Saturday, October 27, 2007

MST Movimento sem causa...


Eu assisti na televisão holandesa uma vez um documentário sobre o Movimento dos Sem Terra no Brasil. Mostrava a organização quase militar dos acampamentos, as escolas onde pregavam a ideologia marxista do movimento, o coletivismo. Mostravam os camponeses cantando junto canções de guerra contra o capital, as crianças na escola (uma escola recebeu o nome de Mao Tsé Tung), as cestas básicas distribuídas... Fico imaginando no que um europeu deve pensar olhando aquilo tudo. Uma grande maioria acha muito bonito é claro. Nesses tempos de aniversário da morte de Che Guevara, ainda há muito otário entediado por aqui querendo achar uma causa qualquer para lutar na Africa ou na América Latina, vide a holandesa que foi parar nas FARC.
Eu recomendaria duas leituras aos Sem Terra. Uma é Stálin, a Corte do Czar Vermelho de Simon Sebag Montefiore. Ali o autor descreve como Stálin massacrou os camponeses russos, roubando-lhes os grãos para financiar a nascente indústria pesada soviética. Os que aceitavam morriam de fome. Os que recusavam eram fuzilados ou deportados para a Sibéria. Viajantes relatam terem visto aldeias inteiras cobertas de cadáveres, mortos de fome. Os camponeses comiam os cães, cavalos e os ratos, depois a sola das botas e as cascas das árvores. Quem diria que seriam eles os maiores inimigos da revolução russa. Mao foi ainda pior. O outro livro é o Estado da África, de Martin Meredith, um livro brilhante que mostra como a África ficou mais pobre mesmo depois de receber mais de 1 trilhão de dólares em ajuda financeira do resto do mundo nas últimas 5 décadas. Mostra as mazelas promovidas pela reforma agrária e pelas políticas socialistas de vários governantes africanos, desde a Costa do Marfim até o Zimbábue.
A reforma agrária no Brasil teria sentido há mais de um século atrás. Porque naquele tempo terra era a única fonte de riqueza. Hoje o Brasil não precisa de distribuição de terras, precisa de distribuição de riquezas. Um lote de terra com milho e mandioca não gera riqueza nenhuma. É por isso que nos assentamentos mais antigos do governo, que foi esperto foi comprando o lote dos outros. Os que não sabiam trabalhar a terra trocaram seus lotes por uma mobilete e voltaram ao Movimento, que é quem lhes dá sustento.
O Brasil virou uma potência mundial em commodities agrícolas, por pura competência dos que trabalham na terra seriamente. E a beleza da agricultura moderna é que as grandes propriedades produzem grãos, frutas e carnes a baixo custo, portanto mais baratos para a população. As propriedades pequenas produzem flores, hortaliças, champignons, rãs, escargots, trutas e outros produtos de maior valor, portanto destinados às classes mais ricas. Não há mais espaço para o lotezinho de milho e mandioca. O Brasil não precisa de uma reforma agrária, precisa é de uma reforma urbana. Na Holanda, cada mísera cidadezinha de 5.000 habitantes tem seu banco, seus supermercados, concessionárias, lojas, fábricas. Há emprego, e portanto renda.
Mas o qual o quê! O Movimento não quer terra. Todo mundo sabe que eles não sabem trabalhar a terra, que eles desmatam, que eles não respeitam o meio ambiente, jogam lixo, e a única coisa que aprendem a fazer para vender é compota. O mais fácil mesmo é esperar a bolsa e a cesta do governo. O Movimento dos Sem Terra quer é poder. Quer usar essa massa miserável (povo marcado, povo feliz) como bucha de canhão, entrar onde bem entender, ocupar o que bem quiser, sob a benção do governo. Seus mortos são mártires, baixas da revolução, o dos outros não têm nem nome e nem importância. O que eles querem é usar a farsa do povo oprimido para impor sua moral torta e rasgar a constituição ao bel prazer de seus líderes, os mesmos que admiram Stálin e Mao Tsé Tung.

