Tuesday, June 27, 2006

A Copa é chata

Cansei de técnicos retranqueiros, de jogadores milionários que não se mexem em campo, de árbitros incompetentes, de jogos decididos no finalzinho, e de ausência de futebol.
O jogo entre Portugal e Holanda foi o mais emocionante que assisti nesta Copa, mas um árbitro decente não deixaria o jogo ter degenerado daquela maneira. O que não tem preço mesmo foi observar e comparar as reações de Felipão à beira de um enfarte com as de Marco van Basten, o Iceman batavo. Já o jogo, sé é que merece este nome, de ontem entre Suíça e Ucrânia foi uma demonstração de como não deve se jogar futebol. Os suíços nem em 3 pênaltis conseguiram marcar alguma coisa. O que irrita mesmo é saber que um desses timecos de várzea podem seguir no campeonato enquanto a Holanda volta para casa. Se Portugal mereceu ganhar a Holanda não merecia voltar para casa.
Espero que Portugal passe pela Inglaterra com a mesma garra. Tanto Inglaterra como Itália estão nas quartas de final por sorte. Futebol que é bom nada.
Depois do jogo contra o Japão, espero que o Brasil não volte à retranca hoje. Essa história de futebol de resultados é outra vergonha. Telê Santana é quem estava certo. Prefiro ainda perder bonito do que ganhar feio.
Mas depois de já ter me irritado e muito com essa Copa do Mundo gostaria de fazer algumas sugestões à FIFA.
Em primeiro lugar abandonar a idade da pedra e obrigar os árbitros a usarem rádios e a serem auxiliados por outros árbitros que estão vendo tudo bem melhor na televisão, como no futebol americano. Essa história de que não é preciso e de que os erros contribuem ao folclore do futebol é uma hipocrisia e uma falta de respeito com os times e suas torcidas.
Em segundo gostaria de um campeonato onde todos jogassem contra todos. Sem prorrogação ou pênaltis. Ganha a Copa quem tem mais pontos. Isso sim seria um campeonato justo.

Monday, June 26, 2006

O Fim de Primeira Leitura

A melhor revista do país acabou. Cheguei a receber o penúltimo número com a excelente entrevista de Contardo Calligaris, enviado do Brasil pela minha mãe. A revista fechou porque faltavam anunciantes. Faltaram tanto os que não acreditavam que o grande público lesse a revista (no que têm razão), como faltaram também os que temiam retaliações porque anunciarem em uma revista tão contra o PT e o Lulismo (também têm razão). Só isso já diz muito do que somos como país. Uma revista com uma linguagem e idéias bem elaboradas sobre política e economia não consegue sobreviver.
Ficamos um pouco mais medíocres. Muitas das opiniões que eu já tinha sobre a política brasileira encontraram forte embasamente em Primeira Leitura, e outras opiniões foram formadas com a ajuda da revista. Os que a acusaram de tucana e reacionária nunca souberam sustentar com argumentos essas acusações. Ainda resta o consolo de que o arquivo ficará disponível no site por algum tempo, e de que Reinaldo Azevedo já voltou à ativa com seu blog:

www.blogdoreinaldoazevedo.blogspot.com

Saturday, June 24, 2006

Les Mains Sales

Enquanto viajava li Les Mains Sales de Jean Paul Sartre. Achei a peça genial. Imaginei um jovem Jean Gabin como um ótimo Hoederer. Quem sabe Emmanuele Béart como Jessica? E Daniel Auteil como Hugo.
A peça se passa na Ilyrie, um hipotético país da Europa Oriental no fim da Segunda Guerra Mundial. Hugo, um jovem intelectual é designado pelo Partido Comunista para a missão de matar Hoederer, um de seus dirigentes que está em negociações com monarquistas e liberais enquanto o exército russo se aproxima.
Hugo e Jessica acabam se envolvendo de maneiras diferentes com Hoederer. O intelectual Hugo luta contra o Hugo membro do Partido para decidir se leva sua missão ao fim ou não.
A julgar pela peça, Sartre já tinha entendido tudo sobre o comunismo. Em sua vida afinal parece que não. Preferiu ignorar as atrocidades cometidas por Stálin e Mao.
Me resta saber como um intelectual desse porte se deixou enganar, ou quis ser enganado.
Talvez por acreditar que os que faziam o mal, o fizessem em nome de um bem maior?
É aí que mora o perigo.

