Monday, October 13, 2008

Borboletas


Há 192 dias, quatorze horas, trinta e seis minutos e dezessete segundos uma borboleta bateu asas em Papua Nova Guiné.
Os efeitos dos choque microscópicos das moléculas de ar movidas pelas asas da borboleta guineense somaram-se a trilhões de outros efeitos microscópicos causados por movimentos semelhantes e alterações de temperatura e pressão e culminaram com o avanço de uma massa de ar frio sobre a América do Sul e com uma tempestade de granizo em pleno verão norueguês.
Provocaram chuvas sobre a plantação de soja do fazenderio argentino José Hernandez Baja, que este ano saldará suas dívidas e enviará a Europa sua filha Consuelo para estudar economia em Madri, de onde irá sair para os altos escalões do Banco Central Europeu e melhorar o sistema financeiro mundial.
Vendo o tempo horrível daquela manhã, o diretor do Comitê de Premiação do Instituto Nobel considerou que havia sido uma tolice teram dado o prêmio da Paz no ano passado a Al Gore e ao IPCC e sua claque de puxa-sacos políticos. Decidiu que nesse ano o daria a quem realmente tivesse trabalhado pela paz mundial.
Um diretor de banco americano passou as férias pescando na costa Chilena. Foi uma pescaria excepcional considerando que as correntes frias da Antractica estava carregadas de peixe. Relaxado, decidiu que na sua volta iria definitivamente olhar e analisar aqueles relatórios sobre hipotecas subprime que estavam sua mesa.
Victor e Leo, cantores sertanejos descansavam em sua fazenda preparando seu novo cd quando uma borboleta, descendente direta de um ancestral comum de 300 milhões de anos da borboleta da Papua, pousou em um vaso na mesa onde estavam partituras e repertórios.
Há algumas centenas de anos, bárbaros do norte invadiram as províncias romanas no sul da Itália e na península Ibérica. Muitas gerações depois, meus ascendentes portugueses, e depois os italianos desembarcavam no Brasil. Na semana passada, eu estava em minha caminhonete dirigindo-me ao escritório em Campo Grande quando escutei a música Borboletas de Victor e Leo. O fim de semana tinha sido frio. Li os jornais sobre a crise financeira internacional e preocupei-me com os negócios. Meu sistema imunolôgico baixou de eficiência. Streptococcus atacaram minhas amígdalas. Naquela tarde de sextafeira eu ficaria mais 48 horas com febre e dores de cabeça e no corpo.
Essa febre me fez escrever este post. E alguma série de eventos indeterminados fez você estar aí do outro lado lendo.
O que nos traz a uma pergunta filosófica nunca dantes respondida. Será o livre arbítrio uma mera ilusão, já que tudo o que fazemos advém de uma série de eventos anteriores?
Seremos marionetas movidas por cordões ligados a borboletas invisíveis?

5 comments:

bete p.silva said...

Quem não garante que navegando montados num gigantesco elefante?

Porque eu vesti blusa preta esta manha? Ora, porque secou ontem, porque estava próxima no armário, porque me emagrece, porque, porque, porque...

Sei não...aí eu preciso ver porque eu comprei a blusa preta, e porque o comerciante vendeu, e porque porque porque

AS variáveis atrás de um único evento chegam a milhões não? E estamos falando só de uma reles blusinha preta...

Eu heim?... vou trabalhar, porque se ficar aqui blogando é bem provável perder o emprego.

Fui! (como tá o mercado de trabalho por aí? pq estou mesmo pra perder o emprego, é sério...)

Sandra Leite said...

Não faça essas perguntas. Ainda mais nesses dias. Dias sem luz em qeu não entendo a humanidade. Não entendo eu mesma. Por que as borboletas fariam isso conosco?

Adorei seu post. Me deixou zonza, acho que era a intenção

Lelê Carabina said...

Olá! Ando meio sumida, um tanto por falta de tempo mesmo, outro tanto por falta de inspiração. Mas não, não acredito em determinismos (por ora eu ainda não sei me explicar didaticamente) – especialmente quando os fatos dependem da ação humana (lembrei-me daquele artigo da Dicta), nem tampouco em indeterminismos (o puro “acaso”, quando se trata do homem); por outro lado estou tentando entender como viver este livre arbítrio. Bem, mas todas estas “conexões”, o que tu acabaste de demonstrar no post, dependem essencialmente da razão e muito mais da sensibilidade humanas para percebê-las... (creio eu); será que não seria aí que mora o enigma do livre arbítrio? Enfim, se tem um bichinho que eu gosto muito são as borboletas (me lembra um poema da Cecília Meireles) e olha só, estes dias também minhas amígdalas foram atacadas por Streptococcus. Eu só não tenho toda esta inspiração quando estou com febre! Um abraço.

Anonymous said...

Era uma vez
Um sábio chinês
Que um dia sonhou
Que era uma borboleta
Voando nos campos
Pousando nas flores
Vivendo assim
Um lindo sonho...

Até que um dia acordou
E pro resto da vida
Uma dúvida
Lhe acompanhou...

Se ele era
Um sábio chinês
Que sonhou
Que era uma borboleta
Ou se era uma borboleta
Sonhando que era
Um sábio chinês...

Raul Seixas

deboraHLee said...

E se TUDO for ilusão? Inclusive nós mesmos e todas as nossas certezas?

;o)