Desperto sempre antes que raie o dia


Desperto sempre antes que raie o dia
E escrevo com o sono que perdi.
Depois, neste torpor em que a alma é fria,
Aguardo a aurora, que já tantas vi.

Fito-a sem atenção, cinzento verde
Que se azula de galos a cantar.
Que mal é não dormir? A gente perde
O que a morte nos dá para começar.

Oh Primavera quietada, aurora,
Ensina ao meu torpor, em que a alma é fria,
O que é que na alma lívida a colora
Com o que vai acontecer no dia.
Fernando Pessoa

É tu maconheiro


O jornal O Globo publicou uma pesquisa que mostra o perfil dos usuários de droga. A maioria está entre jovens ricos das grandes cidades. É como o Reinaldo Azevedo escreveu em seu artigo na Veja, o bonde do Foucault contra o capitão Nascimento. A galera jovem e cabeça feita das faculdades de Ciências Humanas curte um baseado, acha que reprimir o crime é abuso de poder, mas quando leva tiro de traficante vai abraçar a Lagoa vestido de branco e pedindo paz. Uma amiga comentou aqui outro dia que nem que ela quisesse fumaria baseado no Brasil. Qualquer um com cérebro sabe que é lógico concluir que cada baseado é uma arma a mais na mão de um favelado ou de uma criança (ou os dois), ou na cabeça de algum amigo ou parente seu. Não há oferta sem demanda. Então porque não liberar logo diria o pessoal cabeça da turma do cachimbo? Em princípio eu acho que cada um devia ser o dono do seu nariz, desde que não interferisse na vida e nos direitos dos outros. Me lembro de um diálogo do filme Traffic, onde a personagem de Michael Douglas responsável pelo assunto das drogas nos EUA pergunta ao seu colega mexicano qual a política deles para reduzir o consumo. O mexicano diz: “cada vez que um viciado morre de uma overdose o consumo diminui”. Eu acho que todo junk tem o direito de se acabar nas drogas se essa é a vida que ele escolheu. Se quer ajuda para sair dela, aí sim podemos, a sociedade e o governo, dar uma forcinha.
O problema é que o vício não interfere só na vida do viciado, ele estraga a vida da família, a dos amigos e a da sociedade em geral. Para o consumo ser liberado, principalmente no Brasil, há um imenso caminho a ser percorrido nas áreas de segurança pública, saúde e assistência social. Se na Holanda não funciona direito, imagine o que seria do Brasil com a legalização das drogas.
Enquanto isso, a cada vez que uma bala perdida matar alguém no Brasil, pense que a culpa também é tua maconheiro.

Sonós


Trouxe do Brasil esse cd novo da Paula Toller. Há quem não suporte a loira. Há gente que a adora. Eu confesso que gosto da sua voz, do seu ar blasé, e das suas musiquinhas. O cd para mim é a cara dela, é relaxante e despretensioso. Perfeito para ouvir e escrever no blog ao mesmo tempo....