Algarve

Fui para o Algarve, ainda a trabalho, região portuguesa heroicamente tomada aos mouros na Reconquista. Hoje invadida novamente por ingleses em férias.
A bela natureza do lugar tem sido violentada por condomínios, resorts, golf clubs e auto estradas que se destinam a tranformar a região em um pólo turístico.
E tudo voltado para atender os ingleses que aí se instalaram, provisória ou definitivamente. E alguns tiveram a brilhante idéia de abrirem English Pub’s, English restaurants (há tembém escoceses, holandeses e alemães).
O que não me entra na cabeça é como os ingleses, alemães e holandese que vão para lá têm a coragem de saírem para jantar croquetes, salsichas e carneiro no molho de hortelã. Como dizia o Obelix, coitado dos bichinhos.
Jantei uma cataplana, prato típico da região com peixe, camarão e amêijoas, acompanhado de um belo vinho verde. Ainda estou indeciso entre França e Portugal para saber quem tem a melhor cozinha e os melhores vinhos da Europa. Nos dois me sinto em casa.
Comprei outra garrafa do vinho que tomei para trazer para casa. Aparentemente há um sinistro plano da Comissão Européia para coca-colizar a produção de vinhos no continente fazendo-a mais padronizada e mais competitiva face às ameaçadoras importações da Austrália, África do Sul, Argentina, Chile e Califórnia.
A diversidade cultural da humanidade, da qual a culinária faz parte, para mim tem que ser preservada a todo custo, assim como a biodiversidade no planeta. Cada mínima perda é irreparável e trará danosas consequências às gerações futuras. Como defensor da causa me proponho a visitar o máximo de adegas possíveis nos próximos meses. Antes que ouça: le vin coca-cola est arrivé.

I want to believe


Extra-terrestres são um assunto que me me fascina desde que tive idade suficiente para ler ficção científica. Li todos os Júlio Verne ao meu alcance aos doze anos de idade. Li Arthur Clarke e assisti ET, Star Wars e Contatos Imediatos de Terceiro Grau. E muitos outros depois.
Estou assistindo agora a série Taken, também uma produção com a marca Spielberg.
Trata-se da história de abduções de terráqueos desde a II Guerra e o incidente em Roswell até os nossos dias. Adoro, mas aprendi com o tempo a discernir entre o que presta e o que Carl Sagan chama de pseudo ciência em seu livro O Mundo Assombrado pelos Demônios, um dos melhores que já li na minha vida.
Não assistia X-Files por exemplo. Comecei a assistir quando amigos me garantiram que a agente Dana Scully apareceria nua naquele episódio. Não apareceu, mas em todo caso continuei assistindo a série por pura diversão. Puro lixo pseudo-científico na verdade. Mas há realmente gente no planeta que acredita que tenha sido sequestrada por discos voadores. Ou que acredita no chupa-cabras. Ou no governo americano escondendo espaçonaves.
Eu não. Mas sinceramente acredito na existência de vida extra-terrestre. Acredito que quando começarmos a explorar os planetas mais próximos encontraremos logo logo alguma bactéria ou fungo alienígena. Nada muito glamouroso. Mas quando em nosso próprio planeta encontramos seres vivos (ditos extremófilos) em ambientes inóspitos como o permafrost do pólo Ártico, ou as chaminés vulcânicas no fundo do oceano, nada mais fica tão impossível. Mas também acredito em civilizações extra-terrestres. Aí a coisa fica mais séria. Acredito porque dada a extensão do cosmos seria muita pretensão nossa acreditar que somos os únicos. Um livro me foi recomendado sobre o assunto, Rare Earth escrito por Peter Ward e Don Brownlee. Segundo os autores a vida microbiana até que seria comum no Universo, mas não formas de vida avançadas ou civilizadas. Preciso ler para descobrir porque.
Em todo caso ainda prefiro acreditar, mesmo que um contato imedianto ainda esteja muito longe de acontecer.
Gostaria de ter participado das reuniões que decidiram que imagens e sons da Terra deveriam ter sido enviados ao espaço com a Voyager (http://voyager.jpl.nasa.gov/). É uma idéia romântica, uma espécia de garrafa jogada ao mar. Eu enviaria uma foto de Gisele Bundchen posando no catálogo da Victoria Secret, obviamente com o risco de fazer queimar alguns fusíveis da nave que encontrar nossa geringonça espacial.
Na verdade ainda temos muitos problemas para resolver por aqui ainda. Voltemos a por os pés no chão. Mas sem tirar os olhos do céu. Como disse Carl Sagan: “Diante da imensidão do espaço e da infinidade do tempo, é um prazer e uma alegria para mim compartilhar um planeta e uma época com você”.

