa os bancos tão felizes como o PT deixa? Será esta a esquerda liberal?
Me considero de direita porque me oponho à toda a ideologia socialista ou comunista ou marxista, pelos simples fato de que elas pretendem suprimir o indivíduo em prol do coletivo, o que é uma aberração. Pensar livremente é o dom que nos faz humanos, e eu não abro mão disso. Mas ao mesmo tempo me considero liberal, muito mais liberal do que qualquer esquerdista. E pelo menos não mando ao paredón quem discorda de mim.

Saturday, October 14, 2006

Anna ou o novo inverno russo


A imprensa européia tem lamentado a morte da repórter Anna Politkovskaya, e tem razões de sobra para isso.
Anna Politkovskaya era com certeza umas das jornalistas mais corajosas que se conhece hoje. Suas denúncias dos abusos cometidos pela presença militar russa na Chechênia a transformaram em inimiga número um dos nacionalistas e da nova classe política que gravita en torno da figura de Vladimir Putin.
Foi assassinada a tiros na escada do prédio onde morava em Moscou.
Quem lê os relatos de Anna em seus livros e reportagens pode conhecer um pouco mais dos métodos brutais empregados pelos russos para torturar, extrair confissões, prender e punir chechenos sob uma pretensa luta contra o terrorismo.
Em seu último artigo, não terminado, para a Novaya Gazeta ela pergunta: “Combatemos a ilegalidade com a lei? Ou golpeamos a ilegalidade deles com a nossa?”
O jornal El País, que divulgou este último artigo, destaca também fragmentos de textos escritos por Anna fazendo relatos diretos de torturas perpetradas por russos em jovens chechenos.
No jornal francês Le Monde, o escritor Daniel de Roulet escreve uma carta endereçada à Anna em sua homenagem. Conta de como ela se admirava de ainda estar viva, de como ele a admiriva por ter ainda a coragem de voltra à Chechênia, e de como ao voltar, resumiu o que viu em uma frase: “Em selvageria ganhamos todos”.
Jean Daniel, na Nouvel Observateur citando Montherlant diz que não há juventude verdadeira sem a necessidade de heroísmo. Mulheres como Anna Politkovskaya ou Veronica Guerin são heroínas de quem precisamos.
Anna já é a 12a jornalista a morrer na Rússia de Vladimir Putin. E este crime não será esclarecido tão cedo. Sua morte é um sintoma da ditadura policial que se instala a cada dia na Rússia, e cada vez mais brutalmente.
Vladimir Putin criou em torno de si uma aura de justiceiro e patriota aos olhos dos russos, mas ao que parece, os inimigos deste novo czar, criado nos porões da KGB, só têm como destino a prisão, o exílio ou a morte. Perseguindo os novos ricos que não estão do seu lado, interferindo na política da Ucrânia, Bielorússia e da Geórgia, esmagando a resistência chechena ele mantém sua popularidade. Os instigadores do racismo e da xenofobia nas ruas de Moscou pegam carona nessa onda.
Bernard Guetta na l’Express diz que Anna Politkovskaya era uma pedrinha atrapalhando essa imensa engrenagem de recuar no tempo. Ela é morta como morrem no outono estas últimas flores da primavera, vítimas do frio que chegará.

Zwart Boek


Paul Verhoeven, depois de Basic Instinct e Total Recall volta às suas origens holandesas com seu novo filme, Zwart Boek, o Livro Negro.
A história gira em torno de Rachel Hagelstein, uma garota judia “mergulhada” (escondida para escapar à perseguição nazista) na Holanda de 1944. Quando a fazenda da família que a acolheu é destruída em um bombardeio e sua família assassinada por nazistas, Rachel entra para a Resistência Holandesa e para o combate clandestino. Aí vai descobrir que o que matou sua família foi uma quadrilha especializada em enganar e assassinar judeus ricos como seus pais com promessas de liberdade.
Ao contrário de filmes heróicos e româncticos sobre a guerra, Paul Verhoeven nos faz ver como são vagas as fronteiras entre o heroísmo e a traição, ganância e generosidade, certo e errado em meio à espiral de violência, horror e crueldade da guerra. Uma obra prima e um dos melhores filmes já feitos na Holanda.

