Tuesday, August 29, 2006

Good Night and Good Luck


O PT quer tirar da gaveta os projetos que tem para controlar a mídia. Quando estão por cima da carne seca esses desvios (ou seriam tendências?) totalitárias começam a aparecer. Depois da Ancinav e do Conselho Federal de Jornalismo parece que há aí um projeto para uma Secretaria de Democratização da Comunicação. Está no Estadão dessa terça. Em O Globo está um excelente artigo de Arnaldo Jabor sobre como o petismo encaminha-se para o que ele chama de “Chavismo cordial”.
Quando um governo quer interferir no que pensam os seus cidadãos sempre começa por querer controlar a informação que chega até o povo. É o princípio dos regimes totalitários.
Por coincidência assisti hoje ao excelente Good Night and Good Luck de George Clooney. O filme mostra o embate entre o jornalista Edward Murrow e o Senador McCarthy na época da temida caça às bruxas, leia-se comunistas, promovida pela Comissão do Senador nos Estados Unidos.
Murrow exibiu em rede nacional a truculência dos métodos macarthistas deixando claro que aquilo não tinha nada de patriótico. Pelo contrário, McCarthy era uma afronta aos direitos civis garantidos pela constituição americana.
A mídia tem o direito e o dever de informar o que quiser, sem que isso tenha que passar pelo crivo do Estado, ou pela peneira ideológica do PT. Que será o nosso Ed Murrow que denunciará primeiro essa farsa antes que o PT acabe por mudar nossa constituição? Para vocês que estão no Brasil, boa noite e boa sorte.

Kane


Para quem desconhece a cena pop/rock holandesa, permitam me apresentar a banda que tem feito mais sucesso por aqui: Kane.
Não se preocupem porque eles cantam em inglês, questão de merchandising. O mercado para música cantada em holandês não é lá essas coisas. E admito que o holandês é uma língua extremamente infeliz para se compor alguma coisa que não soe como um grunhido bárbaro quando cantada.
Enfim, 30.000 pessoas estavam presentes no último concerto do Kane no Malieveld em Haia, e eu no meio. Vale a pena, é rock da melhor qualidade.
Se não acreditam confiram em www.kane.nl

Saturday, August 26, 2006

Volver


Acabei de ver o fantástivo Volver de Pedro Almodóvar. O diretor volta ao universo feminino com a sensibilidade de sempre. É a história fantástica da mãe que “volta” da morte para encontrar e confortar as filhas e resolver o que ficou para trás. Penélope Cruz está deslumbrante, e mostra todo o potencial dramático que tem, e de que não chega nem perto quando faz filmes em Hollywood.
Um filme de mulheres, para e pelas mulheres. Entre a morte e a loucura sobrevivem de amizade, bondade e vontade de viver. Não é à toa que as atrizes dividiram o prêmio de Melhor Atriz em Cannes. Nesse filme, os homens não aparecem nem como coadjuvantes. Em uma cena, Sole, uma das irmãs, abre uma porta em um velório e dá de cara com um bando de homens na rua. Ela e os homens se entreolham como se fossem de planetas diferentes.
E são. Almodóvar nos dá uma amostra maravilhosa da força de que a alma feminina é capaz.
E o melhor de tudo, ver Penélope Cruz cantando:

Volver
Yo adivino el parpadeo
de las luces que a lo lejos
van marcando mi retorno
son las mismas que alumbraron
con sus pálidos reflejos
hondas horas de dolor

y aunque no quise el regreso
siempre se vuelve al primer amor
la vieja calle donde el eco dijo
tuya es su vida, tuyo es su querer,
bajo el burlón mirar de las estrellas
que con indiferencia
hoy me ven volver

Volver...
con la frente marchita
las nieves del tiempo
platearon mi sien
sentir...
que es un soplo la vida
que veinte años no es nada
que febril la mirada
errante en la sombra
te busca y te nombra
vivir...
con el alma aferrada
a un dulce recuerdo
que lloro otra vez

Tengo miedo del encuentro
con el pasado que vuelve
a enfrentarse con mi vida...
Tengo miedo de las noches
que pobladas de recuerdos
encadenan mi soñar...

Pero el viajero que huye
tarde o temprano detiene su andar...
Y aunque el olvido, que todo destruye,
haya matado mi vieja ilusión,
guardo escondida una esperanza humilde
que es toda la fortuna de mi corazón.

Plutão


É incrível que em um mundo cheio de guerras, problemas, polêmicas, crimes e discussões terrenas existam pessoas como os 2.500 astrônomos que estavam reunidos em Praga para decidir se o Sistema Solar seria ampliado ou diminuído... E talvez existam outros cientistas por aí estudando algum ossinho de dinossauro, alguma bactéria nova de algum lago africano, uma alga japonesa, a língua dos nativos da Papua Nova Guiné, a quântica dos quarks...Tenho uma amiga que participou recentemente de um Congresso só sobre testículos!
Espera aí. Será que são eles que estão perdendo tempo com discussões, estudos e pesquisas inúteis, ou é o resto do mundo que está ocupado com o que deveria ser considerado loucura?
Admiro os que nunca perderam a capacidade de maravilhar-se com estrelas, com uma simples célula ou com o brilho de um cristal. É aos cientistas que devemos o fato de termos chegado até aqui, e se não lhes déssemos crédito nunca saberíamos os benefícios que tais estudos eventualmente nos trariam.
Acho também que os cientistas que tem a cabeça na lua deveriam se preocupar tanto com os assuntos terrenos como nós que vivemos com o nariz mergulhado em nosso mundo nunca deveríamos perder a capacidade de nos maravilhar com a natureza.
Sempre imaginei viagens espaciais pelos planetas e luas do nosso sistema solar. Sempre que brigava com alguém da família ou algum amigo eu queria me mudar para Plutão. Pensava que ia ser legal ser o rei de um planetinha assim, obviamente sem saber que aquilo era uma pedra de gelo imersa em frio e sombra. Mesmo assim senti terem lhe retirado o status original, nem que fosse só pela tradição.

