Saturday, October 27, 2007

A última viagem de Steve Fossett


Quando moleque eu adorava as histórias de aventuras. Li todos os Julio Verne (achei uma das primeiras edições das 20 mil Léguas Submarinas num camelô de Paris por 400 euros, ai ai fica pra próxima) e Jack London. Robinson Crusoe. Li as biografias de Richard Burton e David Livingstone, as aventuras de Marco Polo, os diários de Antonio Pigafetta e Vasco Nunez Cabeza de Vaca. A história de Ernest Shackleton e finalmente os livros de Amir Klink. Explorações sempre me fascinaram.
O fato é que o mundo andou ficando pequeno demais, e é raro achar um lugar onde o homem ainda não tenha pisado.
Mesmo assim Steve Fossett colecionou viagens e recordes em terra mar e ar. O homem escalou os picos mais altos de seis continentes, bateu recordes em esqui cross country, em paraglider, deu a volta ao mundo em um veleiro (recorde de 58 dias e 9 horas), em um balão e em um avião non stop, o Virgin Global Flyer. Também bateu recordes diferentes em aviação, incluindo o recorde de velocidade em um Zeppelin.
Louco, megalomaníaco, suicida? Acho que não. Ele sempre disse que como aventureiro seu maior trabalho era o de diminuir os riscos ao máximo. Simplesmente há gente que nasce com essa veia de buscar sempre a fronteira, o limite.
Steve Fosset desapareceu sobrevoando o deserto do Nevada no dia 3 de setembro. Sem deixar traços. Até agora não encontraram nada, nem destroços do seu avião.
Tenho em casa um conto do poeta belga Carl Norac chamado A Última Viagem de Saint-Exupéry, ilustrado com belíssimas aquarelas de Louis Joos. O conto trata do desaparecimento do piloto e escritor francês criador do Pequeno Príncipe. Saint-Exupéry também desapareceu nas nuvens em 1944 quando pilotava no sul da França durante a II Guerra. No conto ele sobe aos céus em seu avião e desce em meio as nuvens, em uma estranha experiência entre sonho e realidade.
Acho que algo assim deve ter acontecido com Fossett. Pode ter sido sequestrado por discos voadores por exemplo, Nevada é propício para abduções... Talvez ainda apareça caminhando pelo deserto. E se ele morreu mesmo, que fique dela a mesma mensagem de Saint-Exupéry: ‘‘C'est par le dépassement de soi que l'on devient un Homme’’.

1 comment:

deboraHLee said...

Que bonito texto, Fernando.

Mesmo que para os entes próximos um desaparecimento sem "prova material" seja sempre muito doloroso, sempre acho poético quando alguém simplesmente some, evapora. Como aquele personagem da Bíblia, cujo nome, neste momento, me escapa totalmente.

É como se o fato de não ter testado todos os seus limtes e enfrentado a morte durante toda a vida, lhes desse o direito de não ter de conhecê-la nos moldes que nós, os comuns e "medrosos", conheceremos.

Deve ter sido ele a dar o xeque-mate.
;o)

beijo.

* acho que era Enoch, o personagem bíblico.