Thursday, October 30, 2008

Market madness 2


The Last Laugh - George Parr - Subprime - subtitulos
Enviado por erioluk

Market madness 1


Chove sem parar


Olha aê, foi só eu pedir e começou a chover no Mato Grosso...Daqui a pouco arrumo emprego na fundação Cacique Cobra Coral.

Wednesday, October 29, 2008

Chove chuva


Os holandeses sempre me perguntavam porque eu morava lá, com aquele tempo pavoroso de chuva, vento e gelo.
Ninguém nunca acreditou em mim, mas eu adorava aquele tempo. Tinha gente que ficava deprimida. Eu achava o máximo aquele céu cinza chumbo, a chuva batendo na janela e eu com uma xícara imensa de café ouvindo um jazz na madrugada.
Agora escrevo sob um sol inclemente, suando em bicas, incapaz de usar uma roupa elegante sem parecer um caixeiro viajante que acabou de atravessar Pernambuco à pé.
Só queria uma chuvinha, nada mais.
I wish it would rain. Washing away all sadness and tears that will never fall so heavily again...

Alívios


Alguns alívios e uma reflexão no retorno ao lar:
Primeiro, o timão tá na primeira divisão. É NÓIS NA FITA MANO! Corinthians rumo a Tóquio 2018!
Segundo, o Kassab ganhou, e a Marta se ferrou. No Rio e em BH, infelizmente não foi do jeito que a gente queria. Mas errando é que se aprende. Afinal São Paulo já elegeu Maluf, Marta, Pitta, Quércia... Um dia cariocas e mineiros chegam lá.
Terceiro, fiquei a semana inteira fora e portanto sem assistir nenhuma notícia mundo-cão sobre a Eloá, o Lindemberg, o pai da Eloá, a amiga da Eloá. Só agora estou me inteirando do assunto.
Aqui cabe uma reflexão. Às vezes eu assisto alguns episódios daquela CSI New York ou CSI Miami. Policiais investigando o resíduo de DNA em um fiapinho do tecido manchado de sangue debaixo da unha da vítima. Aí eu vejo a polícia brasileira usando copo para escutar pela parede, aquela escada que não chega na janela do bandido, a bateria do celular do negociador que acaba em pleno sequestro, o bandido dá entrevista na tv pelo telefone... A coisa é braba.
Mesmo assim, ao contrário do que prega a tese politicamente correta de que a violência tem causas sociais, São Paulo está diminuindo sua criminalidade por causa da polícia, mesmo apesar de sua precariedade. Uma polícia bem equipada, treinada e paga faria muito mais por nós do que todas as ONGs do Brasil juntas.

Tuesday, October 28, 2008

40 anos de Ibovespa


História e economia a um clique do seu mouse. Um endereço assaz instrutivo:

Paris


A primeira vez que vi Paris foi em uma manhã de primavera, há onze anos atrás. Cheguei ainda de madrugada, na gare de Montparnasse, mochilão às costas.
Saí sem mapa e sem destino pelas ruas ainda escuras e vazias, sem quase nenhum tráfego. Fazia um friozinho, e uma névoa leve se espalhava ainda enquanto o sol pálido ameaçava aparecer.
Eu andava pelas ruelas sem importância, e ainda assim deslumbrantes daquela cidade. Cheguei a uma praça, onde uma feira de rua apenas começava.
Algumas senhoras já faziam suas compras, sem pressa. As pessoas se diziam bonjour, e respondiam bonjour.
Passei pelas barracas dos legumes e frutas, com seus aspargos e morangos, passei pelos queijos, com a boca já cheia d'água. O açougue com suas carnes muito bem arrumadas, a barraca dos peixes com ostras maravilhosas. Flores. Mais adiante, nas calçadas, senhores tomavam seus cafés, liam os jornais e acendiam os primeiros gauloises do dia.
Eu me lembro de cada aroma daquela manhã.
Virei outra ruela, e mais outra. O sol já aparecia, e atrás de uma esquina apareceu a imensa e elegante torre Eiffel.
Caminhei até o Campo de Marte e me deitei ali para descansar.
Essa não era a Paris dos monumentos grandiosos, das luzes. Era o eco de uma cidade cada vez mais difícil de se encontrar. Era a Paris de Robert Doisneau.
Esta semana, fui com brasileiros, holandesas, belgas, uruguaios e outras nacionalidades ao Barrio Latino, um pedaço do caribe em plena praça da Bastille. Uma balada divertida sem sombra de dúvida. Por mais que eu seja considerado um cabo de vassoura no Brasil, qualquer requebrada nas cadeiras entre europeus me faz virar quase irmão do Enrique Iglesias.
Era tanta a concentração de brasileiros por lá que a certa altura rolou um axé music, e depois o créu. Eu nunca pensei que um dia em minha vida ouviria o créu em Paris. Foi engraçado para mim e para a brasileirada que estava lá, mas pensando bem, pauvre France! Houllebecq está certo quando fala da decadência do mundo ocidental.
No dia seguinte, voltei a procurar minha Paris, e nas poucas horas livres que tinha percorri sebos e galerias de arte nas ruelas de Saint Germain des Près. Comendo crêpe com creme de castanhas.

