Thursday, December 28, 2006

Feliz 2007!!!


Este quadro, "Le Nouveau Né" (O recém nascido) é de Georges de La Tour, um dos meus favoritos. De La Tour nasceu em 1641 na Lorena francesa. Seguindo a influência de Caravaggio, ele aprimorou a técnica do chiaroscuro, para jogar com a luz e a sombra na tela de forma espetacular.
Apesar de não conter nenhuma referência religiosa, a imagem do recém nascido desperta em nós imediatamente um sentimento de espiritualidade.
Pus aqui o quadro para simbolizar o Ano Novo que vai nascer e desejar a todos um excelente 2007.
É no indivíduo que repousa o limite entre a civilização e a barbárie. Cuide dos seus atos, faça com que você pessoalmente aja com moral e com ética e o mundo será melhor.

Choque de civilizações


Como vocês sabem eu estou de férias no Brasil. Moro na Europa desde 99 e pelo menos uma vez por ano tenho que vir para cá recarregar as baterias. Nem tive tempo de ver que o blog virou destaque na Gazeta dos Blogueiros e no Links e Sites. Meus sinceros agradecimentos a todos e minhas desculpas aos que enviaram comentários que eu (ainda) não respondi. Logo que eu voltar para a paz e a tranquilidade de casa na Holanda prometo voltarei com a programação normal.
Quem passa muito tempo fora do Brasil e volta entende o que vou dizer. Quando regressamos assim depois de um ano longe acabamos vendo as coisas de um jeito diferente. Algumas coisas que não chocavam antes hoje já saltam aos nossos olhos. Para começar a própria visão da cidade de São Paulo do avião já é um choque. Aquela monstruosidade de concreto se espalhando como um câncer na mata Atlântica é inconcebível. A Grande São Paulo tem mais habitantes do que a Holanda. E o trânsito de São Paulo, seja sob um sol de rachar ou seja sob a chuva tropical? E os motoboys passando feito loucos entre carros e caminhões? Ambulantes vestidos de Papai Noel no semáforo quando faz 40°C lá fora...
Outra coisa que choca são as grades, os cacos de vidro no muro, as cercas elétricas, as travas, correntes e cadeados. Algo que não percebemos aqui, mas as nossas próprias casas estão se transformando em presídios. Lembro da música do Rappa (que soa melhor cantada pela Maria Rita): qual a paz que eu não quero conservar pra tentar ser feliz...
E como brasileiro adora comer. Em dez dias eu tenho a impressão de nunca ter saído da mesa. Aliás desci do avião e fui parar direto num rodízio às dez e meia da noite. Me sinto um daqueles gansos de foie gras enquanto a balança indica que caminho vertiginosamente para os três dígitos de peso e o único músculo do meu corpo a se exercitar é o panceps, também conhecido como músculo brahma. Mas especialmente neste período tudo é festa. Uma russa que por acaso veio cair de pára quedas na festa da minha família disse que nunca viu nada igual na vida dela. Absolutamente extraordinário ela me confessou. As promessas de dieta vão para o ano que vem com todas as outras.
Mas o que choca mesmo, o que continua chocando cada vez mais os estrangeiros e visitantes como eu é a enorme diferença entre a riqueza e a pobreza no Brasil, diferença essa contra a qual os brasileiros estão cada vez mais anestesiados. Durante essas férias passei pelo Shopping Center de Higienópolis em São Paulo e visitei uma casinha popular na periferia de Catanduva. É inimaginável, ainda mais para alguém que conhece o Estado de bem-estar social holandês que estes dois cenários pertençam ao mesmo país.
Alguém imaginaria que o governo Lula daria um jeito nisso. Mas é absurda a solução que o governo do PT e seus brilhantes economistas nos estão propondo.
O PT quer que a renda seja melhor distribuída e que a sociedade fique mais igualitária. Em vez de fazer a economia crescer damos esmola aos pobres e empobrecemos a classe média. Estatisticamente será uma maravilha, em vez de sermos como a Holanda onde todos são ricos seremos todos igualmente pobres (menos os banqueiros que adoram o governo Lula), como são Cuba, a Bolívia e o Paraguai, países onde a distribuição de renda é melhor do que a do Brasil.
Mas é Natal, os vendedores solícitos jogam a loja aos seus pés, naquela falsa cortesia de quem deseja desesperadamente o dinheiro da comissão (na Holanda você precisa implorar para ser atendido). E o povo compra pagando juros escorchantes em cinquenta prestações, e a porcaria do móvel ou do eletrodoméstico que eles podem pagar estará quebrado e sem garantia antes que acabe o crediário. E o pior é que esse “pobrismo” dos nossos dirigentes que contamina a política econômica acaba contaminando todo o resto. O que nós brasileiros vemos, lemos, compramos, comemos, vestimos, construímos será cada vez mais barato, mais vulgar, mais feio. O perigo é que isso acabe contaminando também nossas cabeças. E já está. Leiam a coluna do Mainardi na Veja desta semana. Essencial.

Thursday, December 14, 2006

Feliz Natal!!!

Música



http://www.youtube.com/watch?v=1MxtxBWY7_o

Pinochet


Esta famosa foto foi tirada logo após o golpe militar no Chile em 1973 no estádio de Santiago, transformado em centro de repressão do regime. O rosto do jovem preso, enquadrado pelos soldados e suas armas, mostra a tristeza e o medo de um momento que seria só o começo da ditadura que até hoje divide o Chile.
Lembro de ler as memórias de Isabel Allende em seu belo e triste livro “Paula”. Li “Confesso que Vivi” de Neruda. E vibrei quando Baltasar Garzón fez prender Pinochet enquanto este estava em visita na Inglaterra.
Pinochet fez desaparecer milhares de pessoas durante a sua ditadura. Ao lado dele os militares brasileiros têm jeito de velhinhos aposentados. Além de ser um canalha e um facínora, Pinochet revelou-se um grande ladrão como comprovam as investigações que encontraram suas contas secretas no exterior com mais de 17 milhões de dólares.
Em um artigo na Folha de S. Paulo, o prefeito Cesar Maia desconstrói também o mito de que o regime de Pinochet teria salvado o Chile e lançado o país no caminho do progresso econômico. Mentira. O Chile esteve no buraco durante 12 anos dos 17 da ditadura do General. Entre 72 e 83 a economia do Chile decresceu -1,1% por ano. Segundo Maia, os últimos cinco anos do governo de Pinochet foram salvos da ruína por um brilhante economista chamado Hernán Buchi. E pra quem estava no buraco, mostrar crescimento é fácil.
Mas nem a melhor economia do mundo poderia justificar uma ditadura tão cruel como foi a chilena. A ditadura, qualquer que seja ela é contrária ao espírito humano. Seja de direita ou seja a ditadura esquerdista de um Fidel ou de um Kim Jong Il, ou a proto ditadura de Chavez, é o dever de qualquer cidadão no mundo combatê-la onde quer que ela esteja.