Kim


Este homem tem uma bomba nuclear...Olhem o naipe do cidadão. No hilariante filme Team America, Kim Jong Il na verdade é uma barata alienígena procurando exterminar os humanos para fazer da Terra um novo lar para sua espécie, os Zypods...É de se acreditar, ou não? “You are worthress Arec Baldwin...”

Os novos fascistas


Há trevas em nossos horizontes. Em todo o planeta há fascistas tentando fazer o tempo voltar. Na semana passada um professor de filosofia de Lyon publicou um artigo no jornal Figaro criticando o Islã. No fim de semana circulavam na internet francesa ameaças de morte, incluindo fotos e mapas de como chegar na casa do professor. A ameaça conclamava os “leões de França” a matarem o herege assim como o “leão” Mohammed Al Bouyeri havia matado o herege Theo van Gogh em Amsterdam.
Ainda na França uma adolescente muçulmana é espancada por colegas homens porque estava comendo um sanduíche no recreio durante o Ramadã, o mês de jejum dos muçulmanos. Uma ópera de Mozart, A Indomada, é cancelada em Berlim porque uma cena onde um personagem carrega a cabeça decapitada do Profeta Maomé gerou ameaças anônimas de atentados.
Na Ásia, Kim Jong Il ao que parece transformou o seu país-prisão em uma potência nuclear. Enquanto seu povo morre de fome lá está ele assistindo desfiles militares e testando mísseis.
Na América Latina a Bolívia está ameaçada de guerra civil. Uma parte do país quer se separar do resto por recusar a “revolução” promovida por Evo Morales. Este mesmo Evo Morales que já começou a elaborar uma “lista negra” de jornalistas que o criticam. E Hugo Chávez, depois de chamar Bush de demônio na ONU comprou mais alguns milhões de dólares em armas na Rússia, governada pelo novo czar Putin, e agora ameaça interferir na cizânia boliviana.
O mundo está dando passos de caranguejo. Será que não aprendemos nada com nossa história?
O islamismo é sem dúvida, como previa Oriana Falacci, a mais nova ameaça de fascismo no Ocidente e na Europa em especial. Salman Rushdie, Theo van Gogh e agora Mozart e Robert Redeker? Quando vai parar? É um consolo ver que o Papa pelo menos não pediu desculpas pelo seu discurso em Ratisbone. O Islã precisa de um Spinoza como o cristianismo precisou.
Jean Daniel em seu editorial na Nouvel Observateur diz que é preciso lembrar sempre que as primeiras vítimas do islamismo estão entre os próprios muçulmanos, no Iraque, no Irã, no Sudão ou na Somália. Entre estas milhares de vítimas certamente estão os que compartilham nosso ponto de vista, e estes são nossos aliados naturais contra este novo fascismo. Não se deve tolerar o intolerável. A Europa e a voz moderada dos intelectuais muçulmanos deve se fazer ouvir.
Kim Jong Il, apesar do brinquedo novo, conseguiu a proeza de juntar contra seu país a China, a Coréia do Sul e o Japão, que pela primeira vez pediu desculpas ao resto da Ásia pelo que fez na II Guerra Mundial. O regime do biruta coreano está no começo do fim.
Nos resta o novo fascismo latino americano, embrulhado na velha receita marxista. Fidel Castro, Hugo Chávez, Evo Morales, Ollanta Humala, e os aspirantes Lula e Kichner. Até quando precisaremos destes ridículos tiranos? Lembra da música do Skank? Para abolir a escravidão do caboclo brasileiro, numa mão educação, na outra dinheiro.

