Sunday, May 18, 2008

Lobão e a síntese filosófica do Lulo-petismo

Tantos analistas políticos e intelectuais estudando o lulismo e suas picaretagens, e quem acerta na mosca é Lobão. Sua camiseta é a síntese da filosofia vigente no Partido:

"Peidei, mas não fui eu"

Créditos a Reinaldo Azevedo que fez a associação. E do Blog do Noblat vem a coletânea abaixo, bem pertinente:

Nega a defesa de José Aparecido Nunes Pires, ex-chefe da Secretaria de Controle Interno da Casa Civil, que ele tenha remetido "de forma consciente" o dossiê sobre despesas sigilosas do governo Fernando Henrique Cardoso para André Fernandes, assessor do senador Álvaro Dias (PSDB-PR). Deve ter sido por engano, descuido ou distração, pois. Nada demais.
Relembre mentiras e desculpas canhestras recentes que se tornaram famosas:

"Eu não pedi dinheiro nenhum. Eu peguei o dinheiro e guardei”. (Maurício Marinho, ex-chefe de departamento dos Correios, filmado recebendo de um empresário propina de R$ 3 mil.)

"Minha assessora esteve no Brasília Shopping para ir ao neurologista”. (Ex-deputado Paulo Rocha, do PT paraense, ao justificar saques de R$ 620 mil das contas do publicitário Marcos Valério, um dos cérebros do mensalão, feitos por uma assessora dele na agência do Banco Rural no Brasília Shopping. Na época, Rocha renunciou ao mandato para escapar da cassação. Foi reeleito.)

"Tenho certeza absoluta de que não existe esse cheque, a não ser que ele seja um artista muito grande e que tenha produzido esse cheque". (Severino Cavalcanti, ex-presidente da Câmara dos Deputados, dois dias antes de aparecer o cheque no valor de R$ 7,5 mil com o qual o empresário Sebastião Buani pagou o cartão de crédito dele. Severino renunciou ao mandato. Tentou se reeleger e não conseguiu. Lula disse recentemente que ele foi uma vítima das elites.)

"Tinha tomado umas caninhas. Minha capacidade de discernimento estava baixa”. (Vladimir Poleto, ex-assessor de Palocci, ao negar entrevista que deu à VEJA sobre dólares cubanos escoltados por ele e entregues a Delúbio Soares para a campanha de Lula.)

"Não o conheço. Estive com ele duas vezes e o cumprimentei sem saber quem era”. (Antonio Palocci sobre Vladimir Poleto, que dirigiu mais de uma vez o carro que o levou à alegre mansão alugada em Brasília pela turma da República de Ribeirão - ex-assessores de Paloocci na prefeitura daquela cidade.)

"Sobre essa entrevista, eu não sei mais onde está a verdade. Não sei o que é verdade no que falei. Não sei mais de onde tirei isso". (Sílvio Pereira, ex-secretário-geral do PT, a respeito da entrevista gravada de oito horas que concedeu ao jornal O Globo.)

"Ao que eu saiba, não sei". (Vladimir Poletto, ex-assessor do ex-ministro Antônio Palocci, em depoimento na CPI dos Correios.)

"Eu não sabia, fui traído". (Lula, sobre o mensalão)

Saturday, May 17, 2008

Tragédias


O sujeito já tem o azar desgraçado de nascer na China ou no Mianmá e viver sob uma ditadura braba. Agora ainda por cima vem um ciclone ou um terremoto e mata aí uns cinquenta mil de um lado e mais uns doze mil de outro. É muito azar mesmo.
Uma amiga escreveu aqui uma vez, quando comentei sobre um ciclone em Bangladesh que isso só prova que Deus não existe, ou se existe é ruim que só.

Será verdade?
Eu acho que seja na China ou na Suíça, estamos todos sujeitos a uma desgraça ou outra. Faz parte da natureza do universo em que vivemos. Há uma razão para isso?
Eu acredito que sim. Não sei qual é, mas pelo menos por acreditar nisso acho que nossa compaixão pelos que sofrem não será em vão.

Revolução Verde, de novo!