A última viagem de Steve Fossett


Quando moleque eu adorava as histórias de aventuras. Li todos os Julio Verne (achei uma das primeiras edições das 20 mil Léguas Submarinas num camelô de Paris por 400 euros, ai ai fica pra próxima) e Jack London. Robinson Crusoe. Li as biografias de Richard Burton e David Livingstone, as aventuras de Marco Polo, os diários de Antonio Pigafetta e Vasco Nunez Cabeza de Vaca. A história de Ernest Shackleton e finalmente os livros de Amir Klink. Explorações sempre me fascinaram.
O fato é que o mundo andou ficando pequeno demais, e é raro achar um lugar onde o homem ainda não tenha pisado.
Mesmo assim Steve Fossett colecionou viagens e recordes em terra mar e ar. O homem escalou os picos mais altos de seis continentes, bateu recordes em esqui cross country, em paraglider, deu a volta ao mundo em um veleiro (recorde de 58 dias e 9 horas), em um balão e em um avião non stop, o Virgin Global Flyer. Também bateu recordes diferentes em aviação, incluindo o recorde de velocidade em um Zeppelin.
Louco, megalomaníaco, suicida? Acho que não. Ele sempre disse que como aventureiro seu maior trabalho era o de diminuir os riscos ao máximo. Simplesmente há gente que nasce com essa veia de buscar sempre a fronteira, o limite.
Steve Fosset desapareceu sobrevoando o deserto do Nevada no dia 3 de setembro. Sem deixar traços. Até agora não encontraram nada, nem destroços do seu avião.
Tenho em casa um conto do poeta belga Carl Norac chamado A Última Viagem de Saint-Exupéry, ilustrado com belíssimas aquarelas de Louis Joos. O conto trata do desaparecimento do piloto e escritor francês criador do Pequeno Príncipe. Saint-Exupéry também desapareceu nas nuvens em 1944 quando pilotava no sul da França durante a II Guerra. No conto ele sobe aos céus em seu avião e desce em meio as nuvens, em uma estranha experiência entre sonho e realidade.
Acho que algo assim deve ter acontecido com Fossett. Pode ter sido sequestrado por discos voadores por exemplo, Nevada é propício para abduções... Talvez ainda apareça caminhando pelo deserto. E se ele morreu mesmo, que fique dela a mesma mensagem de Saint-Exupéry: ‘‘C'est par le dépassement de soi que l'on devient un Homme’’.

Sunday, October 21, 2007

Lumières World Tour


Francis Fukuyama anunciou prematuramente o fim da história na época do colapso da União Soviética. Depois de 11/09 parece que ainda teremos muito chão pela frente para conseguir um mínimo de paz no mundo. Loucos, ditadores e fanáticos ainda tomam conta de grande parte do planeta, expondo milhões de pessoas à guerra e à miséria.
Benazir Bhutto voltou ao Paquistão depois de 8 anos de exílio. Foi eleita duas vezes para o cargo de Primeiro Ministro, foi destituída duas vezes por nepotismo e corrupção. Mesmo assim sua popularidade é enorme, foi a primeira mulher a governar um país islâmica e detesta os fundamentalistas. Acaba de chegar ao seu país e já foi alvo de um atentado terrorista que matou 133 pessoas e feriu centenas.
Enquanto isso o Irã continua insistindo em ter uma bomba nuclear e ameaçando Israel.
A Turquia está prestes a invadir o Kurdistão iraquiano, o único lugar relativamente calmo do país, depois que alguns de seus soldados foram mortos pelo PKK, uma organização terrorista de separatistas curdos.
Em Burma (soa melhor que Myanmá), monges budistas são massacrados por tropas miseráveis de uma ditadura sanguinário. E o Congresso americano homenageia o Dalai Lama com a Medalha de Honra irritando os dirigentes chineses. Isso sem falar na Somália, no Sudão, na Venezuela, na Bolívia, na Coréia do Norte...
Minha conclusão é a seguinte:
Washington promoveu a aliança entre Bhutto e Pervez Musharraf cuja popularidade está em queda livre para evitar que o Paquistão, um país que tem bombas atômicas, caia na mão da Al Qaeda que certamente tem muitos simpatizantes por lá. Na maior parte das vezes a política externa é mesmo a de escolher o mal menor.
Também são os EUA os que estão pressionando a Turquia, Irã, Burma, Coréia, Sudão e Somália e toda sua corja de delinquentes. A grande verdade é que todos aqueles que dizem que os Estados Unidos se metem muito na política dos outros, deveriam pensar um pouco no que seria o mundo se os americanos não se intrometessem. Vamos deixar o Irã bombardear Israel, a única democracia de verdade que existe no Oriente Médio? Vamos deixar o Paquistão ser governado pelo Taliban? Vamos deixar o Sudão e Burma massacrar a própria população? Vamos deixar os chineses oprimindo tibetanos para sempre?
Eu disse isso quando visitei o cemitério de Omaha Beach na Normandia, cenário do desembarque do Dia D: ruim com eles, muito pior sem eles. Por mais que não se goste da administração de George Bush, os EUA tem a obrigação sim de defender a democracia no mundo para poder defenderem a si mesmos e a todos os valores em que acreditam. E seus presidentes e generais estarão sempre sujeitos às regras de uma democracia, e sempre responderão por seus atos. No dia em que um ditadorzinho estiver explodindo bombas perto da minha casa, eu quero estar é do lado dos americanos.