Tristeza não tem fim


Como se levantar da cama todo dia sabendo que você pode ser atropelado nos minutos seguintes? Como pensar que por uma série de erros estúpidos seu avião tem uma chance em milhões de bater em outro em pleno céu amazônico? Como por seu filho em um ônibus sem saber se um cretino virá se explodir ali perto?
Viver é muito perigoso como diz o jagunço Riobaldo em meu Grande Sertão Veredas...
Eu me lembro do filme The Village, de M. Night Shyamalan onde os personagens se isolam do mundo para fugir ao caos, e mesmo assim não escapam ao inevitável.
Lembrei desse filme ao assistir o crime ocorrido na comunidade Amish na Pennsylvania. Os Amish resolveram se isolar do mundo exterior (habitado pelos que eles chamam de “os ingleses”) e de repente o mundo exterior os atinge com um crime brutal como a morte das crianças na escola.
Infelizmente não temos bola de cristal nem nada que nos afaste do sofrimento. Li esta semana uma entrevista de Boris Cyrulnik, neuropsiquiatra francês. Seu pai foi morto na Legião Estrangeira, sua mãe, judia, presa e deportada para a Alemanha nazista. Boris passa por orfanatos e trabalhos no campo até reencontrar a tia em Paris. Aos onze anos ele nunca pôs os pés na escola. Quinze anos mais tarde ele será psiquiatra. De carne e alma, seu livro mais recente divulga seus estudos sobre a anatomia do cérebro e suas relações e combinações com o que chamamos o espírito humano.
Falando sobre felicidade, Boris Cyrulnik em sua entrevista diz que na verdade não há como viver sem sofrimento. Nas nossas vidas formamos bases de segurança com família, religião, lembranças e experiências. Todos os dias saímos dessa base para experiências novas, para submetermo-nos a novos riscos. A felicidade vem seja desta busca, seja na volta à nossa base de segurança.
Uma criança mimada, um fanático religioso ou alguém que se isola do mundo para se sentir sempre em segurança estará condenado à infelicidade ao reencontrar o mundo real. A felicidade existirá nas nossas vidas quando achamos caminhos para enfrentar e ultrapassar o sofrimento, não ao tentar nos isolar dele.

Hockey feminino, Holanda campeã!


As holandesas ganharam a Copa do Mundo de hockey de campo. São todas bonitas, atléticas, coradas! E acreditem, a musa do time holandês chama-se Fátima Moreira de Melo e tem um pézinho em Portugal. Eu me considero um feminista, mas em matéria de esportes há certamente os que são mais recomendados para mulheres. Nada contra os homens que jogam hockey (essa é para o meu amigo holandês que joga), mas eu prefiro muito mais ver as meninas jogando com aquele uniforme de minissaia. Mulheres tem que jogar hockey, ou vôlei de praia, ou tênis. Fazer equitação ou esgrima. Não porque eu pense que mulheres não possam ou devam jogar rugby ou futebol, ou boxear. Eu só acho que mulheres deveriam preservar o que têm de melhor, graça, elegância e feminilidade. Já vi mulheres jogando rugby e acreditem, não é bonito. Deixem homens rolarem na lama.

Night Watch


Sexta feira 13, meia noite, desculpem a demora mas já estou aqui de volta com meu jazz, meu café e a madrugada à frente.

Sunday, October 08, 2006

Cambalache


Um Tango que é a cara de nossos tempos:

Cambalache
Enrique Santos Discépolo

Que el mundo fue y será una porquería,
Ya lo sé;
En el quinientos seis
Y en el dos mil también;

Que siempre ha habido chorros,
Maquiavelos y estafaos,
Contentos y amargaos,
Valores y dubles,

Pero que el siglo veinte es un despliegue
De malda' insolente
Ya no hay quien lo niegue;
Vivimos revolcaos en un merengue
Y en un mismo lodo todos manoseaos.

Hoy resulta que es lo mismo
Ser derecho que traidor,
Ignorante, sabio, chorro,
Generoso, estafador.

Todo es igual; nada es mejor;
Lo mismo un burro que un gran profesor.
No hay aplazaos, ni escalafón;
Los inmorales nos han igualao.

Si uno vive en la impostura
Y otro roba en su ambición,
Da lo mismo que si es cura,
Colchonero, rey de bastos,
Caradura o polizón.

Que falta de respeto,
Que atropello a la razón;
Cualquiera es un señor,
Cualquiera es un ladrón.