Diana, again...

E a crise?


Apesar do pessimismo em geral que dominava as conversas por ali, um sábio e sensato presidente de um grande frigorífico brasileiro me disse algo que serve de lição aos catastrofistas de plantão: "Eu prefiro enfrentar a crise sendo um produtor brasileiro de alimentos do que sendo um banqueiro suíço".
Faz sentido. Apesar de tudo o mundo ainda precisa comer. E apesar de tudo, comida o Brasil ainda sabe fazer.

O futuro da alimentação em Paris


Um Salão de Alimentação é mais ou menos como um Salão do Automóvel, ou uma Fashion Week. Você vai lá vender seu peixe, olha o que os outros estão fazendo, vê as tendências do mercado, pensa no futuro.
Alimento hoje não é mais algo que você come desfrutando seu sabor e partilhando uma mesa. O mercado hoje pede muito mais do que isso. A comida de hoje:
- Tem que ser prática e fácil de preparar. Na Holanda por exemplo, o tempo médio de preparo de uma refeição é de 15 minutos. O microondas impera na cozinha moderna. Há legumes cortados em sacos plásticos prontos para serem cozidos a vapor no forninho, há até hamburguers e bifes grelhados prontos para serem esquentados no microondas. Vi um outro salgadinho de carne que pode ser preparado na torradeira de pão.
- Tem que ser saudável, o que não quer dizer exatamente saudável, quer dizer que é light ou diet, ou tem fibras, ou antioxidantes, ou omega 3 ou qualquer outra coisa que diga ao consumidor que ele vai viver mais se comer aquilo.
- Tem que ser nutritivo (embora você ignore na maioria das vezes o que há ali dentro). Por exemplo, um lançamento premiado por inovação no Salão foi a Coca-Cola Light com vitaminas... Não sei o porque do prêmio de inovação, o Brasil já produzia Groselha vitaminada Milani quando, como diz uma amiga, minha vó andava de skate. Precisamos de melhores marketeiros.
- Tem que ter um certo apelo exótico, lembrar receitas de países distantes, ou usar ingredientes misteriosos vindos da Indonésia ou das montanhas do Nepal. Como se a comida fosse uma agência de viagens gustativa e todo dia você viajasse um pouco à hora do almoço.
- Tem que ser politicamente correta, como esse chocolate onde a cada barra que você come uma árvore é plantada no mundo. Acredite se quiser. Orgânicos também estão em alta.
- Tem que ter uma embalagem bonita. Não interessa muito o que está dentro, a embalagem resolve metade dos seus problemas. Às vezes a embalagem é o que há de mais natural ali. E melhor ainda se ela ajudar você a comer de pé, andando, dirigindo, ou em frente ao computador. Sinal dos tempos.
E last but not least, uma exposição dentro do Salão mostrava um novo segmento do mercado, incipiente porém promissor. A comida cosmética. Ou os cosméticos de comida. Algo que só a França poderia associar.
Comida cosmética é aquela que promete intensificar sua beleza quando consumida. Como uma bebida à base de colágeno, que supostamente melhora sua pele. Ou um suco de aloe vera, para bem, não sei para quê. Por outro lado, há cosméticos que usam alimentos para venderem-se, como um esmalte de unhas a base de mel, sabonetes de frutas, patchs para a pele de pepino, sombra para os olhos de chocolate, creme de lábios de maçã. E há os que brincam com a percepção do consumidor, como a caixa de chocolate que parece estojo de maquiagem, ou um shampoo que vem em caxinha tetra pak como se fosse suco. Há também molhos de salada em sprays de espuma de barba. Às vezes é preciso olhar bem para saber se aquele sabonete é de comer ou não. Mantenha longe do alcance de crianças.
O que eu acho sinceramente de tudo isso? Fico feliz que tenhamos tantas oportunidades de escolha assim. Principalmente quando vejo fotos de supermercados em antigos países comunistas. Mas gostaria de saber que estou comprando o que quero porque eu quero, e não porque os drs. Strangeloves da indústria acham que eu preciso. O mesmo raciocínio vale para moda ou para carros.