O mundo inteiro fala de uma crise de alimentos. Impulsionados pela alta de consumo nos países emergentes, os preços de commodities agrícolas vão de vento em popa.
Agora observe atentamente este slide. É parte de uma palestra feita em 2004 na Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" pelo Professor Norman Borlaug, prêmio Nobel da Paz de 1970. Boulag é um dos pais da chamada revolução verde, que com o uso de melhoramento genético, fertilizantes, defensivos e técnicas agronômicas conseguiu triplicar a produção de grãos no mundo poupando 1.1 bilhão de hectares de terra. Entre 1950 e 2000, a população mundial passou de 2.5 bilhões para 6 bilhões de pessoas.
Quando alguém lhe falar sobre as virtudes da agricultura familiar, ou sobre como só deveríamos comer produtos orgânicos, boicotar transgênicos, ou viver só de frutas que a natureza nos dá, mostre este slide. E peça que imaginem quantas pessoas teriam morrido de fome ou quantas florestas teriam desaparecido nos últimos 50 anos se esses conselhos fossem seguidos.
O Brasil tem o potencial para ser o principal fornecedor mundial de produtos agrícolas.
Mas o campo, mais do que nunca, deve se tornar uma máquina altamente eficiente de produzir. Para o bem da humanidade, para o bem do planeta.

Quotas não!


O Supremo Tribunal Federal está julgando a constitucionalidade das quotas raciais nas universidades brasileiras, uma imbecilidade que teve seu berço na UnB de Timothy Mulholland. É incrível que um país miscigenado como o Brasil tenha que discutir quotas em pleno século XXI, quando mesmo os EUA estão abandonando suas políticas de ação afirmativa por serem completamente ineficazes.
As patrulhas dos movimentos pró racismo estão metralhando estatísticas a torto e a direito por aí. Eles só esquecem, convenientemente, de informar a população que eles contam os pardos como negros em suas estatísticas mas que somente os negros mesmo (6% da população) é que vão usufruir dos eventuais benefícios conseguidos com as quotas.
E as quotas dos índios, dos gays, dos torcedores do Guarani, dos baixinhos?
Como diz o Reinaldo Azevedo, coitado mesmo é do homem católico, branco e heterossexual. Esse não tem mesmo nenhuma ONG que o proteja.
Há algumas semanas a Vogue americana causou escândalo por causa dessa foto do astro do basquete Lebron James com Gisele Bündchen. Movimentos negros o viram como uma representação do gorila gigante King Kong e foram lá defender Lebron e atacar a revista.
O sempre excelente João Pereira Coutinho falando sobre o assunto dissecou a natureza das patrulhas politicamente corretas: "É assim que a pessoa X ou Y, que tem nome, rosto e identidade singular, deixa de ser a pessoa X ou Y. Passa a pertencer a um grupo geral - os negros, os homossexuais, as lésbicas - uma forma sinistra de dissolução identitária. Lamento. As pessoas valem como pessoas. Não valem como parte de uma manada...Para as patrulhas, um negro não pensa; pensam elas por ele."
Apartheid não! Abaixo a ditadura das minorias organizadas!

K.I.S.S.


Eu me lembro que há uns dez ou doze anos atrás (nem é tanto tempo assim ou estou ficando velho mesmo?), era dureza ter um telefone em casa. Havia filas de espera por uma linha. As linhas de telefone fixo eram compradas e vendidas a preços exorbitantes. Quem não podia comprar alugava. Alugar um telefone, quem diria. Hoje qualquer guri anda de celular no bolso. Celular naquele tempo era um tijolo desajeitado cuja única função era a de ser exibido em público. Diziam os despeitados "celular e celulite todo bundão tem".
Felizmente veio a privatização, e finalmente as telecomunicações se tornaram acessíveis para a maioria da população.
Eu sei que tudo isso é muito bom, está tudo muito bem, capitalismo e mercado livre conferem mais liberdade de escolha às pessoas etc e tal. O problema é que nenhuma outra escolha nesse Brasil pós privatizações se tornou tão irritante quanto o de operadoras de telefonia móvel.
E não estou falando só dos aparelhos não, cada um com suas mil funções, foto, filmadora, mp3, blue tooth (que a moça da loja pronuncia blutuf) e o raio que o parta. Eu cheguei lá e pedi um telefone que fizesse e recebesse chamadas. Existe?
O pior de tudo são os mil planos com bônus e promoções que cada operadora oferece.
É mais ou menos assim:
"Olha, você pode ligar 60 minutos de graça para um telefone fixo ou um celular dessa operadora mas só se você ligar daqui do estado. Se passar você paga 70 centavos por minuto ligando para a mesma operadora ou 80 ligando para outra, mas se você por uma recarga agora ganha um bônus de dez vezes mais para ligar para seus números preferidos, e você pode comprar esse plano supimpa que te dá mais 60 minutos por mês de graça mas só para telefones fixos..."
É como o sujeito que liga na pizzaria e pede meia calabresa, 1/4 portuguesa e 1/4 margherita com borda recheada só em meia pizza e anchova só do lado esquerdo.
Se há uma coisa que essas operadoras deveriam aprender a usar é outro moderno princípio do mundo dos negócios chamado K.I.S.S.: Keep It Simple Stupid!
Of course estou reclamando de barriga cheia. Daqui a pouco os petistas reestatizam a telefonia (já começaram!) e aí acabou-se. Vamos ter que alugar telefones de novo.

