Wednesday, March 31, 2010

Dilbert e a nova imprensa

Viva a República


Nos meus saudosos e gloriosos tempos de estudante em Piracicaba, passei cinco anos dividindo a casa com mais dez brutos e alguns cachorros. Se as paredes falassem...
Hoje há uma espécie de campanha politicamente correta argh! para acabar com as repúblicas, consideradas pelos nerds que se tornaram professores como antros de sexo, drogas e, no caso de Piracicaba, música sertaneja. Andam até instruindo pais e mães para não deixarem os filhos morar em república. Coitadinhos.

Fiz a seguinte carta de motivação para os pais e enviei aos meus bixos de faculdade, para que não deixem acabar a República:


Meu senhor, minha senhora,


É chegado o momento em que o cordão umbilical finalmente se rompe, pela segunda vez, e o seu filhote, já um homenzinho, deixa o calor do lar para enfrentar as agruras da vida adulta.
Bem entendemos a vossa preocupação quanto ao futuro do bambino, já que foram tantos anos de esforços para fazê-lo finalmente chegar à Universidade. É compreensível que o senhor e a senhora queiram que o petiz esteja bem acomodado durante os vindouros anos de estudo e dedicação.
Nesse ínterim, gostaríamos de fazer ver a vossas senhorias, que apesar da má fama, as Repúblicas de estudantes dessa formosa cidade de Piracicaba, a Noiva da Colina, podem ser um ambiente extremamente saudável para o calouro.
Meu caro pai. Lembra-se de sua vida de estudante? Andando no bonde puxado à cavalo, fazendo serenatas para as moças? Fazendo suas incursões com os amigos em casas de burlescos? Porque você privaria seu filho dessas alegrias da vida? O senhor olha este filho hoje sem muita convicção, sem saber se ele vai para frente ou não, e tem aquele medo instintivo de todo pai, de que o filho um dia apareça em casa com um argentino cabeludo dizendo pai, este é Juan, meu namorado… Mas deixe ele conosco. Certamente ele vai levar algum trote, aqui conhecido como ralo. Mas meu caro senhor, seu filho poderia ter feito arquitetura, coreografia, corte e costura, mas não. Eles escolheu vir para a ESALQ, e aqui faremos dele um esalqueano. Pense no trote como uma espécie de rito de passagem, que seleciona quais meninos serão os guerreiros da tribo, como uma ferramenta que ajuda os mais novos a aprenderem a respeitar os mais velhos. Depois de alguns porres (o senhor não teve os seus?), de muitas mulheres, e de comer muita poeira, verá que o menino ainda será motivo de orgulho para a família.
Minha cara mãe. A senhora receia o álcool e as drogas, as doenças sexualmente transmissíveis, a comida duvidosa, o quarto bagunçado? Lembra-se dos anos 60, com aquele baseado na mão, namorando no banco de trás do Passat? Temos todos nossas experiências minha senhora. Se seu filho é maconheiro, continuará maconheiro independentemente de nossa vontade, e provavelmente não virá morar conosco. E pense bem, antes alguns porres de alegria do que ter um maconheiro em casa não é mesmo? Quanto às DST’s, em uma república sempre haverá uma mão amiga oferecendo ao seu querido filho um preservativo. E acredite, a chance dele encontrar uma nora simpática será muito maior quanto mais variedade ele conseguir experimentar. A comida duvidosa vai acabar com aquela frescura dele só comer o que lhe apetece, além de fornecer anticorpos que o manterão saudável no futuro. Ou a senhora prefere que ele vá ao McDonalds todos os dias? Quando terminarmos com seu filho, ele comerá até pregos, e achará sua comida sempre uma delícia. Quanto à bagunça, veja o lado bom, este problema finalmente deixará de ser seu.
A alternativa? Comprem um apartamento e um carro para o menino. Deixem ele vir para casa todo fim de semana trazendo toda a roupa suja, lhe peguem no colo, dêem tudo o que ele pedir, e quando ele tiver 40 anos ele ainda vai ser um virgem, dependente financeiramente de vocês e que só come bifinho com batata frita.
E não se enganem quanto ao desempenho escolar do seu filho, isso só depende dele, seja na República, seja em um apartamento. Há quem se forme em cinco anos sem nunca ter perdido uma festa da faculdade, há quem seja jubilado morando em casa com os pais.
E a República não é apenas por cinco anos, é para a vida inteira um laço de amizade que une quem morou, quem mora e quem vai morar, o que é um serviço de inestimável valor seja na vida pessoal, seja na profissional.
Deixem-nos fazer de seu filho um homem. Deixem ele morar em uma República da ESALQ.
Saudações esalqueanas,


República Popular e Democrática da Lesma Lerda

Minha vida de cachorro


Uma premiada publicitária americana chamada Karen Salmanshon lançou um livro intitulado "Como adestrar seu homem em mais ou menos 21 dias".
A idéia dela foi aplicar segredos dos treinadores de cães ao prezado esposo. Parece que funcionou e ela está movimentando o mercado literário feminino com o seu manual.
Não tenho nada contra o método. Ao contrário, achei a idéia ótima.
Eu tive cachorros antes. Se bem me lembro, o conselho de adestradores era o de sempre oferecer ao bichinho uma recompensa quando ele fizesse a coisa certa.
Eu cairia nessa facinho.
Mulheres estão sempre exigindo que a gente faça a coisa certa, tipo abaixar a tampa da privada, não deixar nada pingar pra fora, arrumar a cama, não deixar roupas espalhadas pela casa... Só que é tudo na base da ordem e com o dedo em riste.
Aposto que cada maridinho iria se empenhar muito mais em cumprir todas as ordens da madame se eles soubessem que haveria recompensa depois. E por recompensa e não estou pensando em uma barrinha de bonzo.
Obviamente maiores as tarefas, melhor tem que ser a recompensa. Como não pensamos nisso antes?
Vou escrever um manual aos meus colegas maridos de como se tornar um cachorro em 21 dias. Quer dizer, 21 dias não, dá pra começar já. Recebeu uma ordem? Pede recompensa. Dog style.

Coisas que eu via na TV

Thundarr, o Bárbaro

Os Impossíveis

Jonny Quest

O Homem-pássaro

Os Herculóides

Galaxy Trio

Falcão Azul e Dinamite, o Bionicão


Nostalgias à parte, era um lixo só, mas era legal!