Mezclaos con stavisky,
Van don bosco y la mignón,
Don chicho y napoleón,
Carnera y san martín.
Igual que en la vidriera irrespetuosa

De los cambalaches
Se ha mezclao la vida,
Y herida por un sable sin remaches
Ves llorar la biblia contra un calefón.

Siglo veinte, cambalache
Problematico y febril;
El que no llora, no mama,
Y el que no afana es un gil.

Dale nomás, dale que vá,
Que allá en el horno nos vamo a encontrar.
No pienses mas, echate a un lao,
Que a nadie importa si naciste honrao.

Que es lo mismo el que labura
Noche y día como un buey,
Que el que vive de los otros,
Que el que mata o el que cura
O esta fuera de la ley.

Entre Lee e Grant


Observe os mapas ao lado. O primeiro mostra os Estados Unidos na Guerra Civil, em 1864. Os estados da União em azul, no norte, são os industrializados, com melhor nível de educação e informação, modernos, anti-escravagistas. Os estados Confederados, no sul estão em vermelho. Eram os estados mais atrasados, com economia baseada na agricultura e no trabalho escravo. Os mapas seguintes mostram os resultados das eleições de 2004 nos Estados Unidos (Kerry nos estados azuis e Bush nos vermelhos) e do primeiro turno de 2006 no Brasil (Lula de vermelho, Alckmin azul).
Não é reveladora a semelhança do mapa dos EUA na Guerra Civil e na eleição de George Bush? Bush foi eleito pelos grotões do seu país, regiões que depois de mais de um século ainda arrastam a herança cultural de atraso dos Confederados.
O mapa do Brasil revela quem é que está dando votos a Lula.
A reportagem da Veja desta semana diz o resto:
Por Alexandre Oltramari : “Examinando-se os números brutos, ficou a impressão de que o PT, mesmo depois de um escândalo atrás do outro, surpreendeu nas urnas. Embora as projeções dos analistas variassem, ninguém acreditava que o partido seria capaz de eleger mais do que 75 deputados. Pois o PT extrapolou essa marca, elegendo 83 deputados federais, e ainda cravou um recorde: obteve 13,9 milhões de votos para a Câmara dos Deputados, a maior votação de um partido nestas eleições. Outro dado que lustrou o desempenho do PT nas urnas foi a eleição para governador. Antes, o partido tinha apenas três governos estaduais. Agora, conseguiu quatro. Conquistou, já em primeiro turno, o governo da Bahia, o quarto maior eleitorado do país, onde o senador Antonio Carlos Magalhães reinava há dezesseis anos ininterruptos. Ainda está na disputa em dois estados, o Rio Grande do Sul e o Pará. Analisado sob esse ângulo, o desempenho eleitoral do PT soa luminoso e faz parecer que o eleitorado não deu a mínima para o mensalão, os dólares na cueca, a Land Rover, a mala de dinheiro sujo... Mas é um engano. Debulhando-se os números, descobre-se que, em comparação com a eleição realizada em 2002, o PT perdeu 2,1 milhões de votos, numa proporção parecida com as perdas do PFL. O dado mais significativo do desempenho eleitoral do PT, no entanto, talvez esteja na distribuição do seu novo eleitorado: sua popularidade despencou nos estados do Sul e Sudeste e disparou no Norte e Nordeste, acompanhando a divisão geográfica da votação do presidente Lula. Ou seja: o partido que nasceu urbano, fruto da confluência do movimento sindical e da intelectualidade acadêmica, está caminhando no rumo dos grotões.”

