Tuesday, November 27, 2007

American Gangster


American Gangster é o Tropa de Elite americano nos anos 70. Russel Crowe como Richie Roberts é um Capitão Nascimento mais desencanado e menos porreta. Mesmo assim é o policial honesto contra o império do tráfico de heroína de Frank Lucas, vivido por Denzel Washington. Lucas foi o negão que passou para trás até a máfia italiana em Nova York vendendo um produto com “o dobro da qualidade e metade do preço”. O filme faz uma radiografia verdadeira do tráfico (a história de Frank Lucas é real) desde a produção no sudeste asiático, passando pelo transporte através das tropas americanas no Vietnam e a distribuição nas ruas do Harlem. Frank Lucas organiza sua família como os italianos, seus irmãos cuidam da distribuição da droga e ele paira desapercebido acima da lei e dos inimigos, até que a investigação de Richie Roberts vai desconstruindo sua organização e a banda podre da polícia.
O filme mostra de forma implacável o flagelo das drogas embalado na contra-cultura da época, sobretudo na periferia de Nova York onde as primeiras vítimas do tráfico são, como no Brasil, os mais pobres. Há cenas tristemente marcantes como essa onde um bebê chora ao lado do corpo da mãe junkie, morta de overdose. Nem o parceiro de Richie escapa da heroína. Em certo momento Richie se pergunta se aquilo vale apena, e contando os soldados, os traficantes, os clubes, o dinheiro que gira, “se o tráfico acabar duzentas mil pessoas vão perder o emprego”.
Ridley Scott é um dos meus diretores favoritos, e este filme com certeza está à sua altura. É um retrato contundente desse lado escuro da América.

Saturday, November 24, 2007

E por falar em Rússia


Sergei Kovalev, ex-prisioneiro político, candidato da oposição à Duma e presidente do Instituto para Direitos Humanos escreve um artigo na New York Review of Books sobre Vladimir Putin.
Ele começa dizendo: “Acredito que Vladimir Putin é a figura mais sinistra na história da Rússia contemporânea. Desde o começo do seu governo, ele dirigiu, e quase completou, uma contra-revolução anti-democrática na Rússia. Ele aniquilou muitos direitos civis no país, entre eles liberdades essenciais como a liberdade de informação. Ele restringiu significativamente a liberdade de associação e assembléia, e o direito de realizarmos marchas pacíficas, protestos e demosntrações”. “Eu acredito que ele tenha dizimado o conceito de um Judiciário independente. Com seu conhecimento e apoio, e provavelmente sob sua instrução direta, dúzias de meus concidadãos estão sendo injustamente condenados em sentenças de prisão politicamente motivadas. Por isso ele é o responsável por uma nova geração de prisioneiros políticos na Rússia”.
Estou tomando uma vodca russa aqui, tão russa que não consigo traduzir o que está no rótulo. Lendo Stalin e Putin, andei pensando muito na Rússia esses dias, não só por causa da vodca.
Os russos na época do comunismo achavam que eram o país do futuro, de uma nova era. Com o desmoronamento da URSS, depois da tormenta da era Yeltsin, Putin usou sua experiência de KGB e tomou conta dos escombros transformando a Rússia em seu novo império. Kovalev diz que ele usa eleições para criar uma atmosfera de legalidade e democracia o que é completamente falso. Putin está criando uma ditadura, matando seus inimigos (lembram-se de Anna Politkovskaya e Alexander Litvinenko?), transformando os russos em racistas e xenófobos.
O que acontece com a Rússia me interessa porque é o que está acontecendo na Venezuela, e o que pode acontecer com o Brasil. Usam a democracia para conquistar o poder e depois uma vez no poder minam todos os mecanismos que fazem a democracia funcionar. A história é mesmo uma idiota, se repete, se repete...