Monday, March 29, 2010

Sunday, March 28, 2010

Atheist Delusions


A história deles é conhecida e convictamente espalhada por aí. O mundo antigo criou as artes, a filosofia, a ciência. Veio o Cristianismo, e com o fim do Império Romano mil anos de trevas caíram sobre o mundo ocidental. O fanatismo religioso acabou com a ciência, despertou guerras sangrentas, causou a morte de milhares na Inquisição até que o Iluminismo viesse e a razão triunfasse finalmente separando Estado e Igreja. Agora é a hora de nos livrarmos finalmente desses dogmas absurdos e atrasados, resquícios de uma era de obscurantismo para que finalmente o homem e sua razão triunfem sobre a Terra.
David Bentley Hart em seu livro Atheist Delusions desmonta cada argumento desses, e não sobra nem pó. Ele só lamenta que tipos como Richard Dawkins, Daniel Dennet, Christopher Hitchens e Sam Harris, para citar só os ateístas militantes mais best-sellers do momento, sejam tão infinitamente mais pobres em argumentos, mais ignorantes em História, Filosofia e até na arte de escrever do que foram outrora outros ilustres críticos do Cristianismo como Voltaire e Nietzsche.
Com erudição sem par, David Bentley Hart fala dos primórdios do Cristianismo, da revolução causada na mentalidade antiga pela extraordinária idéia da caridade e do amor ao próximo como forma de salvação, em um mundo resignado com o destino e regido pela lei do mais forte. Fala de como a ciência e filosofias antigas foram salvas pela Igreja das ruínas romanas, e por ela preservadas e aperfeiçoadas nas universidades católicas. Fala de como as chamadas guerras de religião estavam muito mais ligadas ao surgimento do Estado moderno do que efetivamente a motivos religiosos. De como os tribunais da Inquisição na imensa maioria das vezes serviam mais para conter a fúria linchadora de uma população ignorante e de um poder secular desejoso de se mostrar eficiente do que para condenar inocentes à fogueira.
Fala também quão absurda é a crença no Absolutismo da Razão, dadas as terríveis experiências que vão desde a Revolução Francesa até as atrocidades genocidas do século XX. E de como vieram do Cristianismo frutos como a democracia, os movimentos abolicionistas e pelos direitos humanos, as organizações de caridade e até as liberdades democráticas e a noção de livre iniciativa.
A Igreja está, e não é segredo para ninguém, sob ataque constante. Ao atacarem a Igreja, instituição controlada e guiada por homens e portanto sujeita às falhas e erros destes, esperam destruir a idéia do Cristianismo, o que é um erro.
Convicção religiosa é um motivo poderoso para matar? Certamente sim. Mas é também é o único motivo para não matar, para compreender, para buscar a paz, para perdoar. E só uma profunda ignorância da história poderia deixar de reconhecer isso.
Cristãos tem a obrigação de não esquecer a inclinação humana para a violência, e nem quantas vítimas essa violência já fez, pois adoramos um Deus que não apenas toma o partido dessas vítimas mas que foi ele mesmo uma delas, brutalmente torturado e assassinado pelos poderes da sociedade dos homens.
Hoje, a figura do Cristo humilhado e torturado na cruz nunca mais pode ser vista como algo por assim dizer ridículo ou depreciativo. Mesmo os piores de nós, criados à sombra da Cristandade são incapazes de ignorar o sofrimento de alguém sem violentar a própria consciência.
Mas hoje vivemos em uma sociedade de consumo que quer a liberdade total. Essa é a única premissa da modernidade. A idéia de religiosidade moderna transformou-se num supermercado espiritual, pegamos uma aula de meditação zen budista aqui, um tarô ali, um dream catcher na feirinha de antiguidades, uma imagem de Shiva na estante, runas escandinavas, um santinho no quarto e arruda atrás da porta. Mas tal como queremos liberdade na hora de consumir, queremos liberdade de escolha total em nossa vida, sem que nenhum ranço antiquado de moralidade cristã venha nos atrapalhar. De fato preza-se mais o poder de escolher, do que a escolha (e suas conseqüências) realmente feita.
A pergunta que o autor faz ao final de sua dissertação é: tire-se que cristianismo de nossas vidas. O que vem depois? Nenhum dos famosos ateístas respondem a isso, embora já vejamos defensores de idéias como aborto e eutanásia falarem em nome da Razão. Outros falam em clonagem e manipulação genética de humanos. Será essa verdadeiramente a Razão, ou estamos entrando em uma era de irracionalidade disfarçada, de niilismo ilimitado?
Razão, no senso cristão do termo, é o conhecimento balanceado por virtude, paciência, humildade, prudência e sabedoria. A razão irracional da liberdade pura é o “humanismo total” dos homens sem Deus, e pode ser extremamente perigosa.

Saturday, March 27, 2010

Something wicked this way comes...


Arnaldo Jabor, impecável:

"O PT encobre falcatruas em nome do poder, que eles chamam de "ideal socialista" ou algo assim. Tudo que acontece se coagula, coalha como uma pasta, uma "geleca", um brejo de não-acontecimentos onde tudo boia sem rumo. Ou então são eventos disparatados: um dia Lula está com o Collor; no outro, com o Hamas.
Uma visão crítica e racional sobre o Brasil ficou inútil. A maior realização deste governo foi a desmontagem da Razão. Podemos decifrar, analisar, comprovar crimes ou roubos, mas nada acontece. Fica tudo boiando como rolhas na água. A sinistra política de alianças que topa tudo pelo poder planeja com descaro transformar-se numa espécie do PRI mexicano. Desmoralizaram o escândalo, as indignações, a ética (essa palavra burguesa e antiga para eles)... Esses pelegos usurparam os melhores conceitos de uma verdadeira esquerda que pensa o Brasil dentro do mundo atual, uma esquerda que se reformou pelas crises do tempo, antes e depois da queda do Muro de Berlim. Eles se obstinam em usurpar o melhor pensamento de uma genuína "esquerda" contemporânea, em nome de uma "verdade" deformada que instituíram."

ONGLândia


O Haiti é a ONGlândia. Era assim antes do terremoto. Agora ficou pior. Demétrio Magnoli escreveu um artigo primoroso sobre o caso. O Haiti tem 9.000 ONG's atuando em seu território. Elas determinam quanto dinheiro vai para onde e quem recebe o quê.
Os haitianos (ah, o perigo da história única) são reduzidos a uma massa bruta de famélicos sem iniciativa, opinião ou idéias sobre como reerguer o próprio país. Tudo lhes é dado pela caridade alheia, que obviamente vive (e lucra) dos problemas dos haitianos.
É a síndrome africana, tal como Martin Meredith a descreveu em The State of Africa. Depois de trilhões de dólares despejados em ajuda estrangeira aos países africanos, o continente está mais pobre do que antes, exceto é claro pelos nababos da burocracia que vivem de intermediar a bufunfa.
Qual a chance que essas ONG's larguem o osso para fazer os haitianos a andarem com as próprias pernas?
Qual a chance que a Amazônia se transforme, se já não é, na nossa ONGlândia?

Chico Xavier, o filho do Brasil


Não sou médium mas recebi uma mensagem do além. O filme de Chico Xavier vai dar de dez a zero em bilheteria no filme do Lula.
Um é o filme sobre um homem que o povo santificou. Outro é um filme de um homem que quer se santificar aos olhos do povo.
Um é o filho do Brasil (de verdade). O outro é só um filho da p&%$#@.