A Mighty Heart


Logo após os ataques de 11/09, o jornalista Daniel Pearl e sua esposa, a também jornalista Mariane Pearl mudaram-se para Karachi, no Paquistão para cobrirem os eventos que aconteciam ali de perto.
Daniel Pearl foi sequestrado a caminho de uma entrevista em Karachi a 23 de Janeiro de 2002. Mariane estava grávida de 5 meses. Durante as longas semanas seguintes ela uniu os serviços de inteligência americana, a mídia, a polícia paquistanesa e governos do mundo todo na busca pelo marido.
O filme de Michael Winterbottom é baseado nas memórias de Mariane naqueles meses do sequestro. Angelina Jolie está bem em um papel onde ela não precisa usar seu sex appeal. Grávida e desesperada, ela junta todas as forças que tem para desvendar a intrincada teia de mentiras de informantes, terroristas, sheiks e jihads que levaram Daniel, em meio a um país hostil habitado por 160 milhões de muçulmanos. Só as imagens do caos que é Karachi dão uma idéia da extraordinária dificuldade que deve ser encontrar alguém ou controlar a presença de terroristas por ali.
Daniel Pearl foi decapitado por islamistas fanáticos em maio. Sua decapitação foi filmada e a fita entregue à imprensa americana. Seu corpo foi cortado em dez pedaços jogados em uma cova na periferia de Karachi.
Daniel morreu porque era um americano judeu. Mariana era francesa, budista, filha de uma mãe cubana. Tinham amigos em todo o mundo, inclusive na Índia e no Paquistão. O filho de Daniel e Mariane, Adam veio ao mundo pelas mãos de uma parteira africana.
Talvez esse seja o legado de Pearl. Por ter morrido por causa de sua nacionalidade e origens, algo que nunca lhe importou nos outros, provou que o terrorismo é a rejeição ao diálogo.
Sua família criou uma Fundação com seu nome que tem por missão promover o entendimento entre culturas através do jornalismo, da música e de outras formas de comunicação:
http://www.danielpearl.org/

Tem gente com medinho de sair...


Um dia quiseram ver quem era o melhor: MacGyver, Jack Bauer, ou Capitão Nascimento. Chegaram pro MacGyver e falaram: “A gente soltou um coelho nessa floresta. Encontre-o mais rápido que os outros e você será considerado o melhor!”

MacGyver pegou uma moeda de 5 centavos no chão, um graveto e uma pedra e entrou na floresta. Demorou 2 dias pra construir um detector de coelhos em floresta e voltou no terceiro dia com o coelho.

Daí chegaram pro Jack Bauer e falaram a mesma coisa. Ele entrou correndo na floresta, e 24 horas depois apareceu com o coelho. Durante a operação, desarmou 5 bombas nucleares, recuperou 10 armas químicas, escapou de um navio cargueiro e foi pra China matar 100 terroristas.

Pediram então para o Cap. Nascimento ir buscar o coelho. Se ele demorasse menos de 24 horas, seria o melhor. E ele respondeu:
— Tá de sacanagem comigo, 05? Ce tá de sacanagem comigo? Você acha que eu tenho um dia inteiro a perder com essa porra de coelho, 05? Tu é um mo-le-que! MO-LE-QUE, 05!!!
Virou-se para a floresta e gritou:
— Pede pra sair! Pede pra sair, cambada!
Em menos de cinco segundos, já tinham saído da floresta 300 coelhos, 20 jaguatiricas, 50 jacarés, Robin Hood, 1000 paca-tatu-cotia-não, o Shrek e uma preguiça correndo a 40 km por hora!
Daí ele gritou:
— 02, tem gente com medinho de sair da floresta, 02! Tem gente com medinho de sair da floresta, 02!!! 07, traz a “ponto 30”.
Nisso, o Bin Laden saiu da floresta.
Chorando.