Exercícios de Futurologia IV

Daqui a 1 milhão de anos...
A civilização humana atingirá seu apogeu. Teremos colônias e cidades em diferentes planetas da galáxia. Morfologicamente seremos menores, com crânios proeminentes, sem pelos e unhas, nossa reprodução será artificial. Viveremos mais de 500 anos. Teremos absoluto controle sobre nossa fisiologia podendo controlar o desenvolvimento de nossos órgãos internos evitando malformações e doenças. Poderemos controlar o desenvolvimento de vegetais e outros animais inferiores. A linguagem terá desaparecido e nos comunicaremos por telepatia.
Viajando no tempo teremos total conhecimento de nossa história. Aprenderemos a contactar civilizações fora de nosso alcance por telepatia.
Desvendaremos todos os segredos do átomo e poderemos controlar a matéria com o poder da mente.
Finalmente, conquistaremos a independência de toda a tecnologia. Não seremos mais obrigados a usar computadores para armazenar conhecimento ou processar dados, ou meios de comunicação quaisquer. Iremos restaurar o meio ambiente original dos planetas que colonizamos e desmontaremos nossos edifícios e cidades.
Teremos perdido todo o medo do desconhecido e voltaremos a viver em meio a natureza.

Sunday, June 18, 2006

Grande Bussunda

Não sei porque mas todos os jogos da Copa que assisto são peladas dignas de várzeas interioranas, que terminam em um tedioso 0-0, ou no máximo 1-0 com aquele gol no finalzinho.
“Boring soccer” diria um americano, e não os posso culpar. Eu mesmo prefiro assistir qualquer jogo de rugby do que a um jogo de futebol como o último do Brasil.
Aparentemente os únicos times a terem jogado futebol nesta Copa foram Espanha e Argentina, e não assisti porque estava trabalhando.
Eu leio a coluna de Fernando Calazans no Globo regularmente para embasar meus pobres conhecimentos futebolísticos. Ele faz uma crítica aos técnicos que considero acertadíssima. Todo técnico hoje, e ainda mais os brasileiros como Parreira e Scolari, dizem antes de qualquer campeonato que não existem mais times bobos, que tem que respeitar o adversário, etc e tal. Dizem isso com o único objetivo de proteger a própria pele. Qualquer vitóriazinha de 1-0 já é uma grande feito porque o outro time afinal era muito bom. Palhaçada. Há times jogando na Alemanha de países cuja existência se desconhecia antes da Copa. Um time como o do Brasil teria que ganhar no mínimo de 3 a zero da Austrália, um país onde o futebol é um esporte de quinta categoria (primeiro vêm o futebol australiano, o rugby league, rugby union e o cricket). Se não o fizer será por incompetência de técnicos e jogadores. A Argentina ganhou de goleada porque tratou a Sérvia como ela é, um timeco.
Malhar o Ronaldo não ajuda em nada. Já se viu que se ele não está bem o time do Brasil não faz nada. Lembrem-se daquele gol contra a Inglaterra em 2002 com o biquinho da chuteira. Coisa de gênio como disse o Bussunda. Deixem ele jogar.
Foi uma trágica coincidência eu ter recebido o livro do Pasquim no dia em que o Bussunda morreu na Alemanha. Lembro de Bussunda ainda quando ele fazia o programa Cabeça Feita na TV Cultura. O próprio Ziraldo considerava Bussunda e a turma do Casseta herdeiros do espírito do Pasquim. É uma perda e tanto. Precisamos de mais gente que sacaneando e fazendo rir nos faça enxergar as verdades embaixo dos panos. Era alguem que adorava futebol. Vamos ver se o time do Brasil faz uma homenagem à altura e joga para valer neste domingo.