Sunday, December 10, 2006

E por falar naquela música


Aqui vai outra:

The Way You Look Tonight

Some day, when I'm awfully low
When the world is cold
I will feel a glow just thinking of you
And the way look tonight

You're so lovely, with your smile so warm
And your cheeks so soft
There is nothing for me but to love you
And the way you look tonight

With each word your tenderness grows
Tearing my fears apart
And that laugh that wrinkles your nose
Touches my foolish heart

Yes you're lovely, never ever change
Keep that breathless charm
Won't you please arrange it?
'Cause I love you
Just the way you look tonight

With each word your tenderness grows
Tearing my fears apart
And that laugh that wrinkles your nose
Touches my foolish heart

Yes you're lovely, never ever change
Keep that breathless charm
Won't you please arrange it?
'Cause I love you
Just the way you look tonight
Just the way you look tonight
Darling
Just the way you look tonight

Despedidas


Volto em janeiro.
Vou me despedir de quem me lê, mas tentarei passar para dar um alô um dia desses.
Li um texto que dizia que o poder pessoal de cada um não vem do que você ostenta, possui ou mostra. Vem do efeito que se causa no outro.
Nossa experiência de vida é formada pelas inúmeras interações que vivemos com outras pessoas. Ninguém vive só. Algumas pessoas vão te modificar em maior ou menor intensidade, mas pode-se dizer que sua vida nunca mais será a mesma depois que você falou com aquela pessoa naquele dia.
Gosto de pensar que quem me lê será diferente depois de ter lido, como eu me modifico ao ler ou ouvir o que os outros escrevem ou dizem. Por isso tento escrever coisas boas. E ler coisas boas. Boas experiências, só podem te fazer melhor do que você já é.
E por isso sentimos tanto quando nos despedimos de quem gostamos, significa que teremos menos oportunidades de interagir com aquela pessoa. Como diz aquela música: “Every time you say good bye, I die a little”.
Felizmente a internet está aqui para ajudar.

Calor humano


Estou me preparando para as férias no Brasil. Já faz um ano que eu fui.
Preciso pegar o avião aqui sem que minha pasta de dente seja confundida com algum explosivo plástico, depois veremos se nenhum louco irá nos sequestrar, aí chegaremos em Guarulhos rezando para que as horas de espera sejam poucas e se tudo der certo pediremos permissão ao PCC para atravessar São Paulo.
O clima aqui na Holanda anda todo atrasado, o outono chegou agora, com chuva, vento e frio de 10°. Essa época no ano passado fazia -3°, e a neve e o gelo cobriam meu carro todas as manhãs. Não ligo para isso, até gosto do frio, da chuva, do gelo, do escuro do dia que acaba às17h00. Não dou a mínima para o sol tropical. Mas há outro tipo de calor do qual sentimos falta.
Fim de semana passado fomos comemorar um Natal antecipado com amigos. Grande parte brasileiras casadas com gringos. Enchi a cara e terminei a noite imitando Roberto Carlos enquanto uma outra amiga se fazia de Xuxa e as outras cantavam Entre Tapas e Beijos e outros “hits” dos anos 80. Algo que só brasileiros conseguem.
Um parêntese. Li na Veja que as mulheres brasileiras bonitas e bem de vida tem dificuldade de encontrar marido. Li a excelente crônica do Jabor desta semana falando da “mulher de mercado”. Aqui estão minhas amigas para provar, os homens brasileiros não sabem o que estão perdendo ao comportarem-se como cafajestes, machistas, misóginos e egoístas. Nossas melhores mulheres estão fugindo de nós.
É por isso que apesar de conhecermos várias brasileiras casadas com holandeses, o contrário é extremamente raro. Uma holandesa, com um século de feminismo nas costas, jamais cairá na conversa de homens brasileiros. Fim do parêntese.
Mas o ponto é que brasileiros expatriados nestas terras frias costumam se juntar só para sentir esse calor humano. Esse contato fácil, essa conversa exagerada e divertida, esse riso que não se prende.
Os holandeses só se soltam assim sob efeito de álcool. Um amigo sueco comentou que se na Suécia não houvesse álcool o país não iria se reproduzir.
Brasileiro, e especialmente brasileiras juntas são assim naturalmente.
Nada de goiabada, farinha, carne seca, requeijão. É do calor humano que sinto mais falta por aqui.

A Filha do Capitão


O jornalista e autor José Rodrigues dos Santos me foi apresentado, literariamente, por um amigo português. Codex 632, seu primeiro romance virou best-seller em Portugal.
A Filha do Capitão é seu segundo romance, e um belo livro.
A história conta como Afonso Brandão, um capitão do Corpo Expedicionário Português encontra e se apaixona por Agnès Chevallier, uma bela francesa em Flandres durante a Primeira Guerra Mundial. É uma história de amor recheada de pequenas e divertidas surpresas, com as descrições da vida no interior de Portugal e em Lisboa no início do século, o fim da Monarquia e o início da República, as origens dos clubes de futebol em Portugal, a vida dos soldados nas trincheiras e discussões filosóficas sobre o sentido daquela tragédia.
Afonso verá seu amor ser posto à prova quando os alemães decidem lançar uma ofensiva no setor onde estão instaladas suas tropas. O pano de fundo do seu romance será a trágica participação portuguesa na Grande Guerra.
Uma obra-prima, rica de informações e de poesia, delicioso de se ler.

Perfume


Eu não li o livro de Patrick Süskind, mas gostei do filme de Tom Tykwer. Posso imaginar que o livro contenha muito mais detalhes do que o filme, mas mesmo assim a recriação de Paris do século 18 é muito bem feita, a fotografia e as cenas na Provence maravilhosas, e a atuação de Ben Whishaw, quase sem falas, eficiente. A música é belíssima. Só faltou o cheiro.
Perfume é a história de Jean Baptiste Grenouille, um jovem nascido no bairro mais miséravel de Paris que cresce em meio à brutalidade e à indiferença alheia. Jean Baptiste no entanto tem o dom de um olfato excepcional, e é pelo olfato que ele se guia e vive no seu mundo. Ao conseguir entrar no mundo dos perfumes, a obsessão de Jean Baptiste será criar um perfume com o cheiro que mais lhe marcou na vida, o cheiro de uma jovem dama. Sem saber ele acaba criando um perfume capaz de controlar o amor da humanidade, sendo que ele mesmo continua incapaz de amar ou ser amado.
O filme faz pensar nas sensações que o cheiro nos provoca.
Quem nunca sentiu o cheiro de uma cabeça molhada de shampoo encostando no seu ombro? Ou o cheiro daquela moça que passou e que provavelmente você nunca mais verá na vida, mas se lembrará daquele perfume? Tem aguma coisa mais inebriante do que o cheiro da pessoa de quem se gosta? Feche os olhos, respire.

Steve McCurry


Uma amiga me mandou este link fantástico.

http://www.stevemccurry.com

Steve McCurry é um dos fotógrafos mais premiados e prestigiados hoje no mundo. Suas fotos são plenas de cor, vida e humanidade. Sua carreira deslanchou em 1984 quando Steve cobriu o drama dos refugiados afegãos fugindo da guerra entre soviéticos e o Taliban. Foi naquela época que Steve fez uma foto memorável, publicada na capa da National Geographic, de uma linda garota afegã de olhos penetrantes, de nome Sharbat Gula. Ambos os pais de Sharbat tinha sido mortos em um bombardeio soviético. Dezessete anos depois ele fotografaria a mesma garota, já com uma família e deixando o campo de refugiados. Apenas uma história no meio de tantas outras fotografadas com tanta beleza pelas lentes de Steve McCurry.

Saturday, December 09, 2006

Bond, James Bond


- Martini
- Shaken or stirred Sir?
- Do I look like I give a damn?
Fui assistir Casino Royale de Martin Campbell, com Daniel Craig no papel de 007.
O diálogo acima dá uma idéia do tom do novo Bond.
Esqueça Sean Connery brigando com o cabelo arrumado e o smoking impecável. O Bond de Daniel Craig rola pelo chão, estrangula os inimigos com os braços, se arrebenta inteiro e volta com a camisa cheia de sangue.
Ele é feio, bombado de academia, grosso e arrogante. Mas funciona. Sem carros invisíveis, óculos de raios X ou outros brinquedos, Craig só usa os punhos e sua Whalter (promovida a P99) para acabar com a raça dos inimigos.
Será um sinal dos tempos? A elegância não terá mais lugar nem na alta espionagem? Até James Bond estará se tornando um bruto para não perder fãs?
Mesmo assim, mostrando que os brutos também amam, 007 se dispõe até a pedir demissão pela Bond girl da vez, esta sim deslumbrante. A francesa Eva Green apareceu em Dreamers de Bernardo Bertolucci e foi a rainha Sybilla no Kingdom of Heaven de Ridley Scott. Como Vesper Lynd ela arrasa em Casino Royale, está mais bela do que nunca. Qualquer um pediria demissão por ela.
O filme é excelente. Eva Green é demais. Mas James Bond não é mais o mesmo. Perdeu a classe, ganhou em truculência. Deve ser a influência de George Bush na política britânica. Como diz M. no filme: God, I miss the Cold War...