Stálin


Acabei de ler “Stálin, na Corte do Czar Vermelho” de Simon Sebag Montefiore. O livro narra a vida pós 1917 de Stálin e de seu círculo mais próximo, família, amigos e companheiros revolucionários. Montefiore teve um acesso inédito a cartas que Stálin mandava e recebia, além de ter podido entrevistar gente ainda viva que efetivamente conviveu com o ditador. O resultado é uma nítida impressão do cotidiano e da vida íntima do homem que comandou a União Soviética desde a morte de Lênin até o fim da II Guerra Mundial. O livro mostra também toda a degradação moral do socialismo stalinista. O que impressiona é a escala de grandeza da mortandade que os comunistas patrocinaram sob o comando geral de Ióssif Stálin. Foram milhões de camponeses fuzilados e deportados, outros mhlões a morrerem de fome enquanto seus grãos eram confiscados pelo partido para financiar a indústria soviética. A Nouvel Observateur trouxe na semana passada os relatos de horror dos que sobreviveram aos goulags comunistas. Quantas vidas desperdiçadas sem motivo, quantos seres humanos traumatizados. Gente como eu e você, que em um goulaga matava e morria por um pedaço de pão. Depois as perseguições políticas contra elementos anti-soviéticos. Stálin e seus comissários assinavam diariamente sentenças de morte para centenas de milhares de pessoas. As vezes o motivo da condenação era um sobrenome ou um parentesco distante, ou ler o livro errado. E depois a II Guerra onde o ataque nazista somada à incompetência do Alto Comando foi responsável pela morte de 12 milhões de soviéticos.
Simon Sebag Montefiore narra com detalhes as intrigas, os ciúmes, a loucura, o patrulhamento ideológico e a depravação dos bolcheviques do alto escalão. Na fúria do terror, Stálina chegaria a condenar à morte ou à prisão e tortura antigos amigos e até membros da própria família. Uma leitura indispensável sobre um dos maiores assassinos da história, para quem quer entender os mecanismos do totalitarismo.

Condoleezza Rice e o dia da consciência negra


Condoleezza Rice é há 7 anos a mulher mais poderosa do planeta. Eu aprendi a gostar da negona, imagino o quanto ela teve que suar para chegar onde está. Na Conferência de Annapolis que se prepara, Condie pode, se tudo der certo, ser coroada com um triunfo diplomático perseguido pelos EUA desde Jimmy Carter, um acordo definindo um Estado Palestino e a paz em Israel. Ela pode conseguir, já que pela primeira vez há um presidente palestino e um premiê israelense com vontade de encerrar o assunto. Mahmoud Abbas quer mostrar a seu povo que é uma opção melhor que o Hamas, e Ehud Olmert que vive à sombra de Sharon quer legar a paz ao seu povo.
Em uma entrevista à Newsweek, Condoleezza Rice falou sobre como sua experiência de ser uma mulher negra na América branca moldou seu pensamento em relação à questão palestina. Rice cresceu ouvindo seus pais lhe ensinarem que cair na auto-vitimização era inútil. Enquanto seus pais lhe davam orgulho, ela sentia na pele o que era se sentir impotente, com muitos raivosos jovens palestinos se sentem hoje. “A prolongada experiência de depravação e humilhação pode radicalizar pessoas normais” ela disse a oficiais israelenses e americanos em Jerusalém. Inspirada em Martin Luther King e na não-violência como caminho para o orgulho, ela compara a cidadania para os palestinos com o que significou o Civil Right Acts para os negros americanos.
Eu acredito que a história dos negros no Brasil não tenha nada a ver com a história dos negros americanos. Quem não acredita deveria ler Gilberto Freyre. Os negros se misturaram em nosso sangue e cultura como em nenhum lugar do mundo. Não é a toa que 41% da nossa população é mestiça, enquanto os negros auto-declarados são 6% (IBGE). A idéia de racismo no Brasil em si é ridícula, já que quase ninguém pode afirmar suas origens com 100% de certeza. Há racismo no Brasil? Eu acredito que sim, ainda arraigado na cabeça de gente ignorante. Só que esse racismo não se traduz em dados econômicos como o movimento negro quer fazer crer. As pesquisas são manipuladas para mostrarem que negros ganham menos, morrem mais etc...É mentira. Se quer uma pesquisa justa, com dados corretos, que se comparem alhos com alhos e bugalhos com bugalhos. Um branco, pobre, com ensino básico, 4 filhos, morador da zona rural de São Paulo, ganha mais do que um negro, pobre, com ensino básico, 4 filhos, morador da zona rural de São Paulo? Um negro, rico, dois filhos, ensino superior, ganha menos do que um branco nas mesmas condições? Nenhuma pesquisa mostra isso.
Por isso o Estatuto de Igualdade racial no Brasil não faz sentido nenhum. E as cotas nas universidades, em vez de melhorarem a situação vão criar um apartheid onde não havia. Vamos agora olhar a cara de todo mundo e decidir quem é negro e quem não é, como os belgas faziam em Rwanda dividindo a população entre hutus e tutsis.
O movimento negro no Brasil é formado por uma minoria quer conseguir direitos excepcionais, contra nossa constituição e contra nossa formação sociológica. Eles deveriam aprender com Condoleezza Rice que é com orgulho, e não com vitimismo que se constróem pontes entre os povos.

