Saturday, June 30, 2007

Fotografia - Bettina Rheims












Bruno Tolentino 1941-2007


O Espírito da Letra, um dos poemas de "A Balada do Cárcere":


Ao pé da letra agora, em minha vida
há a morte e uma mulher…
E a letra dela,a primeira, me busca e me martela
ouvido adentro a mesma despedida

outra vez e outra vez, sempre espremida
entre as vogais do amor… Mas como vê-la
sem exumar uma vez mais a estrela
que há anos-luz se esbate sem saída,

sem prazo de morrer na luz que treme?!
O monstro que eu matei deixou-me a marca
suas pernas abertas ante a Parca

aparecem-me em tudo: é a letra M
a da Medusa que eu amei, a barca
sem amarras, sem remos e sem leme…

The Good Shepherd



A CIA liberou documentos essa semana que comprovavam entre outras coisas que eles tentaram mesmo envenenar Fidel Castro. Deve haver havido tanta sujeira nesse tempo todo que a agência existe que o fato desses arquivos serem abertos ao público se torna realmente admirável. Seria possível isso em algum país que não fosse democrático? Imagine se Fidel vai abrir os arquivos dele...
O filme The Good Shepherd de Robert de Niro conta a história de como surgiu a Central Inteligency Agency, desde suas origens durante a II Guerra Mundial até a famigerada invasão na Baía dos Porcos em Cuba em 61 que abalou a agência e o governo Kennedy.
O história é contada na visão de um homem seco e solitário. As reuniões da Skull & Bones, a sociedade secreta dos poderosos americanos, a aprendizagem com os ingleses na guerra, a guerra fria e as relações com os espiões russos. E aos poucos ele vai percebendo que o melhor para pátria nem sempre é o melhor para a própria consciência.

Our Synthetic Future


Assustador é este artigo da Newsweek de Rudy Rucker, um professor de computação da Universidade de S. José na Califórnia e escritor de ficção científica.
No texto ele imagina os avanços da biotecnologia e da nanobiotecnologia no futuro, e todas as imensas possíveis utilidades destas ciências para o homem.
Para começar ele fala de selecionar genes que seriam úteis para determinadas funções e assim criar novos microorganismos ou organismos inteiros sintéticos que seriam capazes de executar tarefas úteis para nós.
Por exemplo bactérias capazes de desentupir nossas artérias, ou plantas que pudessem retirar determinados metais do solo, ou aranhas tecendo fibra de carbono.
Ele diz que o perigo de um desses organismos se multiplicar e dominar o planeta é negligenciável. Para ele, todos os seres vivos do mundo já tem esse objetivo. Um ser sintético teria um dna muito mais pobre, e provavelmente seria mais “bobo” do que qualquer outro, e por isso incapaz de competir. Rucker imagina essas bactérias nerds saindo do MIT e encontrado outras que já estão nas ruas há milhões de anos. Quem ganha a briga?
O maluco fala de kits caseiros para construir um dinossauro, ou um cãozinho branco de bolinhas vermelhas. E depois de usar biotecnologia para modificar nossos próprios corpos. Por que usar silicone se você pode fazer crescer um peito novo? Ou imagine punks com um colar de dedos vivos em volta do pescoço...Ou outros modificando o cérebro para receberem sinais eletromagnéticos wireless, ou conectar um cérebro a outro virtualmente...
E finalmente, imagine uma pessoa isolar o dna que define toda sua personalidade e transformar isso em um vírus contagioso...Tenha medo, muito medo.
Para mim um biruta como esses pode escrever o que quiser em livros, mas deveria ser impedido de chegar a pelo menos 10 milhas perto de qualquer laboratório.
Rucker não aprendeu ainda o essencial sobre a vida, que ela é dinâmica, mutante, capaz de se adaptar. Esse futuro pode ser até possível, mas o que me dá medo é tudo o que pode dar errado nas nossas tentativas de chegarmos lá.