Uma tragédia e duas vergonhas


O Darfour, uma região pobre e árida na parte ocidental do Sudão, está há mais de 3 anos envolvida em um conflito armado entre guerrilhas Janjaweed e tribos de outras etnias locais, Fur, Zaghawa e Massaleit. Tanto os Janjaweed como as outras etnias envolvidas são muçulmanas. A diferença é que os Janjaweed são armados e sustentados pelo governo central de Khartoum.
Estima-se que a campanha de limpeza étnica dos Janjaweed tenha matado perto de 400.000 pessoas e expulso de suas terras outros 2,5 milhões de pessoas.
São quase três milhões de vidas afetadas pela morte, guerra, fome, doenças. Um apocalipse, um genocídio em pleno século XXI.
Na terça feira passada houve uma votação no Conselho de Direitos Humanos da ONU para obrigar o Sudão a encontrar e julgar os responsáveis pelo massacre. A resolução foi derrotada por 22 votos a 20, com quatro abstenções. O governo brasileiros foi um dos que se abstiveram, para alegria dos sudaneses. É que o Brasil precisa do apoio do Sudão para ganhar uma cadeira no Conselho de Segurança. Mais uma realização do governo de Luís Inácio e da diplomacia porca de Celso Amorim. Uma vergonha.
A segunda vergonha é a dos governos árabes. Sempre que se atenta contra a vida ou contra a moral islâmica na Europa, nos EUA ou em Israel, o Oriente Médio se levanta em uníssono para protestar. Quando há muçulmanos matando muçulmanos, como durante a guerra Irã Iraque, como no Iraque hoje, e como no Sudão, eles se calam.
O silêncio dos governantes árabes foi denunciado esta semana por um documento assinado por 140 intelectuais do mundo árabe. Finalmente.

Emanuelle


Emanuelle Béart, uma de minhas musas no cinema francês deu entrevista à Nouvel Observateur depois de deixar o trabalho de embaixadora da Unicef.
O repórter pergunta como é passar do mundo das “paillettes”ao mundo da grande tristeza (dos acampamentos de refugiados).
Emanuelle responde: "É preciso parar com essa palavra “paillettes”. Não estamos mais nos anos 50. As atrizes não estão mais no pedicure todas as manhãs, e não fazem escovas que duram o dia todo. Não é porque subimos as escadarias de Cannes uma vez por ano com vestidos de algum grande estilista que vivemos em um mundo de “paillettes”. Eu, minha profissão é me levantar às seis da manhã para ir para a gravação, criar meus filhos, fazer minhas compras. É verdade que eu vivo em um país de liberdade, um dos mais ricos do mundo, mas ainda onde 7 milhões de pessoas vivem na pobreza e onde milhares não conseguem se alojar. Privilegiada em um país privilegiado, se fechamos os olhos à miséria do mundo, é o inferno."

Sinterklaas


Sempre me perguntei o que fazia o Papai Noel no Brasil com aquela roupa de esquimó em um verão de 40°. Aqueles shopping centers todos decorados de neve e pinheiros também me parecem completamente deslocados no Brasil.
A Holanda ao contrário tem uma das tradições mais memoráveis de Natal.
O dia 6 de Dezembro é dia de São Nicolau no calendário católico. São Nicolau em holandês é Sint Niklaas, apelidado Sinterklaas. É ele quem traz os presentes das crianças, e na verdade é ele a origem da figura do Santa Claus, o Papai Noel americano.
O São Nicolau cristão é o santo patrono das crianças e dos marinheiros. No 6 de dezembro, dia do santo, os marinheiros holandeses iam todos à igreja rezar pelo protetor. Na volta compravam doces e lembranças para as crianças nas feiras das quermesses. Muito popular na Holanda e em Flandres, o Sinterklaas chega de navio da Espanha. Na verdade ele vinha da Turquia (São Nicolau era bispo na Turquia helênica), mas aparentemente achavam feio aqui contar às crianças que o Sinterklaas era turco. Ele distribui os presentes montado em um cavalo branco, que corre por cima dos telhados. As crianças colocam cenouras nos sapatos para o seu cavalo e ele deixa um presente no lugar. E vem acompanhado de um séquito de diabinhos escuros vestidos com roupas coloridas da Espanha do século XVII. Esses são chamados de Zwart Piet, e são os que levam as crianças más em sacos para a Espanha. Eles seriam escuros porque eram diabinhos tranformados em escravos. Agora acharam uma explicação mais politicamente correta para a cor dos Zwart Piets, eles seriam os que limpam as chaminés apra o Sinterklaas jogar os presentes.
Foi Martinho Lutero quem mudou a tradição católica de dar presentes no dia de S. Nicolau para a véspera de Natal. A medida que era para os protestantes evitarem festas da igreja Romana pegou também entre os católicos. Felizmente a Holanda conseguiu salvar essa rara peça de folclore.

Friday, December 01, 2006

Mais do mesmo

Já é dezembro, e o ano passou como uma rajada de balas. E mesmo assim parece que nada mudou.
Leio as notícias no Brasil, com as chuvas que voltaram matando no Rio e em São Paulo (Já não era tempo dos nossos governantes saberem que isso acontece todo ano?).
Vejo o PT atacando a imprensa, e os valores democráticos sendo lentamente esmagados pela bota vermelha.
Leio sobre as CPI’s engavetando-se, os deputados pedindo aumento para si mesmos enquanto os resto do país tenta sobreviver entre um salário de m…, tiroteios, notícias ruins e buracos na rua.
Vejo Lula, Nosso Guia Genial, reeleito por analfabetos, abraçando Chávez na Venezuela e Muamar Ghaddafi na Líbia.
Fico sabendo que se o crescimento do Brasil nos próximos 27 anos for igual ao dos últimos 27 anos a renda per capita dos brasileiros será menor do que a dos habitantes de Butão. Trocadilhos obscenos me vêem a mente quando penso no Butão e nos brasileiros, mas a tristeza não deixa.
É típico de brasileiro fazer graça da própria desgraça, mas tudo tem limite, e o meu limite é quando as coisas chegam no Butão.
Estou a 11.000km do Brasil, esperando o dia de voltar, mas ainda decidindo se quero voltar.
Me dirá meu filho um dia, pai, porque eu não nasci na Holanda ?
Vou passar o fim de semana fora, com amigos, comendo, bebendo, rindo, cantando e vivendo essas pequenas coisas que nos dão alento em meio ao caos.

