Tuesday, February 28, 2006

Carnaval


Como Luiz Melodia também fico triste quando chega o Carnaval.
Porque na verdade sempre fui um excluído do Carnaval. Nunca morei em um lugar que tivesse um carnaval decente, e quando ia a bailes de carnaval sempre havia alguém conhecido por perto que eu imaginava, julgaria meu comportamento.
Nunca pude me soltar, encher a cara, viver a fantasia da festa. Quando descobri que poderia fazer isso quando quisesse sem ter que dar satisfação aos outros era muito tarde.
Claro acabei fazendo isso em muitas outras ocasiões, longe dos olhares inquisidores que me perseguiam, mas nunca no Carnaval.
Por isso invejo aos que estão no meio da folia, e vejo fotos da festa no Recife, no Rio e em Salvador enquanto chove gelo na minha janela aqui na Holanda.
Invejo os mascarados,os anônimos e os bêbados, no meio da multidão, usufruindo a liberdade perdida, e invejo ainda mais os que tiveram amores de carnaval, desse que duram quatro dias, quatro horas ou quatro minutos.
Eu na verdade tive uma quase namorada que desistiu de mim pelo carnaval. Disse que nào dava pra levar nada a sério com o carnaval e me largou numa esquina...Daria pra fazer um samba triste.
Hoje não a culpo nemum pouco, pelo contrário. Um garota de 17 anos tem mais é que viver tudo o que a vida dá de alegrias, principalmente no Carnaval. As que não vivem me fazem lembrar das Virgens Suicidas de Sofia Coppola.
Libertem-se meninas, nem que seja em quatro dias de festa.

Impostores


Os brasileiros já pagaram até hoje mais de R$ 138,29 bilhões em impostos.
Quem tiver curiosidade acesse www.impostometro.org.br .
Pagamos impostos escandinavos por serviços africanos, e por um índice de crescimento que só ganha do Haiti.
Diogo Mainardi tem razão quando diz que no Brasil não existe uma luta de classes. O que existe é uma luta entre Estado e Sociedade. O Estado que deveria nos servir se tornou nosso inimigo. E o povo se vinga dele no crime, na informalidade, na sonegação. Cheguei à conclusão triste que nenhum negócio ou pessoa 100% honesta jamais consegue dar certo ou ficar rica no Brasil.
O problema é que essa ‘‘informalidade’’ está se entranhando cada vez mais em nossa cultura, e as novas gerações já estão aprendendo desde cedo que não vale a pena ser honesto. Coisa que levará pelo menos um século de educação cívica para ser erradicada.
Sejamos honestos. Se não for por nada, como diz a Ana Carolina, que seja só de sacanagem.

Monday, February 27, 2006

Kurtlar Vadisi

Kurtlar Vadisi tem sido chamado de o "Rambo" turco. Um agente de forças especiais turcas que sai distribuindo porrada entre americanos malvados.
Não assisti ainda, mas pretendo, só de curioso.
O filme é claramente anti-americano, e denuncia um complô judeo-americano no Iraque além de ridicularisar de passagem os kurdos da nova administração irquiana.
Foi o blockbuster do ano na Turquia e chegou agora às telas européias.
Foi aplaudido por parlamentares turcos e é aplaudido de pé pelas jovens platéias de imigrantes turcos e filhos de imigrantes turcos na Europa. O anti-americanismo tem ressurgido com força na Turquia, com as mesmas raízes do islamismo no Egito, Iraque, Irã, Palestina e Líbano.
Só isso dá uma idéia do tamanho do problema que aguarda a possível integração da Turquia na Europa.
No que diz respeito a Rambos e Vadisis, para mim o que vale é a máxima de Samuel Johnson, de que o patriotismo é o último refúgio dos canalhas.

Wikipedia

Descobri a Wikipedia.com!!!
Agora passo meus minutos livres no computador pesquisando o que me passa pela cabeça, da biografia de Mozart à guerra dos Boeres passando pelas regras do Lacrosse e pela origem da cerveja!
Tente, nada mais divertido do que descobrir o quanto ainda não sei!

Sunday, February 26, 2006

Beslan



Munich me fez pensar em Beslan.
Eu estava me lembrando de um terrível, medonho, horrivelmente triste documentário exibido pela BBC, contando, pelo ponto de vista das crianças, a história do ataque terrorista àquela escola infantil em Setembro de 2004, um dos ataques mais covardes e atrozes da nossa era.
No documentário, algumas das crianças sobreviventes revisitam a escola, contando em detalhes os momentos de terror que passaram ali. Algumas falas das crianças:
“Eu estava escondido numa sala com meu pai até um terrorista achar a gente. O terrorista deu dois tiros na cabeça do meu pai e jogou ele pela janela, depois mandou eu ir até o ginásio”
“Uma mulher terrorista explodiu e os pedaços dos miolos dela vieram parar na minha cara. Achei meio nojento.”
“A gente estava com muita sede. Minha mãe me deu uma garrafa de xixi para beber mas eu não achei o gosto muito bom não...”
“Eu ficava pensando que o Harry Potter podia aparecer com sua capa invisível e me tirar para fora dali”
O horror, o medo, o calor , a sede, o cansaço físico e mental são ainda mais insuportáveis quando descritos por crianças. No cerco da escola e nas trocas de tiros, nas explosões das bombas e no desabamento do teto do ginásio que aconteceram causaram a morte de 344 civis, entre eles 172 crianças. Este é o número oficial. Estima-se que na verdade os mortos possam ser 3 vezes mais que isso. Outras tantas crianças estão aleijadas e traumatizadas para a vida toda.
No final, um dos meninos comenta “Meu sonho agora é entrar para o exército russo e matar todos os terroristas...”
Terrorismo contra civis inocentes é o mal absoluto. Não serve para nada, a não ser semear o mal, que voltará para vingar-se.

Vale a pena visitar www.beslanhope.org e principalmente dar uma olhada nos quadros pintados pelas crianças de Beslan. Ainda nascem flores do pior esterco.

Avian Influenza


Toda vez que leio ou vejo mais notícias sobre a gripe do frango, que agora chegou à Europa, as imagens que me vem à cabeça são do filme The Birds de Alfred Hitchcock. Inexplicavelmente começaremos a ser atacados por aves em fúria...O menor pombo já é uma ameaça mortal. E nós, parecemos fascinados com essas visões apocalípticas de epidemias se alastrando, meteoros destruindo o planeta, holocaustos nucleares...Lembram-se do bug do milênio, que destruiria nossa civilização?
Já fazem quase 100 anos que a Gripe Espanhola afetou metade da população do planeta matando provavelmente mais de 20 milhões de pessoas. Nossa ciência evoluiu de forma meteórica neste século. Não acredito nas visões apocalípticas, prefiro acreditar no gênio humano. E continuo comendo frango assado.