Tênis e frescobol


Esta semana foi aniversário da minha esposa. Me encarreguei de um jantar à luz de velas com flores, champagne, música e presente! (Ela também sabe me agradar quando quer) De aperitivo uma torrada mediterrânea com pimentão em conserva, alcachofras, patê de azeitona, copa de parma e queijo parmesão. Na entrada, papardelle aos quatro queijos com funghi e noix de saint jacques. Depois um tournedos de filé mignon ao molho madeira, batatas no forno com pimentão e aspargos. E de sobremesa mousse de chocolate com laranjas na calda de framboesa e cointreau. Tá bom, tive ajuda para o mousse de chocolate, as minhas batatas não ficaram lá essas coisas e o pimentão queimou. Não dá para ser perfeito, e o importante é que sabemos que não somos perfeitos, nenhum dos dois. Eu não falo muito, deixo roupas espalhadas pela casa, levo meses para trocar uma lâmpada, fumo escondido, não organizo nenhum papel da casa e nem sei tocar violão. Sou assim, fazer o quê?
Rubem Alves escreveu uma crônica em que dizia existirem dois tipos de casamento, o casamento tênis e o casamento frescobol. O tênis é um jogo feroz. Para ser vitorioso você precisa fazer o outro errar e perder. No frescobol não há ganhadores ou perdedores, o bom é ficar ali batendo a bolinha juntos. Se você recebe a bola torta ou errada você tenta ajeitá-la de volta para que seu parceiro não erre e o jogo continue.
Quem não sabe amar, como dizia Cazuza, fica esperando alguém que caiba no seu sonho. Quem não sabe amar idealiza uma pessoa perfeita que não existe, e não consegue nunca achar ninguém.
Quando se sabe amar, amar é fácil. Ama-se as pessoas pelo que são, sem torná-la sua propriedade ou sem tentar fazê-la encaixar-se na imagem que você tem de uma pessoa perfeita. Assim se escolhe alguém para construir uma vida juntos. E só com alguém assim se joga um bom frescobol.

Monday, August 21, 2006

O Dilema Tostines da Imigração


Os imigrantes muçulmanos (e em geral) na Europa não se integram porque não são aceitos ou não são aceitos porque eles mesmo se isolam em guetos?
Ou uma pergunta mais importante ainda, porque a Europa está produzindo terroristas em seu próprio solo, filhos ou netos de imigrantes enquanto isso não acontece por exemplo nos Estados Unidos ou no Brasil?
De fato, os presos suspeitos de envolvimento no complô para explodir aviões na semana passada eram todos britânicos de ascendência paquistanesa.
Bem, o que sabemos é que o isolamento dessas comunidades em guetos é o que provoca sua radicalização, pelo menos na Europa.
Há um ou dois anos um programa de TV holandês gravou com uma câmera escondida alguns Imans pregando em mesquitas nas periferias das grandes cidades holandesas. As imagens provocaram escândalo ao mostrar pregações que incitavam os muçulmanos a não aceitarem trabalhar para holandeses, ou a aconselhar os homens a baterem de vez em quando nas mulheres como forma de aprendizado.
As revoltas das cités parisienses em finais de 2005 mostraram algo parecido. Há alguns anos atrás motins parecidos aconteceram em Almeria na Espanha e em cidades inglesas.
Há uma primeira diferença entre Europa e os EUA. Os muçulmanos na Holanda representam 5.6% da população, na França são entre 8 e 9% e na Alemanha e Inglaterra em torno de 3%. E toda essa porcentagem está frequentemente isolada em guetos nas grandes cidades como Haia, Bruxelas, Londres, Paris e Marselha. Nos EUA, os muçulmanos são menos de 1% da população, e isso em um país enorme.
Essa diferença é apontada por Peter Skerry que escreve um artigo na Time intitulado “The American Exception”.
Mas para Skerry, a diferença principal reside no fato que a liberdade religiosa é mais respeitada nos EUA. Os muçulmanos além de terem mais liberdade têm também a possibilidade e os meios de se organizarem em grupos para defenderem seus direitos e para tocarem seus próprios institutos de ensino e estudo da religião.
Eu me permito discordar de Skerry. Vivendo na Holanda, vizinho de uma mesquita e rodeado de marroquinos sei do que estou falando. Liberdade religiosa nunca foi o problema por aqui, apesar do Papa querer enfiar lá na Constituição Européia uma cláusula qualquer mencionando uma tradição cristã. O problema ao meu ver é outro, ligado ao modus operandi da economia européia.
Não importa o quanto um imigrante se esforce, ele nunca vai passar do ranking de operário ou no máximo dono de uma vendinha no gueto. Não existe um European Dream como existe um American Dream.
O Google foi fundado por russos, E-bay por um iraniano, Juniper Networks por um indiano. São todos milionários. Uma mulher indiana recentemente naturalizada americana foi nomeada presidente da Pepsico. Na Europa isso seria impensável, o que até os intelectuais europeus como Jacques Attali reconhecem.
Os americanos tem isso de bom. Não importa o quão racistas sejam os legítimos WASPS, na economia racismo não funciona. Aliás, até na zootecnia o exemplo dá certo (estudei isso na faculdade de agronomia, acreditem). Um fazendeiro americano não liga se uma vaca for roxa de bolinhas amarelas desde que produza cinquenta litros de leite por dia. Para um inglês ou um francês, se uma vaca não se encaixar no padrão da raça e tiver uma orelha um centímetro maior do que a outra ela é descartada, não importa o quanto produza, só para se manter a classe.
Os imigrantes se isolam porque foram barrados no baile da economia. Não existe American Dream na Europa. Eles sempre serão cidadãos de segunda classe, e por isso se recusam a deixar o isolamento.
O European Dream dos imigrantes que chegam aqui é fugir da miséria na África para viver no gueto como se ainda estivessem em casa e recebendo subsídios do governo. Um imigrante nunca será milionário ou dono de empresa na Europa. E isso, na cabeça da molecada que nasceu em uma sociedade de consumo dá tilt.
E no Brasil? Bem, o Brasil foi o único lugar em que vi um árabe casado com uma judia, isso já diz quase tudo.