No caso da comida, sou e sempre serei um slow-food man, daqueles que acha que comida boa é aquela que leva no mínimo um dia inteiro para ser preparada, de preferência no fogão de lenha.
Eu me lembro de uma tira de jornal de Calvin & Hobbes, onde o Calvin chega correndo para a mãe e diz: “Mãe, mãe, acabei de ver na tv a propaganda de um monte de produtos que eu não sabia que existiam mas que eu preciso desesperadamente!!”
O marketing de alimentos, e aliás o marketing em geral, se transformou na ciência de criar necessidades que você até então não sabia que tinha.
Já há até uma nova profissão na praça por conta disso, o food-designer. É aquele cara que cria um nugget que vai deixar seu filho obeso e diabético, mas como ele tem a forma do Mickey e vem numa caixinha colorida você compra porque o petiz vai ficar feliz e finalmente comer alguma coisa. Bons tempos em que as mães sentavam ao seu lado de sua cria com a cinta na mão caso ela não terminasse de engolir aquela couve cozida.
Vi Jamie Oliver na tv em uma escola do sul da Itália, perguntando aos bambini o nome de cada legume que ele mostrava. Foi emocionante ver a criançada berrando zucchini, melanzana, broccoli... Jamie repetiu a experiência em uma escola inglesa, e foi um fracasso. Os moleques criados à base de batata frita e hambúrguer não sabiam distinguir um pé de alface de uma berinjela.
Uma das promessas da modernidade é supostamente teríamos mais tempo livre para nós. Seria a slow-food dos meus ancestrais napolitanos assim tão incompatível com a modernidade?
Taí uma pergunta que eu gostaria de ver respondida em futuros salões de alimentação.
Mesmo porque, há outro problema muitíssimo mais grave decorrente das modernas tendências da alimentação. Cada vez menos neste planeta moderno, famílias partilham refeições à mesa. Nada de bom pode sair daí.

Je t'aime tant

Julie Delpy - Je t'aime tant




Eu sei, a música é de Before the Sunset, e a cena é do Last Tango in Paris...Não interessa. Paris, je t'aime tant.

A volta


Tomei champagne e cicuta com comentários inteligentes e voltei com a corda toda baby.

Elections results


The results of Brazil’s municipal elections can give us some insight on Brazilian politics nowadays.
First of all, to understand the dynamics of the political process in this country, we have to think local.
Some of the political alliances going on the major Brazilian cities do not obey the same criteria all over the country. In some cities, opposition parties joined together with the government party just to win the election. Parties that are together in one city are on opposite sides in other cities.
One of the reasons for that is that very few political parties in Brazil have a clear ideology to separate them. Actually, they will do whatever it takes to win supporters, doesn’t matter where the support comes from. That is a long and bad tradition in our political life.
The best example of this is the very good results in this election of the Brazilian Democratic Movement Party or PMDB (center left). It is the largest party in Brazil, and has never left the government side since the first free elections in 89. It is always in the government, always bargaining support for the control of ministries, state owned companies and pension funds.
However, these elections can give us some perspective for the presidential election in 2010.
Let’s see the results in the 3 biggest, richest and most important cities in the political scenario: São Paulo, Rio de Janeiro and Belo Horizonte, all 3 in Brazilian South East region, the most developed in the country.
In São Paulo, the dispute was among:
Geraldo Alckmin, from Social-Democrat Party (PSDB, center left), former presidential candidate in 2006 and former governor of the State;
Gilberto Kassab, from the Democrats (DEM, center right), actual mayor of São Paulo
Marta Suplicy, from the Workers Party (PT, left), former mayor of São Paulo and former minister of president Lula’s government;
The DEM and PSDB have always been political allies since the Fernando Henrique Cardoso years, and the opposition force against PT. The city government of Gilberto Kassab was actually composed by members of the 2 parties, and the candidacy of Kassab was supported by the governor of São Paulo, José Serra, a big name in PSDB.
Serra was the presidential candidate of PSDB in the 2002 elections, when Lula won for the first time. In 2006 Geraldo Alckmin forced PSDB to accept his name as candidate, replacing José Serra who was leading the polls by at least the double of points.
Alckmin lost and Lula won his second term, despite all the corruption scandals in his government.
Alckmin again moved against José Serra to launch his own candidacy to the city hall, breaking the alliance with DEM.
He lost the bet, and so did Marta Suplicy, whose administration left the city’s finances in ruins.
Now Kassab is the elected mayor and his name is stronger then ever to dispute São Paulo state government in 2010.
In Belo Horizonte, the story is different. The governor of Minas Gerais state, Aécio Neves is from PSDB. The mayor of Belo Horizonte, Fernando Pimentel, is from PT, Mr. Lula’s party. The two of them decided to support a third candidate, Mr. Márcio Lacerda from the Socialist Party (PSB, left). What happened here was a frustrated political experience. There has always been this idea among the leftist intellectuals and media in Brazil that PSDB and PT should be together, and that the DEM is actually the enemy to be fought, because of their right wing philosophy. If this project in Belo Horizonte worked out as the two hugely popular Neves and Pimentel were thinking, that could be a road to the presidential election in 2010, with Aécio Neves of course leading the way. Well, electors did not buy it.
The victory that was certain for Lacerda in the first round. A second round happened and Lacerda finally won, but that alliance between PT and PSDB doesn't look so good anymore.
In Rio de Janeiro, President Lula and PT had a tough time. Some 4 different candidates where from the government’s base. They chose to support Marcelo Crivella from PRB (left), a party created by an evangelical church. Lula’s vice-president belongs to that same party. Crivella lost, and the second round in Rio was disputed by Fernando Gabeira from the Green Party (PV), a former guerrilla member (seen in the movie Four Days in September) and Eduardo Paes, former PSDB and now by PMDB.
Paes has been a fierce critical of PT when in opposition, but asked for the support of President Lula in his campaign.
Even with the victory of Paes, Gabeira has become a strong name in Rio. Despite his past as a member of urban guerrilla has become a sensed and honest political, admired by his pairs and by most of the educated elite from Rio. Despite his huge popularity, President Lula was not able to transfer that asset to his comrades. PT didn’t grow after this election, and worst of all, there is no viable name to replace Lula at the presidential election in 2010. Lula suggested himself the name of Dilma Roussef, also a former guerrilla member and now a Minister of his government, but the electorate is not responding to that suggestion. Let’s hope he will not fall in a bolivarianist temptation for a third term as president.
By the opposition, as the plans of Aécio Neves and Geraldo Alckmin did fail in this election, the name of José Serra is stronger than ever to be the next president of Brazil.