We don't need no education


A primeira foto mostra uma policial agredida pelos grevistas da Apeoesp, o sindicato dos professores da rede oficial de ensino de São Paulo. Policiais e grevistas entraram em confronto nas imediações do Palácio dos Bandeirantes.
A quantidade de professores que aderiu à greve é mínima, mas é barulhenta. E a greve, como todo mundo sabe, não passa de campanha eleitoral na sua forma mais fascista, pelo terror. Não é segredo que a Bebel da Apeoesp, líder do movimento divide palanque com Dilma e está sob as ordens da CUT e do PT. Agora vejam o que disse o editorial do Estadão há uns dias atrás:

O caráter eleiçoeiro dos protestos ficou claro quando os líderes do professorado, depois de terem parado por duas sextas-feiras consecutivas o trânsito na região das Avenidas Paulista e Consolação, decidiram fazer um protesto em frente ao Palácio dos Bandeirantes. Na realidade, trata-se de mais uma provocação. Protestos nas ruas e avenidas em volta da sede do governo estadual são expressamente vedados por lei, que as classifica como “área de segurança”. Os líderes sindicais do funcionalismo sabem que, frente a manifestação em local proibido, a Polícia Militar é obrigada a intervir. E é justamente isso que eles querem: aproveitar os incidentes para se apresentar como vítimas da “violência do governador”.

Ou seja, todo mundo sabia que ia dar m... A barbárie dos sindicalistas não ficou evidente? Agora vem a foto número dois, professores queimando livros...
Onde foi que vimos isso antes? Alemanha 1936? Ring any bells?
Para que tipo de democracia estes tipos de professores estão preparando nossas crianças?

Friday, March 26, 2010

Wednesday, March 24, 2010

O perigo da história única

Por Chimamanda Adichie, escritora nigeriana:



Eu sou uma contadora de histórias e gostaria de contar a vocês algumas histórias pessoais sobre o que eu gosto de chamar "o perigo de uma história única." Eu cresci num campus universitário no leste da Nigéria. Minha mãe diz que eu comecei a ler com 2 anos, mas eu acho que 4 é provavelmente mais próximo da verdade. Então, eu fui uma leitora precoce. E o que eu lia eram livros infantis britânicos e americanos.
Eu fui também uma escritora precoce. E quando comecei a escrever, por volta dos 7 anos, histórias com ilustrações em giz de cera, que minha pobre mãe era obrigada a ler, eu escrevia exatamente os tipos de histórias que eu lia. Todos os meus personagens eram brancos de olhos azuis. Eles brincavam na neve. Comiam maçãs. (Risos) E eles falavam muito sobre o tempo, em como era maravilhoso o sol ter aparecido. (Risos) Agora, apesar do fato que eu morava na Nigéria. Eu nunca havia estado fora da Nigéria. Nós não tínhamos neve, nós comíamos mangas. E nós nunca falávamos sobre o tempo porque não era necessário.
Meus personagens também bebiam muita cerveja de gengibre porque as personagens dos livros britânicos que eu lia bebiam cerveja de gengibre. Não importava que eu não tinha a mínima ideia do que era cerveja de gengibre. (Risos) E por muitos anos depois, eu desejei desesperadamente experimentar cerveja de gengibre. Mas isso é uma outra história.
A meu ver, o que isso demonstra é como nós somos impressionáveis e vulneráveis face a uma história, principalmente quando somos crianças. Porque tudo que eu havia lido eram livros nos quais as personagens eram estrangeiras, eu convenci-me de que os livros, por sua própria natureza, tinham que ter estrangeiros e tinham que ser sobre coisas com as quais eu não podia me identificar. Bem, as coisas mudaram quando eu descobri os livros africanos. Não havia muitos disponíveis e eles não eram tão fáceis de encontrar quanto os livros estrangeiros,
mas devido a escritores como Chinua Achebe e Camara Laye eu passei por uma mudança mental em minha percepção da literatura. Eu percebi que pessoas como eu, meninas com a pele da cor de chocolate, cujos cabelos crespos não poderiam formar rabos-de-cavalo, também podiam existir na literatura. Eu comecei a escrever sobre coisas que eu reconhecia.
Bem, eu amava aqueles livros americanos e britânicos que eu lia. Eles mexiam com a minha imaginação, me abriam novos mundos. Mas a consequência inesperada foi que eu não sabia que pessoas como eu podiam existir na literatura. Então o que a descoberta dos escritores africanos fez por mim foi: salvou-me de ter uma única história sobre o que os livros são.
Eu venho de uma família nigeriana convencional, de classe média. Meu pai era professor. Minha mãe, administradora. Então nós tínhamos, como era normal, empregada doméstica, que frequentemente vinha das aldeias rurais próximas. Então, quando eu fiz 8 anos, arranjamos um novo menino para a casa. Seu nome era Fide. A única coisa que minha mãe nos disse sobre ele foi que sua família era muito pobre. Minha mãe enviava inhames, arroz e nossas roupas usadas para sua família. E quando eu não comia tudo no jantar, minha mãe dizia: "Termine sua comida! Você não sabe que pessoas como a família de Fide não tem nada?" Então eu sentia uma enorme pena da família de Fide.
Então, um sábado, nós fomos visitar a sua aldeia e sua mãe nos mostrou um cesto com um padrão lindo, feito de ráfia seca por seu irmão. Eu fiquei atônita! Nunca havia pensado que alguém em sua família pudesse realmente criar alguma coisa. Tudo que eu tinha ouvido sobre eles era como eram pobres, assim havia se tornado impossível pra mim vê-los como alguma coisa além de pobres. Sua pobreza era minha história única sobre eles.
Anos mais tarde, pensei nisso quando deixei a Nigéria para cursar universidade nos Estados Unidos. I tinha 19 anos. Minha colega de quarto americana ficou chocada comigo. Ela perguntou onde eu tinha aprendido a falar inglês tão bem e ficou confusa quando eu disse que, por acaso, a Nigéria tinha o inglês como sua língua oficial. Ela perguntou se podia ouvir o que ela chamou de minha "música tribal" e, consequentemente, ficou muito desapontada quando eu toquei minha fita da Mariah Carey. (Risos) Ela presumiu que eu não sabia como usar um fogão.
O que me impressionou foi que: ela sentiu pena de mim antes mesmo de ter me visto. Sua posição padrão para comigo, como uma africana, era um tipo de arrogância bem intencionada, piedade. Minha colega de quarto tinha uma única história sobre a África. Uma única história de catástrofe. Nessa única história não havia possibilidade de os africanos serem iguais a ela, de jeito nenhum. Nenhuma possibilidade de sentimentos mais complexos do que piedade. Nenhuma possibilidade de uma conexão como humanos iguais.
Eu devo dizer que antes de ir para os Estados Unidos, eu não me identificava, conscientemente, como uma africana. Mas nos EUA, sempre que o tema África surgia, as pessoas recorriam a mim. Não importava que eu não sabia nada sobre lugares como a Namíbia. Mas eu acabei por abraçar essa nova identidade. E, de muitas maneiras, agora eu penso em mim mesma como uma africana. Entretanto, ainda fico um pouco irritada quando referem-se à África como um país. O exemplo mais recente foi meu maravilhoso voo dos Lagos 2 dias atrás, não fosse um anúncio de um voo da Virgin sobre o trabalho de caridade na "Índia, África e outros países." (Risos)
Então, após ter passado vários anos nos EUA como uma africana, eu comecei a entender a reação de minha colega para comigo. Se eu não tivesse crescido na Nigéria e se tudo que eu conhecesse sobre a África viesse das imagens populares, eu também pensaria que a África era um lugar de lindas paisagens, lindos animais e pessoas incompreensíveis, lutando guerras sem sentido, morrendo de pobreza e AIDS, incapazes de falar por eles mesmos, e esperando serem salvos por um estrangeiro branco e gentil. Eu veria os africanos do mesmo jeito que eu, quando criança, havia visto a família de Fide.
Eu acho que essa única história da África vem da literatura ocidental. Então, aqui temos uma citação de um mercador londrino chamado John Locke, que navegou até o oeste da África em 1561 e manteve um fascinante relato de sua viagem. Após referir-se aos negros africanos como "bestas que não tem casas", ele escreve: "Eles também são pessoas sem cabeças, que têm sua boca e olhos em seus seios."
Eu rio toda vez que leio isso, e alguém deve admirar a imaginação de John Locke. Mas o que é importante sobre sua escrita é que ela representa o início de uma tradição de contar histórias africanas no Ocidente. Uma tradição da África subsaariana como um lugar negativo, de diferenças, de escuridão, de pessoas que, nas palavras do maravilhoso poeta, Rudyard Kipling, são "metade demônio, metade criança".
E então eu comecei a perceber que minha colega de quarto americana deve ter, por toda sua vida, visto e ouvido diferentes versões de uma única história. Como um professor, que uma vez me disse que meu romance não era "autenticamente africano". Bem, eu estava completamente disposta a afirmar que havia uma série de coisas erradas com o romance, que ele havia falhado em vários lugares. Mas eu nunca teria imaginado que ele havia falhado em alcançar alguma coisa chamada autenticidade africana. Na verdade, eu não sabia o que era "autenticidade africana". O professor me disse que minhas personagens pareciam-se muito com ele, um homem educado de classe média. Minhas personagens dirigiam carros, elas não estavam famintas. Por isso elas não eram autenticamente africanos.
Mas eu devo rapidamente acrescentar que eu também sou culpada na questão da única história. Alguns anos atrás, eu visitei o México saindo dos EUA. O clima político nos EUA àquela época era tenso. E havia debates sobre imigração. E, como frequentemente acontece na América, imigração tornou-se sinônimo de mexicanos. Havia histórias infindáveis de mexicanos como pessoas que estavam espoliando o sistema de saúde, passando às escondidas pela fronteira, sendo presos na fronteira, esse tipo de coisa.
Eu me lembro de andar no meu primeiro dia por Guadalajara, vendo as pessoas indo trabalhar, enrolando tortilhas no supermercado, fumando, rindo. Eu me lembro que meu primeiro sentimento foi surpesa. E então eu fiquei oprimida pela vergonha. Eu percebi que eu havia estado tão imersa na cobertura da mída sobre os mexicanos que eles haviam se tornado uma coisa em minha mente: o imigrante abjeto. Eu tinha assimilado a única história sobre os mexicanos e eu não podia estar mais envergonhada de mim mesma. Então, é assim que se cria umaúnica história: mostre um povo como uma coisa, como somente uma coisa, repetidamente, e será o que eles se tornarão.