A gula..


Algumas dicas gastronômicas dos lugares por onde passei:

Naguissa do Silêncio em Cananéia, litoral sul de São Paulo. Este simpático restaurante é ponto obrigatório para o pessoal que vai a Cananéia pescar ou passear nas ilhas e cachoeiras da região. Apresenta uma mistura de culinária japonesa com a comida caiçara. Especialista em ostras gratinadas e teppan.

Bar da Praia em Jaguariúna, interior de São Paulo. Um ex-capitão de escuna levou a praia para o interior paulista e fez um autêntico restaurante de peixes e frutos do mar à melhor moda santista. Comi um camarão à baiana delicioso. O lugar ainda vende artesanato e virou ponto de encontro de motoqueiros do estado todo.

Parrilla em Montes Claros, Minas Gerais. O Parrilla vira festa nas noites de quinta a sábado com música ao vivo e deliciosas porções de carne de sol, mandioca frita, carne grelhada e outras delícias bem de bar de interior.

Cantina do Roperto, no bairro do Bixiga paulistano. A melhor comida italiana que já tive o prazer de saborear seja no Brasil ou na Itália, o cabrito assado é simplesmente divino, o pão e as massas são os melhores do mundo e a birra é estupidamente gelada. Ainda tem música italiana todo dia. Preciso voltar logo.

Saturday, October 20, 2007

África do Sul Bi-Campeã Mundial de Rugby


A Inglaterra foi melhor, e ainda levou uma certa desvantagem na arbitragem do jogo mas fazer o quê... Perderam de 15 a 6 para um time africano jogando no melhor estilo inglês, com muitos chutes de bola parada. No duelo dos chutadores Percy Montgomery levou a melhor sobre Johnny Wilkinson. Mesmo assim os Springbocks saíram invictos do torneio e levaram a taça Webb Ellis das mãos de Nicolas Sarkozy, sob os olhares de Gordon Brown e Thabo Mbeki.
Vale lembrar que a África do Sul não entrou nas duas primeiras copas do mundo devido ao embargo internacional imposto ao país então sob a política de apartheid. O regime e o embargo caíram no começo dos anos 90 e em 95 a África do Sul ganhou sua primeira Copa em casa com uma espetacular vitória sobre os All Blacks da Nova Zêlandia. Nelson Mandela, em pleno processo de reconciliação do país dirigiu a festa chamando o time que só tinha um negro de “our boys” e our “rainbow squad”. Hoje, o rugby ainda é um esporte de afrikaners no país, mas cada vez mais negros entram no jogo, e a comemoração é de todos.
Eu de qualquer maneira acho uma partida de rugby muito mais emocionante de se assistir do que qualquer jogo de futebol. Espero sinceramente ainda ver o Brasil nessa Copa no futuro.

Use Filtro Solar


Reencontrei amigos que não via há dez anos em uma reunião de ex-alunos da faculdade. Muitos mais gordos, poucos mais magros, alguns com filhos, a maioria feliz e com emprego e família, outros esperando a pessoa certa. Muitos viajaram e voltaram, começaram projetos e trocaram de idéia. Alguns fizeram escolhas erradas, felizmente poucos. É a vida, pura e simplesmente a vida que passa debaixo de nossos narizes. E só percebemos o quanto já vivemos quando nos reunimos com velhos amigos para contar histórias e ver álbuns de fotos dos tempos de estudante. E pinga ni mim. A foto que ilustra este post por exemplo é do dia em que meu caderno foi incinerado na mesa do bar Zoeira, algumas horas antes da prova de Tecnologia de Alimentos quando em vez de estudar estávamos fazendo uma degustação matinal da recém lançada cerveja Kaiser Bock nos idos de 1995. Recordar é viver!
Estávamos todos lá a suspirar de saudades vendo as fotos e escutando este texto, escrito por um publicitário, que agora reproduzo aqui:

Use filtro solar!