Munich e o cigano



Curiosa e trágica história sobre Munich que li na Nouvel Obs.
A 21 de julho de 1973, um comando do Mossad abate a tiros um jovem que saía do cinema com sua esposa grávida de sete meses em uma pequena vila perto de Oslo, na Noruega, acreditando que se se tratava de Ali Hassan Salameh, um dos que planejaram a operação terrorista de Munich.
Na verdade, o jovem era Ahmed Bouchikhi, um jovem garçom, imigrante filho de pai marroquino e mãe argelina. Longe dali, em Arles, no sul da França, Chico, irmão mais novo de Ahmed recebe a notícia pelo telefone. Seu irmão havia sido morto por engano.
Chico Bouchikhi seria anos depois o fundador do grupo Gipsy Kings, e se tornaria um pop star cigano no mundo inteiro.
Por causa dessa história, Chico seria convidado a ser embaixador da paz pela Unesco. Foi ele quem tocou em Oslo, na mesma cidade onde seu irmão tinha sido morto, na cerimônia onde se assinaram os acordos de paz entre Yasser Arafat e Shimon Peres em 1994.

Munich



Assisti ontem ao filme “Munich”, de Steven Spielberg. O filme conta o massacre dos atletas israelenses feitos reféns durante a Olimpíada de 72 por terroristas palestinos do Setembro Negro, mas enfoca mesmo a caçada humana empreendida pelo Mossad que sucedeu ao episódio.
Um grupo de agentes liderado por um certo Avner Kauffman é encarregado de eliminar uma lista de nomes envolvidos de certo modo com o sequestro de Munique.
O filme é fantástico, mas não é uma reconstituição fiel aos fatos. Esta seria impossível de ser feita já que quem sabe tudo o que aconteceu não pode falar. Spielberg baseou-se num livro “Vingança” de George Jonas. Ex-agentes do Mossad e membros dos serviços de segurança de Israel criticaram duramente Spielberg e seu filme, primeiro por considerarem que o filme questiona o direito de Israel se defender, e segundo porque não concordam com os fatos nele apresentados.
Mesmo em se tratando de uma obra ficcional, baseada apenas nos fatos acontecidos, tudo isso é irrelevanto perto da verdadeira questão que o filme propõe: até que ponto podemos justificar a vingança de um ato de barbárie com outro ato de barbárie?
É nesse dilema que vivem judeus e palestinos desde sempre na disputa por uma pátria. Jean daniel cita na Nouvel Observateur uma frase de Golda Meir, que não é dita no filme, mas que resume o sentimento dos judeus a essa questão. Ela diz “eu detesto os palestinos porque eles matam nossas crianças, mas eu os detesto ainda mais porque eles nos obrigam a matar as deles”.
No filme, os agentes encarregados da lista da morte que começam a missão com a sensação de cumprir um dever por seu povo e sua pátria terminam questionando se com esse método não estariam eles mesmo perdendo sua alma. E numa emblemática cena final, Avner faz amor com sua mulher pensando em morte, na morte dos reféns.
O fato é que palestinos e judeus comportam-se como tribos num mundo de multiculturalismo e globalização onde a cada dia tribos são menos significantes. Não há e nunca haverá paz no final dessa vendetta eterna em que se meteram, onde cada ato bárbaro precisa ser respondido com outro pior, onde a cada líder assassinado surge um substituto, com mais raiva e mais intolerância.
Tem que haver outra maneira.
Era uma vez um outro país, onde duas tribos, uma opressora, outra oprimida, viviam separadas por cercas, muros e barreiras, com medo e ódio mútuos.
Um dia a tribo opressora foi forçada a derrubar as barreiras. E nesse país havia um homem. Um homem que conseguiu com um discurso de tolerância e reconciliação evitar que o país caísse no abismo da guerra civil. Esse país era a África do Sul, e esse homem era Nelson Mandela.
Um exemplo foi dado. Embora as feridas custem a cicatrizar, tempo e tolerância são os melhores remédios. Vingança olho por olho só tem a morte no final.

And the truth shall make you free



O Congresso Americano a pedido do presidente Bush deverá aprovar um orçamento de US$ 72,4 bilhões para financiar suas operações militares no Afeganistão e no Iraque entre outras.
Se aprovado, depois de março de 2003 quando começou a guerra, os Estados Unidos terão gasto mais de US$ 250 bilhões somente no Iraque. E hoje, como a própria Condolezza Rice admitiu, os iraquianos que têm acesso à água potável e esgoto são menos do que antes da guerra.
O s americanos se meteram num atoleiro sem fim, e em nome da democracia o Iraque, antes um estado laico, está mais arriscado a se tornar um campo fértil para o islamismo. Do mesmo modo que a democracia levou o Hamas ao poder na Palestina, se fosse instalada hoje no Egito levaria a Irmandade Muçulmana ao poder naquele país.
Defendo a democracia com unhas de dentes, mas haverá maneiras mais eficientes do que a guerra para disseminá-la.
Bush deveria bombardear o Afeganistão, Iraque e Irã com livros, revistas, jornais...Imagine uma chuva de Marie Claires num internato feminino na Arábia Saudita. Deveria usar seus serviços de inteligência para contrabandear milhares de lap-tops com acesso gratuito à internet por rádio para dentro desses países. Deveria fornecer mais bolsas de estudo aos universitários daí.
A democracia viria mais barata e com muito mais eficácia.

Sherazade

Eu ia escrever mais sobre o dia dos namorados e não deu tempo. Infelizmente a maior parte do meu tempo eu uso para cuidar do dinheiro dos outros, ganhando em troca meu salário e uma gastrite crônica. Ah se eu pudesse, gastaria meu tempo lendo meu livros (que já fazem fila à minha espera), vendo filmes, experimentando receitas diferentes e fazendo amor. Nas pausas poderíamos olhar nuvens deitados na grama por exemplo.
Mas tenho que trabalhar, tenho que consertar o piso da cozinha e a descarga do banheiro, trocar a lâmpada, pagar as contas. Coisas práticas que nos ocupam no dia a dia.
Nos ocupam tanto que às vezes esquecemos do que realmente nos é importante.
Como nos namoros e casamentos, às vezes nos preocupamos tanto com as coisas práticas que nos esquecemos de que a verdadeira função de um relacionamento e tocar a alma do outro. Descobri-lo e descobrir as coias que lhe emocionam. Não se namora (ou nào se deveria namorar) por um corpo bonito, dinheiro ou praticidade. Namora-se porque o outro é quem mais te conhece no mundo. Namora-se porque o outro é quem te seduz com a linguagem, quem te entende e quem se faz entender. As palavras, são as verdadeiras armas do amor.
E com essa pessoa, basta um olhar, um sorriso, um beijo roubado, uma palavra ou uma noite de amor para que nos vejamos às portas do paraíso.