Epic - O futuro da mídia


Um amigo português me mandou o seguinte link:


http://epic.makingithappen.co.uk/

Desconheço quem fez esse filme, mas confesso que é bem bolado e dá calafrios em quem assiste. O filme mostra a evolução da internet desde a criação da www até o aparecimento da Amazon, Google, Blogger e baseado nessa história cria um futuro fictício onde as notícias serão personalizadas e inventadas automaticamente por algoritmos do Googgle que se juntou à Amazon. No filme, o New York Times processa o Googgle por violação de copyright e perde na Suprema Corte Americana, fechando sua edição digital e transformando-se em uma newsletter para a elite e para os idosos.
Por ironia, a identificação de uma personagem no filme traz o nome de Winston Smith, protagonista do romance 1984 de George Orwell.
Um futuro onde os jornais perderam completamente a relevância e o poder de representar a opinião pública não parece lá muito luminoso, mas não acredito que vá acontecer.
O ex-blog do César Maia divulgou trechos do artigo -Os Jornais e a Rede- de Rodolfo Windhausen para o jornal La Nacion, sobre a reunião da Associação Mundial de Jornais -WAN (sigla em inglês), que terminou na Cidade do Cabo -África do Sul. 1. Los pronósticos apocalípticos sobre la desaparición de los diarios como medios de comunicación -que no se han cumplido y probablemente nunca se cumplan- carecen de fundamento. Así como la radio no desapareció como medio de información por la aparición de la televisión, tampoco los periódicos desaparecen por la creación de la Red. En la historia del periodismo contemporáneo hubo ya muchas otras transformaciones; por ejemplo, la transmisión de radiofotos y la creación de las teletipos, que fueron fenómenos que no eliminaron nada, sino que contribuyeron a mejorar las comunicaciones (y la apariencia de los diarios) en todo el mundo. 2. Tampoco la aparición de las computadoras personales hizo que desaparecieran los periódicos impresos en papel y tinta, sino que los cambió, mediante un instrumento de innovación tecnológica: sólo sustituyó a las viejas y ruidosas máquinas de escribir. Prácticamente no hay ya periódicos, revistas, semanarios o mensuarios que no tengan una versión electrónica disponible online y, por tanto, accesible a muchos millones de personas en todo el planeta. 3. Sencillamente, hoy se escribe más, tal vez incluso mejor y de manera ciertamente distinta. Las conclusiones de encuentros como el de la WAN , lejos de ser profecías de un Apocalipsis o una muerte prematura de la prensa, son apenas una confirmación de que estaba en lo cierto aquel dramaturgo español que escribió: "Los muertos que vos matáis gozan de buena salud".

Neercanne



No fim de semana passado casou-se uma grande amiga, minha colega de trabalho por mais de dois anos. Neste Clustr Maps aqui do blog ela é responsável por aquela bolota vermelha em cima de Moscou. É lá que ela vive depois de ter se ido embora da Holanda com seu désormais esposo.
A festa foi nesse belíssimo castelo de Neercanne, perto de Maastricht, em uma das regiões mais bonitas da Holanda. Neercanne foi onde eu consegui pela primeira vez tomar um bom vinho holandês (dizem que por causa do aquecimento global a produção de vinhos finos se deslocará cada vez mais para o norte, pelo visto já começou). O castelo é dono de uma fantástica cave escavada na montanha e ainda tem uma excelente cozinha, e os hóspedes desfrutam até de uma exibição de falconaria ao vivo.
Nossos amigos em comum me deram a incubência de discursar na festa, o que só aceitei e consegui fazer devido às várias taças de champagne na cabeça. No futuro comunicarei a meus amigos que discursarei de bom grado em festas desde que devidamente abastecido.
Minha amiga, por causa do noivo saiu do Rio de Janeiro para Rotterdam, e de Rotterdam foi para Moscou. No meu discurso eu disse que em Moscou, onde ela foi pedida em casamento, é que o nosso holandês percebeu que só muito amor para fazer alguém sair voluntariamente dos 40 graus para zero, e depois para menos 20...
Ele é arquiteto, e na hora me lembrei de uma cena do fime The Lake House, onde pai e filho discutem arquitetura. O pai diz que um prédio em Tóquio não pode ser nunca como um em Barcelona ou em Nova Iorque, porque arquitetura é o estudo da luz, e a luz é diferente em cada lugar do mundo. A Renata e seu holandês também viajaram pelo mundo inteiro. Eu disse que pode ser verdade que a luz na arquitetura muda, mas que há uma luz que deveria ser igual em todo lugar, que é a luz que vem de duas pessoas que se amam. Eu realmente tinha tomado muita champagne.
Toda menina quer se casar. Mesmo as moderninhas que dizem que não precisam disso estão mentindo. Todas elas sem exceção, desde que têm Barbies querem ser noivas. Homens não pensam nisso. Minha irmã sempre insistia em casar a sua Susie com o meu Falcon, o que sempre acontecia sob meus veementes protestos.
Elas estão certas, porque o casamento é o dia em que elas viram princesas como nos contos de fadas, o dia em que viverão felizes para sempre.
Para os homens, é o dia em que prometemos a elas que iremos nos esforçar para que todos os outros dias sejam felizes como aquele, e que todos os dias faremos delas princesas.
Felicidades é o que desejo a ela, e a todos os meus amigos que se casaram.