Nunca deixem de usar o filtro solar
Se eu pudesse dar só uma dica sobre o futuro seria esta: use filtro solar!
Os benefícios a longo prazo do uso de Filtro Solar estão provados e comprovados pela ciência,
Já o resto de meus conselhos não tem outra base confiável além de minha própria experiência errante. Mas agora eu vou compartilhar esses conselhos com vocês...
Aproveite bem, o máximo que puder, o poder e a beleza da juventude.
Ou, então, esquece... Você nunca vai entender mesmo o poder e a beleza da juventude até que tenham se apagado.
Mas pode crer que daqui a vinte anos você vai evocar as suas fotos,
E perceber de um jeito que você nem desconfia hoje em dia,
Quantas, tantas alternativas se escancaravam a sua frente.
E como você realmente estava com tudo em cima,
Você não está gordo ou gorda...
Não se preocupe com o futuro.
Ou então preocupe-se, se quiser, mas saiba que pré-ocupação é tão eficaz quanto mascar chiclete para tentar resolver umaequação de álgebra.
As encrencas de verdade em sua vida tendem a vir de coisas que nunca passaram pela sua cabeça preocupada,
E te pegam no ponto fraco às 4 da tarde de uma terça-feira horrorenta.
Todo dia, enfrente pelo menos uma coisa que te meta medo de verdade.
Cante.
Não seja leviano com o coração dos outros.
Não ature gente de coração leviano.
Use fio dental.
Não perca tempo com inveja.
Às vezes se está por cima,às vezes por baixo.
A peleja é longa e, no fim,é só você contra você mesmo.
Não esqueça os elogios que receber.
Esqueça as ofensas.
Se conseguir isso, me ensine.
Guarde as antigas cartas de amor.
Jogue fora os extratos bancários velhos.
Estique-se.
Não se sinta culpado por não saber o que fazer da vida
As pessoas mais interessantes que eu conheço não sabiam, aos vinte e dois o que queriam fazer da vida.
Alguns dos quarentões mais interessantes que eu conheço ainda não sabem.
Tome bastante cálcio.Seja cuidadoso com os joelhos.
Você vai sentir falta deles.
Talvez você se case, talvez não.
Talvez tenha filhos, talvez não.
Talvez se divorcie aos quarenta, talvez dance ciranda em suas bodas de diamante.
Faça o que fizer não se auto congratule demais, nem seja severo demais com você,
As suas escolhas tem sempre metade das chances de dar certo,
É assim para todo mundo.
Desfrute de seu corpo use-o de toda maneira que puder, mesmo!!
Não tenha medo de seu corpo ou do que as outras pessoas possam achar dele,
É o mais incrível instrumento que você jamais vai possuir.
Dance.
Mesmo que não tenha aonde além de seu próprio quarto.
Leia as instruções mesmo que não vá segui-las depois.
Não leia revistas de beleza, elas só vão fazer você se achar feio
Dedique-se a conhecer seus pais.
É impossível prever quando eles terão ido embora, de vez.
Seja legal com seus irmãos.
Eles são a melhor ponte com o seu passado e possivelmente quem vai sempre mesmo te apoiar no futuro.
Entenda que amigos vão e vem, mas nunca abra mão de uns poucos e bons.
Esforce-se de verdade para diminuir as distâncias geográficas e de estilos de vida, porque quanto mais velho você ficar, mais você vai precisar das pessoas que você conheceu quando jovem.
More uma vez em Nova York, mas vá embora antes de endurecer.
More uma vez no Havaí, mas se mande antes de amolecer.
Viaje.
Aceite certas verdades inescapáveis:Os preços vão subir, os políticos vão saracotear, você também vai envelhecer.
E quando isso acontecer você vai fantasiar que quando era jovem os preços eram razoáveis, os políticos eram decentes, e as crianças respeitavam os mais velhos.
Respeite os mais velhos!!
E não espere que ninguém segure a sua barra.
Talvez você arrume uma boa aposentadoria privada.
Talvez você case com um bom partido, mas não esqueça que um dos dois de repente pode acabar.
Não mexa demais nos cabelos se não quando você chegar aos 40 vai aparentar 85.
Cuidado com os conselhos que comprar,mas seja paciente com aqueles que os oferecem.
Conselho é uma forma de nostalgia.
Compartilhar conselhos é um jeito de pescar o passado do lixo, esfregá-lo, repintar as partes feias e reciclar tudo por mais do que vale.
Mas, no filtro solar, acredite