Valentines Day


De Carlos Drummond de Andrade: "Que pode a criatura, senão entre criaturas amar?"

Ana Júlia entrevista



Ana Júlia entrevista aquele "cujo nome não podemos pronunciar"

Ana Júlia - Diga-me Mister M., qual sua opinião sobre a situação da mulher hoje na sociedade islâmica?
Mister M. - Bem, na verdade não podemos culpar os coitados. Eles seguem meu exemplo, e eu, bem, já casei com umas viúvas ricas pra ganhar poder político. Depois já quis e roubei a mulher de um discípulo. Depois ainda casei com uma menina de 9 anos de idade, filha de um amigo. Tudo isso com a benção de Deus. Então para meus seguidores é normal tratar a mulher assim, comprar, vender, trocar.
Ana Júlia (paras as telespectadoras) - caras amigas, a melhor solução para vocês é o método Chuck Norris: roundhouse kick no saco!

Nota do editor: Ana Júlia virou fã de Chuck Norris depois de conhecer os fatos indubitáveis sobre o astro em www.chucknorrisfacts.com

Amo Jenny


Eu adoro cinema. Como já disse o cinema é minha droga, meu vício. Duas a três horas de viagem garantida sem efeitos colaterais. E já vi muitos filmes que gostei, dífícil escolher o melhor.
Mas se me perguntassem eu diria que meu filme preferido é Forrest Gump.
Já li muitas críticas idiotas a respeito de Forrest Gump, do tipo que diz que o filme é uma apologia à idiotice.
Para mim não, principalmente porque meu personagem favorito no filme não é Forrest, e sim Jenny.
Forrest tem uma visão simples da vida, é incapaz de perceber muito à sua volta. Ele atravessa um dos períodos mais conturbados da história americana assistindo de perto a seus episódios mais marcantes como a Guerra do Vietnã, Watergate, os protestos de ativistas civis em Washington...Encontra presidentes, John Lennon, joga no time de estrelas do futebol americano, é dos primeiros americanos a visitar a China comunista. Forrest passa incólume por tudo, sem perceber nada e ainda fica rico sem querer.
Jenny não. Num mundo louco e violento ela viaja, se perde, erra, experimenta, encontra-se e perde-se de novo. Jenny é demasiado humana.
Ninguém, a não ser um idiota, atravessa uma vida recheada de eventos tão perturbadores sem se alterar, sem nada perceber. Forrest sempre consegue estar em paz. Jenny nunca, só depois de apanhar bastante da vida.
E esse é o ponto onde eu queria chegar com esta crônica. O mundo em que vivemos não nos deixa em paz. Ainda mas este mundo onde a informação nos chega com a velocidade da luz de todas as partes do mundo. A felicidade nos é impossível. Como ser feliz com o tsunami, Katrina, terremotos, massacres, guerras e epidemias? Como ser feliz depois de Rwanda, Vukovar, Carandiru, Aids? Como ser feliz assistindo fanáticos dilapidando mulheres, queimando infiéis, destruindo liberdade? Para mim é impossível. Só os idiotas e sociopatas poderão ser felizes. Fechem os vidros blindados, ergam os muros, ligue a televisão, tranquem as fronteiras, deixem esse barulho todo do lado de fora. Os que não nascem idiotas arranjam meios para se fazerem de. (Agora me lembrei de The Village, de M. Night Shyamalan).
Nunca serei feliz porque não consigo ignorar essa angústia que me causa o mundo. Porque como disse Terencio “sou humano, e nada do que é humano me é estranho”. Num mundo em dor, a dor dos outros também é a minha. Terei sempre que me contentar com migalhas de felicidade, feitas de momentos onde se esquece o resto e se vive o ali e o agora. Um beijo, um sorriso, um prato bom, um copo, uma música. Migalhas, nada mais nos será dado.

Lista de leitura

Leia:
Arnaldo Jabor, Elio Gaspari, João Ubaldo Ribeiro, Luís Fernando Veríssimo, Ali Kamel e Zuenir Ventura no Globo
Jean Daniel no Nouvel Observateur
Jacques Attali, Claude Allègre e Bernard Guetta na l'Express
Reinaldo Azevedo e Rui Nogueira na Primeira Leitura
Paul Krugman no New York Times
João Pereira Coutinho no Espresso e na Folha
Helio Schwartsman na Folha
Diogo Mainardi na Veja
Joelmir Beting em seu próprio site

Porque escrevo

Cheguei à conclusão de que sou como uma cebola. Minha alma tem várias cascas, várias camadas...Quem não me conhece só vê a de fora, não sabe nada de mim, já que não falo nada. Os que gosto mais já sabem um pouco mais, já falo um pouco. Eu falo com quem eu acho que me entende. O problema é que a maioria das pessoas se preocupa mais em falar do que em ouvir. Eu falo com quem me ouve. Com quem entende o que digo e me responde de volta. Quanto mais me entendem mais eu deixo me descobrirem, me “descascarem”.
Aos que acredito que não são merecedores não digo nada. Seria isso arrogância minha? Por isso decidi escrever. Prefiro a escrita à fala porque é muito mais clara. Tenho certeza de que quem me lê me entenderá, e melhor, não tem como me cortar a fala. Assim, democraticamente elejo todos os que me lerem como merecedores da minha confiança.
Mas mesmo se ninguém me lesse eu continuaria escrevendo, porque a finalidade deste blog não é me deixar conhecer por quem nào me conhece.
Vivo (ou vivemos) hoje nadando para fora de um redemoinho de mediocridade. Pegamos o carro, vamos ao trabalho, voltamos para casa, comemos, assitimos televisão e dormimos. Trabalhamos sob a pressão da eficiência a todo custo. Vivemos a vida dos outros nas séries da TV e assistimos à propaganda que nos faz desejar coisas que antes nem sabíamos que existiam.
Não quero. Escrevo para me lembrar das coisas de que gosto na vida. Quero escrever sobre os livros que leio, sobre arte, sobre música, sobre cinema, sobre pratos que comi, lugares que conheci.
Quero escrever sobre o mundo, defender os valores que amo, o pensamento, a liberdade, a democracia, o respeito à vida, à humanidade.
Quero escrever todo dia para que nunca me esqueço de tudo o que me faz continuar vivendo. Não quero me tornar um sociopata, um couch potato, another brick in the wall, estupidificado pelo excesso de comida e de televisão.
Quero entender o mundo, quero domingos de tango e de sexo tântrico, culinária javanesa e pinturas mexicanas, não de programas de auditório. Quero amigos à mesa, vinhos portugueses, charutos cubanos, música espanhola. Não quero ler a Caras. Quero fazer amigos na Islândia, subir o Kilimanjaro, escutar Diana Krall cantar. Não quero hambúrguer do Mac Donalds.
Quero ver estrelas cadentes dando um beijo, nadar nu à meia noite em uma praia. Não quero testes de colesterol.
Preciso escrever para não me esquecer disto. Porque, como dizia Raul, além das cercas embandeiradas que separam os quintais, no cume calmo do meu olho que vê, assenta a sombra sonora de um disco voador.