Wednesday, November 29, 2006

3 bons filmes


Babel

O filme é de Alejandro Gonzalez Iñarritu, o mexicano diretor de Amores Perros e 21 Gramas e que recebeu a Palma de Melhor Direção em Cannes por este filme. Babel relata um acontecimento cujas consequências aproximam no filme três mundos diferentes: Tóquio, México e o Marrocos.
Um casal americano em crise, Brad Pitt e Cate Blanchett, ótimos, está fazendo turismo pelo Marrocos. A mulher é baleada por dois garotos que brincavam com uma arma comprada pelo pai, criador de cabras, para matar chacais. A arma foi comprada de outro marroquino que a ganhou de presente de um caçador japonês. A filha surda-muda do caçador japonês está em plena crise de adolescência em meio a uma metrópole. Enquanto isso a babá mexicana do casal americano resolve ir no casamento do filho no interior do México levando os filhos do casal.
O modo como as histórias se entrelaçam no entanto não é o mais importante do filme. O grande e emocionante feito deste filme é mostrar como a dor pode nascer da falta de comunicação, ou da dificuldade das pessoas em se fazer entender.
E esta dificuldade não nasce, como poderíamos imaginar, do fato de que normalmente são pessoas de mundos diferentes que não se entendem.
O personagem de Brad Pitt, americano, consegue mais compreensão para a sua tragédia do guia marroquino do que dos próprios colegas americanos de excursão. Nem mesmo com sua esposa ele consegue se fazer entender.
Assim como a japonesa surda e muda não consegue se fazer entender pelo pai (não por ser surda e muda), e não consegue entender o que o mundo quer dela.
Os dois irmãos marroquinos também não se entendem e não conseguem se fazer entender pela polícia e nem pelo pai.
As crianças americanas que viajam para o México visitam um mundo completamente diferente do seu se sentem em casa apesar disso. O único problema que terão será com os guardas americanos para atravessar a fronteira de volta.
Nós somos na maioria das vezes capazes de entender palavras, mas incapazes de decifrar seu significado, de perceber o sentimento por trás daquilo que o outro está dizendo. Quanta dor no mundo não nasce assim? Quanta gente ferimos sem saber com palavras?
E o pior é que só percebemos mesmo o que é importante quando a dor aparece, como Susan e Richard perceberam quando ela leva o tiro.


The Wind That Shakes the Barley

O título do filme vem de uma antiga balada irlandesa, cantada durante o enterro de um garoto assassinado por tropas inglesas.
A Irlanda tem uma das culturas mais ricas e uma das histórias mais trágicas da Europa, o que faz deste país um destino dos que mais gostei de visitar. Andei por Dublin, vi Trinity College e andei pelas margens do Liffey. Visitei os pubs de Limerick e cantei Dirty Old Town com os bêbados do bar. Conheci as fazendas de West Cork e do Donegal. Vi em Belfast os muros pintados, as casas de membros do IRA fechadas, os blindados britânicos patrulhando as ruas. Assisti In the Name of the Father e The Boxer, ambos excelentes filmes com Daniel Day Lewis.
Mas minha vontade de conhecer a Irlanda começou com o belíssimo livro Trinity, de Leon Uris, que conta a história da Irlanda desde a Grande Fome dos anos 1840 até o Levante da Páscoa de 1916 através da história de três famílias de grupos diferentes: uma de católicos do Donegal, outra de protestantes da classe industrial de Belfast e a terceira de nobres ingleses.
O filme de Ken Loach, The Wind that Shakes the Barley, começa durante a guerra Anglo-Irlandesa entre 1916 e 1920.
Depois da derrota no Levante da Páscoa, os irlandeses começam uma guerra de guerrilha inspirada dos boeres na África do Sul contra os soldados ingleses.
Dois irmãos, revoltados pelas humilhações impostas pelos ingleses se engajam na luta republicana e na formação do Exército Republicano Irlandês.
A luta culmina no Tratado de 1920 que cria o Irish Free State e deixa a Irlanda do Norte subordinada à coroa britânica. Enquanto uma parte dos republicanos acreditam, e o futuro lhes daria razão, que o tratado é um passo importante conquistado no caminho de uma República independente, a outra acredita que é mais uma artimanha inglesa e recusa-se a aceitá-lo. A Guerra Civil irlandesa começa opondo os dois irmãos que até então lutavam juntos. O filme é a tragédia do nascimento da República irlandesa. Mereceu a Palma de Ouro em Cannes este ano.


Darwin’s Nightmare

Nos anos 50, um peixe conhecido como perca do nilo foi introduzida no Lago Victoria, África Central. O peixe predador multiplicou-se e devastou as espécies nativas do lago. Deste desastre ecológico nasceu na Tanzânia uma florescente indústria de pesca às margens do lago.
Este documentário de Hubert Sauper sobre esta indústria foi indicado ao Oscar no ano passado (perdeu para a Marcha dos Pinguins). A história é contada através das observações de pilotos russos que estão ali para fazerem o frete aéreo dos filés frescos da perca para a Europa, onde são vendidos em supermercados.
Enquanto esperam a carga, os pilotos divertem-se com as prostitutas tanzanianas. Uma delas conta seus sonhos de educação e uma vida melhor a Sauper, que está sempre atrás das câmeras. Ela seria assassinada dias depois por um piloto australiano.
Sauper produz ainda imagens desesperadoras do dia a dia do lugar. Mostra os meninos de rua brigando por comida e queimando isopor para cheirar. Mostra um vigia de fábrica armado de arco e flecha desejando que alguma guerra chegue logo por ali. Mostra os donos das fábricas de filés de peixe queixando-se do negócio. Mostra os mortos pela Aids e o padre recomendando a não usar camisinha porque é pecado. Mostra governantes locais ignorando a ameaça ecológica que paira sobre o lago Victória, onde as percas por falta de opção passaram a devorar os próprios filhotes.
Pior do que tudo isso, mostra como as espinhas e cabeças de peixes são jogadas no lixão e recolhidas pela população local, desesperada com a fome enquanto comissários europeus se reúnem com os produtores de peixe para discutirem como o comércio pode aumentar.
E mostra os pilotos russos contando como eles levam peixe fresco e frutas para a Europa e como voltam carregando armas e foguetes para Angola, Serra Leoa e outros lugares.
Hubert Sauper não fala nada no documentário, deixa as pessoas e as imagens falarem por si. E são imagens e pessoas que nos deixam sem fala, vazios, tristes.
Pode se trocar os peixes por bananas e a Tanzania pelo Equador, ou diamantes em Serra Leoa ou petróleo em Angola. A história se repete.
Eu sempre acreditei que o comércio fosse o meio mais eficiente de acabar com a pobreza. Ainda acredito que a globalização seja um bem mais do que um mal. Acho ainda que a vida dos que estão ali seria ainda pior sem a renda da pesca. Mas quando vejo que os frutos da pesca são supermercados europeus, enquanto eles ganham doenças, armas e lixo, começo a ter minhas dúvidas.

Tuesday, November 28, 2006

All this time...


Em setembro de 2001, no mesmo dia dos atentados em Nova York, Sting realizou um concerto fechado no jardim de sua casa na Toscana. Neste concerto, gravado no álbum All this Time, Sting trabalhou em parceria com músicos como Jacques Morelembaum, Christian McBride, Chris Botti e o brasileiro Marcos Suzano na percussão.
Finalmente comprei esse DVD pela internet essa semana, e valeu a pena.
Novos arranjos foram feitos para os seus maiores sucessos. Entre os hits do Police estão Roxanne, Every Breath You Take e Don’t Stand So Close to Me. Os outros são da carreira solo e incluem o ótimo If You Love Somebody Set Them Free, Brand New Day e If I Ever Lose My Faith In You. Um toque de jazz e a grande performance de Sting nos vocais. Foi o segundo álbum de sua carreira solo, e foi nominado para o Grammy de melhor artista pop masculino em 2003. Muito bom.