Los Pumas


Acabei de assistir a Argentina dando de lavada na seleção francesa de rugby na partida pelo terceiro lugar da Copa do Mundo. Os Pumas jogaram espetacularmente contra uma França completamente desmotivada e marcaram 34 a 10. Bernard Laporte, técnico dos Bleus, apesar do milagre de ter ganhado contra a Nova Zelândia conseguiu fazer o rugby francês perder toda a alegria gascogne que ele tinha, assim como os Parreiras da vida que a CBF nos empurra arrancam a alma ao futebol brasileiro.
Bom para os argentinos que estão vibrando de emoção com a colocação inédita.
Amanhã é dia de finalíssima, África do Sul e Inglaterra. Na última Copa do Mundo, um sul africano me disse que as duas únicas coisas que podiam ser vistas da lua eram a Muralha da China e o buraco na defesa do time sul africano. As coisas parecem que mudaram e os Springbocks aparentam ser imbatíveis, e o time tem hoje o recordista em tries na Copa. Enquanto isso a campeã Inglaterra põe toda sua fé no talento de Johnny Wilkinson, um dos melhores jogadores do mundo hoje. A partida tem o recorde de apostas jamais registrado na história da Inglaterra para um jogo de rugby. O pau vai torar.

01 pede pra sair!


Duas coisas agitavam o cenário cultural brasileiro nesta minha curta estadia, o filme Tropa de Elite e a Playboy da Monica Veloso.
Hugh Heffner acho que nunca imaginou a dimensão política que sua criação atingiria no Brasil. O velhote, um dos meus ídolos, deve estar é pouco se lixando lá em sua mansão rodeado de coelhinhas nuas. O meu barbeiro infelizmente ainda não tinha recebido a edição de outubro da Playboy. Ele tinha a de setembro, com a sem graça Íris do BBB mas uma fantástica entrevista de Jeanny Mary Corner, a cafetina mais requisitada de Brasília, que tem nas mangas muitas e muitas histórias para contar. Fui atrás da Playboy da Mônica na banca do aeroporto de Guarulhos, também porque eu queria ler a entrevista do Diogo Mainardi (eu não vejo só as figuras tá?), mas a revista tinha esgotado em cinco minutos. Vou pedir a mamãe que me mande uma. Um amigo, com fortes conexões em Brasília me disse o seguinte: o Renan Calheiros está se sentindo o máximo. Roubou o que quis, virou presidente do Senado, mentiu à vontade, prendeu o rabo de todo mundo, ninguém o tirava dali e ainda por cima ele pode dizer ao Brasil inteiro, eu tracei essa morena ajeitada que vocês todos estão vendo aí... É de lascar, cada país tem o Parlamento que merece... O fato é que Renan se sentiu tão poderoso que começou a abusar da boa vontade até dos que lhe estavam ajudando, e finalmente, FINALMENTE, saiu da presidência do Senado.
Enquanto o canalha saía de cena, o Brasil descobriu seu maior super-herói desde os tempos do Inspetor Carlos, o Vigilante Rodoviário. O filme Tropa de Elite com o Capitão Nascimento virou sucesso de público e de pirataria.
O Capitão Nascimento já é cult em todas as camadas sociais. Dizem que quando o Bruce Banner fica puto ele se transforma em Hulk, quando o Hulk fica puto se transforma em Chuck Norris (já viu os Chuck Norris facts?), e quando Chuck Norris fica puto se transforma no Capitão Nascimento.
Há muitas análises e críticas sobre o sucesso do filme e do seu protagonista (um excelente como sempre Wagner Moura). A melhor conclusão é essa: pela primeira vez em anos alguém põe o dedo na cara do espectador e fala “sabe quem é responsável por essa merda toda? É tu maconheiro!”.
Há dias saiu uma polêmica na Folha sobre Luciano Huck e o roubo do seu Rolex. Há quem diga que o bandido tem toda a razão em roubar Huck, seria uma espécie de “justiça social”. O pior é que tem gente que diz isso com diploma de filosofia e jornalismo nas mãos. O povo está mais é com o Capitão Nascimento, por isso o filme faz sucesso. Bandido é bandido, roubo é roubo. O maconheiro que fuma e o filósofo que apóia o roubo são coniventes com a bandidagem. E esse é o principal motivo do caos das nossas cidades.
Pede pra sair vagabundo!