Crisis

The huge financial crisis turning stock markets and the banking sector upside down all over the world has been discussed and analyzed hundreds of times by now.
In Brazil, the leftist intellectuals had actually inundated the media with stupid statements like capitalism is over, neo-liberalism is dead and so on.
Well, farmers are still growing crops, industries still working, people still consuming. Capitalism is not dead.
I believe, like Delfim Neto, a former Brazilian Economy Minister, said: Capitalism actually brought us from the Middle Ages to the Internet Age in what? 150 years?
Of course there was trouble on the way, and there will be more trouble on the way, but the system learns from its own mistakes. Government intervention will be needed now and then to avoid (better) or to repair (worst) those mistakes.
There is no free market without confidence; there is no confidence without respect. Government should be there to assure everybody is being respected.
Brazil will be affected, like the whole world will be in the next couple of years, but because of the BRICS, the United States lost all that power to create a world disaster like in 29.
We’ll not grow as fast as we thought, but we’ll move on.

Friday, October 17, 2008

Absence


Estou numa lan house do aeroporto de Guarulhos amargando um chá de cadeira a caminho de Paris. A trabalho e bancado pela empresa que eu não sou sócio da Telemar para andar passeando com um câmbio destes.
E ainda saio a tempo de ver o Paulinho da Força tentando manipular as eleições com a greve da polícia e as ameaças a José Serra.
Como diria Boris Casoy: isto é uma vergonha.
Como diria Martaxa: relaxa e goxa.
Como diria Christian Pior: Tchau terceiro mundo, tchau dívida!
Volto em uma semana proletários.