Ela merece

Como Bin Laden estragou meu foie gras

Acordei de mau humor. Talvez por ter sido acordado pela luz que teima em entrar pela minha janela já às 4h30 da manhã no verão holandês. Ou talvez pela perspectiva de ter que passar o sábado de manhã fazendo compras. Mas meu dia foi melhorando sensivelmente e à esta hora em que escrevo já posso dizer que foi um ótimo sábado.Se não fosse Bin Laden.
Primeiro porque fui buscar no correio dois presentes que a minha mãe, ciosa da minha evolução cultural, me mandou do Brasil. Uma Antologia do Pasquim dos 150 primeiros números e a edição de maio da Primeira Leitura com a entrevista de Contardo Calligaris, o que me fez especialmente ter encomendado a revista.
Fui às compras sim, e comprei dois CD’s que sempre quis ter e por algum motivo que me escapa até hoje não tinha comprado: Sargent Pepper’s Lonely Hearts Club Band dos Beatles e o Buena Vista Social Club.
Passei a tarde saboreando meu livro e minha revista, tomando meu café, um branco italiano de Villa Rocca e ouvindo meus discos novos. E ainda olhando de esgueio Portugal e Irã na TV, obviamente sem som.
Resolvi agradar minha esposa que estava em seu ensaio de balé para descontar meu mau humor da manhã e fui reunir o que estava de bom na minha despensa para um lanche. Copa de Parma, jamón serrano, salami, queijo Gouda, melão espanhol, e, gran-finale: foie gras francês. Tudo acompanhado por uma garrafa de Lersch espumante que touxemos da Alemanha. E depois ainda fomos ver Jennifer Aniston no cinema em The Break-up.
Voltei para casa a tempo de ver um documentário na BBC sobre a polícia anti-sequestro no Brasil, com destaque para o caso da mãe do Robinho. Entrevistas com o delegado gente boa que toca bossa nova no violão depois do expediente e com o Célio Marcelo da Silva, o “Bin Laden”, que aparece como um dos sequestradores mais perigosos do país.
Conclusões do dia:
1. Uma boa música e um bom livro melhoram o dia de qualquer um. Felizmente cheguei em uma fase da vida em que comprar um CD não arromba mais o meu orçamento da semana.
2. Boa comida também. Bom vinho idem. E é uma vantagem morar na Europa e ter tudo pertinho assim.
3. Futebol ruim melhora muito se assistido mudo. Especialmente se a narração é em holandês.
4. Não importa o que digam os defensores de diretos animais e outros eco-chatos, vou continuar sendo amante de foie gras, carnes em geral e touradas. Algum dia desses ainda explicarei porquê, mas simplesmente não aceito que me ditem o que devo por na boca ou não, especialmente se eles se consideram moralmente acima do resto da humanidade.
5. Jennifer Aniston está melhor ainda separada de Brad Pitt. Não importa o papel que ela faz, cada vez que a vejo na tela só dá vontade de entrar lá e pedir deixa eu ser seu Friend.
6. Não interessa o quanto foi bom o seu dia, há sempre desgraças acontecendo que te lembram do que a humanidade é capaz.
7. Eu devereia me sentir culpado por comer foie gras enquanto no Brasil um miserável sequestra alguém a cada minuto?
Volto a Contardo Calligaris e à principal conclusão da entrevista, que aconselho todos a ler. O indivíduo é no fundo o responsável por impedir o horror. Todos temos livre arbítrio e subjetividade para julgarmos e agirmos em cada momento de nossas vidas. Cada pessoa tem a capacidade de decidir pelos próprios atos. O sequestrador que não teve uma infância feliz, a mãe que joga o filho na lagoa porque acha que é oprimida, o político que assalta o país porque acha que seu partido tem uma boa causa, a filha que mata os pais por causa do namorado, o militante que depreda o palácio e fere um segurança porque acha que tem razão, todos esses deixaram de pensar por conta própria para agir por uma razão que lhes escapa ao controle. Mentira. Todos temos o poder de escolher. Mas é mais difícil exercê-lo e nos tornarmos responsáveis por nossos atos do que delegar nossas ações a uma causa, uma ideologia, a algum problema psicológico lido em revistas femininas.
O horror que presenciamos todos os dias no Brasil e no mundo, guerras, corrupção, crime, tudo isso não acontece por inevitável, acontece porque pessoas recusam-se a entender que um mundo melhor depende da ação do indivíduo, e não de uma causa coletiva.
Porque eu deveria me sentir culpado se trabalho, ganho um salário e pago meus impostos? Culpados são os pelegos imorais que justificam seus crimes como se não fossem eles quem os cometessem.