O Brasil do futuro


Minha viagem começou a trabalho. Eu e dois holandeses atravessamos o sertão goiano e mineiro conhecendo um Brasil que é diferente do Brasil sobre o qual costumamos ler no jornal, diferente do eixo Brasília-Rio-São Paulo.
Anuncio orgulhosamente neste blog (já que pouca gente que vem aqui sabe o que faço) que, mesmo aqui na Holanda, sou parte do setor do agribusiness brasileiro. Digo orgulhosamente porque sei que é a parte que funciona melhor neste país, não por causa do governo mas apesar dele. Vi muito boi, cana, café, soja, algodão, frutas, seringueira, e vi muita gente competente trabalhando e criando riquezas. Basta olharem nossas exportações nos últimos 20 anos e ver que foi o campo que salvou a balança comercial e que tirou o país do buraco.
Não o campo do MST, monopolizadores da miséria alheia, que insistem em uma reforma agrária que só funcionaria se estivéssemos no século XIX, mas o campo de gente séria que trabalha, usa tecnologia, produz e gera empregos e dinheiro. Já se vai longe o tempo do Jeca Tatu de Monteiro Lobato.
Longe da lama de Brasília e do medo das ruas do Rio e de São Paulo, há um Brasil que funciona, que faz inveja ao resto do mundo, alegre, relaxado, porém trabalhador. E como dizia Zé do Prato, ilustre cidadão e peão de rodeio piracicabano:
Se me chamarem de caipira como caipira vô respondê
Sô caipira sô da roça e tenho orgulho de sê
Caipira tem invernada e boi gordo pra cumê
Caipira tem vinho e uísque importado pra bebê
Tem loira de manhãzinha e morena no anoitecê
Mangalarga pra trotá e Quarto de milha pra corrê
Si essa é vida é sê caipira eu sô caipira até morrê

Friday, October 19, 2007

Saldo de viagem


Roteiro: Holanda-França-Holanda-Portugal-Distrito Federal-Goiás-Minas Gerais-São Paulo-Mato Grosso do Sul-São Paulo-Portugal-Holanda-Alemanha-Holanda (ufa)
24 pousos e decolagens (0 acidentes, oba, jet lag, jet lag, cansaço)
1 vôo desviado de Congonhas para Viracopos (alívio)
1 sogro e 1 sogra enfadados porque estavam esperando em Congonhas (só porque é sogra não merece isso)
2 malas esquecidas em Congonhas (o sogro carrega)
17 cidades visitadas (número igual de restaurantes rodízio)
35kg de picanha devorados (carboidrato zero)
3kg de engorda (Atkins estava errado)
50 litros de chopps (e dois pastel)
Dúzias de caipirinhas (viva a fruta limão que é curativa dizia João Ubaldo)
54 horas de sono perdidas (durmo quando morrer)
Várias festas (tudo vale a pena quando a alma não é pequena dizia Pessoa)
Vários amigos revistos e revisitados (extra chopps e caipirinhas)
10 anos de formado (mais festa, o tempo avoa dizia Guimarães Rosa)
Diagnóstico: D.P.B., depressão pós-Brasil, espécie de delirium tremens que atinge exilados e expatriados após curta permanência na terra natal. Recomendação: mais chopps, festas e amigos. Mas primeiro quero é dormir.

Honey, I'm home!


Desculpa a demora aí pessoal!