LET US HAVE MADNESS


Poem by Kenneth Patchen


Let us have madnes openly, O men
Of my generation. Let us follow
The footsteps of this slaughtered age:
See it trail across Time's dim land
Into the closed house of eternity
With the noise That dying has,
With the face that dead things wear
Nor every say

We wanted more; we looked to find
An open door,an utter deed of love,
Transforming day's evil darkness;
But
We found extended hell and fog
Upon the earth ,and within the heads
A rotting bog of lean huge graves

Friday, June 29, 2007

Friday


Depois de uma longa semana longe deste blog estou aqui na madrugada, chuva lá fora, Dalwhinnies aqui dentro, velas e o Sting cantando all this time. Tanto para escrever...

Friday, June 22, 2007

O caçador de pipas


O livro de Khaled Hosseini andou por aí em várias listas de best-sellers do mundo. O sucesso deste romance, o primeiro do autor, não é tão difícil assim de se explicar. O livro é uma história formidável, contada de uma forma suave e gostosa de ler, e com um apelo universal.
Khaled Hosseini é afegão de origem, apesar de hoje viver nos EUA, mas percebe-se que muito do livro vem de suas memórias de infância.
O caçador de pipas é a história de Amir, um menino rico de uma família pashtun afegã, de sua infância em Cabul e de sua amizade com Hassan, um garoto da etnia hazara criado como serviçal da família. É essa amizade que ele vai trair, e a memória dessa traição o perseguirá durante sua vida. Ao mesmo tempo em que Amir é atormentado pela própria consciência, o mundo que ele conhece desmorona à sua volta com a chegada dos soviéticos e com a guerra no Afeganistão. Amir e seu pai fogem clandestinamente do país e chegam aos Estados Unidos onde terão que aprender a viver como imigrantes refugiados.
Muitos anos depois ele terá a chance de se redimir de seus pecados voltando a Cabul em pleno domínio dos Talibans.
O caçador de pipas é universal porque ao mesmo tempo em que nos dá um vívido retrato da tragédia afegã, cujas consequências vemos até hoje na televisão, fala de amizade, de família, de honra e sobretudo de erro, penitência e redenção.

Wednesday, June 20, 2007

20/06 World Refugee's Day


Na maior cara de pau


O PT escandalosamente acaba de conceder aumentos que vão de 30 a 140% a todos os cargos comissionados do governo, vale dizer, os cargos de confianção que não tem concurso e cujos integrantes são indicados pelos companheiros do Partido...
Ou seja, o Lula aumentou o número de cargos de confiança existentes no governo, o PT ocupou todos eles aparelhando o estado, suas empresas e instituições e agora os companheiros aumentaram o próprio salário enchendo os bolsos e tirando os cofres do PT do sufoco. Sim, porque segundo os regulamentos do Partido todos os companheiros têm que pagar um dízimo a São Lula.
O reajuste decidido por Lula custará € 277 milhões aos contribuintes.
Saiu no Estadão On-Line: O aumento concedido pelo governo a ocupantes de cargos comissionados deve aliviar as contas do PT, que está amarrado em uma dívida de cerca de R$ 45 milhões. Apesar de ainda não saber estimar a receita adicional que entrará nos cofres, o tesoureiro da legenda, Paulo Ferreira, afirmou que o aumento certamente ajudará a amenizar o aperto. 'Ainda não há como quantificar, mas na atual situação qualquer recurso ajuda a melhorar a nossa saúde financeira', afirmou."
É a cara de pau típica do Lulismo, e é o dever da imprensa ser o Grilo Falante desses Pinóquios mafiosos.