Thursday, May 15, 2008

Avanti!


Por muito tempo procurei este filmeco que assisti há algum tempo atrás. Hoje por coincidência, um amigo também ítalo-brasileiro o enviou para mim.
O filme compara europeus e italianos em questões como tráfego, eleições ou um simples coffee break.
É algo injusto com os italianos, na verdade todos os países do sul da Europa se encaixam no perfil italiano. É uma caricatura da latinidade.
E nós, brasileiros, herdamos tudo isso deles...
Vale a pena dar risada:

Parreira


Por falar em aeroporto encontrei o Parreira na fila da Polícia Federal em Guarulhos.
Ali estava ele, vindo do México e nervoso com a fila, com medo de perder o avião para o Rio.
Na parede da minha saudosa rapública estudantil havia pendurada uma cabeça imensa de um búfalo. Aquele búfalo foi estúpido o suficiente para morrer de uma cabeçada mal dada.
Por isso, naqueles tempos da Copa de 94, o batizamos de Parreira. Nossa televisão só funcionava em tons de verde e cada vez que uma mobilete passava na rua a estática distorcia toda a imagem. Isso porque Piracicaba é provavelmente a cidade com mais mobiletes do Brasil.
Mas o problema da Copa de 94 não foi minha televisão, foi ter que assitir a seleção de Parreira e Dunga jogando o futebol mais feio já visto do lado de baixo do Equador.
Parreira foi o homem que me fez desgostar de futebol. A vitória nos pênaltis em 94 teve um gosto de derrota, de futebol ruim, sem graça. E em 2006 então, lá estava eu feito um palhaço pintado de verde e amarelo nas ruas de Frankfurt vendo Thierry Henri marcar um gol enquanto Roberto Carlos amarrava sua chuteira e Ronaldinho chamava um táxi para ir da zaga ao ataque.
Pensei em dar uma caçuleta no Parreira na fila e lhe contar a história do búfalo cabeçudo, mas deixei para lá. Operação tartaruga da Federal no aeroporto já é punição que ninguém merece, nem ele.

Aeroportos

Tenho andado muito por aeroportos ultimamente. Bem mais do que eu gostaria. E alguns mistérios desse mundo de malas e aviões permanecem insolúveis para mim:

-Porque todos os aeroportos do mundo estão sempre em obras?
-Porque a sua mala nunca é a primeira a aparecer na esteira?
-Porque tem sempre uma mala sem dono rodando na esteira enquanto você se impacienta porque a sua não chega?
-Porque um avião nunca sai no horário previsto?
-Porque a poltrona tem que estar na posição vertical na hora do pouso ou da decolagem?
-Porque as pessoas sempre se levantam para pegar malas quando o avião pousou mas ainda não parou se sabem que a aeromoça vai dar pito?
-Porque um cafezinho custa cinco mangos?
-Como eles esperam que você cometa um atentado terrorista com um vidro de shampoo? Eles acham que você é o MacGyver?
-Porque a chance de uma loira bonita sentar ao seu lado no avião é 200 vezes menor do que a chance de um gordo sem banho ou uma velha faladeira sentarem ao seu lado?
-Cadê minha mala?

Mônica Salmaso


E porque nem só de sertanejo vive o homem, este é meu mais novo achado e minha sugestão do mês.
O cd Iaiá lançado pela Biscoito fino traz Mônica Salmaso, cantando com sua voz única sambas e chorinhos do Rio e de São Paulo, acompanhada de violão, bandolim, cavaquinho, pandeiro e flauta.
Mônica é considerada uma das melhores intérpretes da geração da MPB, e esse cd está à altura da sua reputação.
É realmente um prato cheio para quem gosta de música bem brasileira.