Colors II


Eu entendi plenamento o sentido da palavra globalização uma vez em meu trabalho. Minha empresa participou de uma e-auction, um leilão virtual para ganhar um certo contrato de fornecimento de uma fábrica de alimentos. Minha empresa está na Holanda. A empresa que organizou o leilão estava nos Estados Unidos. Nosso cliente estava na Inglaterra, mas sua fábrica é no interior da França. E meus fornecedores estavam no Brasil e na Tailândia.
Paradoxalmente, no nosso mundo hoje, dinheiro e mercadorias não conhecem fronteiras. Pessoas sim. Temso que ter visas, pedir permissões, pagar taxas, nossos movimentos são estritamente controlados e às vezes até proibidos.
Que coração fica indiferente ao ver imagens de imigrantes africanos chegando em precárias balsas nas praias espanholas e italianas depois de comerem o pão que o diabo amassou atravessando o Mediterrâneo? Ou cubanos chegando à Flórida? Ou ainda aqueles que foram achados congelados agarrados ao trem de pouso de Boeings? Ou asfixiados entre cargas de caminhões?
Mesmo assim, com os transportes e os meios de comunicação de hoje, é muito mais fácil conhecermos pessoas de todo o mundo. Me comove quando encontro casais de pessoas de raças diferentes, nacionalidades diferentes, religiões diferentes. Além dos desafios naturalmente inerentes a um casamento, ou relacionamento, ainda existem barreiras culturais imensas a serem superadas, e é preciso muito amor para aguentar o tranco.
Acredito firmemente que um dia a globalização do comércio poderá servir para acabar com a pobreza no planeta. Ao contrário do que José Bové e sua turma nos querem fazer crer, são os países deixados de lado pela globalização os que mais sofrem com a pobreza. Os que entraram no mercado mundial são os que tem as melhores chances de se livrar dela.
Agora imagine daqui a alguns anos, surgirão gerações de mestiços de brasileiras com holandeses, loiras e africanos e quem sabe até mestiços de árabes e judeus, chineses e japoneses. Pois também acredito que, assim como a globalização da economia pode acabar com a pobreza, a globalização do amor acabará com o preconceito e a intolerância.

Colors I

O Congresso Nacional está prestes a votar uma lei que aprova cotas raciais nas universidades públicas brasileiras, uma das maiores burrices que poderiam ser inventadas pelos nossos valorosos políticos.
A reforma pretende substituir o mérito pela cor, e pretende desrespeitar o princípio constitucional de que todos os brasileiros são iguais perante a lei.
A estupidez da reforma é óbvia. O grande câncer da educação brasileira é a péssima qualidade do ensino fundamental, eis aí o problema. Racismo nunca impediu ninguém de entrar na Universidade, quem impede é o vestibular. E no vestibular só passa quem cursou uma boa escola básica, ou seja, os ricos que na sua maioria são brancos.
Acontece que entre os pobres, brancos e negros com as mesmas condições sociais tem o mesmo nível de dificuldade, não há diferenças. Quem acredita ainda em racismo deveria ler os artigos que o jornalista Ali Kamel vem escrevendo a respeito do assunto, baseado em números do IBGE.
Longe de resolver o problema, as cotas o agravam. Criam um apartheid que antes não existia.
O jornalista sugere a leitura de “Ações afirmativas ao redor do mundo, um estudo empírico”, livro de Thomas Sowell, pesquisador da Stanford University, que estudou o efeito das cotas nos EUA, Índia, Malásia, Sri Lanka e Nigéria. Quase sempre os resultados são negativos.
Nosso governo tem essa tendência de mascarar seus piores defeitos com ações paliativas cujo efeito é o de não mudar ou de piorar a situação existente. As cotas querem mascarar o problema principal que é a distribuição de renda e a qualidade do ensino fundamental. A idéia do referendo sobre o desarmamento do ano passado era a mesma. O problema não é impedir cidadãos de comprar armas, o problema é conter os bandidos, o contrabando e o tráfico.

O carnaval da Ana Júlia - apocalipse now

The fire butterfly


De Monteiro Lobato:
"Passamos a vida a perseguir a borboleta de fogo. Se não a alcançamos ficamos tristes. Se a agarramos aí se nos queimam as mãos."

Pandemia cronofágica


Excelente a crônica de Claude Allègre na l’Expresse dessa semana. Ele nos fala da cybercivilização, o estágio febril e frenético que estamos alcançando por causa das novas tecnologias em transporte e comunicação.
Vivemos de reunião em reunião, entre aeroportos, telefonemas, computadores, celulares e televisão, sem tempo para refletir, pensar, ou mesmo “perder tempo”. Teria o Homo Sapiens se transformado em Cybernautis economicus?
E portanto a tecnologia serviria justamente para nos fazer viver mais folgados.
Claude Allègre cita Gandhi, notável anti-progressista, quando este previu que a introdução de linhas de ônibus na Índia faria com que as pessoas viajassem mais, e dividindo seu tempo entre vila e cidade, e não conseguindo mais organizar ou aproveitar a vida nem em um lugar e nem em outro. Ele conta ainda outra história de um antropólogo que levou um nativo da Papua Nova Guiné para Paris. O Papou vendo os parisienses sempre correndo e apressados perguntou se eles estavam perseguindo alguma coisa. Não estão perseguindo nada respondeu o antropólogo. Obrigado, estou voltando para casa disse o Papou.
Eu gosto de fazer um teste. Enquanto conseguir passar sem problemas um fim de semana sem contato com celulares, computadores ou televisão estarei contente. O dia em que não passar no teste aí ficarei preocupado.