Amici miei

Um amigo lembrou-me que Philippe Noiret, muito querido na Itália, diga-se de passagem, fazia parte do quinteto de Amici Miei, filme de Mario Monicelli lançado em 1975. Amici é simplesmente uma das melhores comédias da história do cinema. O filme conta as aventuras de cinco amigos de Firenze, que decidem nunca levar nada na vida a sério. Aliás eles são quatro amigos no começo do filme, e o quinto só se junta depois que sua esposa o deixa por um dos amigos do grupo.
Entre as cenas impagáveis da comédia está essa em que os cinco vão à estação de trem para dar tapas nas caras dos passageiros que se despedem pelas janelinhas. Juntos, convencem um agiota a quem um deles deve dinheiro de que este necessita urgentemente de um “transplante de culo”. O doador é claro será o devedor que depois da operação fictícia tem a dívida perdoada. Quando um deles começa a namorar a contorcionista do circo, os outros fazem a moça provar que consegue entrar em uma maleta. Depois que ela está lá dentro, a mala é prontamente despachada no primeiro caminhão passando pela estrada. E quando um deles sofre um derrame, lá vão os outros inscrevê-lo nos jogos para-olímpicos.
Uma comédia genial, mas com aquele tom doce e amargo no fundo que só Monicelli sabe dar. Quem não viu tem que ver.
Não sei porque quando penso neste filme me vêem muitas lembranças da época da faculdade...Qualquer dia eu conto porquê.

Saturday, November 25, 2006

Philippe Noiret



Dois papéis inesquecíveis que este imenso ator francês fez no cinema: Pablo Neruda em “O Carteiro e o Poeta” e o Alfredo de “Cinema Paradiso”.
Os dois são dos melhores filmes que já assisti na vida.
Quando assisti Cinema Paradiso é que percebi como o cinema é para mim, como foi para o garoto Salvatore, uma ferramenta na descoberta das emoções.
Só muitos anos depois é que Salvatore percebe o quanto fizeram falta aqueles beijos roubados das cenas dos filmes pelo padre Adelfio. Ao mesmo tempo o filme é a celebração da amizade entre ele e Alfredo, o homem que o levou para o cinema.
E é Alfredo quem o aconselha a sair da Sicília e ir para bem loge dali. No filme ele diz: “Você tem que ir embora por muito tempo, muitos anos, antes de voltar e encontrar seu povo. A terra onde nasceu. Mas agora não, não é possível. Agora você está tão cego quanto eu”...E aqui estou eu, já há 7 anos longe do Brasil...
Em Il Postino, descobri a poesia. O poder da palavra, seja na luta operária, seja para conquistar uma mulher. Como disse o carteiro Mario, interpretado por Massimo Troisi: “A poesia não é de quem a faz, é de quem precisa dela.”
Grande perda.

A Daspu e os filhos daspu


O Congresso vai começar uma CPI para investigar o repasse de verbas oficiais para Organizações Não Governamentais, iniciativa de Heráclito Fortes do PFL. Vai ser uma verdadeira caixa de Pandora, e provavelmente uma nova sucessão de surpresas do PT.
Aliás, um dos deputados mais votados pelo PT, Juvenil Alves foi preso pela Polícia Federal como chefe de uma quadrilha acusada de uma lista de crimes fiscais, lavagem de dinheiro, estelionato e por aí vai. No site de sua empresa, Juvenil diz que pode ajudar ONG’s a receberem financiamentos do Estado.
Há uma coisa que eu não entendo, se a Organização é NÃO- Governamental, o que o governo tem a ver com o finaciamento das mesmas?
Há uma miríade de ONG’s aparecendo no Brasil, uma rídicula minoria são iniciativas sérias e responsáveis. A grande maioria é pura picaretagem. Veja-se o exemplo das ONG’s ligadas aos Garotinhos no Rio. Vergonha pura. Mais um jeito de se roubar no Brasil, e desta vez com disfarce politicamente correto.
Outras ONG’s como a Davida, que criou a marca Daspu justamente para se auto-financiar dá um outro exemplo. As roupas criadas pelas prostitutas da organização estão na crista da onda e vão estrear em lojas até na chiquérrima Rue de Saint Honoré em Paris. Essas pu merecem muito mais respeito do que deputados como Juvenil Alves.
Os filhos daspu que fazem das ONG’s o novo paraíso da picaretagem merecem é cadeia.

Is the kindness we count upon, hidden in everyone?



Verso da canção "Narrow day light" de Diana Krall": "A bondade com a qual contamos, estaria ela escondida em cada um de nós?"

Alexander Litvinenko


Já contei aqui de como o assassinato morte da jornalista Anna Politkovskaya chocou a imprensa na Europa Ocidental.
Anna dizia de Putin: “Eu o detesto porque ele não ama o povo, ele nos despreza, ele só nos vê como um meio para conseguir seus fins, estender e conservar seu poder. Ele se crê no direito de fazer o que quer de nós, de nos manipular e de nos destruir se assim achar necessário.”
Pois isto o que está na foto é o que aconteceu com Alexander Litvinenko, o homem que estava investigando a morte de Anna.
Alexander morreu nesta quinta feira em Londres, envenenado por polonio 210, um material radioativo.
Esta é a maneira como Putin trata seus inimigos.
Este é o modus operandi de todos os ditadores.
Esta é a perspectiva negra do futuro da Rússia como democracia.
E estas são as palavras finais de Alexander Litvinenko:
“You may succeed in silencing me but that silence comes at a price.
You have shown yourself to be as barbaric and ruthless as your most hostile critics have claimed.
You have shown yourself to have no respect for life, liberty or any civilised value.
You have shown yourself to be unworthy of your office, to be unworthy of the trust of civilised men and women.
You may succeed in silencing one man but the howl of protest from around the world will reverberate, Mr Putin, in your ears for the rest of your life.
May God forgive you for what you have done, not only to me but to beloved Russia and its people.”
O inverno russo já chegou...

Blue eyes / Brown eyes


Jane Elliott é uma professora americana, que depois da morte de Martin Luther King desenvolveu um método para ensinar aos alunos o que era racismo.
Jane dividia os alunos em olhos azuis e olhos castanhos. Então afirmava aos alunos que os que tinha olhos azuis eram intelectualmente superiores e lhes conferia certos privilégios na sala de aula. Rapidamente, os próprios alunos de olhos azuis passavam a ofender e a reprimir os de olhos castanhos.
No dia seguinte o exercício era invertido, e os de olhos azuis passavam a ser os oprimidos, e os de olhos castanhos os opressores.
Os resultados são reveladores. Finalmente os alunos começam a perceber a anatomia do racismo e de toda forma de discriminação.
A aula de Jane Elliott foi filmada em 1970 em um documentário premiado intitulado “The Eye of the Storm”. Em 1984 foi lançado “A Class Divided” e em 1996 “Blue Eyed”.
Estes vídeos tem sido exibido em todo o mundo como a mais profunda e inteligente lição sobre racismo.
Toda escola brasileira deveria ter um e toda família brasileira deveria assisti-los. Para perceber de uma vez por todas o quanto somos sortudos por sermos tão misturados, e o quanto ridículo é classificar alguém pela cor da pele, sexo ou religião.