A dor e a guerra


O jornal espanhol “El País” publicou um artigo do escritor David Grossman que é na realidade uma carta endereçada ao filho, morto por um foguete do Hezbollah no dia 12 de agosto passado.
Dias antes, o escritor junto com os colegas Amos Oz e A. B. Yehoshua tinham feito um manifesto pedindo ao governo israelense que terminasse as operações militares no Líbano.
A carta é de apertar o coração de qualquer um. Dirão que há centenas de famílias libanesas e palestinas sentindo o mesmo. Certamente, a guerra é uma insanidade para os inocentes que a vivem. Mas comparar as ações do exército de Israel com o que faz o Hezbollah é imoral. Israel é uma democracia que tem que prestar contas de seus atos a seus cidadãos. O Hezbollah é uma guerrilha totalitária que usa civis como escudos e que é financiada por fanáticos que querem exterminar qualquer um que não pense como eles.
O Hezbollah agora magnanimamente se oferece a indenizar as famílias vítimas dos bombardeios israelenses. Adivinha de onde vem o dinheiro? Com o barril de petróleo a US$ 70,00, cretinos como Mahmoud Ahmadinejad do Irã acabam dispondo dos meios para executarem seus planos de poder. Como Hugo Chavez na Venezuela aliás, que se quer herdeiro de Fidel Castro como o novo Chapolin das Américas comprando bilhões em armas em vez de fazer alguma coisa que preste pelo próprio país.
Thomas Friedman no New York Times diz que isso só irá mudar se conseguirmos fazer cair o preço do barril. Ele só não explicou como. A menos que alguém consiga fazer a fusão a frio nos próximos anos ainda não há energia alternativa disponível em uma escala mundial como o petróleo. Podemos é parar de comprar petróleo de gente como Ahmadinejad ou Chávez. Seria um embargo geral, sancionado pela ONU. Aí vem outro problema. Será que a China crescendo 10% ao ano vai querer deixar de comprar petróleo de alguém?
Enfim, o que está em jogo na mesa pode ser complexo demais para nossas cabeças, mas a dor de um pai não é. E no fundo no fundo, a questão é uma só, a da imoralidade dos que provocam a guerra.
Segue a carta de Grossman:


Mi querido Uri:

Hace tres días que prácticamente todos nuestros pensamientos comienzan por una negación. No volverá a venir, no volveremos a hablar, no volveremos a reír. No volverá a estar ahí, el chico de mirada irónica y extraordinario sentido del humor. No volverá a estar ahí, el joven de sabiduría mucho más profunda que la propia de su edad, de sonrisa cálida, de apetito saludable. No volverá a estar ahí, esta rara combinación de determinación y delicadeza. Faltarán a partir de ahora su buen juicio y su buen corazón.
No volveremos a contar con la infinita ternura de Uri, la tranquilidad con la que apaciguaba todas las tormentas. No volveremos a ver juntos Los Simpson o Seinfeld, no volveremos a escuchar contigo a Johnny Cash ni volveremos a sentir tu fuerte abrazo. No volveremos a verte andar y charlar con tu hermano mayor, Yonatan, gesticulando con ardor, ni volveremos a verte besar a tu hermana pequeña, Ruti, a la que tanto querías.
Uri, mi amor, durante tu breve existencia todos aprendimos de ti. De tu fuerza y tu empeño en seguir tu camino, incluso aunque no tuviera salida. Seguimos, estupefactos, tu lucha para que te admitieran en los cursillos de formación de jefes de carros de combate. No cediste a la opinión de tus superiores, porque sabías que podías ser un buen jefe y no estabas dispuesto a dar menos de lo que eras capaz. Y cuando lo lograste, pensé: he aquí un chico que conoce sus posibilidades de manera sencilla y lúcida. Sin pretensión, sin arrogancia. Que no se deja influir por lo que dicen los demás de él. Que saca la fuerza de sí mismo. Desde que eras niño, eras ya así. Vivías en armonía contigo mismo y con los que te rodeaban. Sabías cuál era tu sitio, eras consciente de ser querido, conocías tus limitaciones y tus cualidades. Y, la verdad, después de haber doblegado a todo el ejército y haber sido nombrado jefe de carros de combate, se vio claramente qué tipo de jefe y de hombre eras. Y hoy oímos hablar a tus amigos y tus soldados del jefe y el amigo, el que se levantaba antes que nadie para organizar todo y que sólo se iba a costar cuando los otros ya dormían.
Y ayer, a medianoche, contemplaba la casa, que estaba más bien desordenada después de que cientos de personas vinieran a visitarnos para ofrecernos consuelo, y dije: tendría que estar Uri para ayudarnos a recoger.
Eras el izquierdista de tu batallón, pero te respetaban porque mantenías tus posiciones sin renunciar a ninguno de tus deberes militares. Recuerdo que me habías explicado tu "política de controles militares" porque tú también habías pasado bastante tiempo en esos controles. Decías que, si había un niño en el coche que acababas de detener, lo primero que hacías era tratar de tranquilizarle y hacerle reír. Y te acordabas de aquel niño, más o menos de la edad de Ruti, y del miedo que le dabas, y lo que él te odiaba, con razón. Pese a ello, hacías todo lo posible para facilitarle ese momento terrible, pero siempre cumpliendo tu deber, sin concesiones.
Cuando partiste hacia Líbano, tu madre dijo que lo que más temía era el "síndrome de Elifelet". Teníamos mucho miedo de que, como el Elifelet de la canción, te lanzases en medio de los disparos para salvar a un herido, de que fueras el primero en ofrecerse voluntario para el reabastecimiento de las municiones largo tiempo agotadas. Temíamos que allí en Líbano, en esta guerra tan dura, te comportases como lo habías hecho toda la vida en casa, en la escuela y en el servicio militar, que te ofrecieras a renunciar a un permiso porque otro soldado lo necesitaba más que tú, o porque aquel otro tenía una situación más difícil en su casa.
Para mí eras un hijo y un amigo. Y lo mismo para tu madre. Nuestra alma está unida a la tuya. Vivías en paz contigo mismo, eras de esas personas con las que uno se siente bien. No puedo ni decir en voz alta hasta qué punto eras para mí "alguien con el que correr"
[título de una de las últimas novelas del autor].Cada vez que volvías de permiso, decías: ven, papá, vamos a hablar. Normalmente, íbamos a sentarnos y conversar a un restaurante. Me contabas un montón de cosas, Uri, y yo me enorgullecía y me sentía honrado de ser tu confidente, de que alguien como tú me hubiera escogido.
Recuerdo tu incertidumbre, una vez, por la idea de castigar a un soldado que había infringido la disciplina. Cuánto sufriste porque la decisión iba a indignar a los que estaban a tus órdenes y a los demás jefes, mucho más indulgentes que tú ante ciertas infracciones. Castigar a aquel soldado, efectivamente, te costó mucho desde el punto de vista de las relaciones humanas, pero aquel episodio concreto se transformó después en una de las historias fundamentales del batallón, porque estableció ciertas normas de conducta y respeto a las reglas. Y en tu primer permiso me contaste, con un tímido orgullo, que el comandante del batallón, durante una conversación con varios oficiales recién llegados, había citado tu decisión como ejemplo de comportamiento por parte de un jefe.
Has iluminado nuestra vida, Uri. Tu madre y yo te criamos con amor. Fue muy fácil quererte con todo nuestro corazón, y sé que tú también viviste bien. Que tu breve vida fue bella. Espero haber sido un padre digno de un hijo como tú. Pero sé que ser el hijo de Michal quiere decir crecer con una generosidad, una gracia y un amor infinitos, y tú recibiste todo eso. Lo recibiste en abundancia y supiste apreciarlo, supiste agradecerlo, y no consideraste nada de lo que recibías como algo que te fuera debido.
En estos momentos no quiero decir nada de la guerra en la que has muerto. Nosotros, nuestra familia, ya la hemos perdido. Israel hará su examen de conciencia, y nosotros nos encerraremos en nuestro dolor, rodeado de nuestros buenos amigos, arropados en el amor inmenso de tanta gente a la que, en su mayoría, no conocemos, y a la que agradezco su apoyo ilimitado.
Me gustaría mucho que también supiéramos darnos unos a otros este amor y esta solidaridad en otros momentos. Ése es quizá nuestro recurso nacional más especial. Nuestra mayor riqueza natural. Me gustaría que pudiéramos mostrarnos más sensibles unos con otros. Que pudiéramos liberarnos de la violencia y la enemistad que se han infiltrado tan profundamente en todos los aspectos de nuestra vida. Que supiéramos cambiar de opinión y salvarnos ahora, justo en el último instante, porque nos aguardan tiempos muy duros.
Quiero decir alguna cosa más. Uri era un joven muy israelí. Su propio nombre es muy israelí y muy hebreo. Era un concentrado de lo que debería ser Israel. Lo que está ya casi olvidado. Lo que muchas veces se considera casi una curiosidad.
A veces, al observarle, pensaba que era un joven un poco anacrónico. Él, Yonatan y Ruti. Unos niños de los años cincuenta. Uri, con su absoluta honradez y su forma de asumir la responsabilidad de todo lo que sucedía a su alrededor. Uri, siempre "en primera línea", con el que se podía contar. Uri, con su profunda sensibilidad respecto a todos los sufrimientos, todos los males. Con su capacidad para la compasión. Una palabra que me hacía pensar en él cada vez que me venía a la mente.
Era un chico que tenía unos valores, ese término tan vilipendiado y ridiculizado en los últimos años. Porque en nuestro mundo loco, cruel y cínico, no es cool tener valores. O ser humanista. O sensible al malestar de los otros, aunque esos otros fueran el enemigo en el campo de batalla.
Pero de Uri aprendí que se puede y se debe ser todo eso a la vez. Que debemos defendernos, sin duda, pero en los dos sentidos: defender nuestras vidas, y también empeñarnos en proteger nuestra alma, empeñarnos en protegerla de la tentación de la fuerza y las ideas simplistas, la distorsión del cinismo, la contaminación del corazón y el desprecio del individuo que constituyen la auténtica y gran maldición de quienes viven en una zona de tragedia como la nuestra.
Uri tenía sencillamente el valor de ser él, siempre, en cualquier situación, de encontrar su voz exacta en todo lo que decía y hacía, y eso le protegía de la contaminación, la desfiguración y la degradación del alma.
Uri era además un chico divertido, de un humor y una sagacidad increíbles, y es imposible hablar de él sin mencionar algunos de sus "hallazgos". Por ejemplo, cuando tenía 13 años, le dije: imagínate que puedas ir con tus hijos un día al espacio, como vamos hoy a Europa. Y él me respondió sonriendo: "El espacio no me atrae demasiado, en la tierra se encuentra de todo".
En otra ocasión, en el coche, Michal y yo hablábamos de un nuevo libro que había despertado gran interés y estábamos citando a escritores y críticos. Uri, que debía de tener nueve años, nos interpeló desde el asiento de atrás: "¡Eh, los elitistas, recordar que lleváis detrás a un inculto que no entiende nada de lo que decís!".
O, por ejemplo, una vez que tenía un higo seco en la mano (le encantaban los higos): "Dime, papá, ¿los higos secos son los que han cometido un pecado en su vida anterior?".
O cuando me resistía a aceptar una invitación a Japón: "¿Cómo puedes decir que no? ¿Tú sabes lo que es vivir en el único país en el que no hay turistas japoneses?".
En la noche del sábado al domingo, a las tres menos veinte, llamaron a nuestra puerta y por el interfono se oyó la voz de un oficial. Fui a abrir y pensé: ya está, la vida se ha terminado.
Pero cinco horas después, cuando Michal y yo entramos en la habitación de Ruti y la despertamos para darle la terrible noticia, ella, tras las primeras lágrimas, dijo: "Pero seguiremos viviendo, ¿verdad? Viviremos y nos pasearemos como antes. Quiero seguir cantando en el coro, riendo como siempre, aprender a tocar la guitarra". La abrazamos y le dijimos que íbamos a seguir viviendo, y Ruti continuó: "Qué trío tan extraordinario éramos, Yonatan, Uri y yo".
Y es verdad que sois extraordinarios. Yonatan, Uri y tú no erais sólo hermanos, sino amigos de corazón y de alma. Teníais un mundo propio, un lenguaje propio y un humor propio. Ruti, Uri te quería con toda su alma. Con qué ternura te hablaba. Recuerdo su última llamada de teléfono, después de expresar su alegría por el alto el fuego que había proclamado la ONU, insistió en hablar contigo. Y tú lloraste después. Como si ya lo supieras.
Nuestra vida no se ha terminado. Sólo hemos sufrido un golpe muy duro. Sacaremos la fuerza para soportarlo de nosotros mismos, del hecho de estar juntos, Michal y yo, nuestros hijos, y también el abuelo y las abuelas que querían a Uri con todo su corazón -le llamaban Neshumeh (mi pequeña alma)-, y los tíos, tías y primos, y todos sus amigos del colegio y el ejército, que están pendientes de nosotros con aprensión y afecto.
Y también sacaremos la fuerza de Uri. Poseía una fuerza que nos bastará para muchos años. La luz que proyectaba -de vida, de vigor, de inocencia y de amor- era tan intensa que seguirá iluminándonos incluso después de que el astro que la producía se haya apagado. Amor nuestro, hemos tenido el enorme privilegio de haber estado contigo, gracias por cada momento en el que estuviste con nosotros.