Sunday, June 17, 2007

Arte


Tanto na Holanda como na Itália a cada momento estamos tropeçando em obras de gente como Rembrant, Vermeer, Rafael, Boticelli, Michelângelo, o que é uma dádiva para quem gosta de arte. Há uns anos atrás fui a uma exposição de Lawrence Alma-Tadema no museu Van Gogh de Amsterdam. Alma-Tadema me era completamente estranho antes que eu visitasse essa exposição, no entanto nunca mais me esquecerei da perfeição de suas telas, da maneira de como pintava a água, tecidos, mármore, expressões. Da mesma forma imagino como era possível a Michelângelo transformar o mármore em gente. Aliás isso era algo de que ele mesmo se admirava, afinal foi o próprio quem deu uma martelada na sua escultura de Moisés dizendo “Fala!” e esperando que a estátua reagisse. Vendo a obra destes gênios me pergunto se alguém hoje em dia teria o talento pelo menos do dedo mindinho de um deles.
A verdade é que o ambiente econômico tanto na Florença do século XVI como em Amsterdã do século XVII ajudou e muito para que a arte se desenvolvesse tanto nos dois lugares, pois onde há dinheiro há sempre gente querendo gastar e precisando de status, algo que ter arte em casa traz.
Mas o dinheiro é só parte da equação. Hoje os museus recebem quantias milionárias e obras de arte são leiloadas por milhões de dólares. A feira de arte de Maastricht aqui na Holanda é um acontecimento social onde os bilionários europeus vêm despejar seus euros em busca de status. Na última edição, Silvio Berlusconi esteve por aqui gastando quantias astronômicas. Mas a verdade é que apesar de tanto dinheiro não existe ninguém hoje capaz de pintar ou esculpir como faziam os grandes mestres.
A arte obviamente evolui, e busca sempre novos caminhos, está em sua natureza. Picasso por exemplo dizia que quando começou sua carreira poderia pintar como Michelângelo, e levou sua vida inteira para aprender a pintar como uma criança.
Robert Hughes, o crítico de arte australiano deu uma excelente entrevista à Veja em abril passado. Diz ele que os modernistas que realmente importam, como Picasso, longe de negar os valores da arte clássica, usavam-na como inspiração. Basta ver as inúmeras versões que Picasso pintou usando As Meninas de Velasquéz para reconhecer sua genialidade ao desconstruir uma figura com sua técnica. Hughes diz ainda que hoje em dia o artista passou a ser valorizado pelo seu cacife, pelo preço de seus quadros e não pelo que sua arte representa. Andy Warhol por exemplo, o que revolucionou a arte nos anos 60 com pinturas como essa da lata de sopa de tomate Campbell’s, segundo Hughes é a reputação mais ridiculamente superestimada do século.
Mas a arte moderna de hoje ignora o passado. Nas bienais e trienais da vida, o que encontramos são superinstalações feitas geralmente por gente sem talento algum e sem nada a dizer.
Roger Kimball escreve um artigo intitulado “Why the art world is a disaster” na revista The New Criterion. Segundo ele, hoje em dia, os artistas e suas mega instalações que querem ser sempre mais chocantes, mais desafiadores e mais inovadores, e não percebem que longe de serem subversivos em relação ao establishment, este tipo de arte tornou-se o establishment...Segundo Kimball, a única coisa que eles desafiam é a paciência do espectador. E isso não tem nada de novo. Nos anos 40 George Orwell já escrevia: “Just pronounce the magic word Art, and everything is O.K. Rotting corpses with snails crawling over them are O.K.; kicking little girls in the head is O.K.; even a film like L’Age d’Or (que mostra detalhes de uma mulher defecando) is O.K.
Para Kimball, o desastre que vemos hoje no mundo das artes é herança de gente como Warhol e Marcel Duchamp e seus dadaístas. Para ele a arte ocupa hoje “a curious no man’s land between criticism, political activism, and pseudo-philosophical speculation.”, fruto do excesso de dinheiro e da separação do mundo das artes com a arte em si.
Arte, como Kimball e Hughes definem é algo que dá prazer e enobrece a quem a vê. Não precisa ser cara, não precisa estar na moda. Arte assim é eterna.