Tuesday, June 13, 2006

Bola na mesa


A bola torna os homens mais próximos. O futebol por ser o esporte mais popular do planeta acabou se transformando no símbolo máximo da globalização. Um evento como a final desta Copa será assistido por pelo menos 1 bilhão de pessoas. Cristãos, muçulmanos, budistas, negros, brancos, asiáticos, amigos e inimigos são todos os mesmos diante da bola. A Fifa poderia dar aulas à ONU sobre como estabelecer regras que sejam cumpridas à risca em todos os países membros. Futebol pode gerar riquezas. É um negócio de bilhões de dólares e se fosse bem aproveitado no Brasil teríamos clubes à altura de um Manchester United ou um Real Madrid. Futebol pode distribuir riqueza. Clubes europeus investem em escolas de futebol na África e América do Sul e importam jogadores de todo canto. A Fifa não quer realizar a próxima Copa do Mundo na África por acaso.
Mas há um lado negro nesta força. Nos estádios europeus cansamos de ouvir manifestações de hooliganismo, racismo, nazi-fascismo e outros –ismos cretinos. Reuniões secretas estão sendo tramadas por torcidas organizadas para armar o quebra pau nesta Copa. Fora dos estádios, a prostituição é um dos negócios que mais prospera com o evento. Imaginem-se milhares de torcedores predominantemente masculinos cheios de testosterona e energia para gastar. Prato cheio para as máfias que trazem mulheres da Europa do Leste, Ásia e até do Brasil.
Mas, on the bright side of life, empenhando todo o meu conhecimento futebolístico já apostei no Brasil no bolão da firma, em uma dramática final com a Argentina, descartando a Holanda nas quartas de final.
Faz um calor equatorial na Holanda. Estou escrevendo por que estou como Al Pacino em Insomnia. O dia de verão aqui acaba depois das dez e meia da noite e clareia às 4 da manhã. E as casas holandesas não são exatamente adaptadas para o calor. Fora o calor, os Oranjes acabam de estrear na Copa ganhando de um a zero da Sérvia e Montenegro.
Os holandeses têm agora não apenas um mas dois bom motivos para iniciar uma conversação. Eles ainda sonham em reviver os bons e velhos tempos de Johan Cruijf e da Laranja Mecânica. Eu, filosoficamente os tento fazer ver que o bonde já passou.
Na seleção de 70 todos os jogadores brasileiros eram de clubes nacionais. Hoje, quase todos os nossos craques estão jogando por aqui. A Europa está recrutando cada vez mais jogadores de fora e cada vez mais jovens. Está cada vez mais difícil para eles conseguirem novos Cruijfs, Platinis e Beckenbauers em casa.
O triste disso é pensar que eles não conseguem achar talentos por aqui porque as crianças européias passam a maior parte do tempo numa escola, em casa com a família, na televisão ou envolvido em alguma outra das inúmeras opções de educação e lazer que têm por aqui, e não na rua chutando qualquer coisa remotamente redonda como na África ou no Brasil.