Papá, mamá, Yonatan y Ruti

Saturday, August 19, 2006

Superman x Weather Man


Assisti aos dois filmes esta semana, o Superman Returns de Bryan Singer e The Weather Man de Gore Verbinski.
Superman é o jesus de aço, volta para salvar o mundo da boçalidade humana. Lois Lane ganha um Pulitzer por escrever um artigo intitulado “Why the world doesn’t needs Superman”. Eu fiquei morrendo de curiosidade de ler o artigo mas isso não aparece no filme. Superman ouve os pedidos de ajuda de todas as pessoas do planeta e se angustia por isso...Mas eu estou com a Lois, acho que se houvesse um Superman por perto ninguém nesse mundo tomaria juízo nunca. Tiroteio em São Paulo? Esqueçam de votar na pessoa certa, chamem o Superman e ele resolve, isso se ele for macho o suficiente para enfrentar o PCC. Brandon Routh, apesar de um ar (apenas um ar) de Christopher Reeves não convence muito no modelito novo.
O Weather Man, interpretado por Nicolas Cage é um sujeito em uma dessas encruzilhadas da vida. Faz a apresentação da meteorologia no jornal, um emprego ao qual ele não dá nenhum valor. O pai, um escritor premiado prestes a morrer é um rol-model distantemente humilhante. A ex-mulher não o suporta, e os filhos nem o conhecem direito. O Weather man não tem ninguém que possa o salvar, nem mesmo o Superman. Só ele pode descobrir que deve assumir a responsabilidade pela sua vida e pela da sua família em vez de querer tentar ser o que não é. Só ele pode aprender a se esforçar pelo que quer conseguir.
Não sei, entre os dois acho que fico mesmo com o Weather Man. Mesmo porque não tenho mais idade pra pular da cama com uma toalha amarrada no pescoço.

Internet


Em agosto de 1991, um homem chamado Tim Berners Lee inventou um jeito de usar a internet como um meio para publicar páginas de documentos. Chamou a invenção de Word Wide Web. Esse Gutemberg moderno acabou provocando a maior revolução na história da informação desde que o homem começou a escrever em paredes de cavernas. A Yahoo estima que hoje existam mais de 40 bilhões de páginas na internet, com milhares mais sendo acrescentadas a cada minuto.
Hoje leio jornais brasileiros, franceses, americanos todos os dias, assistimos TV brasileira na Holanda, compramos passagens, livros, reservamos hotéis, consultamos a meteorologia, falamos com nossa família e amigos pelo Skype e MSN a 11.000km de distância e de graça, e tudo pela net. Hoje nos parece impossível viver sem ela, e há quinze anos atrás isso nem existia.
Lembro no começo quando as páginas eram baixadas tão lentamente nos computadores que eu não tinha paciência para esperar. Os nerds da faculdade se divertiam nos chats. Em uma viagem da universidade para o Rio, os fãs do chat combinaram de se encontrar com os amigos virtuais cariocas na Academia da Cachaça. Passamos a noite toda no bar sem ver ninguém e sem saber que os da mesa ao lado eram os que nos estavam esperando. Pensei, essa jaca não vai virar nunca...
Mudei de idéia obviamente mas ainda acredito que não se deve marcar encontros pela internet.
Mas enfim, esse aniversário de quinze anos está merecendo em todo lado várias listas de websites a serem visitados. Há listas sendo publicadas de os mais legais, os mais influentes, os mais mais. John Naughton do The Observer cita como os mais influentes da história da net o Ebay.com, Wikipedia.com, Napster.com, Youtube.com, Blogger.com, Friendsreunited.com; Drudgereport.com, Myspace.com, Amazon.com, Slashdot.org, Salon.com; Craigslist.org, Google.com, Yahoo.com, Easyjet.com. É claro que alguns desses são são os mais influentes para os americanos.
Chequei alguns outros e deixo aqui a contribuição:

www.transparencia.org.br : Neste tempo de eleição é imprescindível, clique no Projeto Excelências e você terá acesso às biografias de todos os políticos candidatos à eleição. E o site faz campanha ainda de Não Vote em Mensaleiro! O PT acaba de fazer uma queixa crime no Tribunal Eleitoral contra o site....