Saturday, June 16, 2007

Oriundi

A parte mais emocionante de nossa viagem foi sem dúvida uma visita a Novi Velia, um pequeno vilarejo encravado nas montanhas do Cilento, na província de Salerno na Itália.
Ali no centro desta vila há uma velha torre medieval e ainda se vê o mar de um lado e as florestas de carvalho e as montanhas do parque nacional do Cilento do outro.
Na primeira rua há um velho sobrado de 1846 onde viveu meu bisavô. Hoje ali mora sua sobrinha. Hoje já velhinha, me disse que ainda se recordava do dia em que ela era menina e que levou meu bisavô ao porto de Napoli para embarcar no navio com destino ao Brasil. Ali na mesma casa conheci gente da minha família que eu nunca tinha visto antes.
Especialmente em um país formado por imigrantes e tão miscigenado como o Brasil, as pessoas estão sempre em busca de suas origens. É emocionante ter encontrado parte delas.
E é mais divertido ainda imaginar tudo o que aconteceu até você aparecer no mundo.
A torre no centro de Novi Velia é ainda uma herança lombarda, ou longobarda como chamam por lá aos bárbaros que invadiram e acabaram com o Império Romano na Itália do século VI.
Um livro chamado Origo Gentis Langobardorum conta a história de um povo chamado Winnilers, vindos de uma ilha nórdica chamada Scadanan. Ao invadiram o território dos Vândalos na costa do mar Báltico, os Winnilers foram aconselhados por seus deuses a marcharem junto com suas mulheres que deveriam amarrar os cabelos em volta do queixo para parecerem homens de longas barbas, pelo que ficaram conhecidos como os longobardi. Do Báltico, os lombardos chegaram ao vale do Danúbio e depois à Itália.
Dessa gente apareceu minha família em Novi Velia. De lá saiu meu bisavô, meu avô e minha mãe, que se juntou com o meu pai cuja família há alguns séculos atrás estava decepando mouros na Ibéria...
Afortunadamente, estudar de onde viemos pode ajudar a saber para onde queremos ir.
Estou quase certo de não querer voltar a ser um bárbaro de novo. Quase.

Bella Italia


Um país que tem mais de 60% do patrimônio histórico mundial tombado pela Unesco certamente mereceria uma visita de pelo menos um ano, o que é impossível à maioria dos mortais pelas duas razões mais óbvias do mundo, tempo e dinheiro. Por isso, nesta última road trip, quis levar meus pais e minha esposa conhecerem duas das que considero as mais belas regiões da Itália, a Toscana e a Campania.
Meu verdadeiro interesse na Itália (ou meu interesse como turista em geral) não está em seus museus e monumentos, mas nas pequenas coisas que fazem a Itália ser Itália.
Visitar as pequenas vilas medievais da Toscana me dão muito mais prazer do que andar no tumultuado centro de Firenze, esperando horas na fila da Galeria Uffizi para observar por alguns minutos as partes baixas do David de Michelângelo. Quando passamos por Roma havia uma fila de quilômetros para entrar no museu do Vaticano, onde está a capela Sistina. Acho que até o Pontífice Máximo chegaria na capela com o saco na lua depois de toda aquela espera no sol quente. Eu desisto logo.
Eu prefiro caminhar pelas ruelas de Siena, rodar pelas estradinhas descobrindo igrejas perdidas, outros vilarejos, campos de trigo, mosteiros, cada um como se fosse em si uma pintura esperando para ser descoberta. Observar os velhotes a jogarem o dominó e as cartas no bar, as velhas casas de terracota com vasos de gerânios, pintura descascando e cuecas e sutiãs no varal pendurado para fora da janela. Prefiro sentar na praça, descobrir uma boa trattoria escondida e apreciar um Chianti comendo prosciutto crudo com queijo parmesão, berinjelas no azeite e um belo prato de massa. Essa é a verdadeira Toscana, e a verdadeira Itália.
E a Campania... É a terra da mozzarela, da pizza, do fusilli, do limoncello e do café expresso extra extra forte. Fomos primeiro a Nápoles. “See Napoli and die”, disse um dia Herman de Melville, frase copiada e repetida até hoje pelos napolitanos. Esta cidade um dia deve ter sido magnífica. Hoje vemos velhos edifícios decadentes, um trânsito caótico, e até alguns meses atrás a Camorra ainda estava ajustando suas contas à bala nos subúrbios. Em uma rua de um bairro popular próximo ao porto, forrado de bandeiras azuis do Napoli Futebol Club um carro na nossa frente desceu a ladeira de ré para se arrebentar contra o muro no outro lado da rua. No volante, um cachorro com cara de quem perdeu a dona. Parece mentira mas não é. Considerando a frequência das buzinas, o estacionamento em fila dupla e toda a zona generalizada no trânsito, não se acha um carro intacto na cidade...Mesmo assim sobrevivemos e passamos ainda pela belíssima costa Amalfitana, de Salerno até a chiquérrima Positano, visitamos as assombrosas ruínas de Pompéia ao pé do Vesúvio, e o Cilento, as montanhas de onde saiu minha família materna há muitos anos atrás...
E como todos os caminhos levam a Roma acabamos a road trip por lá. No mesmo dia em que o Bush visitava a cidade. Com todos os carabinieri mobilizados, a cidade estava um caos. Coitado dele, achando que estava seguro por ali. Os polícias italianos estavam mais preocupados em impressionar as mocinhas que passavam do que com a segurança dele. É a Itália que eu gosto.