Deus é a vida e Darwin é o seu profeta


Completando o fim de semana cultural, fui ao Naturalis, o maior museu de História Natural da Holanda. Estavam lá desde musgos, bactérias e formigas até ossos de dinossauros e mamutes, caranguejos de dois metros, bichos e plantas de todo o planeta e até Super Croc, o crocodilo gigante superstar do National Geographic Channel. E eu pensei que aquilo não era nada mais do que uma ínfima amostra do que é a vida na Terra e do que foi a evolução da nossa espécie, e talvez uma muito mais ínfima amostra do que pode ser a vida no universo.
E fiquei pensando nos que querem ensinar nossas crianças que Deus criou o planeta em seis dias com Adão e Eva e todo o resto, mais de 30 anos depois de o homem já ter pisado na Lua. Idéias de grandes mentes como a da governadora Rosinha Mateus.
E os chamados creacionistas ainda afirmam que foi Deus também quem inventou os fósseis para que a vida e sua infinidade de espécies pudesse parecer mais plausível aos nossos olhos. Que esperteza! Então considere por exemplo a hipótese de que o universo foi criado ontem e que todas as minhas memórias foram colocadas por Deus na minha cabeça para que a minha vida me parecesse igualmente plausível. Ha, quem pode provar o contrário?
Acreditar numa estupidez dessa é subestimar a vida. A Terra já sofreu muitas vezes extinções em massa de um sem-número de espécies, eras glaciais, meteoros, terremotos e tsunamis. A vida sempre achou um caminho. Preocupado com o efeito estufa? Com a poluição? Acredito que foi James Lovelock, autor de A Hipótese Gaia quem disse que a vida sempre dará um jeito, espécies sempre surgirão. O que resta saber é se a nossa vai sobreviver.

Crime Delicado


Fui ao Festival de Cinema de Rotterdam e assisti ao filme de Beto Brant: Crime Delicado.
O clima de Festival propicia assistir a filmes mais, digamos, alternativos. Mas gostei do filme de Brant, principalmente por misturar na tela o cinema, teatro, literatura e pintura. Faltou um pouco de música só. O filme mostra um crítico de teatro, que segundo as próprias palavras de Antonio, personagem de Marcos Ricca, vivia a vida na terceira pessoa, com um olhar esterilizado sobre o mundo e seus habitantes. Até o dia que uma mulher, Inês, completamente fora de seus padrões pré-estabelecidos o desnorteia completamente, a ponto dele perder a cabeça.
É isso aí, não importa quanto a sua vida seja segura, ninguém está imune a um ataque súbito de paixão... Vale a pena dar uma olhada nos quadros de Felipe Ehrenberg, o José Campana que no filme forma o triângulo com Inês e Antonio. No mínimo são perturbadoramente intrigantes: http://www.ehrenberg.art.br/
O único problema é a pretensão de cineastas brasileiros em serem cult. Intelectuais deveriam saber se aproximar mais no público. Um filme que quer arte, cult, com planos longos, espaços de silêncio contemplativo, cenas em preto e branco intercaladas com as coloridas, fotografia escura, tudo isso acaba entediando o espectador.
A julgar pelos tipos que estavam na festa depois do fim do Festival, são mesmo aliens em terra incognita. Ou serei eu o alien? Vai chegar um dia em que “intelectuais”estarão tão desligados do público que ninguém mais os entenderá, terão que voltar ao planeta de onde vieram. Caetano Veloso já está na fila do disco-voador.

Burra guerra santa


Li o como sempre excelente editorial de Jean Daniel na Nouvel Observateur desta semana. Daniel define o islamismo como o Islam que funciona como ideologia e estratégia de poder, e que é hoje em plena expansão.
Ele afirma qu enquanto intelectuais muçulmanos na Europa se esforçam para tentar modernizar o Islam, os islamitas por sua vez querem convencer a todos de que é o Ocidente moderno quem tem que se adaptar ao Islam. Há uma corrida lançada e graças à miséria, ao racismo, à mídia árabe e aos imans radicais que pululam nas mesquitas européias, são os islamitas que estão ganhando o páreo.
Por causa de rídiculas caricaturas do Profeta publicadas num jornaleco dinamarquês, o mundo árabe quer que a Europa peça desculpas pela ofensa, transformam cidadãos europeus em alvos móveis em seus territórios, isso enquanto Hamas e Mahmoud Ahmadinejad clamam pela destruição do estado de Israel e negam o Holocausto.
Num estado laico de direito, os indivíduos devem ser por lei protegidos de qualquer forma de discriminação, mas não ideologias. A liberdade de imprensa deve ser respeitada, mesmo se ofensiva a uma ideologia seja ela religiosa ou política.
O Islam só sobreviverá à modernidade se souber separar Religião e Estado. Para chegar lá, terá que reinterpretar seus textos sagrados, adequá-los ao contexto histórico atual, rever o papel da mulher na sociedade por exemplo.
Também por isso acho que a Europa deveria se abrir para a Turquia, um dos únicos países muçulmanos no Oriente Médio a adotar a democracia laica como forma de governo. Negar aos turcos o direito de entrar na Comunidade Européia num futuro próximo será jogá-los nos braços dos islamitas, condenando-os a um futuro salafista.