Trilha sonora


Voltei ao meu sertão, feliz feito sapo na lagoa. Quem fuçar meus arquivos sobre música encontrará vários posts sobre jazz, soul, rock, até ópera. Agora em Campo Grande escuto Victor & Leo, autores entre outros sucessos da canção abaixo.
Imagine que sua vida seja um filme, e que você precise de uma trilha sonora.
Eu não estou mais na Europa tomando vinho e olhando a neve da janela. Estou no Mato Grosso tomando pinga e tereré.
Como vou escutar Sinatra com a poeira na cara, no meio do mato, no sol de calça jeans e botina?
Não dá. Não que eu tenha abandonado Sinatra, Billy Holiday, Norah Jones e Diana Krall, ainda os tenho todos aqui ao meu lado, hoje e sempre.
Mas como um eclético admirador de música, tenho que voltar às origens e redescobrir meu lado caipira (nunca abandonado).
E a música sertaneja tem, para mim pelo menos, um lado engraçado e alegre no seu romantismo ingênuo, bem distante do horror do funk carioca, da agressividade do (aaargh) hip-hop paulistano e da fixação bundo-genital do axé.
Por isso eu ponho meu chapéu, monto na caminhonete e canto junto com o Victor e o Leo: "Fada, fada queriiiida...."
Qual é a trilha sonora da sua vida neste momento?

Wednesday, May 14, 2008

Vida Boa


Moro num lugar
Numa casinha inocente do sertão
De fogo baixo aceso no fogão
Fogão à lenha ai ai

Tenho tudo aqui
Umas vaquinha leiteira, um burro bão
Uma baixada, ribeira e um violão
E umas galinhas ai ai

Tenho no quintal
Uns pés de fruta e de flor
E no meu peito por amor
Plantei alguém, plantei alguém

Que vida boa ou ou ou
Que vida boa
Sapo caiu na lagoa
Sou eu no caminho do meu sertão

Vez e outra vou
Na venda do vilarejo pra comprar
Sal grosso, cravo e outras coisas que fartá
Marvada pinga ai ai

Pego meu burrão
Faço na estrada poeira levantar
Qualquer tristeza que for vai passar
Do mata-burro ai ai

Galopando vou
Depois da curva tem alguém
Que chamo sempre de meu bem
A me esperar, a me esperar

Que vida boa ou ou ou
Que vida boa
Sapo caiu na lagoa
Sou eu no caminho do meu sertão

Saturday, May 03, 2008

Fofoca neles


Ah, eu não sabia que meu marido escondia minha filha e a violentava todos os dias no porão da minha casa há 24 anos...
Ah, eu não sabia que meu vizinho era pedófilo e mantinha crianças no porão dele.
Ah, eu não sabia que meu filho comprava metralhadoras automáticas com cartão de crédito na internet e que estava planejando massacrar seus colegas de escola.
Todo mundo se espanta que esse tipo de barbaridade ocorra em países civilizados como a Áustria, a Bélgica ou os Estados Unidos.
Eu não me espanto não. A mentalidade anglo-saxônica normalmente tem ojeriza à invasão de privacidade.
Os pais americanos normalmente não tem o direito de remexer o quarto do filho, assim como um austríaco ou um belga dificilmente vai especular a vida do vizinho.
A nossa boa e velha latinidade tem algo de bom. Aqui não tem essa não, o bom mesmo é fofocar e especular sobre a vida alheia.
As Mirtes e Lourdes do bairro deveriam dar umas aulas no primeiro mundo sobre fofoca, quem sabe alguns crimes não seriam evitados...

Brasil Holanda


Estou de volta à Holanda. Temporariamente. É bom rever os amigos, mas é uma sensação estranha caminhar pelas ruas de Leiden e Den Haag, e voltar ao trabalho aqui quando pensei que esta página já estava virada.
Enfim, pelo menos agora tenho certeza das minhas escolhas.
O sol começa a aparecer na Holanda. Fui na feira hoje, os holandeses passeim de barco pelos canais, ou de bicicleta nas ruas. Tomam seus cafés.
Tenho a impressão que aqui minha vida continuaria igual até o fim.
Aqui tudo parece estar feito. No Brasil, muito está ainda por fazer.
No Brasil eu vejo possibilidades. A Standard&Poor's também, já que acaba de conferir um investment grade ao país.
O mundo inteiro fala de crise alimentar e energética e se pergunta como dar comida a 6 bilhões de pessoas. O Brasil tem ainda uma enorme quantidade de terras aráveis livres para serem usadas na produção de alimentos e de etanol (e isso sem tocar em nenhuma árvore da Amazônia). Temos ainda um mar de petróleo no fundo do oceano que uma hora ou outra será explorado.
Há muitos brasileiros que parecem não acreditar no Brasil. Não se pode culpá-los, com a enxurrada de lama que escorre das páginas dos jornais todos os dias. Mas se esquecem de quanta experiência nos falta.
Eu penso nas pedras dos muros dessas casas holandesas, que já estavam aqui muito antes que o Brasil sequer existisse. E em quanto trabalho temos ainda pela frente.