Ana Júlia e o faroeste caboclo


Em março deste ano foi feita uma pesquisa sobre a violência no Brasil. Os dados mostraram que as áreas mais violentas do país estão nas periferias das grades cidades e nas áreas de fronteira agrícola. A conclusão é fácil, violência está relacionada com a ausência de um Estado forte ou a conivência de um Estado fraco. Onde falta polícia ou onde a polícia não entra, há impunidade e como consequência o crime se impõe.
O sul do Pará é um exemplo disso. Sei do que falo. Morei em Conceição do Araguaia entre 1980 e 1985. Mesmo criança já sabia naquele tempo dos conflitos entre posseiros, garimpeiros, índios e fazendeiros, e não era raro termos notícias de tiroteios e mortes por ali. Isso foi há mais de 25 anos, o sul do Pará se modernizou, empresas e indústrias se instalaram ali, a terra se valorizou. Havíamos de pensar que os conflitos desapareceriam, mas a realidade não é essa. Há bandos de pistoleiros invadindo fazendas e cobrando resgate dos seus proprietários. Segundo uma reportagem da Veja dessa semana, quando não recebem o dinheiro, matam animais, queimam pastos e arruinam edificações. O pior é que os bandidos agem na impunidade, já que a governadora Ana Júlia Carepa, do PT, editou uma portaria proibindo a polícia de interferir nos conflitos agrários. Ou seja, banditismo agora é “problema social”.
Vocês conhecem Ana Júlia Carepa? É essa fofa aí da foto. A mesma que empregou 7 parentes no Governo do Pará, deu onze cargos a Jader Barbalho, empregou a cabelereira e a manicure como assessoras, reformou a casa onde mora (que não é a do governo) com dinheiro público, leva parentes e amigos nos feriados para a praia bancados pelo nosso dinheiro e fretou um jatinho em nome do governo para assistir à formatura do filhão.
Ah, e é a mesma que deixou uma garota de quinze anos um mês em uma cela de prisão com vinte homens. A menina era obrigada a prestar favores sexuais em troca de comida. Como boa petista, Ana Júlia não sabia de nada.
Enquanto isso o Sul do Pará arde nas mãos de bandoleiros. O faroeste de 25 anos atrás está pior, sob a benesse do Estado.

Thursday, November 22, 2007

E no dia da Bandeira...


E no Brasil, no dia da Bandeira, 19 de novembro para quem já esqueceu, na sede da UNE no Rio de Janeiro, qual a bandeira que tremula no mastro ao lado da do Brasil? Sim, a de Cuba do companheiro Fidel! Nada mais natural na sede de um órgão que virou um curral do PCdo B, onde há de tudo, menos estudantes. Por essas e outras que nem em programa de auditório nego quer mais a ajuda de estudantes...

Blog Power


Há blogueiros na China, em Teerã, na Arábia Saudita, no Egito, no Congo e em muitos outros lugares onde a liberdade de pensar e se expressar é restringida. Alguns deles já foram em cana, alguns já apanharam, mas a blogosfera virou um novo reduto dos defensores da liberdade e uma nova ferramenta na luta pela democracia.
Na Venezuela também, onde os blogueiros estão agitando a internet contra a reforma constitucional de Hugo Chávez. Sorte a eles! Hugo Chávez, porqué no te callas?