De ressaca

É domingo e só não escrevi no blog ontem porque entornei uma garrafa de Casillero del Diablo. Noite de tapas aqui em casa, com jamón serrano, queso manchego, azeitonas, chorizo, morcilla, gambas, pimentão assado, almondegas com pimenta, patatas bravas, cogumelo recheado...Vinho, whiskey, charutos señorita...Bom demais, e ressaca hoje.
Assinei a Veja Digital para tentar ficar a par das últimas notícias aí do Brasil. Apesar de não ser perfeita, a Veja ainda é a melhor revista do Brasil (Depois que a Primeira Leitura acabou). Eu nunca vi na Veja uma reportagem picareta com a que a Isto’’e fez divulgando um dossiê falso contra Serra. Só estou de mal com a Veja porque ainda não tenho meu código de assinante. É assim, só pode assinar a Veja Digital quem mora no exterior. Aí eles põem um formulário bonito no website para ser preenchido. O formulário pergunta o seu CEP, e obviamente como você mora fora do Brasil o site não reconhece seu CEP. Pura cretinice. Aí eu sou obrigado a ligar para as “Stepford wives” do serviço de atendimento que só falam no gérundio. Agora estarei esperando dez dias para estar recebendo o meu código de assinante. Quem disse na era digital tudo pode ser resolvido com um clicar de mouse?
Mas o que eu queria mesmo era escrever sobre as eleições. Um primo meu começou uma lista de discussão por email e chegou a comparar o Clodovil à Ciciolina. Eu enviei para ele as seguintes considerações:
1. Entre ter Clodovil ou Cicciolina no parlamento, uma vez que os dois são absolutamente incompetentes em assuntos de estado, prefiro a Cicciolina e que se assuma de vez a baixaria no Planalto;
2. Sabendo que não temos uma Cicciolina e que o Clô, para os íntimos, já está eleito, eu gostaria muito de vê-lo na TV Senado presidindo uma CPI e dizendo: "Deputado, agora olhe para a lente da verdade e diga, o senhor prevaricou?";
3. Não voto porque não consegui transferir meu título a tempo para a Holanda, e por remorso me dei como missão convencer outras pessoas a não votarem no Lula. Por motivos amplamente noticiados considero o PT como um poço de incompetência, hipocrisia e corrupção no governo. E o Lula, se não sabia de nada é um grandessíssimo pateta, e se sabia de tudo é o rei dos picaretas. Em ambos os casos não merece ser presidente, e francamente qualquer coisa é melhor que ele;
4. Aproveito para divulgar a campanha que está circulando por aí na internet: Lula para presidente (presidente Bernardes, presídio de segurança máxima);
5. Caetano, Gil, Chico Buarque, Bono Vox podem ser excelentes músicos mas deveriam deixar política pra quem sabe, estudou e tem experiência. Todo artista acha que a fama lhe dá alguma aura de distinção superior para que possam falar sobre assuntos dos quais entendem tanto quanto eu de física nuclear;
6. A eleição de Collor, Clodovil, Enéas, Celso Russomano, Maluf e outros bichos só demonstra algo já sabido por todos. O nosso querido povo brasileiro, aquele semi-analfabeto que pega o bumba todo dia para ganhar um salário mínimo e não tem a menor idéia do que o Bonner está falando não está nem aí para ideologias, biografias, filosofias...Vota em quem lhe é mais simpático, em quem se comunica com ele. O voto distrital e alguns milênios de educação haverão de reparar este mal.
7. Para mim, qulquer político envolvido em falcatrua ou crime comum ficaria inelegível pela vida toda! Sinceramente é triste ver o Maluf sair da cadeia para a Câmara e o Collor do ostracismo para o Senado! E mais triste ver os dois apoiando e trocando elogios com Lula!

Monday, October 02, 2006

Sunday, October 01, 2006

Só de sacanagem - Elisa Lucinda

Vale a pena ler de novo, ou assistir a Ana Carolina lendo:

Meu coração está aos pulos!
Quantas vezes minha esperança será posta à prova? Tudo isso que está aí no ar: malas, cuecas que voam entupidas de dinheiro.
Do meu dinheiro, do nosso dinheiro, Que reservamos duramente para educar os meninos mais pobres que nós. Para cuidar gratuitamente da saúde deles e dos seus pais. Esse dinheiro viaja na bagagem da impunidade e eu não posso mais.
Quantas vezes minha esperança vai esperar no cais? É certo que tempos difíceis existem para aperfeiçoar o aprendiz. Mas não é certo que a mentira dos maus brasileiros venha quebrar no nosso nariz.
Meu coração tá no escuro. A luz é simples, regada ao conselho simples de meu pai, minha mãe, minha avó E dos justos que os precederam: “Não roubarás”. “Devolva o lápis do coleguinha”. “Esse apontador não é seu, minha filha”.
Pois bem, se mexeram comigo, Com a velha e fiel fé do meu povo sofrido, Então agora eu vou sacanear: Mais honesta ainda vou ficar!
Só de sacanagem! Dirão: “Deixa de ser boba, desde Cabral que aqui todo o mundo rouba” E eu vou dizer: “Não importa, será esse o meu carnaval, vou confiar mais e outra vez”. Eu, meu irmão, meu filho e meus amigos. Vamos pagar limpo a quem a gente deve e receber limpo do nosso freguês.
Com o tempo a gente consegue ser livre, ético e o escambau. Dirão: “É inútil, todo o mundo aqui é corrupto, desde o primeiro homem que veio de Portugal”. E eu direi: “Não admito, minha esperança é imortal”. E eu repito: “Ouviram? IMORTAL!”
Sei que não dá para mudar o começo Mas, se a gente quiser, Vai dar para mudar o final!

Oriana Fallaci

Oriana Fallaci faleceu nesti último dia 15 de setembro após longa batalha contra o câncer. Desmerecidamente taxada de reacionária e racista por seus inimigos e pelos politicamente corretos, Oriana era antes de tudo uma defensora incondicional da liberdade. Tinha sobretudo receio de que a Europa se transformasse em uma Eurábia, com mulheres de burka, mesquitas nas praças e a sharia como lei. A The Economist desta semana faz uma homenagem a esta imensa jornalista em seu obituário.
Aprendeu desde cedo o que era o totalitarismo na Itália de Mussolini. Na adolescência transportava mensagens e explosivos para a resistência anti-nazista em Florença. Como repórter esteve nas zonas de guerra mais perigosas do planeta no Oriente Médio, Vietnam, Índia e Paquistão e na América do Sul. Entrevistou gente como Henry Kissinger, Indira Gandhi, Yasser Arafat, Gola Meir e o aiatolá Khomeini. Escreveu artigos para os principais jornais e revistas do mundo. Para ela o inimigo era um só, o fascismo. O atentado de 11/09 só confirmou o que ela pressentia, que o islamismo fanático era uma ameaça a liberdade e ao modo de vida ocidental. Seus livros “La Rabbia e l’Orgoglio” (A Raiva e o Orgulho) e “La Forza de la Ragione” (A Força da Razão) venderam mais de 20 milhões de cópias no mundo inteiro e lhe valeram o ódio dos fanáticos que a acusavam de intolerância. Por mais polêmicas e diretas que fossem suas declarações, Oriana Fallaci nunca se curvou a tirania nenhuma. Perde-se uma grande mulher.

Enquanto chove lá fora e o molho cozinha...


Eu pinto...

Glosa - Fernando Pessoa


Quem me roubou a minha dor antiga,
E só a vida me deixou por dor ?
Quem, entre o incêndio da alma em que o ser periga,
Me deixou só no fogo e no torpor ?

Quem fez a fantasia minha amiga,
Negando o fruto e emurchecendo a flor ?
Ninguém ou o Fado, e a fantasia siga
A seu infiel e irreal sabor...

Quem me dispôs para o que não pudesse ?
Quem me fadou para o que não conheço
Na teia do real que ninguém tece ?

Quem me arrancou ao sonho que me odiava
E me deu só a vida em que me esqueço,
"Onde a minha saudade a cor se trava ?"

Pausa para os sentidos II


Discos da semana:
Diana Krall, “From this moment on”. O que posso dizer? Eu amo a voz desta mulher. Este cd mistura algumas faixas com um tom de big band como “It could happen to you” e outras mais smooth jazz como “Isn’t this a lovely day”. Mas Live em Paris ainda é insuperável. Se você ainda não tem nenhum disco dela compre este, e se for o DVD melhor ainda...
Bob Dylan, “Modern Times”. Um grande trabalho de Bob Dylan. A música é deliciosa, puro old school rock n’ roll com raízes fincadas no folk americano. Imperdível.