Thursday, October 16, 2008

Ensaio Sobre a Cegueira


Ensaio sobre a Cegueira conta a história de uma cidade tomada de surpresa por uma epidemia de cegueira "branca", como oposto à cegueira normal, onde tudo é escuro.
As primeiras vítimas da doença misteriosa são encerradas em um hospital ou asilo abandonado, completamente isoladas do mundo exterior. A esposa do oftalmologista que teve o primeiro contato com a doença acaba sendo internada junto com o marido, mas por um misterioso acaso ela é a única que não foi contaminada pela cegueira, e por consequência a única que consegue ver dentro do asilo.
Neste microcosmo, as relações humanas vão se degradando na luta pela sobrevivência diária, e o local vai se tornando inabitável à medida que excrementos e lixos se acumulam pelos corredores. Para piorar, um auto-proclamado Rei de uma das alas do asilo passa a controlaro estoque de comida e a extorquir os outros cegos, primeiro por dinheiro, depois por mulheres.
Quando percebem que a epidemia se espalhou até pelos guardas do lugar é que os cegos liderados pela esposa do médico vão ganhar as ruas e perceber que o caos do asilo se espalhou pela cidade inteira.
Não li o livro de Saramago ainda, mas vi esta semana o filme de Fernando Meirelles. E achei o filme genial. Como o livro deve ser. É engraçado notar as reações de gente que não captou o sentido da obra. Em Cannes, um repórter perguntou a Meirelles porque o oftalmologista não teria usado a esposa para produzir algum tipo de vacina ou cura e salvar o resto, como se aquilo fosse um hollywoodiano I am Legend ou Outbreak. Nos Estados Unidos, associações de cegos estão boicotando e escrevendo manifestos contra o filme por considerarem que os deficientes visuais são retratados de maneira degradante e pejorativa. É o famoso não vi e não gostei. O que dá uma idéia de como anda a média intelectual no país e aque ponto chegou o politicamente correto por lá.
O que essa gente não entende é que a Cegueira Branca de Saramago é puramente metafórica.
No meu entender, como o branco representa um excesso de luz, e não a falta dela, a cegueira branca seria esta espécie de anestesia em que nos encontramos neste mundo que de repente se tornou demais para nós.
Somos bombardeados com excesso de informação, guerras do outro lado do planeta são jogadas em nossa sala de estar, crises americanas atravessam o planeta em segundos, sexo vende desde cigarros a automóveis, nossa vida corre 24hs por dia, sete dias na semana.
Aí ficamos cegos.
Não estamos nós também mergulhados em sujeira, na poluição das cidades, destruindo os lugares onde vivemos?
Você enxerga aquela criança pedindo esmola no sinal?
Ou aquela mãe com cinco filhos na sarjeta?
Prefere não ver?
Não sente mais nada?
Não vê mais a favela se espalhando?
Nem aquele corpo jogado no canto da rua?
Ou aqueles corpos todos na macabra contabilidade diária da guerra do tráfico?
Nem as prostitutas na calçada?
Nem os corruptos no Congresso?
E não estamos todos nós uma hora ou outra prostituindo e corrompendo nossos princípios morais por dinheiro ou poder, em casa, no trabalho, ou na vida pública?
Como no asilo dos cegos de Saramago, estamos ocupados demais com nossas próprias necessidades para enxergar alguma coisa.
E consideramos boçalmente que se todo mundo faz, nós também podemos fazer o que nos dá na telha. Se ninguém está te enxergando mesmo, o que importa magoar alguém, sujar alguém, matar alguém?
Isso é especialmente verdade nas grandes cidades, e não é à toa que a história se passe em uma grande cidade fictícia (magistralmente montada por Meirelles com cenas de São Paulo e Montevideo). Mas é uma verdade especialmente mais perigosa hoje, onde mais da metade da humanidade está vivendo em cidades.
Para aqueles que conseguem enxergar o que ninguém vê, como a esposa do oftalmologista (o anjo pálido de Julianne Moore no filme), o mundo vira um lugar horrível de se viver, e a humanidade, um fardo.
Abra os olhos. Está tudo branco?

Wednesday, October 15, 2008

Lula e a constituição, Marta e a contradição


Em 1988, o PT liderado por Lula, então deputado federal, recusou-se a assinar a recém promulgada Constituição brasileira, que apesar dos inúmeros defeitos ajudou a estabelecer as instituições brasileiras responsáveis pela relativa estabilidade política do país hoje.
Hoje, o Apedeuta-mor da nação premia-se com a Medalha dos 20 Anos da Constituição.
Enquanto isso, o líder do PT na Câmara dos Deputados, Henrique Fontana, anda manobrando para que se estabeleça uma nova Assembléia Constituinte, nos melhores moldes do bolivarianismo. Afinal, todos os amigos do PT: Hugo Chávez, Evo Morales e Rafael Correa quiseram fazer as próprias constituições para governar "melhor", para atender aos interesses "do povo". O resultado é o que estamos vendo todos os dias nas proto-ditaduras desses países bananeiros: caos, corrupção, censura, repressão. Chávez fechou até McDonalds porque lhe deu na telha.
Mas petista já se acostumou a cuspir na própria biografia.
Em São Paulo, Martaxa Relaxa e Goza Suplicy Favre que surgiu politicamente por causa da militância gay, anda insinuando que seu adversário nas eleições municipais é gay!
Confrontada com a contradição e o absurdo da sua campanha publicitária, seguiu o roteiro já conhecido do partido:
1. Dizer que não sabia de nada
2. Por a culpa em alguém (o marqueteiro no caso)
3. Culpar a imprensa
4. Posar de vítima
Cambada de canalhas...
O discurso do deputado Lula contra a Carta de 1988 está aqui:

Monday, October 13, 2008

Borboletas


Há 192 dias, quatorze horas, trinta e seis minutos e dezessete segundos uma borboleta bateu asas em Papua Nova Guiné.
Os efeitos dos choque microscópicos das moléculas de ar movidas pelas asas da borboleta guineense somaram-se a trilhões de outros efeitos microscópicos causados por movimentos semelhantes e alterações de temperatura e pressão e culminaram com o avanço de uma massa de ar frio sobre a América do Sul e com uma tempestade de granizo em pleno verão norueguês.
Provocaram chuvas sobre a plantação de soja do fazenderio argentino José Hernandez Baja, que este ano saldará suas dívidas e enviará a Europa sua filha Consuelo para estudar economia em Madri, de onde irá sair para os altos escalões do Banco Central Europeu e melhorar o sistema financeiro mundial.
Vendo o tempo horrível daquela manhã, o diretor do Comitê de Premiação do Instituto Nobel considerou que havia sido uma tolice teram dado o prêmio da Paz no ano passado a Al Gore e ao IPCC e sua claque de puxa-sacos políticos. Decidiu que nesse ano o daria a quem realmente tivesse trabalhado pela paz mundial.
Um diretor de banco americano passou as férias pescando na costa Chilena. Foi uma pescaria excepcional considerando que as correntes frias da Antractica estava carregadas de peixe. Relaxado, decidiu que na sua volta iria definitivamente olhar e analisar aqueles relatórios sobre hipotecas subprime que estavam sua mesa.
Victor e Leo, cantores sertanejos descansavam em sua fazenda preparando seu novo cd quando uma borboleta, descendente direta de um ancestral comum de 300 milhões de anos da borboleta da Papua, pousou em um vaso na mesa onde estavam partituras e repertórios.
Há algumas centenas de anos, bárbaros do norte invadiram as províncias romanas no sul da Itália e na península Ibérica. Muitas gerações depois, meus ascendentes portugueses, e depois os italianos desembarcavam no Brasil. Na semana passada, eu estava em minha caminhonete dirigindo-me ao escritório em Campo Grande quando escutei a música Borboletas de Victor e Leo. O fim de semana tinha sido frio. Li os jornais sobre a crise financeira internacional e preocupei-me com os negócios. Meu sistema imunolôgico baixou de eficiência. Streptococcus atacaram minhas amígdalas. Naquela tarde de sextafeira eu ficaria mais 48 horas com febre e dores de cabeça e no corpo.
Essa febre me fez escrever este post. E alguma série de eventos indeterminados fez você estar aí do outro lado lendo.
O que nos traz a uma pergunta filosófica nunca dantes respondida. Será o livre arbítrio uma mera ilusão, já que tudo o que fazemos advém de uma série de eventos anteriores?
Seremos marionetas movidas por cordões ligados a borboletas invisíveis?

Alice


A televisão brasileira para mim é um grande lixão, com algumas raras coisas muito boas cá e lá.
Alice, a série dirigida por Karim Aïnouz e Sérgio Machado para a rede fechada HBO é uma novidade boa.
Conta a história de uma garota que vive em Palmas no Tocantins com a avó e o namorado, e que vem acabar em São Paulo quando o pai que morava aí morre. Acaba conhecendo a madrasta e uma meia irmã, faz novos amigos e aos poucos vai descobrindo os segredos da metrópole.
Alice vai migrando para o universo cult de São Paulo, onde transita a vanguarda hype brasileira. São nos bares, restaurantes, exposições de arte e nas próprias ruas que a vida na cidade acontece 24 horas por dia, 7 dias na semana.
Ali estão sexo, drogas, moda e cultura pop como não existem em lugar nenhum do país. Até o Rio de Janeiro parece provinciano visto da Avenida Paulista.
A série toda tem um ar de Sex and the City brasileiro mas é mais que isso.
O novo universo de Alice pode ser restrito a uma parcela mínima da população, e nem sequer me interessa tanto assim. Mas a novidade é ver na tv uma produção que, ao contrário da imensa maioria dos programas e novelas da tv aberta, respeita a inteligência do espectador.
Temos excelentes atores, inclusive a bela protagonista Andréia Horta, saídos dos palcos dos teatros, e sem aquele ar irritante dos atores de novelas disputados entre Globo e Record.
Temos um roteiro com texto inteligente.
Temos a cidade de São Paulo como cenário, e na maioria das vezes não percebemos o quão cinematográfica São Paulo é. Mas sob a feia fumaça está uma arquitetura bela e única. A cidade em si é um personagem.
Of course, qualidade não sai de graça. Cada episódio custou à HBO R$ 1 milhão. Mas esperemos que o sucesso da série possa influenciar de alguma forma o lixão da tv aberta.

Touros


O poema do post anterior me encantou por ser uma metáfora de todas as adversidades que encontramos em nossas vidas, ou talvez uma metáfora da vida em si, sendo que esta é feita mais de adversidades do que de prazeres, pelo menos para a maioria dos mortais como eu.
Portanto, ao enfrentar cada touro diário, agarre-o pelos chifres. Ele vai balançar de um lado pro outro, vai te jogar para cima, mas uma hora ele cansará. Ele pode ser feito de terra e morte, e de todos os desejos dos teus inimigos, mas subestimou sua coragem e não conseguirá te deter.
Eu mesmo prevejo touros bravios pela frente.
Se eu não os agarro, são eles que me pegarão.
Coragem portanto.