O câncer vermelho

Sou partidário do lema anarquista de que si hay gobierno soy contra. Pode ser uma utopia mas acredito que um dia viveremos governados por nós mesmos, em harmonia, baseando-nos no absoluto princípio do respeito ao próximo.
Enquanto esse dia não chega sou partidário da democracia como sistema de governo, e da liberdade de expressão como forma de controlar este sistema. De todos os problemas que o governo do PT nous trouxe, o que mais me choca é justamente sua tentação totalitária.
Incompetência na administração, roubalheira, isso tudo pode se esperar de qualquer político ruim, de qualquer partido. Depois de 8 anos de oposição, passou a adotar a mesma política que antes criticava, aprovou medidas que antes condenava, enganando assim aqueles que acreditavam em mudança.
Mas o PT foi além disso. O PT aparelhou o estado e coordenou um assalto organizado às instituições e empresas da República com a idéia de perpetuar-se no poder.
Tudo isso, na lógica petista seria justificado pelo Bem Maior de um estado mais justo, ou seja, pelo ideal socialista.
A Revolução Russa aconteceu à quase 90 anos, e tudo que o socialismo rendeu à humanidade até hoje foi uma pilha de cadáveres. 27 milhões de cadáveres de Stálin, 60 milhões de cadáveres de Mao, 3 milhões de cadáveres de Pol Pot e quantos outros milhões de cadáveres na África, América Latina e na Europa Oriental ? E o que sobrou hoje ? Dinossauros políticos como Fidel Castro, Kim Jong Il e o PC chinês, governando pobres aterrorizados na base do cassetete e do paredón.
Mas o PT não admite que se fale mal dele, afinal estão lutando por um mundo mais justo. Quem não se lembra das idéias geniais de se criar um Conselho Federal de Jornalismo, ou a Ancinav ? Lula nutre aquela secreta admiração por Hugo Chávez, um louco que financia um estado assistencialista porque está montado em petrodólares, aproveitando para calar toda forma de oposição e de liberdade de expressão. E Lula chegou a dizer que há excesso de democracia na Venezuela.
A pilha de cadáveres do PT já começou com Celso Daniel. Esse ano é a chance dos brasileiros para fazer valer a democracia e arrancá-los de lá antes que seja tarde.
Ser anti-comunista não significa obrigatoriamente aprovar a miséria. Significa antes de tudo a escolha por liberdade. Há alternativas na América Latina que não são Hugo Chávez, Evo Morales ou Lula. Vide Michele Bachelet.

06/05

Assisti ao filme 06/05, o último realizado pelo diretor holandês Theo van Gogh. O filme, interessante aliás, mostra uma suposta conspiração entre politicos e empresários poderosos para matar, ou deixar morrer, o politico Pim Fortuyn, com a conivência do serviço secreto holandês. O interessante para mim é o paralelo que se pode traçar entre os destinos trágicos de Pim Fortuyn e de Theo van Gogh.
Pim Fortuyn, um político cuja carreira meteórica o levou à condição de líder do maior partido de oposição na Holanda era homossexual, populista, defendia o controle da imigração e outras políticas associadas à extrema direita, rótulo que recusava. Foi assassinado com 6 tiros em 06 de maio de 2002 por um eco-terrorista holandês, por razões ainda não completamente esclarecidas, embora Fortuyn gostasse de usar casacos de pele e elogiar a caça como esporte.
Theo Van Gogh, sobrinho longínquo do pintor, costumava se autodenominar de “dorpsgek”, o doido da vila. Em seus filmes, artigos e entrevistas gostava de constestar o senso comum da sociedade holandesa. Em um dos seus filmes, uma mulher aparece nua com versos do Corão pintados sobre seu corpo. Chamava os islamistas, por sua ignorância e atraso intelectual, de geiteneukers (numa tradução light, aqueles que fazem amor com cabras). Foi assassinado em 02 de novembro de 2004 a facadas por um marroquino, um fanático islamista, nas ruas de Amsterdam.
Ambos, Pim e Theo eram defensores do direito à liberdade de pensamento e expressão, e por esse simples motivo merecem minha admiração. Ambos bateram de frente com a estupidez de fanáticos, corroborando a tese de que todo fanatismo é burro, seja qual for a causa.
Alguém que defende fanaticamente o direito dos animais acabará concluindo que a vida humana vale menos ainda do que a dos bichos (vide os eco-terroristas que explodem carrinhos de hambúrguer na Inglaterra). Alguém que defende fanaticamente o Islã acha que a Sharia vale mais do que as leis do país que o acolheu.
Escrevo isso enquanto o Hamas acaba de ganhar a eleição na Palestina, projetando fanáticos que deveriam estar presos à liderança de um estado. A paz não terá chance face à intolerância, meu otimismo acabou. Como disse aquele comandante na Guerra Civil Espanhola : Abajo la inteligencia. Viva la Muerte !

The graves are not yet full

Acabei de ler dois capítulos chave do meu livro. Um trata da operação ‘‘Restore Hope”, o episódio envolvendo as tropas americanas a serviço da ONU em Mogadiscio, na Somália. O outro trata do genocídio de Rwanda, certamente a página mais negra da história da humanidade desde que nasci. A descrição de vizinhos matando vizinhos, médicos matando enfermeiros, professores matando alunos, padres matando fiéis, e tudo a golpes de machete é insuportável. Ambos episódios mostram a incompetência da ONU e o cinismo do Ocidente em se tratando de problemas africanos. Quer ver dois bons filmes sobre o assunto assista ‘‘Black Hawk Down’’ de Ridley Scott e ‘‘Hotel Rwanda’’ de Terry George.

Puro êxtase


Ava Gardner foi a mulher mais bonita do cinema. Obviamente só a conheci por posters e por filmes antigos mas ela era inegavelmente uma mulher e tanto. Queria tê-la visto ao vivo, naquele tempo onde Hollywood era puro glamour e elegância. Ou queria ter por exemplo espiado as filmagens de “Et Dieu crée la femme” com Brigitte Bardot. Há poucas mulheres capazes de acender a imaginação dos homens hoje como essas faziam há anos atrás. Mulheres como essas têm o direito de fazer o que bem entendam de homens, e não as culpo. Não é só a beleza, existe algo a mais, um magnetismo invisível, uma divindade, um ar de mulher perfeita que nos faz sentirmos, a nós homens, rebaixados na escala evolutiva.
Hoje existem rostinhos bonitos no cinema, Jeniffer Garner, Kate Beckinsale e Gwyneth Paltrow, mas elas não chegam ainda no patamar de divindades.
O cinema hoje para mim só tem uma deusa: Monica Belucci. Esta sim é uma mulher que pode dizimar homens com um olhar, um gesto, um meneio de cabeça. Se ela me dissesse jogue-se pela janela eu o faria sem pensar duas vezes.
E as outras mulheres? Todas as mulheres pode fazer o que querem de nós, mas algumas ainda não sabem disso. O dia em que todas descobrirem essa força que a mulher pode ter, aí estaremos perdidos...