Ação afirmativa


A segunda feira passada, data do aniversário da morte de Zumbi dos Palmares, virou no Brasil o dia da consciência negra.
Datas como essa serviriam para lembrarmos do papel dos negros na construção do povo e da cultura brasileira.
Nas mãos dos ativistas virou uma data para cobrar do governo políticas de ação afirmativa.
Continuo afirmando que a criação de cotas raciais em empresas, universidades e no serviço público no Brasil será uma enorme besteira. Estamos prestes a institucionalizar o racismo no país.
Nesse assunto estou com Ali Kamel e não abro. Kamel é diretor de jornalismo da Rede Globo e autor do livro “Não Somos Racistas”.
Em primeiro lugar, Ali mostra como o conceito de raça cientificamente não faz o menor sentido. E isto é algo que deveríamos ensinar às nossas crianças desde cedo na escola e em casa.
Em segundo, mostra como as estatísticas podem ser manipuladas em favor das cotas. Para se verificar se há racismo ou não no país, não é possível usar somente os dados de cor da pele e de nível de renda. É preciso comparar alhos com alhos e bugalhos com bugalhos. O Brasil seria racista se por exemplo, um negro com uma família de 3 filhos, morador da zona rural de São Paulo, com escolaridade média, vivesse pior do que um branco com uma família de 3 filhos, morador da zona rural de São Paulo, com escolaridade média. Não é verdade.
Nas universidades por exemplos, os negros são 6%. Exatamente a mesma porcentagem dos que se auto-declaram negros no censo do IBGE sobre a população brasileira.
Agora vamos ajudar os negros a saírem da pobreza e deixamos os outros que não são negros por lá mesmo.
Vamos carimbar nossa cor no RG e criar um apartheid onde não havia.
Vamos jogar no lixo a melhor coisa que o Brasil conseguiu produzir: um povo que se orgulha da própria mistura de raças, algo inédito em qualquer outro lugar do planeta.
É absurdo, é anti-constitucional, é imoral. Todo mundo sabe que o problema do Brasil está na educação de base. É só com educação que iremos resgatar TODOS da pobreza, não apenas alguns.
Sistema de cotas é a saída fácil de governos incompetentes que querem tapar o sol com a peneira, e de ativistas aproveitadores.
Zumbi nasceu livre no quilombo, foi capturado pelos portugueses e fugiu de volta a Palmares. Ganga Zumba, chefe da comunidade quis aceitar quando os portugueses ofereceram liberdade a todos os quilombolas em troca da submissão do quilombo à autoridade da Coroa. Zumbi recusou e se tornou o chefe no lugar de Ganga Zumba. Ele queria liberdade para todos os negros, e não somente para seu grupo. Assim são feitos os líderes.

Música em fotos

Willie Nelson


Sex Pistols


Ray Charles


Ramones


Nirvana


Miles Davis


Johnny Cash


John Coltrane


Bob Marley


Bob Dylan


Beatles


Demais!!! Fotos da Time.com

Monday, November 20, 2006

Padrões de beleza


Houllebecq, em Les Particules Elementaires diz que os homens, com seu gosto pelo jogo e pelo risco, sua vaidade grotesca, sua irresponsabilidade e sua violência são os grandes responsáveis pela evolução caótica, desestruturada, irregular e violenta do mundo. Com as mulheres seria diferente, pois estas têm em si o único traço verdadeiro de altruísmo e desprendimento na natureza, o amor maternal. Um mundo governado por mulheres seria infinitamente melhor do que o que temos.
Pode ser. Os homens podem ser culpados de inúmeros males do mundo e em especial na vida das mulheres.
Até bem pouco tempo, ou melhor, até hoje em dia em alguns lugares infelizmente, as mulheres eram ou são cidadãos de segunda classe, sem direito a votar, com salários menores, empregos piores, frequentemente assediadas e exploradas em todos os sentidos.
Mas há uma coisa pela qual não somos responsáveis: o padrão de beleza da indústria da moda atual.
Está certo que saímos da pré-história, e até por questões de saúde uma Vênus de Willdorf não estaria na nossa preferência hoje. Mas passamos entusiasmadamente pela Maja de Goya, a Vênus de Boticelli, e finalmente Marilyn Monroe e Brigitte Bardot.
Agora perguntem a qualquer homem na rua se eles preferiam ter uma Monica Bellucci ou a Kate Moss nos braços. Eu arrisco a dizer que dez entre dez (heterossexuais) preferem com absoluta razão a deusa Bellucci.
Os padrões de beleza da moda são elaborados essencialmente por mulheres e estilistas que vêem as modelos como cabides, e não como mulheres.
Nos incluam fora dessa. Homem não gosta de magreza, nossos padrões de beleza estão bem longe das passarelas. Anorexia não!

Eu odeio segunda feira

Saturday, November 18, 2006

Sonho de Ícaro


Sonhei que podia voar.
Mas voava sem saber, sem direção, como uma pipa a quem cortaram a rabiola, dando voltas e voltas, perigosos rasantes no chão.
Saltei de um prédio azul, com grandes asas brancas. Rodei e rodopiei, vi o Sol de perto e cego despenquei no chão.
Minha perna se partiu e eu morria de dor sem poder acordar, meus ossos rasgando a pele e o sangue no chão perto de um vaso com uma espada de São Jorge e um muro branco.
Não sei porque mas achei que tinha merecido, que a culpa era minha e que passaria o resto do ano em uma cama de hospital só escrevendo.
Alguém aí sabe o significado disso???

There is no way


Foto de Margareth Bourke White que tirei de Sagarana. Achei genial.
Resume séculos de racismo nos EUA.

Sagarana

No Brasil aprendi inglês. Morei na França por dois anos e acabei aprendendo francês. Meu espanhol é de ouvido, aprendido de amigos latinos e ibéricos. O holandês foi na marra mesmo, depois de cinco anos morando aqui não há como... E trabalhar com comércio internacional ajuda. Meu próximo alvo é o italiano. Tenho uma especial predileção pela língua de Dante. Não só por ser a língua da minha família materna, na verdade só os palavrões acabaram chegando à minha geração. Eu gosto mesmo é do som do italiano sendo falado. Aliás, as línguas latinas são bem mais agradáveis aos ouvidos do que as bárbaras línguas daqui do norte. Gosto de ler e ouvir português, francês, espanhol, italiano. Inglês ainda vai. Holandês, alemão e as línguas escandinavas (à exceção do finlandês que soa como tupi-guarani...) são de lascar.
A única língua que se salva nessas bandas é o gaélico, língua dos celtas irlandeses. A sonoridade desta língua é mágica. Para se ter uma idéia a cidade de Dublin em gaélico se chama Baile Atha Cliath. Temos a impressão de estar em um livro de Tolkien ouvindo elfos conversarem.
Mas voltando ao italiano, fuçando na rede descobri o site de uma revista e uma escola de escrita chamada Sagarana.
A revista é trimestral, e está disponível on-line. Traz textos e poesias em italiano de autores consagrados de todo o mundo. As poesias trazem também a versão na língua original. No número deste mês há até uma poesia de Che Guevara, e textos de Rubem Fonseca e Michel Houllebecq.
O site tem ainda exposições virtuais de obras de arte (Candido Portinari está lá no arquivo de abril e julho) e fotografias como esta do post. Tem ainda links para diversos outros sites relacionados à literatura, à língua italiana e à escrita em geral.
Para minha surpresa, descobri que o editor da revista é o brasileiro Julio Monteiro Martins. Carioca de Nitéroi, nascido em 1955, Júlio já foi professor de literatura nos Estados Unidos, no Rio e em Lisboa. Foi um dos fundadores do Partido Verde no Brasil e um defensor dos direitos humanos e das crianças de rua no Rio. Hoje ensina língua portuguesa na Universidade de Pisa.
Os arquivos também estão disponíveis no site desde o número um da revista.
Vale a pena conferir:

www.sagarana.it

Um pouquinho de política


Política brasileira é sempre animada, sempre há um escândalo, uma gravação escondida, um suborninho qualquer para animar a festa da democracia.
Aqui a coisa é mais entediante, mas mesmo assim vale a pena dar uma olhadina no que acontece.
Na Holanda, a política passou por profundas transformações desde os assassinatos de Pim Fortuyn e Theo van Gogh,os primeiros assassinatos políticos em mais de um século na país. Temas antes evitados como a imigração voltaram a ser amplamente discutidos.
Jan Pieter Balkenende, o Primeiro Ministro apelidado de Harry Potter cujo gabinete tinha caído em maio passado está com chances de se reeleger em breve. Sua política de redução de gastos do ultra generoso Estado holandês parece ter dado resultados. A economia cresceu 2,8% e o desemprego caiu para 5.6%. Além disso a contenção das levas de imigrantes parece ter agradado ao eleitorado.
Na França, os socialistas estão radiantes com a escolha de Segolene Royal nas prévias do partido para a disputa da eleição presidencial no ano que vem.
Segolene virou a pop star da esquerda francesa, muito mais pelo charme e carisma do que pelas propostas que tem. As idéias da esquerda francesa são as mesmas desde Miterrand e ao que parece não vão mudar muito com Segolene Royal. Anti-liberalismo, anti-americanismo, anti-globalização, anti-privatização, uma coleção de cretinices que permanece imutável nas cabeças dos sindicatos e de organizações estudantis, bases de apoio da esquerda no país. Sobre a imigração e os problemas racias uma posição meio vaga. Se defender demais os imigrantes, a esquerda teme ceder votos a Jean Marie Le Pen, da direita fascista que se crê com mais chances do que nunca de chegar ao Palácio de l’Elysée.
A Economist em sua edição européia da semana passada diz que o que a França precisava mesmo era de uma Margareth Thatcher, para ganhar o braço de ferro com os sindicatos, flexibilizar a legislação trabalhista e aumentar o dinamismo e reduzir o peso do Estado na Economia. Essa Margareth Tatcher pode estar na pessoa pouco simpática de Nicolas Sarkozy, o ministro do interior e provável candidato do governo à eleição. Resta saber se os franceses cederão ao charme de Segolene ou desistirão de vez da esquerda e optarão por reformas tipo holandesas à la Harry Potter.
Sarkozy para ganhar teria que lembrar daquele conselheiro do Clinton que dizia: “É a economia, estúpido”.

A Turquia na Europa e o genocído armênio


A população européia ainda é majoritariamente contra a entrada da Turquia na União Européia. Os europeus temem as levas de imigrantes pobres e muçulmanos chegando às suas cidades. E a Europa não tem vontade de fazer fronteira com o Iraque. E além do mais, se a Turquia entrar na Europa como negar depois a entrada da Ucrânia ou de outras ex-repúblicas soviéticas por exemplo?
A qeustão é mais complicada aque isso. Apesar de não ser Europa, a Turquia sempre quis ser Europa. É um dos poucos países muçulmanos laicos e seculares. Fechar as portas da Europa à Turquia é jogá-la no caminho de transformar-se em república islâmica.
Outra peça do quebra cabeças veio se adicionar ao debate. A Europa quer que a Turquia reconheça o genocídio armênio ocorrido durante a Primeira Guerra Mundial.
Supõe-se que entre 1914 e 1918 algo entre 800.000 e 1.500.000 de armênios tenham sido exterminados pelas forças do Império Otomano, fome, doenças, gás e outros horrores. A Turquia ainda vê essas vítimas como casualidades de uma guerra contra rebeldes.
A Alemanha era aliada do Império Otomano durante a Primeira Guerra, e vários observadores alemães viram os métodos utilizados pelos turcos como o transporte de prisioneiros em vagões de gado, campos de concentração e valas comuns. Um médico alemão classificou os métodos turcos como sendo de uma bestial crueldade. Provavelmente os nazistas aprenderam algo aí.
Os partidos holandeses expulsaram de suas fileiras todos os membros de origem étnica turca que se recusassem a admitir o genocídio.
Os deputados franceses queriam aprovar uma lei que classificasse a negação do genocído como crime, assim como é crime a negação do Holocausto.
A monstruosidade dos otomanos foi tão absurda e horrorosa quanto o nazismo.
Um país para evoluir tem que aprender a enfrentar o passado, como a Alemanha enfrentou depois da Guerra. Resta saber se a Europa está mesmo interessada na evolução cultural da Turquia ou se os políticos europeus querem apenas criar mais pedras no caminho deles.
Até agora, só o que estão conseguindo é inflamar o nacionalismo e o islamismo dos turcos.

Saturday, November 11, 2006

Les particules elementaires


Michel Houellebecq é a sensação do momento na literatura francesa. O livro Les Particules Elementaires é de 1998, e agora que o li entendi o porque do barulho todo.
O livro conta a história de dois meio-irmãos, Michel e Bruno criados separadamente. Entre a infância nos anos 60 e 70 e a entrada na adoslescência e maturidade nos anos 80 e 90, os dois levam vidas completamente diferentes e ao mesmo tempo medíocres. Michel desconhece o amor ou qualquer sentimento afetivo. Sua vida se resume ao seu trabalho como pesquisador em biologia molecular e às suas idas e vindas ao supermercado. Bruno é professor, e de uma infância infeliz ele passa uma maturidade em busca constante de prazer físico, entre prostitutas e clubes de swing.
Lendo Houllebecq acabei por compreender muita coisa. O pano de fundo do romance, é o retrato do declínio e da decadência da nossa civilização ocidental. Compreendi como a evolução da ciência acabou dispensando a existência de religiões, como as lutas e conquistas por liberdade dos anos 60 se transformaram no individualismo e hedonismo dos anos 80 e 90.
Compreendi como conquistamos a liberdade tão desejada, mas desprovida de qualquer base moral, e por isso vazia. Chegamos em certo sentido perto da utopia de Aldous Huxley mas não ficamos mais felizes por isso. Ao contrário, vivemos vidas idiotas em grandes cidades, somos viciados em trabalho, pornografia, drogas, juventude, prazer. Temos horror ao envelhecimento e por isso apelamos tanto às clínicas de cirurgia plástica e aos novos produtos de beleza. Preferimos muitas vezes morrer a viver aleijado ou paralítico. Preferimos morrer a viver com aparelhos, e por isso agora aplicamos eutanásias à torto e a direito. Queremos ser sempre jovens, e queremos as mulheres sempre magras, depiladas e disponíveis como nos filmes pornôs.
Esse eterno medo do envelhecimento nos deixa inseguros, queremos viver uma adolescência eterna. Quando tomamos consciência de que nosso corpo vai envelhecer apesar do silicone e do botox, nos tornamos depressivos.
Nenhum padrão moral nos serve mais de referência, só celebridade e grana. Nossos ídolos são rappers e rock stars.
Compreendi finalmente porque europeus se suicidam mais do que africanos, porquê os nativos de Vanuatu são mais felizes do que os finlandeses.
Compreendi ainda o profundo desprezo que os fundamentalistas religiosos têm pelo Ocidente.
Li um outro livro, o da Bruna Surfistinha. Basta uma dezena de páginas para perceber que a garota é uma cretina completa. Existem milhares de meninas se matando de trabalhar e estudar, driblando assédio e violência para conseguir um lugar ao sol.
Nós damos fama e fortuna à puta, ladra e drogada.
Acho que Bruna tem absolutamente todo o direito de publicar o que bem entender e fazer dinheiro com isso, e a admiro (mercadologicamente) por tê-lo feito com competência. O mercado não é a causa, e sim um sintoma da doença da nossa sociedade. O mercado vende o que queremos comprar. O mercado nos vende grifes, modelos magras, homens malhados, putas bem sucedidas, políticos falsos, rappers cobertos de diamantes porque é isso o que queremos consumir!
No livro de Houllebecq, Michel, com suas pesquisas genéticas, acaba por dar as bases à extinção da espécie humana e à criação de uma nova espécie, imutável, assexuada e imortal. Este foi o único caminho encontrado para sair da decadência. Ou talvez este caminho seja consequência dela.
O New York Times classificou o livro como uma leitura repugnante, apesar dos prêmior literários com os quais foi consagrado na Europa. O Times está certo, é repugnante ver o declínio do meu mundo assim descrito como um tapa na cara. Mas o livro é brilhante.