www.oglobo.globo.com : dá para ler o jornal todo e de graça, ao contrário de outros.

www.pandora.com : demais para quem gosta de música, experimente.

www.wikipedia.com : todo mundo já conhece mas mesmo assim eu ponho, porque é um dos meus favoritos.

www.imdb.com : tudo sobre cinema!

www.google.com : o site você já conhece, mas não deixe de ter os programas Google Earth, o mais cool que já inventaram na web, o Picasa para editar fotos e o Google translator!

Ah, vão lá olhar na lista da Times: www.times.com/coolest

Mas o Orkut não está na lista...

Monday, August 14, 2006

Globalização do terror


Os líderes da comunidade islâmica na Inglaterra escreveram uma carta endereçada ao Primeiro Ministro e ao governo britânico em reação ao complô terrorista da semana passada para derrubar aviões usando explosivos líquidos em pleno ar.
A conclusão e a idéia central da carta é que os ingleses estariam sendo alvos de atentados por pura culpa da política externa britânica, que por este motivo deveria ser mudada. Ou seja, o Reino Unido teria que se retirar do Iraque e do Afeganistão e deixar de apoiar Israel e os EUA.
Há duas cretinices grandes aqui. A primeira é que EUA e Inglaterra não estavam no Afeganistão ou no Iraque antes do 11/09, e mesmo assim foram alvos de atentados terroristas. Aposto que as maiores expectativas de George W. Bush enquanto cumpria seu mandato eram jogar golfe e arrumar algumas vantagenzinhas para seus amigos lobistas. Só tomou coragem depois dos aviões nas torres.
A segunda cretinice é a suposição de que um país tenha que mudar sua política pela vontade ou por medo de ameaças de terroristas. A política numa democracia como a Inglaterra tem que decidir por si só se deve intervir ou não em assuntos internacionais, baseando-se para isso nos valores morais que guiam nossa civilização: democracia, liberdade de expressão, direitos humanos. E tem que aguentar as consequências dessa decisão. Ou deveria Churchill ter aceito uma ocupação nazista na Grã-Bretanha só para evitar vítimas de bombardeios?
Mas a ameaça do terrorismo traz uma mudança de paradigma sim, já que o inimigo vem de dentro. A maioria dos presos envolvidos no plano terrorista eram cidadãos britânicos de origem paquistanesa. Faz pensar que há algo de podre no reino da Inglaterra. Depois de décadas de imigração, os imigrantes não se sentem em casa. Tolerados mas não aceitos, e esse é o dilema Tostines da maioria dos países europeus hoje. Os imigrantes se marginalizam e se radicalizam na Europa porque não são aceitos ou não são aceitos porque eles mesmo se põe à parte da sociedade? À debater.
Enquanto isso volto a São Paulo e ao terrorismo brasileiro, imposto pelo PCC, o partido do Crime. Assim como o Hezbollah, o Hamas e os xiitas iraquianos, agora até sequestro de jornalista e imagens encapuzadas na TV estão usando. A globalização funciona também para o terror. Assim como a Al Qaeda decidiu a eleição espanhola, o PCC quer decidir a eleição paulista, e quiçá a brasileira.
Há uma decisão moral a ser tomada pelo Estado brasileiro, e ela é só uma, acabar com o PCC. Uma lição para o governo federal e para o governo de SP: o atentado na Inglaterra só foi evitado por causa dos serviços de inteligência.
Pode parecer piada, mas algumas semanas depois do 11/09 chegou um boato à Casa Branca de que uma bomba atômica de terroristas estava viajando em um trem que ia de Pittsburgh à Philadelphia. A informação foi rastreada como telefone sem fio às avessas e descobriram que tudo surgiu quando alguém escutou a conversa de dois sujeitos em um mictório público ucraniano.
Estamos longe disso, mas alguém deveria monitorar as conversas de presos e seus advogados e mulheres, alguém deveria obrigar operadoras a instalar bloqueadores de celulares em presídios e alguém deveriam impedir que juízes cretinos deixassem criminosos do PCC irem passear de férias no dia dos pais.