Wednesday, November 21, 2007

Cyclone track


A imagem mostra o percurso de todos os ciclones, furacões e tempestades tropicais já registradas pelos modernos serviços de meteorologia. O que salta aos olhos é a sorte do Brasilzão limpinho com seu céu de brigadeiro... Tenho visto terríveis imagens de Bangladesh, atingido pelo Ciclone Sidr na semana passada. Um evento como esse já é uma tragédia em qualquer lugar do mundo. Em um dos países mais miseráveis do planeta é de se perder as esperanças.

Tuesday, November 20, 2007

Atonement


Atonement em inglês quer dizer expiação. Este é o sentido do prestigiado romance de Ian McEwan, que virou um ótimo filme nas mãos de Joe Wright, o mesmo de Pride and Prejudice. É uma elegante reflexão sobre o poder da ficção em imitar a vida, consertar erros e expiar pecados, e o quão irreal e limitado é esse poder.
A história começa na Inglaterra em um dia de verão de 1935. A família Tallis vive em uma daquelas imensas mansões inglesas no campo. Cecilia Tallis tem 23 anos e acaba de voltar da universidade. Cecilia tem sentimentos confusos em relação a Robbie Turner, o filho do caseiro desde que estudaram juntos quando jovens. A irmã de Cecilia é Briony, de 13 anos, uma criança sozinha e introvertida que se diverte escrevendo estórias e peças de teatro, e que secretamente nutre um amor platônico por Robbie.
Depois de uma série de acontecimentos daquele dia, Cecilia e Robbie finalmente declaram seu amor um pelo outro. Naquela noite, Briony acusará Robbie de um crime terrível que ele não cometeu.
Robbie vai para a prisão e só Cecilia continua a acreditar nele. A única saída da prisão para Robbie é o front da II Guerra Mundial. Cecilia e Robbie ainda se encontram antes de sua partida e ela promete que o esperará.
O filme nos leva então para as cenas terríveis da trágica retirada inglesa de Dunkerque em 1941. As alucinantes cenas na praia francesa são uma pequena e assombrosa obra de arte dentro do filme, e resumem toda a insanidade da guerra. Em um detalhe delicado, Robbie entra em uma sala onde estão projetando o filme Quai des Brumes de 1938, em meio a uma famosa cena entre Jean Gabin e Michele Morgan.
Enquanto isso Briony desiste da universidade e se engaja como enfermeira em um hospital londrino, assim como Cecilia que vive sem contato com a família em um pequeno apartamento de Londres. Briony, em seu trabalho que ela encara como uma penitência percebe as dimensões do erro que cometeu e começa a imaginar formas de se redimir mas lhe falta coragem.
Na parte final do romance (e do filme), Briony é uma escritora de sucesso já com seus setenta anos. Ela sabe que nunca se perdoará pelo seu crime que mudou a vida de tantas outras pessoas. A única forma de expiar sua culpa foi dar em seu livro o final feliz que Cecilia e Robbie nunca conseguiram ter na vida.
Keira Knightley é a meu ver uma das masi belas e talentosas atrizes da new generation... E James McAvoy é como se fosse o novo Russel Crowe. Perfeito par.