Monday, October 06, 2008

Taking the bull by the horns


When he approaches, it’s best to meet him head on,

and grabbing the horns, force that mighty head

to bow low before you, putting all your upper body strength

into the struggle. If you’ve found the right grasp,

the one from above, the horns beneath your palms,

it will feel as if you’re gripping two huge vertical handles,

pushing on them hard, enclosing them in fists

instead of pulling them towards you to open the stubborn cupboard

or gate or missile silo doors. You might be lifted

a few feet into the air. You might be shaken

side to side, horribly. In the blurry distance

there could be screaming crowds, but more likely

just a fence and butterfly weed and more pasture,

a dilapidated barn with no one working beside it,

so your struggle will be solely your own,

your panting, your screaming, the bull’s bellowing

only heard and felt by you. The secret is to cling,

as the cliché goes, “for dear life” until

the creature is nearly exhausted, unable

to get up from his knees or belly or from his side,

to try and chase you to the edge of the known universe

as he did before, charging out of what now seems nowhere,

because he is of Earth and Death and your enemies’ wishes,

and misjudged your resolve and could not bring you down.
Dick Allen

Feliz Eleições 2008!


Motivos de felicidade pós-votação:

1.Ver Gilberto Kassab derrotar Geraldo Alckmin e passar ao segundo turno pronto para tratorar Marta Suplicy.
Alckmin foi vaidoso e arrogante quando quis ser nomeado candidato do PSDB à presidência em 2006, mesmo quando José Serra tinha o dobro das intenções de voto. Em uma eleição praticamente ganha depois do mensalão, foi o Chuchu que nos presenteou com mais 4 anos de Lula. Agora em São Paulo, sua vaidade e arrogância fizeram rachar a aliança do PSDB com o DEM de Kassab que funcionou tão bem na cidade. Bem feito para ele, que levou um coco e agora virou nanico no próprio partido. Agora é Kassab na cabeça e Martaxa Relaxa e Goza na rua da amargura.

2. Ver Fernando Gabeira, passar ao segundo turno no Rio de Janeiro derrotando Marcelo Crivella.
Gabeira é o ex-guerrilheiro que não virou quadrilheiro, e um dos únicos bravos no Congresso. Marcelo Crivella da abominável Igreja Universal do Reino de Deus representa tudo o que é ruim e populista na política brasileira, e ainda por cima com o apoio de Lula. Que queime no inferno com seu Bispo.

3. Ver que vai ter segundo turno em Belo Horizonte.
Isso é saber que aquela aberração eleitoral que é a aliança de PSDB e PT na cidade não foi assim tão bem sucedida e está a risco. Marcio Lacerda contava com o apoio do governador Aécio Neves e do prefeito Fernado Pimentel do PT, ambos popularíssimos. Mesmo assim não colou, e tomara que não cole nunca. Ou teremos Aécio Neves tentando vender essa mesma idéia para 2010.

4. Ver o PT exorcizado em Campo Grande
Nelsinho Trad venceu já no primeiro turno. Pedro Teruel do PT ficou com 23% dos votos, mas felizmente, depois do lastimável governo do Sr. José Orcírio parece que o Mato Grosso do Sul vai exorcizar por um bom tempo o PT de sua vida política.