Saturday, August 12, 2006

The Long Emergency


Apesar dos jornais do dia, incluindo a notícia de que islamitas tentariam explodir uma dezena de aviões no ar, eu tenho uma imagem otimista do futuro.
Se vocês se lembram dos meus Exercícios de Futurologia eu acredito que a humanidade vá superar as dificuldades que conheceu neste século que passou e irá cumprir um destino grandioso.
Há um “porém” que precisa ser superado para podermos enfim evoluir em paz, e este porém chama-se energia. É disso que se trata o livro The Long Emergency de James Howard Kunstler. Leio uma revisão do livro na semana onde o petróleo atinge um preço recorde.
Segundo o autor entre hoje e 2010 estaremos no pico da produção mundial de petróleo, ou seja, já teremos consumido metade do petróleo que existia no planeta e a partir de então a produção só irá diminuir (Os Estados Unidos já tinham atingido seu pico de produção em 1970). Sem contar ainda que esta outra metade das reservas está em regiões de conflito, é mais difícil e mais caro de ser extraído e tem pior qualidade. A produção de gás também irá diminuir, e o uso de carvão é difícil e poluente.
O uso de energias renováveis como a solar ou eólica só é possível em pequena escala, e os componentes destes geradores dependem de petróleo. A cultura de biomassa como cana de açúcar para fazer álcool só é possível porque existem fertilizantes e defensivos para a produção, e estes insumos são em larga maioria fabricados a partir de derivados de petróleo.
Usinas nucleares seriam extremamente caras para serem implantadas em larga escala sendo que urânio também é um recurso finito.
Kunstler prevê uma futura disputa entre Estados Unidos e China em terras da Ásia Central e do Oriente Médio pelo controle das últimas reservas de energia fóssil, com vantagem para os chineses. Será impossível aos Estados Unidos tentar controlar infra-estruturas em países invadidos um após o outro. É mais provável que sua economia quebre antes disso e que a América seja obrigada e se isolar em casa.
Sem petróleo, nossa economia no século XXI será baseada mais na agricultura do que em tecnologia ou em serviços. Não haverá transportes, viagens, turismo, grandes redes de distribuição ou supermercados.
A grandes cidades irão falir, e só irão sobreviver pequenos e médios núcleos cercados de terras agricultáveis. Possivelmente relações neo-feudais poderão surgir, já que a agricultura precisará de mais mão de obra e os que deixarem as cidades precisarão de alimento e um novo lar. 200 anos de modernidade estarão de joelhos.
Mas o autor tem um lado otimista também. Diz que essa nova vida em pequenas comunidades nos fará reentender o senso de humanidade criando laços mais sinceros com o próximo, baseados em afeto e não em interesse.
Talvez ele tenha razão, talvez tenhamos que passar por um grande trauma para entendermos o que é verdadeiramente importante para nossa sociedade.

Fora Lula !

Só um comentário sobre a entrevista de Lula ao Jornal Nacional.
Quando os assessores e o núcleo mais próximo de um presidente da República forma uma quadrilha para assaltar o Estado, só temos duas opções em que acreditar:
1. O presidente sabia, e nesse caso foi conivente com a roubalheira até que o Roberto Jefferson abrisse o bico, ou seja, é um ladrão;
2. O presidente não sabia, e o fato dele ignorar o que seus diletos braços direitos estavam executando faz dele um incompetente;
Entre as duas hipóteses, Lula preferiu assumir a incompetência. Quem quer um presidente destes?

Outra só para dar risada:

William Bonner: Antes de se tornar presidente, a memória que o Brasil tem candidato, era de alguém que veementemente cobrava punição para quem quer que aparecesse diante de uma câmera de televisão suspeito de alguma coisa, mesmo que as culpas não tivessem sido provadas ainda. O que foi que fez o senhor mudar tanto de comportamento?

Lula: Primeiro você deve estar falando de outra pessoa. Eu nunca pedi para que alguém fosse condenado antes de se provar a sua culpa.

Codex 632


Acabei de ler este livro que me foi presenteado por um bom amigo português.
O romance foi escrito, e muito bem escrito, por José Rodrigues dos Santos, o autor do momento na literatura contemporânea portuguesa.
A trama revela as investigações de um historiador atrás de pistas para desvendar um mistério, a verdadeira identidade de Cristóvão Colombo, o descobridor da América.
Esse é o foco principal da história e o que faz o livro extremamente interessante, apesar do autor querer ter dado um toque à la Da Vinci Code na trama.
A origem de Colombo sempre foi meio nebulosa e baseada em documentos contraditórios e às vezes sem autenticidade. Seria Colombo genovês como sustenta a tese oficial? Segundo a hipótese genovesa, Colombo era um tecelão de família humilde, o que torna difícil de engolir o fato dele ter sido recebido pelos reis e cortes de Portugal e Espanha e ter sido casado com uma nobre portuguesa.
O que o livro conta, com argumentação inteligente e baseado em documentos que realmente existem, é que os portugueses sabiam da existência da América muito antes da descoberta de Colombo, e já tinha percebido que aquilo não eram as Índias e que ali não havia grande coisa para o comércio. Por serem uma nação pequena e sem população suficiente para estabelecer colônias, os portugueses manteriam suas maiores descobertas em segredo para não estimularem a concorrência. . E os portugueses teriam insistido em determinar o meridiano do tratado de Tordesilhas exatamente porque já conheciam a localização do Brasil. Pedro Álvares Cabral quando descobriu o Brasil só teria oficializado o que os portugueses já sabiam.
Pela tese de Rodrigues dos Santos, Colombo seria na verdade um fidalgo, um cristão-novo português, e um agente secreto do rei de Portugal D. João II, o Príncipe Perfeito. A idéia é que ele levasse a atenção dos reis Católicos espanhóis para a América, fazendo-os acreditarem que aquilo eram as Índias enquanto os portugueses se ocupavam em dar a volta à África e chegar às verdadeiras Índias, esse sim o grande feito dos Descobrimentos.
Vale a pena ler. José Rodrigues dos Santos escreveu também “A Filha do Capitão”, uma história de amor em meio à participação portuguesa na I Guerra Mundial.