É impossível falar sobre única história sem falar sobre poder. Há uma palavra, uma palavra da tribo Igbo, que eu lembro sempre que penso sobre as estruturas de poder do mundo, e a palavra é "nkali". É um substantivo que livremente se traduz: "ser maior do que o outro." Como nossos mundos econômico e político, histórias também são definidas pelo princípio do "nkali". Como são contadas, quem as conta, quando e quantas histórias são contadas, tudo realmente depende do poder.
Poder é a habilidade de não só contar a história de uma outra pessoa, mas de fazê-la a história definitiva daquela pessoa. O poeta palestino Mourid Barghouti escreve que se você quer destituir uma pessoa, o jeito mais simples é contar sua história, e começar com "em segundo lugar". Comece uma história com as flechas dos nativos americanos, e não com a chegada dos britânicos, e você tem uma história totalmente diferente. Comece a história com o fracasso do estado africano e não com a criação colonial do estado africano e você tem uma história totalmente diferente.
Recentemente, eu palestrei numa universidade onde um estudante disse-me que era uma vergonha que homens nigerianos fossem agressores físicos como a personagem do pai no meu romance. Eu disse a ele que eu havia terminado de ler um romance chamado "Psicopata Americano" - (Risos) - e que era uma grande pena que jovens americanos fossem assassinos em série. (Risos) (Aplausos) É óbvio que eu disse isso num leve ataque de irritação. (Risos)
Nunca havia me ocorrido pensar que só porque eu havia lido um romance no qual uma personagem era um assassino em série, que isso era, de alguma forma, representativo de todos os americanos. E agora, isso não é porque eu sou uma pessoa melhor do que aquele estudante, mas, devido ao poder cultural e econômico da América, eu tinha muitas histórias sobre a América. Eu havia lido Tyler, Updike, Steinbeck e Gaitskill. Eu não tinha uma única história sobre a América.
Quando eu soube, alguns anos atrás, que escritores deveriam ter tido infâncias realmente infelizes para ter sucesso, eu comecei a pensar sobre como eu poderia inventar coisas horríveis que meus pais teriam feito comigo. (Risos) Mas a verdade é que eu tive uma infância muito feliz, cheia de risos e amor, em uma família muito unida.
Mas também tive avós que morreram em campos de refugiados. Meu primo Polle morreu porque não teve assistência médica adequada. Um dos meus amigos mais próximos, Okoloma, morreu num acidente aéreo porque nossos caminhões de bombeiros não tinham água. Eu cresci sob governos militares repressivos que desvalorizavam a educação, então, por vezes, meus pais não recebiam seus salários. E então, ainda criança, eu vi a geleia desaparecer do café-da-manhã, depois a margarina desapareceu, depois o pão tornou-se muito caro, depois o leite ficou racionado. E acima de tudo, um tipo de medo político normalizado invadiu nossas vidas.
Todas essas histórias fazem-me quem eu sou. Mas insistir somente nessas histórias negativas é superficializar minha experiência e negligenciar as muitas outras histórias que formaram-me. A única história cria estereótipos. E o problema com estereótipos não é que eles sejam mentira, mas que eles sejam incompletos. Eles fazem um história tornar-se a única história.
Claro, África é um continente repleto de catástrofes. Há as enormes, como as terríveis violações no Congo. E há as depressivas, como o fato de 5.000 pessoas candidatarem- se a uma vaga de emprego na Nigéria. Mas há outras histórias que não são sobre catástrofes. E é muito importante, é igualmente importante, falar sobre elas.
Eu sempre achei que era impossível relacionar-me adequadamente com um lugar ou uma pessoa sem relacionar-me com todas as histórias daquele lugar ou pessoa. A consequência de uma única história é essa: ela rouba das pessoas sua dignidade. Faz o reconhecimento de nossa humanidade compartilhada difícil. Enfatiza como nós somos diferentes ao invés de como somos semelhantes.
E se antes de minha viagem ao México eu tivesse acompanhado os debates sobre imigração de ambos os lados, dos Estados Unidos e do México? E se minha mãe nos tivesse contado que a família de Fide era pobre E trabalhadora? E se nós tivéssemos uma rede televisiva africana que transmitisse diversas histórias africanas para todo o mundo? O que o escritor nigeriano Chinua Achebe chama "um equilíbrio de histórias."
E se minha colega de quarto soubesse do meu editor nigeriano, Mukta Bakaray, um homem notável que deixou seu trabalho em um banco para seguir seu sonho e começar uma editora? Bem, a sabedoria popular era que nigerianos não gostam de literatura. Ele discordava. Ele sentiu que pessoas que podiam ler, leriam se a literatura se tornasse acessível e disponível para eles.
Logo após ele publicar meu primeiro romance, eu fui a uma estação de TV em Lagos para uma entrevista. E uma mulher que trabalhava lá como mensageira veio a mim e disse: "Eu realmente gostei do seu romance, mas não gostei do final. Agora você tem que escrever uma sequência, e isso é o que vai acontecer... " (Risos) E continuou a me dizer o que escrever na sequência. Agora eu não estava apenas encantada, eu estava comovida. Ali estava uma mulher, parte das massas comuns de nigerianos, que não se supunham ser leitores. Ela não tinha só lido o livro, mas ela havia se apossado dele e sentia-se no direito de me dizer o que escrever na sequência.
Agora, e se minha colega de quarto soubesse de minha amiga Fumi Onda, uma mulher destemida que apresenta um show de TV em Lagos, e que está determinada a contar as histórias que nós preferimos esquecer? E se minha colega de quarto soubesse sobre a cirurgia cardíaca que foi realizada no hospital de Lagos na semana passada? E se minha colega de quarto soubesse sobre a música nigeriana contemporânea? Pessoas talentosas cantando em inglês e Pidgin, e Igbo e Yoruba e Ijo, misturando influências de Jay-Z a Fela, de Bob Marley a seus avós. E se minha colega de quarto soubesse sobre a advogada que recentemente foi ao tribunal na Nigéria para desafiar uma lei ridícula que exigia que as mulheres tivessem o consentimento de seus maridos antes de renovarem seus passaportes? E se minha colega de quarto soubesse sobre Nollywood, cheia de pessoas inovadoras fazendo filmes apesar de grandes questões técnicas? Filmes tão populares que são realmente os melhores exemplos de que nigerianos consomem o que produzem. E se minha colega de quarto soubesse da minha maravilhosamente ambiciosa trançadora de cabelos, que acabou de começar seu próprio negócio de vendas de extensões de cabelos? Ou sobre os milhões de outros nigerianos que começam negócios e às vezes fracassam, mas continuam a fomentar ambição?
Toda vez que estou em casa, sou confrontada com as fontes comuns de irritação da maioria dos nigerianos: nossa infraestrutura fracassada, nosso governo falho. Mas também pela incrível resistência do povo que prospera apesar do governo, ao invés de devido a ele. Eu ensino em workshops de escrita em Lagos todo verão. E é extraordinário pra mim ver quantas pessoas se inscrevem, quantas pessoas estão ansiosas por escrever, por contar histórias.
Meu editor nigeriano e eu começamos uma ONG chamada Farafina Trust. E nós temos grandes sonhos de construir bibliotecas e recuperar bibliotecas que já existem e fornecer livros para escolas estaduais que não tem nada em suas bibliotecas, e também organizar muitos e muitos workshops, de leitura e escrita para todas as pessoas que estão ansiosas para contar nossas muitas histórias. Histórias importam. Muitas histórias importam. Histórias tem sido usadas para expropriar e tornar malígno. Mas histórias podem também ser usadas para capacitar e humanizar. Histórias podem destruir a dignidade de um povo, mas histórias também podem reparar essa dignidade perdida.
A escritora americana Alice Walker escreveu isso sobre seus parentes do sul que haviam se mudado para o norte. Ela os apresentou a um livro sobre a vida sulista que eles tinham deixado para trás. "Eles sentaram-se em volta, lendo o livro por si próprios, ouvindo-me ler o livro e um tipo de paraíso foi reconquistado. " Eu gostaria de finalizar com esse pensamento: Quando nós rejeitamos uma única história, quando percebemos que nunca há apenas uma história sobre nenhum lugar, nós reconquistamos um tipo de paraíso. Obrigada.