Friday, June 09, 2006

Rumual Ékissa


É hoje que a Terra vira o planeta bola. E O Brasil o país da bolada. Alguns levam a bolada no bolso, outros na cara. 190 milhões em ação. Danem-se o Lula e o Marcola, viva o Galvão Bueno. Brasil país dos raios frígidos. Não é assim que cantam os calouros no programa que o Sílvio Santos pirateou da Endemol? Rumual ékissa. Veja esse muro pintado. Esse é um brasileiro tentando incentivar a Seleção rumo ao hexa. Quando crescer quero ser jogador de futebol.
Não sabemos ler, não sabemos escrever, podemos levar um tiro na rua da polícia ou dos bandidos. Nossos políticos são uma quadrilha. O sonho de menino é virar jogador de futebol. O das meninas, mulher-de-jogador-de-futebol-modelo-e-atriz. Que país é este? Vamos comemorar como idiotas, a cada fevereiro e feriado (ou a cada gol), todos os mortos nas estradas, os mortos por falta de hospital?
Daremos algum dia a mesma atenção à pauta do senado do que aos jogos do dia? Não, vamos comemorar a evolução da liberdade até o dia clarear. Brasil, mostra tua cara, quero ver quem paga pra gente ficar assim.
Sim, estarei também torcendo. Não me importa. Precisamos desesperadamente de motivos para amar nosso país, nem que seja um troféu, ou no mínimo um belo gol.
Creio que o sentimento é pior ainda entre os expatriados. Ame-o ou deixe-o? Nada disso, amamos porém deixamos. Não é exatamente meu caso mas a maioria dos brasileiros na Holanda está aqui mais por não ter boas perspectivas no Brasil do que por desejo de ficar. Desesperam-se ao ver uma simples goiabada. Assistem a Globo via satélite. Reúnem-se para fazer feijoada. Reunirão-se para assitir os jogos, pensando quem sabe em um dia voltar. Voltar para onde?
Vamos cantar juntos o Hino Nacional. A lágrima é verdadeira.

Tuesday, June 06, 2006

Jarheads

Em Novembro passado, antes da batalha de Fallujah no Iraque, os homens da Kilo Company, US Marines, vestidos com togas romanas e elmos e escudos de papelão promoveram uma corrida de charretes (tanto cavalos como charretes foram confiscadas a suspeitos) para se animarem para a batalha.
Um capitão da companhia, imitando uma cena de Gladiator declarou “What you do here echoes in eternity” ao som heavy metal de “Cum On Feel the Noize“.
Na manhã de 19 de novembro, na vila de Haditha, os marines da Kilo Company foram responsáveis pelo massacre a sangue frio de pelo menos 15 iraquianos civis e desarmados.
Haditha tem sido descrita na imprensa americana como a pior tragédia causada por militares do país desde o massacre de My Lai no Vietnam em 68.
A guerra no Iraque vai entrar em seu quadragésimo mês. O atoleiro em que se meteram os Estados Unidos parece não ter fim. Tentando fazer o máximo para retirar seus soldados o mais rapidamente possível do país, os americanos deixam o Iraque, um país de 26 milhões de habitantes profundamente dividido, cada dia mais à beira de uma guerra civil, se é que já não está.
Marines e outros militares são treinados para matar. Conquistaram o país inteiro em 21 dias, mas são incapazes de manter a ordem ou de conquistar a simpatia da população iraquiana e obviamente Haditha não vai ajudar em nada
Não é claro ainda como tudo aconteceu em Haditha neste dia. Mas é possível ter uma idéia do porque. Leia “Nada de Novo no Front” de Eric Maria Remarque ou “Catch 22” de Joseph Heller. Assista “Platoon” de Oliver Stone ou “Born to Kill” de Stanley Kubrick. Ou, para ficarmos no Iraque, leia “Jarhead” de Anthony Swofford, ou veja o filme de Sam Mendes.
São meras amostras da insanidade que se entranha nos cérebros de soldados como um câncer. Nunca entenderemos completamente, mas com certeza chegaremos à conclusão de que viver para matar simplesmente não é humano.
Em Jarheads, a insanidade não vem da guerra, que os soldados mal vêem de perto. Vem da frustração de não ter ninguém para matar.
Não podemos nos enganar, o exército americano é hoje o mais bem treinado, equipado e disciplinado do mundo. Ainda assim são capazes de atrocidades. Imaginem os outros. Lembrem-se do que o exército do Japão fez na China, do que os franceses fizeram na Argélia, do que os Belgas fizeram no Congo, do que os ingleses fizeram na África do Sul, ou do que o próprio Saddam fez contra os curdos.
Echoes in de eternity.