Filmes da semana:
Lady in the water, M. Night Shyamalan. Decepcionou, faltou fantasia, faltou suspense, faltou aquela surpresa de seus filmes que eu tanto gostava como The Village ou Sixt Sense. É uma história para dormir mesmo, e imagino que a cena do monstro devorando um crítico seja uma piada particular de Shyamalan. A única função do filme é nos fazer discutir qual seria a função de cada personagem na história. Só o que salva o filme é a atuação de Paul Giamatti.
The Merchant of Venice, Michael Radford. Uma excelente adaptação para o cinema da peça de Shaekespeare. Os cenários, figurinos, toda a produção é extremamente bem feita. Entre a história de amor de Bassanio e Portia, e o drama entre Shylock e Antonio, o filme concentra a atenção neste último. Temos aí grande privilégio de ver Al Pacino e Jeremy Irons contracenando na tragédia do judeu avarento e do mercador arrogante. Excelente.
North Country, Niki Caro. Até o mais bronco dos machões se tornaria um feminista ao assistir este filme. A história do calvário de Josey Aimes, vivida com competência por Charlize Teron, desde o estupro na adolescência, à violência conjugal e ao assédio sexual é de dar raiva em qualquer um, ainda mais em se tratando de um caso real. Felizmente, sempre há redenção nas histórias americanas.
Caché, Michael Haneke. A família de Georges Laurent, vivido por Daniel Auteil, é aterrorizada por vídeos da própria casa e desenhos estranhos que chegam pelo correio. O mistério não é resolvido, o que acaba nos deixando com raiva do filme e nos perguntando o que será que aconteceu. Mas vemos como o pacato Georges aos poucos se confronta com seu passado e se torna causa e vítima do próprio terror.

Pausa para os sentidos I


Vamos dar um tempo na ansiedade com o resultado da votação de amanhã e nos preocuparmos com coisas realmente importantes.
A Holanda ainda é um lugar onde o comércio tradicional ainda não foi totalmente devorado por monstruosos hipermercados e lojas hard discount. Uma grande diversão minha é visitar a feira no sábado, comprar legumes e flores nas barracas, ir ao açougue comprar carne, ir à peixaria, à padaria, à loja do bósnio que delícias como copa, prosciutto e salame italianos até azeitonas gregas, azeites, massas, fungos e tudo o que há de mais tentador na culinária do mediterrâneo.
Aquisições do dia: Tomates, ossobucco, linguiça e costelinha de porco. Tudo isso para fazer um molho de macarrão cuja receita está na minha família materna desde que saíram da província de Salerno no início do século passado. O molho já está lá na panela cozinhando há 7 horas. Se há uma coisa que os italianos aprenderam é que para se cozinhar bem é necessária muita paciência. Amanhã será prontamente devorado acompanhado de um tinto Santa Cristina, diretamente da Toscana.
Na barraca do turco na feira comprei também uma penca de pimenta malagueta. Fiz uma conserva e agora estou aqui com os dedos pegando fogo. A minha pimentinha promete, daqui a uns dias será capaz de corroer aço.
Também comprei uma paleta de cordeiro desossada e bem amarrada, pronta para ser temperada com alho, sal e ervas e direto para o forno...E também um joelho de cordeiro que vai virar um ensopado no molho de vinho. O prato de hoje foi lula. Nem tinha pensado nisso mas deve ser meu subconsciente atuando antes da eleição.
Primeiro você pega aquelas batatas pequenininhas, cozinha com casca e tudo e depois põe pra dourar na frigideira com azeite e manteiga. Acrescente cebolas e salsinha e deixe tudo dourar. Ponha de lado. Pegue a lula e corte o cone parcialmente em anéis, sem que eles se separem. Tempere com sal e pimenta do reino. Frite o lula, perdão, a lula, dos dois lados, acrescente alho picado e mais salsinha, cebolinha e pimentão em quadradinhos, junte as batatas e cebolas de volta na frigideira e sirva. Receita de Jamie Oliver.