Daniel Dantas


A revista Piauí de junho traz uma reportagem/entrevista com Daniel Dantas. Daniel Dantas é milionário mas eu detestaria ter a vida que ele leva. O sujeito passa 80% do seu tempo com advogados. Não aprecia bons vinhos nem boa comida, despreza cinema e teatro apesar de patrociná-los e vê arte apenas como investimento.
Lendo as páginas da revista, além de ficarmos conhecendo a espantosa carreira de Daniel Dantas, passeamos pelos bastidores dos governos FHC e Lula, pela era das privatizações e da chegada do PT ao poder. Ali temos uma vaga idéia da sujeira, da brutalidade, dos conchavos, alianças e traições, e das negociatas lá nas trevas e nos porões do mundo dos negócios e da política.
Os desafetos dizem que ele é um tubarão nos negócios. Não tenho como julgá-lo, mas com absoluta certeza posso dizer que burro ele não é.
Ele e seu banco Opportunity conseguiram controlar a Brasil Telecom quando a telefonia no Brasil foi privatizada. Desde que se desentendeu com o governo petista por ter se recusado a dar dinheiro (US$ 50 milhões) a Luiz Gushiken para pagar contas de campanha do PT, Daniel Dantas tem sofrido estranhos reveses, enquanto seus adversários são beneficiados nos negócios.
Recentemente, o governo tem feito pressão no sentido de fundir a Brasil Telecom com a Telemar, controlada pelo fundo de pensão da Previ.
Segundo a Piauí, na avaliação de Daniel Dantas, contudo, a intenção dos petistas é fazer uma re-estatização do setor, ou uma “previtização”, trocadilho que criou para se referir ao espaço que a Previ passaria a ocupar. Hoje, os fundos de pensão estatais têm grande participação nas operadoras. Caso a fusão venha a se concretizar, o Estado será o acionista majoritário, com 63% do capital da nova empresa. Porém, com uma vantagem em relação a uma estatal: os fundos de pensão não estão sujeitos à fiscalização do Tribunal de Contas da União. “Nesse caso, o governo vai poder fazer contratações e dispor do caixa dessas empresas, que somam 6 bilhões de reais, sem ter que dar nenhuma satisfação”, afirma.
Mais do que isso, a fusão das companhias dará ao governo muito mais do que o simples controle do caixa. O que ele vislumbra é que as empresas serão um instrumento de controle de informação, pois, juntas, cobrem todo o país, com exceção de São Paulo.
Como eu disse, burro ele não é. Nós deveríamos prestar atenção no que ele está dizendo agora.

Thursday, June 14, 2007

Word Challenge


O concurso World Challenge, uma parceria entre a rede BBC, a revista Newsweek e a petrolífera Shell foi criado há 3 anos para premiar projetos e empresas que ajudassem o desenvolvimento sustentável nos países pobres, fazendo a diferença nas suas comunidades.
Este ano são 12 os finalistas, entre os quais figuram dois projetos brasileiros. Em dezembor, os três melhores receberão um prêmio da Shell aqui em Haia, na Holanda. O primeiro colocado receberá US$ 20.000. Uma olhadela na descrição de cada um dá um alento de esperança ao mostrar que existem boas idéias para sair do buraco, e que estas boas idéias têm muito mais valor do que a política de caridade-bolsa-miséria adotada pelo governo.
Como no velho ditado chinês de que é melhor ensinar a pescar do que dar o peixe.