Sunday, June 04, 2006

Exercícios de Futurologia III

Digamos daqui a uns 500.000 anos...
A civilização humana terá se espalhado por todos os planetas habitáveis da galáxia. Viajaremos entre estrelas e planetas com naves movidas à energia atômica usando buracos de minhoca no universo.
Entraremos em contato com civilizações extraterrestres mais avançadas com as quais intercambiaremos matérias primas, tecnologia e conhecimento. Ajudaremos civilizações menos evoluídas a aprederem com nossa ciência.
Novas espécies de humanos suirgirão em diferentes planetas adaptando-se às condições naturais de cada ambiente.
Todas as doenças terão cura ou serão evitadas antes do nascimento por manipulação genética. AS novas gerações serão cada vez mais fortes e mais inteligentes.
Nos comunicaremos via telepatia e aprenderemos a acessar todo o conhecimento humano armazenado na noosfera, a invisível bolha de consciência que nos circunda mas que nos é invisível em nosso atual estado evolutivo.
Nosso trabalho será feito por robôs e replicantes. A única função do homem será o estudo e a exploração do cosmos.
Aprenderemos a viajar no tempo e finalmente poderemos observar e conhecer as origens de nossa espécie e civilização....

A ser continuado...

Saturday, June 03, 2006

Zorro

Estou lendo o Zorro de Isabel Allende.
Allende, além de ser latina de nascimento e californiana por adoção, tem imaginação suficiente e uma prosa divertida. Realmente não consigo pensar um alguém melhor para contar a história daquele que talvez seja o primeiro super herói justiceiro do mundo. Zorro aliás foi a fonte de inspiração de Bob Kane na criação de Batman.
Nos dias de hoje, quando a Califórnia está voltando a ser mais mexicana do que nunca por força da imigração, seria engraçado aparecer um novo Zorro para ajudar os oprimidos imigrantes a se defenderam dos políticos americanos que os querem expulsar do país.
Teríamos Arnold Schwarzenegger no lugar de Rafael Montero e a polícia de imigração no lugar das tropas do Sargento Garcia...

Tracy

Estou ouvindo o CD Collection de Tracy Chapman. Uma coletânea das canções de seus 5 primeiros álbums. Tudo o que Tracy toca vira ouro. Sua música é maravilhosa, suas letras emocionantes, sua voz perfeita e ela mesmo é uma mulher excepcionalmente humana.
Está definitivamente no topo da minha lista de artistas favoritos.
Agora eu gostaria de dedicar a seguinte canção à todos os que vivem na cidade de São Paulo...

Subcity
Tracy Chapman
Composição: Tracy Chapman

People say it doesn’t exist
’cause no one would like to admit
That there is a city underground
Where people live everyday
Off the waste and decay
Off the discards of their fellow man
Here in subcity life is hard
We can’t receive any government relief
I’d like to please give mr president my honest regards
For disregarding me

They say there’s too much crime in these city streets
My sentiments exactly
Government and big business hold the purse strings
When I worked I worked in the factories
I’m at the mercy of the world
I guess I’m lucky to be alive

They say we’ve fallen through the cracks
They say the system works
But we won’t let it
Help
I guess they never stop to think
We might not just want handouts
But a way to make an honest living
Living this ain’t living

What did I do deserve this
Had my trust in god
Worked everyday of my life
Thought I had some guarantees
That’s what I thought
At least that’s what I thought

Last night I had another restless sleep
Wondering what tomorrow might bring
Last night I dreamed
A cold blue light was shining down on me
I screamed myself awake
Thought I must be dying
Thought I must be dying