La Virgen de Guadalupe


Diz a lenda que o índio Juan Diego viu a aparição de Nossa Senhora perto da cidade do México em 1531. A imagem apareceu impressa em seu manto, no qual ele levava rosas para o bispo Juan de Zumárraga.
Normalmente deleto todos os emails com mensagens de paz e amor que recebo, junto com o spam e junk mail, tudo para o lixo virtual.
Mas esta semana recebi esta imagem por email pedindo que a enviasse a não sei quantas pessoas. Não a repassei a ninguém porque considero repassar spam uma grande falta de educação.
Mas ponho a imagem aqui simplesmente porque a considero um dos mais belos ícones artísticos do cristianismo. Alguns dizem mesmo que a imagem seria de uma deusa azteca disfarçada. O fato é que a Virgen de Guadalupe transformou-se em um símbolo mexicano (segundo Octávio Paz, os mexicanos só têm fé na Virgen de Guadalupe e na loteria) e uma poderosa ferramenta da Igreja Católica para a conversão dos nativos.
Uma síntese da miscigenação racial e cultural latino americana.

Bruxas


O Halloween sempre foi uma festa que no meu ponto de vista sempre foi ridiculamente deslocada no Brasil. Não obstante, o dias das bruxas no Brasil coincidiu com as eleições e teve vampiros no Congresso e um zumbi na presidência.
Já na Holanda uma festa de bruxas combina mais. É tempo de colheita, faz frio e neblina, há abóboras nos campos, e as velhas cidades e as árvores sem folhas me lembram o cenário de Sleep Hollow, de Tim Burton. Filmes de Halloween estão entre meus preferidos (vejam também The Crucible de Nicholas Hytner com Winona Ryder e Daniel Day-Lewis). Passei a noite assistindo o “Nosferatu, eine Symphonie des Grauens”, o filme mudo de 1922 de F.W. Murnau. Um prato cheio para cinéfilos, principalmente pela notável atuação de Max Schreck como o vampiro.
Perto de Gouda, onde moro, há Oudewater, uma pequena cidade massacrada por espanhóis no fim do século XVI. Oudewater fivou famosa por julgamentos de bruxas na Idade Média. Ainda hoje há uma balança municipal que além de pesar queijos e cereais também servia para a pesagem de bruxas. Explica-se: segundo a teoria da época, uma bruxa obrigatoriamente teria que ser muito leve para poder voar de vassoura. Há registro de mulheres na casa dos 30 anos pesando cerca de 2kg. Outros testes também foram desenvolvidos com o intuito de verificar se uma mulher era bruxa ou não. Um deles era jogar a mulher amarrada em um canal de água. Se ela boiasse, provavelmente algo a ver com a teoria do peso, ela era bruxa. Se ela afundasse não era uma bruxa, mas na maior parte das vezes era tarde demais porque a mulher já tinha se afogado. Outro teste dizia que uma mulher que não fosse bruxa não teria queimaduras ao retirar um anel benzido de um vaso de cera quente. Como se vê não havia muita chance para a mulherada. Quem diria que um país que tratava assim suas mulheres hoje seria um dos países com maior igualidade entre os sexos? Ainda há esperança para o resto do mundo.

Saddam e Bush


Saddam Hussein foi considerado culpado por crimes contra a Humanidade. E que vamos fazer? Ah, vamos enforcá-lo!
Saddam era um tirano cruel e covarde. Massacrou e torturou seu próprio povo. É uma ilusão achar que o Iraque era um país decente antes da invasão. Não era melhor do que agora.
Saddam governou como governam os tiranos, condenando a liberdade de expressão e esmagando a mínima oposição às suas decisões. Deveria ter sido removido há muito tempo, assim como foi Milosevic e como deveriam ser Kim Jong Il, Fidel Castro e outros cretinos.
Os Estados Unidos cometeram alguns erros graves na sua estratégia no Oriente Médio. O primeiro foi não ter removido Saddam durante a Primeira Guerra do Golfo abandonando os rebeldes iraquianos à própria sorte. O segundo foi o de ter mentido à comunidade internacional sobre as armas de destruição em massa. E o terceiro foi o de imaginar que o povo iraquiano, uma vez liberto do jugo de Saddam, poderia se organizar em torno de um sentimento nacionalista de união. Os americanos ao que parece não aprenderam nada com o que vimos acontecer no Cáucaso depois da implosão da URSS e nos Bálcãs depois do fim da Yougoslávia de Tito. Como afirma Jean Daniel na Nouvel Observateur, quando o poder imperial desaparece as tensões étnicas explodem. Isso não estava nos planos de Bush. A conquista foi fácil, a ocupação desastrosa.
E esse desastre hoje amplamente reconhecido teve um impacto profundo no eleitorado americano que acaba de punir os Republicanos nas eleições parlamentares de meio mandato. A própria imprensa americana parece estar se tornando tão anti-americana como a imprensa européia. A pressão é cada vez maior pela retirada dos soldados do Iraque. Este sim vai ser um imenso erro pelo qual pagaremos caro no futuro.
João Pereira Coutinho na Folha faz uma análise interessante da hipótese da retirada das tropas britânicas e americanas do Iraque. Segundo Coutinho, no confronto entre o Ocidente e o Islamismo fanático, cada retirada Ocidental significa uma vitória e um avanço do islamismo. O 11/09 aconteceu não como um começo, mas como o auge do avanço islamista que começou quando americanos se retiraram do Líbano e da Somália.
Sair agora do Iraque será um crime e um risco ainda maior. Com a morte de Saddam e uma retirada de ingleses e americanos, a inteira população do Iraque estará à mercê dos senhores de guerra xiitas e sunitas. Depois de um banho de sangue será uma ditadura islâmica ameaçadora. A Al Qaeda acaba de afirmar ter 12.000 homens a disposição de um auto proclamado estado islâmico do Iraque, e acaba de ameaçar explodir a Casa Branca.
Nunca é demais lembrar que as primeiras vítimas do fanatismo islâmico são os próprios muçulmanos.
Não é hora de retirada, não é hora de anti-americanismo estúpido. É hora de se chamar reforços, de se criar uma polícia e um exército iraquiano eficientes, de se manter um parlamento etnicamente representativo em Bagdá.
Abandonar os iraquianos à mercê de Saddam era cruel.
Abandoná-los hoje será um crime contra o Iraque, e uma garantia de bombas chegando cada vez mais perto de nós.

Meryl


Meryl Streep é provavelmente a melhor atriz viva do planeta. Acabei de vê-la como Miranda Priestly em The Devil Wears Prada. No filme, que vale a pena só para vê-la, a mulher é a perfeita encarnação do poder absoluto.
E é praticamente impossível acreditar que seja a mesma pessoa que viveu Francesca Johnson em The Bridges of Madison County e Clarissa Vaughan em The Hours.
Nominada 13 merecidas vezes para o Oscar, Meryl Streep ganhou duas estatuetas por seus papéis em Sophie's Choice e Kramer vs. Kramer.
Cada modelo/atriz da Globo que se pretende candidata a algum papel dramático deveria passar pelo menos um ano assistindo Meryl Streep atuando. É uma rainha. E como ela mesmo diz: "It's a lesson I learned in drama school: the teacher asks, how do you be the queen? And everybody says, 'Oh it's about posture and authority.' And they said, no, it's about how the air in the room shifts when you walk in. And that's everyone else's work."

Tuesday, November 07, 2006

Cecília Meireles, uma homenagem e uma canção


Dia de aniversário de Cecília Meireles, e coincidentemente de minha irmã. Como o pessoal anda organizando uma blogagem coletiva sobre a poetisa, deixo aqui a bela homenagem de Mário Quintana, e uma das minhas poesias preferidas:

"Nem tudo estará perdido
Enquanto nossos lábios não esquecerem teu nome:
Cecília..."

Mario Quintana

Canção Mínima

No mistério do sem-fim
equilibra-se um planeta.

E, no planeta, um jardim,
e, no jardim, um canteiro;
no canteiro uma violeta,
e, sobre ela, o dia inteiro,

entre o planeta e o sem-fim,
a asa de uma borboleta