Friday, August 11, 2006

Miró e seu tapete

Iberia


Deve ser o sangue latino, mas depois de viver no norte da Europa tanto tempo, qualquer lugar mais ao sul de Paris nos traz de volta algum calor humano. Por isso gosto tanto de passear por Portugal, Espanha, Itália e até a Grécia.
Você pode visitar a Holanda ou a Suécia e achar a paisagem linda, visitar Londres ou Bruxelas mas apesar da beleza das cidades e campos falta alguma coisa.
Faltam aquele tumulto na padaria, aquela buzinada na esquina, aquela gritaria na rua à noite, as risadas nos bares, os velhos na praça. Latinidades enfim.
Mas desses países pelos quais já passei, tenho alguma especial predileção pela Espanha. Não sei se o caso é só comigo, mas há algo de mais no reino da península ibérica. Ainda tenho que ler o belo livro de James Albert Michener, Iberia, para redescobrir nas letras o que vi em minhas viagens.
Estive na Plaza Mayor em Madri, visitei os túmulos dos reis no Escorial, entrei na Basílica de Los Caídos enterrada na montanha, tomei café em Segóvia ao lado da Igreja onde Isabel, a Católica foi coroada Rainha de Castela, vi as muralhas de Ávila e o convento de Santa Teresa, conheci o tesouro da Catedral de Toledo. Em outras viagens estive na Catedral de Santiago de Compostela, fui ao Alcazar de Granada, vi as antigas mesquitas de Sevilla e finalmente a Catalunha, tão modernista e tão diferente do resto. Vi a Sagrada Família eternamente em construção,andei pelas ramblas, visitei o mercado da Boquería, a casa Batló e o Palau de la Musica de Catalunya. Ir de Castela à Catalunha é como ver Goya, Velazquez e El Greco no Prado e depois ir ver Picasso, Miró e Gaudí em Barcelona. Em Barcelona, um planfeto separatista no metrô dizia “Catalunya no es España” pedindo a separação. Embora não veja nenhum sentido na separação, concordo em aceitar a diferença. Enquanto tudo em Castela nos remete ao seu tremendo passado, Barcelona faz olhar para o futuro, e basta uma fachada de Gaudí para perceber isto.
Mas Espanha como um todo é diferente. Diferente porque nos dá vontade de deixar essa miserável condição de turista para sermos parte daquilo. Quero a vida com siesta depois do almoço, quero os bares de tapas e vinho de rioja. Quero aplaudir o balé da morte nas touradas, ver o sangue na areia, o sol escaldante e a capa e a espada. Quero ouvir o violão flamenco e o sapatear da dança. Quero sentir enfim o peso dessa cultura imensa de arte, música, guerra, catolicismo, boa mesa, hombres de honra e mujeres orgulhosas. Pero como dizia uma camiseta em Madri: “Joé, que caló! (expressión utilizada por los madrileños cuando les apreta el calor)”.
Viva España!

Tuesday, August 08, 2006

A volta aos jornais do dia


Fiquei o recorde de uma semana sem acessar a internet, sem ver a BBC ou a CNN ou por a mão em algum jornal. Tá bom, é mentira. Eu li El País mas porque a companhia aérea me deu de graça. Férias é isso, esquecer o resto do mundo.
Mas eis que eu volto ao mundo e o mundo volta a mim. Fidel Castro anda nas últimas, o Hezbollah faz chover foguetes em Israel, o PCC volta a atacar em São Paulo, descobrem-se novos sanguessugas, o Lula quer mais poder.
Então vamos por partes:
Uma vez quiseram presentear Castro com uma tartaruga daquelas que vivem cem anos. O ditador recusou dizendo que o problema é que ele pegava amor com os bichinhos e logo logo eles já morriam. A piada comum em Cuba servia para lembrar da longevidade de Fidel, hoje o ditador no planeta há mais tempo no poder. A revolução há muito deixou de ser o que pretendia para se tornar o que combatia. Cuba é uma ilha miserável, com um povo miserável cuja única liberdade, a de pensar, lhe foi tomada. Era óbvio que Fidel não duraria para sempre. Agora os exilados de Miami e Condolezza Rice olham com água na boca para a ilha esperando para dar o bote e Raul Castro não tem a moral que o velho Comandante tinha para sustentar uma ditadura arcaica como a cubana. Vai sair bordoada.
O Hezbollah faz chover foguetes de fabricação iraniana e síria em Israel. Alguém duvida que Teerã esteja por trás disso? Jacques Attali escreve bem na L’Express desta semana sobre o assunto. Amanhã estes foguetes estarão apontados para Ryad, Cairo, Istambul e Casablanca, e depois estarão apontados para Madrid, Londres, Roma e Paris. A única maneira de evitar e jogar a responsabilidade no colo dos países árabes. Eles aceitam separar estado e religião? Eles aceitam erradicar organizações terroristas de seus territórios? Aceitam a presença de tropas internacionais para evitar que civis virem reféns de terroristas? Essa é a hora da verdade. Em 1936 Halifax e Blum deixaram que Hitler remilitarizasse a Alemanha. Tiveram a guerra. Em 1962 os Kennedy evitaram que mísseis russos fossem parar em Cuba. Tiveram a paz.
O PCC realmente parece incomodado com a idéia de que o PSDB ganhe as eleições em São Paulo. E Márcio Thomaz Bastos e Aloizio Mercadante preferem atacar mais o PSDB do que o PCC, em vez de lutarem pela liberação dos R$ 100 milhões em verbas para a Segurança que o PT não repassou a São Paulo. Marcola não é burro mesmo, deve ter seus motivos para querer evitar que Serra ganhe.
Sobre as CPI’s, só queria dizer que agora voltarei em Fernando Gabeira para deputado sempre que ele se candidatar. O empenho que ele tem demonstrado em limpar o Congresso desde a bronca dada em Severino Cavalcanti me fez voltar a ter fé de que o brasil ainda pode produzir homens públicos decentes.
Lula deve mesmo morrer de inveja de Hugo Chávez. Dá para se ter uma idéia do que ele queria com o projeto da Constituinte para uma reforma política. Assim como Kichner na Argentina, aumentar os poderes do Executivo e dar um chute no Parlamento que o seu próprio governo desmoralizou. Felizmente ainda não somos tão bananeiros assim e o Planalto acabou voltando atrás depois da pressão feita pela oposição e pela sociedade. Por quanto tempo?
Eu quero é voltar para as minhas férias...