Sunday, November 18, 2007

O Mundo e a Religião


Em 1966, a revista Time publicou uma capa famosa com a pergunta “Is God Dead?”. A britânica The Economist chegou a publicar o obituário do Todo-Poderoso em sua edição do milênio. Agora é a mesma The Economist que lança uma reportagem especial imperdível sobre o renascimento da religião no planeta e sua crescente influência na política mundial.
De fato, religião está na base de conflitos no Oriente Médio e na África. O pentecostalismo cresce nas favelas do Brasil e nas áreas pobres da América Latina. O hinduísmo nacionalista está voltando à cena política na Índia. Mega Igrejas dominam a Coréia do Sul e o cristianismo aumenta a cada dia na China. A Europa vê o islamismo avançar no seu território através da imigração. A direita cristã nos Estados Unidos está intimamente ligada à Casa Branca, enquanto as campanhas pelo criacionismo, contra o aborto e contra pesquisas de célula tronco proliferam pelo país. Mesmo o ateísmo, é defendido com tanta dedicação por seus apóstolos que se tornou uma religião a mais.
Há dez anos atrás filósofos e pensadores imaginavam um futuro secular e nenhum político tinha religião incluída em sua agenda. É irônico imaginar que no século XXI o mundo está vivendo um revival religioso. Para os europeus ocidentais, que desprezam o moralismo americano e encaram o Islam como retrógrado e atrasado, o mundo está indo na direção errada.
O fato é que foi no século XX, essencialmente secular, que se cometeram os maiores crimes da história da humanidade, sob as bandeiras dos sem-deus fascistas, nazistas e comunistas. A racionalista Europa Ocidental foi o palco central de duas guerras mundiais. Como Dostoievski tinha previsto, se Deus está morto tudo é permitido.
É natural que com o mundo se transformando na velocidade de hoje, as pessoas precisem de algo que lhes dê conforto e direção, uma tábua onde se agarrar na correnteza.
Evidentemente eu defendo a separação de Estado e Religião. Acredito que o estado democrático deva zelar pelo direito de cada um acreditar no que queira e acredito que a religião deva ser uma escolha de cada um.A conclusão da Economist é que o futuro não é ateu ou secular, mas pluralista, e a religião é cada vez mais uma escolha de cada um, não uma imposição.
Os estudiosos do Islam dizem que a verdadeiro sentido de jihad como luta religiosa é a do indivíduo consigo mesmo. A luta com a própria consciência para melhorar e entender o mistério da própria existência. Para mim, este é o sentido de toda religião, e o que todos os religiosos do mundo deveriam entender.
Por isso não respeito homens-bomba, não respeito igreja mais nova que o whiskey que bebo como diz o Reinaldo Azevedo, não respeito pastor que engana pobre para comprar canal de televisão, não respeito político que usa igreja para se eleger.
Recomendaram ao Vaticano que a Igreja e o catolicismo se modernizassem para ganhar mais fiéis e se tornassem mais flexíveis em assuntos como aborto, casamento gay, camisinhas etc. Bento XVI decidiu que a Igreja fica como está, quem quiser aceitar o catolicismo como guia moral que aceite como ele é. Não vai mudar os princípios em que acredita para aumentar seu market share. Eu respeito isso.

Saturday, November 17, 2007

Natureza Viva


As facas,
Todas à mostra
Dispostas
No mesmo prato
De arabescos.
Tal é a natureza
Da coisa,
Cintilando entre outras
Presenças.

Eles e elas,
Nós e os outros
Os outros e os pequeninos.
Tudo finamente desenhado:
Apenas um fragmento
E quase rebrilha.

É para se debruçar
Sobre a tela
E sentir o vento
Que balouça este quase-navio.
Vela e pavio,
Letra viva que um dia
Em paz há de brilhar
Desfraldando sua bandeira
Nesse mar,
Singrando este poema devagar.

Mas esta pena -
Que escorrega, que cintila -,
E que, já farta de a palavra festejar,
Se deita ao chão,
Não deixa em seu rastro
Algum borrão?



Beth Fleury
Às crianças do Kosovo

Informaticidades


Ainda me lembro quando meu pai, sempre afeito a novidades tecnológicas, chegou em casa há uns 20 anos atrás com um personal computer última geração debaixo do braço. Era o começo da realização da profecia de Bill Gates, um PC em cada lar. O treco era um TK85, uma caixinha preta que se ligava na televisão e cujos programas vinham em fitas cassete que demoravam pelo menos meia hora para serem carregados. A bugiganga só me interessou por causa de um jogo do tiranossauro Rex (era preciso muita boa vontade para identificar um tiranossauro naquele monte de pontinhos e tracinhos) que perseguia a gente por um labirinto preto e branco. Obviamente o TK ficou para trás, eu e meus irmãos passamos meu pai no manejo do computador e hoje são minhas primas e primos mais novos que me espantam com truques informáticos que eu nunca aprendi. Minha sobrinha de 4 anos usa um mouse como se fosse uma extensão natural de seus membros. Meus bisnetos serão cyborgs.
Tudo isso para dizer que apesar de ter demorado eu finalmente aprendi a fazer uma coisinha ou duas no blogger, e consegui arrumar meus arquivos. Tá tudo aí do lado, por temas, vale a pena ver de novo. E vou incluir mais um site ou dois nos links, gente que eu gosto e que escreve bem.