Os desmatadores


A divulgação da lista dos maiores desmatadores do Brasil durante a semana passada provocou um óbvio mal estar no governo, afinal, o INCRA, um órgão do governo federal está na liderança isolada no ranking dos inimigos do meio ambiente. Seis assentamentos do INCRA, todos no estado do Mato Grosso desmataram juntos 220 mil hectares de floresta.
A lista aliás ficou mocosada no IBAMA por alguns meses, quem sabe se por falta de coragem de divulgá-la. A revelação foi feita pelo próprio Ministro do Meio-Ambiente Carlos Minc, o homem dos coletes psicodélicos.
O fato ajuda a revelar o imenso equívoco que é a política de reforma agrária e de preservação do Governo Federal.
Os petistas da situação sempre demonizaram o agronegócio como a fonte de todos os males da floresta. Blairo Maggi que o diga. O capitalismo selvagem dos grandes fazendeiros representaria a destruição da Amazônia.
A agricultura familiar no conceito do Incra, com o assentado e sua família feliz com seu pé de mandioca, seu porquinho e suas galinhas em comunhão com a natureza seria o oposto disso. Seria o paraíso agrícola bolivariano.
Esta semana vimos o tamanho da mentira. Uma mentira de 220 mil hectares.
A realidade é que o assentado recebe um lote de 60ha de terra. Pela lei, ele poderia desmatar 20% do lote. Aí o pé-vermelho olha aquelas toras todas ali de pé, e pensa que o bornal dele ficaria bem mais cheinho se ele botasse aquilo tudo abaixo e vendesse madeira em lugar de plantar 12 hectares de mandioca. Não é à toa que o Fantástico achou uma madeireira ilegal dentro do assentamento de Tabaporã. Então ele vende as toras boas, faz carvão do resto e tenta criar umas vaquinhas. quando ele vê que aquilo ali não vai pra frente, troca o lote dele por uma mobilete, um revólver ou uma passagem para Cuiabá e se manda dali. Quando ele gastar o que ganhou em pinga e briga de galo ele entra na fila por outro lote. Essa é a reforma agrária do Incra e do MST, que no fundo são a mesma coisa. O assentado mais esperto, que compra o lote dos outros, aumenta a lavoura e começa a fazer dinheiro para eles passou ao "lado negro" da força.
O agronegócio busca lucro, obviamente. Mas por isso mesmo trabalha com profissionais. E todo profissional sabe da importância de preservação de reservas e matas ciliares, do manejo de solo, do correto uso de defensivos. Uma empresa agrícola, como existem cada vez mais, com capital aberto, sabe que tem que prestar contas a seus investidores. Sabe que o mercado externo vai questioná-la sobre seus métodos de produção. É do mercado. A solução no campo está em mais capitalismo, não menos.
Não digo que todo assentamento seja ruim e todo fazendeiro seja bom. O que estou dizendo é que agricultura é para profissionais. Gente que quer produzir respeitando as leis e gerando riquezas, sem ideologias.

Sunday, October 05, 2008

A palavra de Lampeão

Última entrevista de Lampeão, o monarcha selvagem dos sertões

Maria Bonita


Acorda, Maria Bonita
Antônio dos Santos

Acorda Maria Bonita
Levanta vai fazer o café
Que o dia já vem raiando
E a polícia já está de pé

Se eu soubesse que chorando
Empato a tua viagem
Meus olhos eram dois rios
Que não te davam passagem

Cabelos pretos anelados
Olhos castanhos delicados
Quem não ama a cor morena
Morre cego e não vê nada

Auto de Angicos


Me lembro bem de quando eu era criança pequena lá no norte, dos vendedores de literatura de cordel nas feiras e nas ruas. Ainda estarão por lá?
Lampião, o Rei do Cangaço, era tema recorrente nos livretos baratos ilustrados com xilogravuras tão tipicamente brasileiras. Os poeminhas exaltavam sua coragem, honra, bravura combatendo os sodados, e muitas vezes também seu instinto sanguinário e crueldade.
Por muitas vezes os intelectuais modernos tentaram estupidamente vislumbrar em Lampião um justiceiro, um revolucionário marxista a seu modo, um homem do povo. Pura bobagem, mas de certo modo, o banditismo lhe deu uma aura de herói do sertão que perdura até hoje.
A peça Virgolino e Maria, o Auto de Angicos, encena as últimas horas do casal de cangaceiros antes que fossem metralhados de surpresa pelos volantes do Tenente João Bezerra às cinco da manhã de 28 de julho de 1938.
Marcos Palmeira e Adriana Esteves interpretam Virgolino, o Lampião, e Maria Bonita no excelente texto de Marcos Barbosa, que felizmente foge da mitificação da personagem.
Despidos da indumentária de cangaceiros, os atores dão uma dimensão humana ao casal, despindo-os também de sua aura heróica.
Na madrugada chuvosa do dia em que morreriam, Lampião e Maria Bonita assolados por maus pressentimentos discutem como marido e mulher, brigam, se reconciliam, declaram seu amor e jogam conversa fora.
Há momentos de humor, a maior parte deles provocados pelas reações desaforadas da linguaruda Maria Bonita de Adriana Esteves. Para um mulher que deixou o casamento para entrar no cangaço, ela devia ter mesmo esse panache.
Há momentos trágicos, onde a crueldade e o sangue quente de Lampião são escancarados.
E um final bonito, ao mesmo tempo trágico e poético, onde os dois passam da morte à vida eternizada pela lenda que criaram, como nas fotos do turco Abraão.
Lampião foi o que foi, um cangaceiro, um homem do seu tempo e lugar. Nada mais, nada menos. Certo ou errado como ele diz, foi assim que ele fez seu mundo.

Wednesday, October 01, 2008

Lost


Capa do novo single do Coldplay, favor reparar no mapa e no título.
Foi feito pra mim!

Thanks ao Augusto Araújo...