Tuesday, March 23, 2010

Sonetto 104


Sonetto 104

Pace non trovo, et non ò da far guerra;
et temo, et spero; et ardo, et son un ghiaccio;
et volo sopra il cielo, et giaccio in terra;
et nulla stringo, et tutto 'l mondo abbraccio.

Tal m'à in pregion, che non m'apre né serra,
né per suo mi riten né scioglie il laccio;
et non m'ancide Amore, et non mi sferra,
né mi vuol vivo, né mi trae d'impaccio.

Veggio senza occhi, et non ò lingua et grido;
et bramo di perir, et cheggio aita;
et ò in odio me stesso, et amo altrui.

Pascomi di dolor, piangendo rido;
egualmente mi spiace morte e vita:
in questo stato son, donna, per voi.

Petrarca

Friday, March 19, 2010

Testemunho de histórias esquecidas


Eu nasci em Araraquara em 1975, e o que mais me lembra a primeira infância era o cheiro de suco de laranja que o vento trazia da fábrica da Cutrale, ali vizinha ao meu bairro. Mas muitas coisas aconteceram antes disso.
Meus primeiros antepassados paternos pisaram nesta terra há quase quatrocentos anos. Cheguei a encontrar em livros um longínquo x-avô que aqui aportou em 1676, vindo das ilhas dos Açores. Outros vieram depois.
Trouxeram-nos uma nacionalidade, a língua portuguesa e a religião católica. Um ganhou a vida como tropeiro, levando e trazendo burros, mulas e cavalos entre as províncias sulinas e São Paulo. Outros conquistaram terras e viraram grandes fazendeiros de café, em Itu, Santo André, Araras. Algumas dessas terras estão hoje sob o concreto das cidades. A imensa árvore genealógica liga-me diretamente a figuras históricas da República Velha. De tudo aquilo conquistado e depois dividido ou perdido em crises econômicas, batalhas políticas, jogos, negócios e disputas ficaram-me de herança as histórias e o sobrenome.
Minha família materna veio de outro capítulo importante de nossa história. Vindos dos rincões mais pobres e atrasados da Itália, chegaram aqui com uma mão na frente e outra atrás. Há pouco tempo, em uma vila encravada nas montanhas do Cilento, província de Salerno, na Itália, encontrei já velhinha a sobrinha de meu bisavô, que lembrava-se exatamente do dia em que fora despedir-se dele, que embarcava para o Brasil no porto de Nápoles. Aqui progrediu e se instalou em terras de Boa Esperança do Sul, também plantando café. Criou nove filhos. Minhas tias avós contavam histórias de como acordavam de madrugada para espantar ladrões de gado e cavalos da fazenda. Só os três mais velhos se formaram na universidade, porque a crise de 1929 veio, e a prosperidade acabou. Estoques de café sem valor nenhum chegaram a ser queimados nas locomotivas da Estrada de Ferro Araraquara e da Mogiana. Meu avô foi trabalhar no cabo da enxada. Casou-se, e minha avó, uma professora também italiana e de família pobre, mas acostumada com a vida boa da cidade foi para a fazenda onde aprendeu a carnear porco, fazer lingüiça e fritar a carne para ser conservada em barris de banha, já que não havia geladeira. Minha mãe passou a infância na fazenda. Anos depois, voltando de charrete da cidade à fazenda, meu avô contou à minha avó que iria construir uma fábrica de barbantes em sociedade com um imigrante libanês. A fábrica deu certo, minha mãe e todos os meus tios puderam estudar e se formar.Da fábrica de barbantes meus avós compraram um sítio para produzir laranjas. Mais ou menos na mesma época, seu José Cutrale, filho de um siciliano que vendia laranjas no mercado municipal de São Paulo, começou a fazer suco de laranja em Araraquara.
Meu pai, ainda jovem, acompanhava meu tio avô em viagens pelo Mato Grosso do Sul, que ainda era Mato Grosso. Meu tio avô, de Presidente Prudente, comprava gado lá do outro lado do Paranazão, e trazia de comitiva para os frigoríficos ingleses de São Paulo. Era um tempo onde não existia asfalto por ali. Todo mundo andava armado e onças e bandos de veados campeiros cruzavam o caminho nos campos do Bonito.
Meu pai foi estudar agronomia em Piracicaba, na Escola fundada no começo do século por Luiz de Queiroz, um industrial interessado em melhorar a qualidade do algodão que chegava em sua fábrica. Para isso dou sua própria fazenda, a São João da Montanha para fundar a Escola Agrícola. Esse mesmo algodão que Luiz de Queiroz plantava e comprava, meu avô usava para fazer barbantes, vendidos principalmente aos frigoríficos onde meu tio avô vendia bois. Em Piracicaba conheceu minha mãe. Recém formado, em 1971, foi a Alta Floresta, quando Alta Floresta era um acampamento de pau a pique e lona preta. Uma empresa italiana queria plantar café ali, com incentivo e ajuda do governo brasileiro. A mata foi derrubada, 20 mil pés de café e 10 mil pés de cacau foram plantados. Minha mãe não se acostumava com onças rondando a casa.
Foram a Campo Grande, de fusca. Campo Grande era um povoado cheio de imigrantes libaneses, japoneses, armênios e de índios e paraguaios. A cidade tinha algumas ruas de asfalto, e acabava ali na praça do Rádio. O bairro onde morei anos depois era ainda uma capoeira de mato em uma fazenda vizinha. A energia elétrica acabava sempre às sete da noite. Meu pai comprou terras em Bonito também para plantar café. Uma certa manhã o mundo amanheceu branco de geada, uma geada que ficou na memória dos mais velhos. O café e a fazenda acabaram-se, e eles voltaram a Araraquara. Minha mãe teve cinco filhos, e aí no meio eu nasci, sentindo o cheiro da fábrica de suco do seu José Cutrale. Meu pai pós-graduou-se em heveicultura. Em 1980 fomos em um Embraer Bandeirantes a Conceição do Araguaia, no Pará, ode ele produzia mudas de seringueira e gerenciava fazendas. Um de meus irmãos hoje trabalha de engenheiro na Embraer, ajudando a fazer alguns dos melhores aviões do mundo, bem melhores que aquele Bandeirantes (outro irmão trabalha com as maiores indústrias de alimentos do país, um outro constrói estradas e portos para escoar nossa produção). O governo ainda incentivava a derrubada da mata e a colonização da fronteira inóspita. Poucos anos antes índios haviam atacado a cidade matando alguns dos moradores a flechadas. Eram comuns histórias de assassinatos, tiroteios, brigas. Conceição também sofria com apagões e a falta de infra-estrutura. Certa vez um sujeito que havia tido a cara partida por um golpe de facão foi operado com luz de farol de carro no hospital da cidade. E sobreviveu. Mas eu e meus irmãos nos divertíamos pescando no rio, acampando nas praias, brincando nas rodas d’água das fazendas.
Em 1985, eu estava morando em Teresina, no Piauí. A 100km dali, uma grande empresa fazia um imenso projeto de arroz irrigado às margens do Parnaíba. O governo, através do Pró-Várzeas incentivava o aproveitamento do uso racional das várzeas de rios. Era engraçado ver a gauchada importada para implantar o projeto de arroz tomando chimarrão de bombachas a um calor de 40 graus. A fazenda era uma imensidão de milhares de hectares verdes de arroz. Nossa diversão era nadar no imenso canal central de irrigação e pular nos montes de palha do arroz beneficiado. A soja avançava no Cerrado, e no fim daquela década chegaram os primeiros paulistas, vindos de Araraquara, para plantar no sul do Piauí. No vale do São Francisco crescia a fruticultura. Meu pai se apaixonara pela piscicultura, e foi também um pioneiro na criação de camarão da malásia no Brasil.