STEAMING AHEAD
The Masarang Palm Sugar Factory - INDONESIA
Extracting the sugar from sugar palm requires a good deal of heat. For the farmers of Tomohon, a mountainous region of Indonesia, timber was the obvious source. Seeing the damage being done to his beloved rainforest, conservation expert Dr Willie Smits hooked the palm farmers up with a local geothermal power project. He established a factory that uses waste steam from the power plant to heat the sugar palm sap. The resulting high-quality product is now being successfully exported – with all profits going direct to the farmers’ cooperative. Some 6285 poor farmers and their families are now benefiting from the project, and around 200,000 square metres of forest have been preserved. Dr Smits believes his business model could serve throughout Indonesia as a sustainable alternative to the destructive Palm Oil trade.

COOKING WITHOUT GAS
Foundation for Sustainable Technologies (FoST) - NEPAL
In 1995, Sanu Kaji Shrestha ran out of cooking gas. So too did nearly everyone else in Kathmandu, as a countrywide shortage set in. Demand was so great Sanu had to take three days off work to queue up for more fuel. This first-hand experience of his country’s dependence on external energy supplies set Sanu thinking. He began to look into sustainable energy technologies for the domestic market, researching existing designs and adapting them for the Nepalese market. In 2001 he retired from his day job to concentrate on bringing low-cost, high-efficiency energy technologies to Nepal’s rural and urban poor. Measures developed to date include simple yet ingenious solar cookers and briquette presses to make smokeless fuel from waste materials.

S.O.S: SAVE OUR SEAWEED
Ider Project - BRAZIL
The seaweed of Brazil’s North Eastern coast is much in demand by the country’s meat, dairy and cosmetics industries. For many decades, coastal communities were able to supply this demand by simply collecting the plants from the rocks. But in recent years, over-harvesting has led to the collapse of seaweed beds across long stretches of Brazil’s coastline. This has in turn led to a decline in fish stocks, leaving fishermen – as well as seaweed collectors – out of work. The project is working to repair the damage by encouraging traditional fishing communities to cultivate a sustainable supply of seaweed. Seaweed seeds are attached to anchored ropes. Within two months they have grown into full-size plants ready for harvesting. The seaweed is then dehydrated using solar-powered cleaning and drying machines. The villagers are now selling their product for a much higher price than they used to get for their unfarmed seaweed. And fishermen are reporting a heartening recovery in seaweed-dependent fish stocks.

TOP OF THE CROPS
Arghand - AFGHANISTAN
Despite the efforts of American and British forces to put the squeeze on Afghan opium production, the country remains by far the world’s largest source of heroin. Arghand Inc is approaching the problem from a different angle. By creating a market for crops such as almonds, apricots, pistachios and liquorice root, the company reduces opium production without depriving farmers of an income. The exotic crops are used in the manufacture of high-end soaps and skin-care products for the export market. These products might not have quite the same street-value as heroin, but because Arghand operates on a fair trade basis, its farmers end up with more cash than they’d get from growing opium. Arghand was set up in 2005 by journalist Sarah Chayes, whose first-hand experience of Southern Afghanistan inspired her to strike at the chains of poverty and violence that bind the region to the opium poppy.

LIMBS FROM LEFTOVERS
Mend - NEPAL
There’s little in the way of formal support for disabled people in Nepal. Ganga Rayamajh’s story is typical. Having lost both her legs as a baby, she had no option but to crawl to school, as her family could not afford to buy expensive imported prosthetics. But at the age of 17, thanks to New Zealand charity MEND, Ganga was finally fitted with artificial legs. Since then she has striven to improve the lives of other disabled people through local charity ASHA. In 2004, ASHA and MEND set out to develop a range of artificial limbs, tools and other mobility devices that would be within the price range of even the poorest Nepalese. They came up with an innovative cost-cutting solution – to use everyday wastes as their raw materials. Moulds for artificial legs, for example, are cast from aluminium cans, while the legs themselves are made, in part, from recycled plastics.

HALF PRICE HYGIENE
Maka - UGANDA
The price of imported sanitary pads – around US$1 for a pack of ten – puts them beyond the reach of Uganda’s poorest families. Accordingly, many disadvantaged girls skip school during their periods, creating a vicious cycle in which the poorest fall furthest behind in their education. Noticing this trend in Kampala, Dr Musaazi Moses set himself the goal of producing sanitary pads that could be sold for no more than US fifty cents per pack. He was able to keep costs down by using locally sourced materials – elephant grass and paper – and manufacturing the pads on a cottage industry basis. The current rate of production stands at around 1,500 pads per day – and Dr Moses expects this to increase over time. Since its foundation in 2004, MAKA sanitary pads have benefited hundreds of girls in Kampala and beyond.