A Ameaça Fantasma


Lula, o nosso Guia Genial, o Apedeuta, este assombro de erudição e ética declarou que ninguém pode criticar a Venezuela por falta de democracia, e ainda falou mais umas cinco ou vinte bobagens na sequência, sobre o petróleo, sobre pobre não pagar CPMF, sobre a Margareth Thatcher e Helmuth Kohl também terem ficado tanto tempo no poder e etc. Eu acho inconcebível que alguém minimamente alfabetizado, capaz de ler um jornal e interpretar uma notícia possa ainda ter vontade de apoiar o Lula, e o pior é que ainda tem.
Condolezza Rice disse uma vez que democracia não é só eleição. O Hamas havia acabado de ganhar a eleição na Palestina e a esquerda mundial zoava o Estados Unidos que tanto havia brigado para instalar ali uma democracia, e no final foram os fanáticos que ganharam.
Só que a Mme. Rice está certíssima. Chávez pode ter ganhado todas as eleições e referendos que ganhou e mesmo assim é alguém que odeia a democracia, e que está usando seu populismo baixo para destruí-la. Um dos princípios básicos da democracia é que ela não pode tolerar quem não lhe tolera, é exatamente por isso que partidos nazistas são banidos na Alemanha por exemplo.
Miriam Leitão faz em seu blog uma lista de fatos que Lula esqueceu de contar sobre o democrata Hugo Chávez:
1. Ele entrou na vida pública tentando um golpe de estado.
2. Ao ser eleito anos depois aproveitou o momento em que estava ainda forte, destituiu o Congresso, fez eleições para uma Constituinte, mudou a Constituinte em seu favor, dando-se mais um mandato.
3. Aproveitando o momento de popularidade se elegeu de novo e considerou que esse era o primeiro mandato da nova Constituição.
4. Mudou a composição do Supremo, aposentando os adversários e nomeando os amigos.
5. Mudou a composição do Conselho Nacional Eleitoral para ter apenas ministros que o apóiam lá.
6. Formou, incentivou e armou grupos de militantes que intimidam qualquer oposição ao seu governo, que atacam jornais e emissoras de televisão.
7. Fechou uma TV por não estar alinhada ao seu governo.
8. Ameaça jornais e jornalistas, instigando seus grupos armados contra eles.
9. Mesmo depois de reeleito para um novo mandato, que fará com que fique 13 anos ao todo no poder, ele quer o direito a reeleição perpétua e propôs isso a um Congresso subserviente e para uma população manipulada pelo controle da imprensa e pela distribuição do dinheiro do petróleo.
A isso acrescente-se que Caracas já se tornou uma das cidades mais violentas do mundo, que os venezuelanos não estão encontrando nem leite para comprar nos supermercados, que estudantes estão sendo mortos à bala pela milícia chavista, e que Chávez acaba de anunciar que vai desenvolver, a exemplo do Irã, um programa nuclear. Isso em um país que bóia em petróleo. É muita estupidez.
Enquanto isso, a ameaça fantasma do terceiro mandato lulista começa a tomar forma. Afinal eles acham que se na Venezuela é democracia no Brasil também será.

Tuesday, November 13, 2007

Viva El Rey!!!