Boulevard of Broken Dreams


I walk a lonely road
The only one that I have ever known
Don't know where it goes
But its home to me and I walk alone

I walk this empty street
On the Boulevard of broken dreams
Where the city sleeps
And I'm the only one and I walk alone

My shadow's the only one that walks beside me
My shallow heart's the only thing that's beating
Sometimes I wish someone out there will find me
Til then I'll walk alone

I'm walking down the line
That divides me somewhere in my mind
On the border line of the edge
And where I walk alone

Read between the lines of what's
Fucked up and everythings all right
Check my vital signs to know I'm still alive
And I walk alone

Opera

Sim, fui na Ópera de Amsterdam ontem assistir “Il Barbieri di Siviglia”…Nunca escutei ópera em casa, mas sempre tive vontade de ir assistir. Primeiro porque é muito diferente escutar uma ópera e assistir uma ópera, e segundo porque é muito bonito mesmo. E beleza é uma das coisas que se rarefaz nos dias em que vivemos. Prédios, roupas, ruas, cidades e até pessoas parecem cada dia mais feias. Se todo mundo se preocupasse em fazer as coisas mais belas certamente viveríamos melhor. Como a história do ladrão que ao fugir da cadeia preocupa-se em dar ao buraco pelo qual foge um formato bonito, de estrela ou de lira…Por isso gosto de me vestir bem, ou de ter flores em casa, ou de arrumar o prato como se estivesse num restaurante na hora de servir. Para começar, jogue fora qualquer objeto de plástico made in China. A história de amor de Lindoro e Rosina é cheia de beleza e de uma graça inocente que também hoje não existe mais. Vá a ópera uma vez na vida, e recomendo ‘‘Il Barbieri’’ para começar light.

A regra do minuto


O grande problema, o maior problema do mundo é estupidez. Aprendi há tempos uma regra de ouro que expllica em parte a condição humana atual : ‘de minuto em minuto nasce um otário no mundo’. Porque alguém acredita em Rael, ou na Cientologia ? Estupidez. Porque tanta gente apóia ditadores sanguinários ? Porque há gente que se dedica a vida toda a aparecer de algum jeito no Guiness Book ? Porque alguém cola um adesivo ‘eu acredito em duendes’ no carro ? Porque alguém quer ter um iguana de estimação ? Porque alguém se explode achando que encontrará virgens no paraíso? Todos se incluem na regra do minuto. Quem sou eu para julgar ? Ninguém, afinal de tempos em tempos eu faço ou digo coisas estúpidas.
Mas há algumas armas contra a estupidez que tento usar com toda a convicção para sair fora do buraco negro da imbecilidade. Em primeiro lugar leia muito. Não tudo, leia os jornais, leia as colunas de opinião, leia livros consagrados, leia o que de bom já foi escrito. Nunca tenha preconceitos contra nenhuma idéia nova. Aprecie arte, música, jogos, bons filmes. Veja as notícias do que acontece no mundo, aprenda outras línguas, coma outras comidas, mas nunca, nunca assista televisão de domingo

State of Africa


Estou lendo The State of Africa, livro do historiador e jornalista britânico Martin Meredith. É o melhor livro de não ficção que já li. Acho que viver na Europa desperta mais nosso interesse pela Africa. Aquelas imagens de navios abarrotados de imigrantes chegando nas praias espanholas e italianas ajuda.
Todo mundo que quisesse entender um pouco porque o continente que foi o berço da raça humana é hoje a região mais atrasada do planeta deveria ler esse livro. Assim como aqueles que quiserem conhecer os resultados trágicos da combinação do cinismo dos europeus e americanos com a estupidez dos líderes políticos africanos corruptos, totalitaristas e gananciosos. E também aqueles que acham que Bono e Bob Gedolf podem salvar a África. Todo mundo deveria ler esse livro, incluindo Lula e toda a esquerda brasileira. O capítulo sobre a reforma agrária na Tanzânia é um exemplo de como o marxismo-leninismo pode arruinar uma economia.
Queria achar um ''Martin Meredith'' que me fale da América Latina. Se souberem de algum me avisem.

Mais Movies

Esqueci de falar de três filmes de que gostei também
Sin City: é demais, a melhor adaptação de quadrinhos paras as telas que se poderia fazer. Você se sente dentro de uma comic novel das boas, com o clima dark que uma boa comic novel tem que ter. Para fans somente. E ainda há Jessica Alba vestida para matar.
Pride and Prejudice:João Pereira Coutinho diz que todos que querem entender o amor deveriam ler Jane Austen. Concordo. Ler seria melhor, mas ver a paisagem do interior da Inglaterra com uma fotografia que merecia Oscar é bonito demais. E Keira Knightley é uma arrebatadora Elizabeth Bennet.
Der Untergang: Sentir toda a loucura do Fuher e seu II Reich como se estivéssemos lá em seu bunker. Bruno Ganz é impressionante como Hitler. Wim Wenders disse que o filme humaniza o demônio, mostrando-o gentil com a secretária ou acariciando seu cão por exemplo. Mas JP Coutinho tem razão de novo. Demonizá-lo e negar sua condição humana seria tirar-lhe a culpa. O filme é imperdível.

Ana Júlia



Apresento Ana Júlia, the bad ass girl. Ela fala tudo o que eu queria e não posso.
Ana Júlia gosta de cinema, rock n'roll, sexo, marlboro light, vodca e ursos de pelúcia.
ë de escorpião, já teve cinco namorados e três namoradas mas nutre uma secreta paixão por Billy Joe Armstrong.
Não pratica esportes porque esporte mata.
Mas dá porrada quando algum engraçadinho se atreve a beliscar sua bunda.

Slow Food

Hoje almocei um hamburguer. Normalmente os holandeses não almoçam. O almoço holandês é um pão com queijo e no máximo uma sopinha daquelas em pó que se dissolve na água quente. Eu, como estou no trabalho e não há um restaurante num raio de 10km tenho que me sujeitar aos hábitos do país. Normalmente levo um sanduíche de casa, mas hoje não deu.
Fui até a máquina automática que tem hambúrgueres congelados e pus 1 euro e cinquenta centavos. O hamburger cai no buraco, você pega e põe no microondas por 1 minuto e meio. O pão fica meio mole, o catchup muito quente e aquela carne de dentro adquire uma textura e cor indefiníveis, longe de qualquer semelhança com o que se esperava de um pedaço de carne moída. Esse foi meu almoço, engolido de pé e às pressas.
Minha janta eu que fiz. Fiz batatas no forno com manjericão, cebolinha, azeite, pimenta do reino e sal. Fritei pedacinhos de lombo de cordeiro novo desossados no azeite, e fiz um molho de échalottes, vinho, mel, limão siciliano e pasta de azeitona preta. Cozinhei vagens na água e sal. Pus a carne, as batatas, a vagen e o molho por cima no prato. Joguei por cima pignollis, um pouco de queijo parmesão ralado e pimenta verde espanhola picada. Jantei com um vinho tinto de Bordeaux e ouvindo Billie Holiday cantar. E me senti como se estivesse jantando no Palácio dos príncipes de Monaco.
Uma grande vantagem de se morar aqui é o acesso fácil aos melhores ingredientes do mundo, o que faz possível que um analfabeto culinário como eu possa ter pretensões de chef por breves instantes.
Há um tempo atrás descobri um movimento chamado Slow Food (veja www.slowfood.com), um movimento destinado a proteger e preservar os prazeres da mesa.Aderi imediatamente. É um contra senso que a modernidade nos obrigue a comer pior do que comíamos há cem anos. Culinária é uma arte, parte da cultura de cada povo, de cada região. Deve ser estudada e experimentada a fundo como se estudam monumentos históricos.
Nos dias de hoje querem nos transformar em máquinas produtivas de alto rendimento, nos fazendo esquecer que o objetivo de se produzir mais era justamente ter mais tempo para aproveitar a vida. Recuso-me. Toda vez que eu puder, comerei como um rei. Viva a slow food.