HERBAL HEALING
Sa Pa Essentials (SPE) - VIETNAM
The mountainous region of Sa Pa in northern Vietnam is an invaluable storehouse of medicinal plants – many of which have been used for centuries by the local population. Bridging the Gap was established to protect these species from the increasing threat of over-harvesting – while at the same time boosting incomes and improving lives within the community. Having identified active ingredients through traditional knowledge as well as scientific testing, Bridging the Gap encourages sustainable cultivation of the medicinal species. It then extracts, processes and markets essential oils from the plants, ensuring at every stage that the communities’ intellectual property rights are respected.

HIGH SWEET FASHION
Mitz - MEXICO
The brainchild of Montessori schoolteacher Judith Achar, Mitz Bags began in 2003 when a countrywide economic crisis plunged many of her pupils' parents into poverty. Judith came up with several income-generating schemes, and eventually hit upon the idea of weaving trendy bags and accessories from recycled sweet wrappers. The bags-hand-woven using ancient Nahua Indian techniques – have scored a hit in Mexican, US and European markets. Around 2000 products are sold under the 'Mitz' name – translation: "for you" – every month.

SCHOOL FOR SUCCESS
Ecole Paradis ded Indiens - HAITI
The Paradis des Indiens project began as a one-room school in the small fishing village of Les Abricots. Canadian expatriate Michaelle de Verteuil set up the school especially for children whose families couldn’t afford uniforms and shoes – without which they were unable to attend Haiti’s ordinary schools. More than 30 years later and Paradis de Indiens has expanded into a multi-faceted development programme. Poverty reduction activities include beekeeping, embroidery, woodworking and fruit-drying schemes. Environmental efforts are focused on reforestation – a key priority for tree-stripped Haiti. The project also runs a microfinance scheme to foster local businesses and lift individual families out of poverty. However, Paradis des Indiens has not neglected its ‘core business’ – ten small schools now run under its name, each with around 150 students.

PEACE WOODS
Maderas Para La Paz - COLOMBIA
The Peace Woods timber company was set up by eight ex-combatants to provide a decent living for themselves and others like them. By keeping former militiamen out of trouble; by offering a way out for those still involved in Colombia’s various militias; and by uniting one-time enemies under the same banner, the company can genuinely claim to be furthering the cause of peace in Colombia. Peace Woods specialises in kiln-dried timber and parts for wooden furniture. The wood is sustainably harvested in strict conformance with international Forest Stewardship Council environmental standards, making Peace Woods a force for environmental as well as social good.

POTATO GOLDMINE
T'ikapapa - PERU
The farmers of Peru’s high Andes are among the poorest in the country, with average incomes of under US $1 per day. Yet these farmers are sitting on something of a goldmine, for the region is home to some 3000 varieties of potato. These native strains bear little resemblance to the familiar staple of Western diets – many are brightly coloured (inside and out) and strangely shaped, as well as vitamin-packed and organically grown. T’ikapapa was set up to bridge the gap between the Andean farmers and the potato market, allowing them to see the benefit of their premium goods. The project’s ‘participatory market chain approach’ is now being applied to potato chips and other value-added products.

OUT OF THE FOREST
Brasmazon and Coopemaflima - BRAZIL
Marajo Island in the Amazon is totally surrounded by fresh water – the largest such island in the world. The 200,000 people who live there are blessed with abundant fish during the ‘dry season’. But during the other half of the year, when the fish migrate elsewhere, the population suffers. This same ‘rainy season’ is also the cue for the Andiroba tree to deposit its water-born seeds. Vast numbers of these seeds are carried downriver every year. Many fetch up on the beaches of Marajo. Until recently the seeds were seen as nothing more than an annoyance. But Brazilian company Brasmazon saw an opportunity to turn them into an alternative income source. They helped to establish a cooperative to collect the seeds and extract their oil for sale to the cosmetics industry. Brasmazon now buys around 500 tonnes of seeds from the cooperative every year, benefiting around 1000 islanders.

http://www.theworldchallenge.co.uk/

Wednesday, June 13, 2007

Friday, June 01, 2007

La Dolce Vita


Estou na Itália a semana que vem...

Volto dia 12/06...Dia dos namorados! A foto é em homenagem à Itália e aos namorados....