Thursday, March 13, 2008

Barba


Deixei crescer a barba. Como dizia Luiz Gonzaga, cabelo no queixo é uma diferença da mulher que o homem tem.
Hoje Wilkinson e Gilette competem para ver quem deixa os homens com mais cara de bunda, adicionando lâminas e mais lâminas a cada ano em seus aparelhos (começou com duas, já estão com cinco) como se pêlos fossem minúsculos exércitos de mouros a serem abatidos em uma cruzada depilatória.
O metrossexualismo pôs ex-machões no salão de beleza, onde usam cremes e hidratantes, e onde se arrancam os pelos com cera quente. A barba desapareceu.
Desde Pedro, o Grande na Rússia não se via uma ofensiva tão intensa contra a pilosidade masculina, outrora símbolo de virilidade, e até de devoção a Deus.
Heróicos ingleses criaram o Beard Liberation Front, um movimento de resistência que defende os barbudos da discriminação e incentivando o uso da barba.
Me juntei a eles e aposentei meu Mach 3. A barba cresceu.
Não estou falando daquela coisa suja de talibans e bichos-grilos, mas de barbas limpas e bem aparadas, estilo Richard Branson. Então fui ao barbeiro. Nada de coiffeur, salão de beleza, fashion beauty center e outras boiolagens. O Cardoso é um barbeiro desses em extinção mas que ainda se encontram no interior paulista. Cristo na parede, revista de mulher pelada na cadeira.
O Cardoso afia a navalha na pedra, faz um cigarro de palha fedorento, dá uma cuspida na calçada e quando você fala "capricha!" ele se faz de surdo e pergunta "pra bicha??".
E lá vai ele com a navalhona na mão. A macheza em se fazer a barba não está na barba em si, mas em deixar outro homem passar uma lâmina no seu pescoço enquanto você finge que nada está acontecendo. Aí o Cardoso termina o serviço e pergunta: "arco, tarco o verva?" (tradução: álcool, talco ou água velva?), e assim acaba o ritual.
E lá fui eu ostentando minha barba aparada e bem feita, sorrindo para as moças e fazendo cara feia aos rapazes. Até que alguém me lembrou que o companheiro Lula também usa barba.
Aí eu raspei essa merda toda.

1 comment:

Lelec said...

É engraçado, valeria mesmo um estudo etno-antropológico: no barbeiro em que corto o cabelo aqui em Paris também há os "periódicos" do mês à disposição do cliente. Igualzinho ao barbeiro em que eu ia em BH. Assim é que é bom!

Abraço,

Lelec