Fui estudar agronomia também na Esalq. Partilhei casa e comida e amizades com gente dos quatro cantos do Brasil, ricos, pobre, brancos, mulatos, pretos, japoneses, rurais e urbanos, todos apostando que na agropecuária estava o futuro do Brasil.
Eu e um grupo de colegas economizamos por três anos para patrocinar uma viagem destinada a conhecer a agricultura Européia. Andamos por campos, vinhas, criações, fazendas robotizadas, indústrias químicas, fábricas, bancos, universidades e até a sede da FAO, em Roma. Embora o mundo estivesse de olho na China, o Brasil despertava o interesse em todo lugar onde passávamos.
Voltei à Europa em 1999. Trabalhei em uma fazenda francesa, colhendo batata, milho, morangos, feijão. Meus patrões, donos de 60ha viviam de produzir sementes de milho, cânhamo e da feira de legumes do sábado. Estudei na Escola de Agricultura de Angers e com meus colegas franceses fomos a feiras de gados e viajamos por fazendas e frigoríficos irlandeses para uma pesquisa de campo.
Virei estagiário de um frigorífico francês. Depois me ofereceram emprego. No final de 2000, uma vaca louca foi descoberta na linha de abate da minha empresa. Depois disso, a doença que até então estava restrita ao Reino Unido começou a aparecer na Europa toda, provocando uma enorme crise no setor de carnes do continente. Dali fui em 2001 para a Holanda, para trabalhar na importação e distribuição de carne brasileira, que minha intuição dizia, tinha um futuro muito mais promissor. Com o real desvalorizado desde 99, a economia estabilizada desde 94, a Europa fora dos mercados da Rússia e do Oriente Médio e a argentina sufocada por uma política suicida, as exportações brasileiras dispararam. Frigoríficos, todos já nas mãos de brasileiros se profissionalizaram. A velha geração de açougueiros e marreteiros de boi começou a dar lugar à segunda geração de tecnocratas, economistas e audaciosos homens de negócio que abriam ações na bolsa e compravam outras empresas no exterior.
Nossas plantas não ficavam em nada a dever àquelas francesas e irlandesas que eu havia conhecido. Nem tampouco nossas fazendas, imensidões de pasto e espaço comparadas às granjas enlameadas de duas dúzias de vacas multicores dos irlandeses.
Vinte anos depois dos tempos de Sarney e Dílson Funaro, quando tivemos que importar o “Chernobife” russo que ninguém queria, o Brasil era o maior exportador de carne do mundo, e a Rússia nosso maior cliente.
A cada quilo de carne que eu vendia eu pensava estar ajudando a criar um emprego para alguém no Brasil.
Voltei em 2008 com saudades da terra, e fui para Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. Marquei gado, vacinei, brinquei, toquei boiada, aprendia a olhar a bosta para ver se cada um deles estava comendo bem...
Hoje meu trabalho é tentar descobrir a maneira de conciliar a produção de carne com a preservação ambiental. E nem é tão difícil, temos toda a tecnologia para isso. Podemos dobrar nossa produção de carne sem derrubar nenhuma árvore sequer. Meus antepassados eram tropeiros. Eu dirijo um carro flex-fuel abastecido com o biocombustível mais eficiente do mundo.
Essa é, resumidamente, a minha história. E é uma pequena parte da história de como este país foi construído. Uma história esquecida por um povo que não se lembra sequer do escândalo do mês passado em Brasília. Um povo capaz de mobilizar 80 milhões de pessoas para tirar alguém do Big Brother e incapaz de fazer o mesmo para tirar um corrupto do Congresso.
Vivo do meu trabalho e do meu salário. Durante quatro meses do ano trabalho de graça para um governo que pouco ou nada me dá em troca. Mesmo assim quer determinar o que devo ler, escrever, comer e até pensar. Transforma estudantes em militantes semi-analfabetos a quem chama cidadão consciente. Defende ditadores e assassinos pelo mundo, enquanto se auto-proclamam democratas. E mesmo com tanto autoritarismo é um governo incapaz de manter a lei e a ordem tanto nas fronteiras como no coração das maiores cidades do país. O sul do Pará ainda hoje é um faroeste caboclo.
Minha religião, berço da democracia e do senso moral deste hemisfério está sob ataque, acusada de intolerância. Em nome dessa suposta “tolerância”, pretende-se que seus símbolos sejam arrancados de todo e qualquer lugar público. Essa mesma “tolerância” exige que eu aceite como normais qualquer tipo de comportamento moral e sexual. Nosso próprio governo dá cartilhas de sexo, camisinhas e pílulas às nossas crianças achando que assim os educa melhor do que os pais.
Não sou rico e nem latifundiário. Mas sou rotulado como parte da “elite branca” responsável por todos os males do país. Se eu sou assaltado, dizem que a culpa é mais minha, por ter um relógio, do que daquele que me assaltou. Responsabilidade e livre arbítrio não existem mais.
Por quê isso tudo? Devo me envergonhar de alguma parte da minha história? Será que é porque acredito, como Lincoln, que a propriedade é o fruto do trabalho de um homem, é seu direito, e é a base de uma sociedade democrática? Certos setores da sociedade acham perfeitamente normal por exemplo que a propriedade da Cutrale seja depredada e saqueada pelo MST. E pensam ser desejável que de agora em diante o direito de propriedade seja apenas relativo.
Nos dividem em brancos, pretos, índios depois de cinco séculos de miscigenação sob que propósito? Criar alguns cidadãos “mais iguais” perante a lei do que os outros?
Meu pai, aos 65 anos queria começar uma criação de camarões. Hoje, a promissora criação de camarão brasileira foi praticamente exterminada pelo ambientalismo militante. Espero que meu pai ainda não acabe seus dias na cadeia por insistir nisso. Ele que desmatou e plantou em várzea de rio hoje certamente mereceria prisão perpétua.
Meu filho vai nascer em junho. Estou feliz porque é tempo de festa junina, de comemorar a colheita na roça. Ao mesmo tempo não sei em que tipo de país ele vai viver. Nesse momento, como feto, a vida dele para alguns vale menos do que a de um mico-leão ou ovos de tartaruga.
Eu esperava, ainda espero, que ele possa desfrutar dessa imensa promessa de riqueza futura que é o agronegócio brasileiro, e vou gastar todas as minhas forças, toda a minha energia, a última gota de saliva e a última tinta no papel para que assim seja.
Minha vida e minha história sempre estiveram de uma forma ou outra ligada à agricultura, como esteve a história desse país. Hoje, adolescentes de 15 a 60 anos de coletinho e bolsa a tiracolo querem apagar nossa história, reescrever o passado, ditar o presente e nos roubar o futuro. Querem nos transformar em criminosos e vigaristas. Mas mantenho a esperança de que democraticamente iremos vencer essa tentação totalitarista que nos assombra por detrás de boas intenções.
Tenhamos fé.