Holland


Eu moro na Holanda, e acho a Holanda o melhor país do mundo. Não tem a ver com o clima, ou com a paisagem, ou com os costumes. Tem haver com liberdade que esta sociedade usufrui. Pode-se fumar maconha, pode-se abortar. Gays se casam e adotam filhos. Eles vestem o que querem sem saber se o resultado é elegante ou não e não estão nem aí. Holandeses nadam nus na praia no Ano Novo, em pleno inverno. Alguns organizam passeatas e passeios de bicicleta nus. Nudismo é liberdade, o resto todo também. Garotas fazem sexo no primeiro encontro, sem a maldita culpa cristã que nós latinos carregamos. Mulheres fazem top less na praia. Não significa que todos vão ou devem fazer isso tudo. A essência é que todos têm a absoluta liberdade de fazê-las.
Acredito por isso que a Holanda seja a sociedade mais avançada que conheço. Há uma cidade na Holanda onde nào existem sinais de trânsito, não há faixas de segurança, ciclovias ou calçadas. Pedestres, ciclistas e motoristas dividem o espaç único das ruas. Acidentes são raros. A partir do momento em que a responsabilidade é passada às pessoas elas se conscientizam que têm que fazer o melhor que podem para conviverem. Regras nos tiram a responsabilidade, nos tiram a escolha, nos estupidificam.
Eu sonho com uma sociedade onde leis e regras não serão ditadas por alguém, mas serão ditadas pela própria consciência das pessoas, pela consciência óbvia de que os direitos dela acabam quando começam os dos outros. Minha sociedade deveria evoluir para a liberdade total.
Liberdade é tudo. Tolero tudo, só não tolero a intolerância. E a intolerância na Holanda vem de uma minoria islamizada que se recusa a aceitar uma sociedade como esta. Os mesmos que saem tocando fogo em carros em Paris. Desconfio que precisarão de séculos para evoluírem até onde está a Holanda hoje.

Movies

Cinema é minha droga, meu vício, minha viagem. Se eu pudesse viveria dentro do multiplex me alimentando de pipoca caídas no chão e restos de refrigerante.
Prometo críticas mais elaboradas para os próximos, mas por enquanto aqui vai a resumida dos últimos bons filmes...
Crash: surpreendentemente bom, mas muito bom mesmo. Paul Haggins já tinha acertado no alvo com Millon Dollar Baby e acerta de novo, na mosca. Consegue uma peça única, onde a realidade é como um tapa na cara do espectador, a partir de um mosaico de histórias entrelaçadas de diferentes tipos raciais no caos de Los Angeles. Consegue também a proeza de fazer Sandra Bullock, Matt Dillon e Brendan Fraser convencerem em seus papéis. Don Cheadlle é como sempre grande.
The Constant Gardener: Grande filme, com minha dear darling Rachel Weisz. Um história de primeira, com cenário e personagens igualmente consistentes. A Africa tem me atraído esses últimos tempos, impossível não se revoltar com um filme desses.
Lord of War: O mais memorável nesse filme é o humor negro e o cinismo de Yuri Orlov personagem de Nicolas Cage. A cena de abertura com a trajetória de uma bala da fábrica até a testa de um menino-soldado africano e dos cartuchos de bala saindo da metralhadora com som de máquina registradora são demais, e já dão o teor do filme. O pior é saber que tudo o que o filme fala é verdade.
Hotel Rwanda: Africa de novo, retratando o pior genocídio no continente neste século. A cena que marca é a dos brancos sendo evacuados enquanto os pretos os acompanham segurando o guarda chuva até a porta do onibus. A porta se fecha, os brancos fogem e os pretos ficam para serem massacrados. De chorar.
Closer: o filme expõe tão explicitamente o íntimo dos quatro personagens que é como se os estívessemos vendo pelo avesso. Natalie Portman (outra dear darling minha) caminhando solitária ao som de Damien Rice é a cena de doer o coração.
Eternal Sunshine of the Spotless Mind: Bizarro, menos do que I want to be John Malkovich mas mesmo assim bizarro, porém belo. Amor e memória. Provavelmente o único filme com Jim Carrey de que irei me lembrar.
King Kong: esqueça os efeitos especiais, é uma história de amor platônico. Na selvageria de seu mundo, Skull Island, o Kong encontra Ann Darrow. Na selva dela, New York, Ann Darrow se apaixona por Kong. Ele é forte, ela é frágil, mas são duas almas solitárias encontrando uma razão para sobreviver. E a beleza o vai matar.
Se esqueci algum depois eu volto.

Smoking cat


Essa pintura chama-se ‘’smoking cat in the green jazz club’’ . Acreditem ou não eu sonhei com esse gato.
Descobri o jazz tardiamente, depois de passar pelo rock e pelo blues e durante um período negro da minha vida pelo pagode, axé e sertanejo, mas não falemos mais disso.
Não sou obviamente um fanático, continuo eclético em meu gosto musical, desconheço grandes datas, nomes e canções da história do jazz mas sei que não há nada melhor do que ouvir Billie Holiday na penumbra da madrugada com um scotch single malt em uma mão e um corona cubano na outra. Melhor ainda com chuva lá fora. Mas o melhor do jazz são as vozes das cantoras.
O que pode ser melhor do que um ouvir Diana Krall cantando ‘’Cry me a River’’ ? Quem resiste a Norah Jones ou a Joss Stone? Essas vozes de mulher, soooooooooooo sexy, quando se fecha os olhos parecem te acariciar.Ainda terei um green jazz club em algum beco escuro. Evai ter uma mulher cantando. E ainda aprenderei a tocar saxofone. Ou então já descobri o significado desse sonho, vou reencarnar como esse gato amarelo.