Ótima essa, alguém finalmente perdeu a paciência e mandou Hugo Chávez calar a boca! E não qualquer um, El Rey de Espanha Juan Carlos I, durante a Cúpula Ibero-Americana no Chile. Chávez havia chamado o ex-premiê espanhol José Maria Aznar de fascista, acusando-o de ajudar no golpe que quase o tirou do poder em 2002.
O atual primeiro ministro José Maria Zapatero lembrou a Chávez que Aznar fora eleito pelo povo espanhol, e que ofendê-lo era ofender a Espanha. Zapatero era ele próprio do partido da oposição durante o governo Aznar, mas entre seu comportamento exemplar e a boçalidade de Hugo Chávez nota-se que diferença faz viver em um país democrático de verdade.
Hugo Chávez está à vontade mesmo é em seu país onde ele pode controlar a imprensa como quiser e trata os opositores à bala. Lá ninguém lhe manda calar a boca.
Já o Congresso Brasileiro podia aprender alguma coisa com Juan Carlos e reagir à altura na próxima vez em que Chávez ofender nosso Parlamento, coisa que ele já fez algumas vezes sem ouvir nenhum pio de protesto. Vida longa ao rei!

http://www.youtube.com/watch?v=jv-DgAJ1ncM

Saturday, November 10, 2007

Vitória no Iraque


Mario Vargas Llosa escreveu na Cuarta Pagina do El País de domingo passado, comentando um artigo intitulado Missão Cumprida que o inglês Barttle Bull, especialista em Oriente Médio escreveu para a revista Prospect. Guardei esse jornal a semana toda só para escrever sobre ele aqui.
A impressão que temos hoje quando se fala no Iraque é a de que a invasão americana foi um verdadeiro desastre, e que Bush é bem pior do que Saddam para os iraquianos.
Em seu artigo Bull deixa de lado a questão de se foi certa ou errada a invasão, algo que ele deixa para os historiadores do futuro julgarem.
Mas ele diz que o Iraque é hoje uma democracia cada vez mais sólida, onde as participações da população nas eleições é massiva. O país que parecia à beira da guerra civil está mais unido, e o separatismo de sunitas, xiitas e curdos se amainou.
Diz Vargas Llosa que embora seja obscena a comparação, as mortes desde a invasão se contam entre 80 e 200.000 dependendo das estimativas, mas ainda assim é muito menos do que o um milhão e meio que Saddam matou com suas guerras, chacinas e seu aparelho de repressão. E as mortes desde a invasão foram causadas muito mais por atentados de terroristas muçulmanos contra civis também muçulmanos do que por soldados estrangeiros.
A minoria sunita percebeu que se beneficiaria mais participando de um novo regime democrático junto com os xiitas do que se aliando ao terroristas da Al Qaeda. Agora o número de sunitas em cargos do governo e mesmo no Exército e na polícia iraquiana não para de crescer.
Em mais de metade das 18 províncias do país, a violência terminou quase completamente.
Há uma opinião generalizada, antiamericanista, na mídia internacional de que os Estados Unidos sairão do Iraque como saíram do Vietnam, expulsos por “resistentes”.
A verdade parece ser outra. Mario Vargas Llosa acredita que por enquanto são os terroristas que estão levando a pior, e tanto Hillary Clinton como Rudolf Giuliani prometeram ir retirando tropas sempre e somente na medida em que o exército iraquiano consiga substituí-las. E que talvez assim esse sacrifício de quatro anos e meio do povo iraquiano não tenha sido assim tão inútil.

Rugby is awesome


Imperdível, um vídeo com jogadas espetaculares de rugby e a trilha sonora dos doidões irlandeses do Flogging Molly cantando Seven Deadly Sins:

http://www.youtube.com/watch?v=aTqV6cuhtd0

Vida longa e próspera


Êêê, fazia tempo que eu não sentava aqui na sexta feira de madrugada ouvindo jazz, escrevendo e tomando umas e outras. Há mais de um mês que eu estou para lá e para cá com viagens, relatórios, feiras, clientes, pepinos, chega...Está um vento horrível e chovendo gelo aqui na Holanda, pela primeira vez em dez anos, o porto de Rotterdam foi fechado por medo de inundações. Resolvi trazer uma cuia de chimarrão uruguaia e um quilo de mate Canarias (o preferido dos uruguaios pero fabricado en Brasil) para passar o inverno holandês. O mate graças a Deus passou incólume pelos cães farejadores e pela alfândega do aeroporto de Amsterdam, imagine eu explicando aos “meganha” holandês que erva é essa. Como meu whiskey acabou, tá frio e eu tô com sono estou mandando ver no chimarrão nessa madrugada.
Com o mate na mão e ainda pensando no Uruguai ensolarado, lembrei de uma conversa com um tio médico no fim do ano passado. Ele me contava sobre uma pesquisa que foi investigar a vida das pessoas que viviam mais de cem anos. No Japão, no sul da França, no interior do Brasil, no Canadá...O que se encontrou em comum é que nenhuma delas nunca tinha pisado numa academia, feito dieta ou coisa que o valha. Nunca se preocuparam com o Iraque, com produtos light com ômega 3 e creme anti rugas, com a cotação da bolsa ou com o princípio da Incerteza de Heisenberg. Normalmente são pessoas que sempre viveram em lugares simples e aprazíveis, perto do campo e da natureza, longe de trânsito e assaltos. A conclusão da pesquisa, e a nossa, é que a longevidade está ligada meramente a stress, muito mais do que a qualquer outro fator. Acredito nisso, infelizmente porque acho que assim vou morrer cedo. Por outro lado aprendi a valorizar cada vez mais lugares onde eu tenha tranquilidade e espaço. Nem que seja relaxando aqui na sexta de madrugada, quem sabe não ganho alguns minutinhos a mais de vida.

And time won't pass us by,
And you won't tell me lies,
Someday we all have to die...but not now

Wednesday, November 07, 2007

A Arca de Zoé


Eu já falei aqui que o Terceiro Mundo virou a Disneylândia do Primeiro. Tem holandesa nas FARC, tem holandês pintando favela no Rio, e agora apareceu mais essa. Uma ONG francesa intitulada l’Arche de Zoë, formada por jipeiros e fãs de rally franceses decidiu levar 103 crianças do Tchad para serem adotadas por famílias francesas. É a estratégia Madonna-Jolie para melhorar o mundo, adotar uma criança pobre. Como dizia Eduardo Dusek, deixe na história da sua vida uma notícia nobre.
A história do resgate das crianças está ainda rodeada de mistério, contradições e irregularidades. O que aconteceu é que 9 franceses, 6 da ONG e 3 jornalistas e mais 7 espanhóis da tripulação do avião fretado pelos franceses foram presos no Tchad no último dia 25/10. A ONG agiu completamente à revelia das legislações francesa e do Tchad e provocou um cataclisma diplomático entre a França e o país africano.
Ainda não se conhecem todos os detalhes do financiamento da operação, mas é certo que cada família interessada pagou adiantado pelo menos € 2.000 por cada criança. Ajuda humanitária hoje virou um business como outro qualquer. Segundo a Universidade John Hopkins, cerca de 40.000 ONG's são donas hoje de um orçamento de 1,6 trilhão de dólares (juntas elas seriam a 5 potência mundial). Muitas delas são picaretagem pura e simples, no Brasil há vários exemplos disso.
Descobriu-se depois que das 103 crianças, 93 ainda tinham pelo menos um dos pais vivos no Tchad ou no Darfour, e não eram órfãos como tinha anunciado a ONG.
Por melhores que sejam as intenções das famílias francesas em salvar crianças de um destino supostamente trágico, nada no mundo justifica um ato ilegal e imoral de separar filhos de seus pais. Os cretinos da ONG equilibram-se em uma tênue linha entre o tráfico humano e um complexo de superioridade colonialista.
O presidente do Tchad, Idriss Déby, subitamente interessado em questões humanitárias aproveita-se da ocasião para esfregar “cet affaire” ilegal na cara dos franceses. Em um momento onde a Europa se prepara a enviar tropas, em sua maioria francesas, ao Darfour, Déby ameaça dizendo que não sabe se isso será uma boa idéia e que ntalvez não deixe mais tropas internacionais de países que sequestram crianças usem o Tchad como base.
Por causa de um ato irresponsável que supostamente ajudaria 103 crianças provocou uma crise diplomática que talvez custará a vida de milhares de outras.

Tuesday, November 06, 2007