Tuesday, March 16, 2010

Comunistas e terroristas


O fato de Lula querer ser mediador do conflito entre israelenses e palestinos já é uma aberração mista de megalomania, ignorância e prepotência. Imaginavam os gurus do Itamaraty que qualquer país democrático em sã consciência aceitaria essa oferta vinda de um país que adora bajular ditaduras assassinas?
Mas a atitude de Lula não causa surpresa nenhuma. Ao contrário, insere-se perfeitamente na lógica estúpida da nova diplomacia petista.
Lula recusa-se a visitar o túmulo de Theodor Herzl, mas irá depositar flores no túmulo de Arafat.
Arafat é um daqueles mártires da esquerda revolucionária para quem o fim justifica todos os meios, quaisquer que sejam estes meios. Era um terrorista responsável pela morte de milhares de civis inocentes, um corrupto que desviou milhões de dólares de ajuda estrangeira aos palestinos para suas contas pessoais na suíça, um hipócrita que escondia a própria homossexualidade enquanto trabalhava para extremistas vêem o homossexualismo como um crime, e mais do que tudo era alguém a quem foi dada a chance de ser o líder de um novo país, mas que a recusou para continuar com sua obsessão genocida. É este o homem que vai receber flores de Lula em seu túmulo.
Recuemos um pouco mais no tempo. O livro de David Meir-Levi, History Upside Down: The Roots of Palestinian Fascism and the Myth of Israeli Aggression traz fatos interessantes sobre as origens da OLP e da luta dos palestinos.
No início da década de 60, a KGB estava interessada em expandir “frentes de libertação” no Terceiro Mundo. O Exército de Libertação Nacional da Bolívia, criado em 64 com a ajuda de Che Guevara foi um. O Exército de Libertação da Colômbia, criado em 65 com a ajuda de Fidel foi outro. A guerrilha do Fatah de Arafat era perfeita para isso. O primeiro conselho da OLP em 1964 reuniu 422 representantes palestinos escolhidos a dedo pela KGB, e elegeu um de seus agentes, Ahmad Shukairi como seu líder. A primeira Carta Nacional Palestina foi feita em Moscou. As armas dos palestinos eram fornecidos pela Stasi alemã oriental e pela KGB, o apoio logístico pelos agentes romenos de Ceaucescu. Durante os primeiros anos de existência da OLP, dois aviões cargueiros de Bucareste aterrissavam por semana em Beirute trazendo armas e suprimentos aos guerrilheiros palestinos. A KGB não só armava e treinava os palestinos como os usava para treinar milhares de outros terroristas. A partir dali a OLP manteria contato com outras organizações terroristas no mundo, inclusive neo-nazistas e de extrema direita. Em Moscou foi criada a Universidade Popular Patrice Lumumba, para doutrinar líderes do terceiro mundo. Mahmoud Abbas, que sucederia Arafat na OLP foi diplomado PhD. ali em 1982, com uma tese que negava o Holocausto. Cuba também se tornou uma base de treinamento terrorista. Vários oficiais da OLP foram treinados lá, e agentes da inteligência cubana visitavam a Palestina para vistoriar os campos de treinamento palestinos. Arafat também havia enviado Abu Jihad, líder das operações militares palestinas estudar as táticas do general vietnamita Ho Chi Mihn. Ao mesmo tampo traduzia para o árabe os manuais e textos de Mao e de Nguyen Giap, o chefe estrategista dos vietnamitas do norte.
Foi de Giap que Arafat receberia o conselho que mudou a história da OLP: “Pare de falar em aniquilar Israel e transforme sua guerra de terror em uma luta por direitos humanos. Aí você terá os Americanos comendo na sua mão”.
Nicolai Ceaucescu, o ditador romeno mestre da propaganda ajudou Arafat a seguir o conselho de Giap, transformando aos olhos do Ocidente os palestinos de terroristas em vítimas dos israelenses.
Para manter Arafat sob controle, a KGB com a ajuda do embaixador romeno no Egito gravou em vídeo várias noitadas homossexuais de Arafat com seus guarda-costas e com os pré adolescentes tirados dos orfanatos romenos, que Ceaucescu lhe oferecia a título de hospitalidade.
A Palestina e o povo palestino foram uma mentira desde sua origem. O próprio Arafat admite em sua biografia: “O povo palestino não tem identidade nacional. Eu, Yasir Arafat, homem do destino lhes darei essa identidade pelo conflito com Israel.”
A luta dos palestinos, forjada pelos agentes comunistas, tornou-se único movimento de auto-determinação política no mundo cuja única raison d’être é a aniquliação e o genocídio de um povo.
É isso que nossa diplomacia está homenageando.

Efemeridade


A vida é um piscar do olho de Deus.

Friday, March 12, 2010

Geraldão no more...



Para Glauco, assassinado em Osasco ontem.

Thursday, March 11, 2010

Exterminadores do Futuro


A bancada ambientalista do Congresso lançou ontem uma ofensiva para impedir alterações substanciais exigidas por parlamentares ruralistas no Código Florestal Brasileiro. Às vésperas da campanha eleitoral, a estratégia é radicalizar o discurso em defesa da atual legislação para constranger os ruralistas.
Auxiliados pela ONG Fundação SOS Mata Atlântica, a Frente Ambientalista decidiu "divulgar" uma lista dos principais defensores da mudança da legislação ambiental. Batizada de "Exterminadores do Futuro", a campanha identificará quais são os deputados e senadores mais engajados no afrouxamento das regras ambientais. "A gente tem que constrangê-los. Eles têm que assumir a responsabilidade por suas opções", diz o coordenador da Frente Ambientalista, deputado Sarney Filho (PV-MA), também conhecido como Zequinha Sarney. "Temos que usar nossas armas".

A matéria é de Mauro Zanatta, publicada no Valor Econômico

Agora pense nisso:

- Em 2007, a população urbana do planeta ultrapassou a população rural.
- Em 2009, segundo a FAO, cerca de um bilhão de pessoas estavam vivendo em algum grau de subnutrição. Ainda segundo a FAO, a produção de alimentos nos países em desenvolvimento deverá dobrar nos próximos anos para atender a essa demanda.
- Em 2014, segundo o FMI, o PIB dos países em desenvolvimento reunidos ultrapassará o PIB dos países desenvolvidos.
- Em 2050, segundo a ONU, a população mundial será de mais de 9,2 bilhões de pessoas.
Nós temos um mundo em crescimento, cuja renda está aumentando e que está precisando desesperadamente de alimentos. A agricultura no Brasil ocupa 7,5% da superfície do país. Mesmo assim somos dos maiores exportadores do mundo de carnes, soja, café, açúcar, suco de laranja e vários outros produtos agrícolas. O agronegócio representa hoje um terço do PIB, dos empregos e da exportação do Brasil e é a maior promessa de riqueza para o futuro deste país.
O eco-xiismo quer criminalizar esta atividade. Julga-a responsável por todos os males ambientais do país. Não reconhece o fato de que o aumento da produtividade agrícola no mundo nos últimos 50 anos fez com que mais de um bilhão de hectares de biomas nativos no mundo todo fossem preservados. Acredita que preservação e produção são antagônicos, e não complementares. Em nome desse preconceito boçal quer negar ao país a chance de crescer.
Eu pergunto agora: quem são os verdadeiros exterminadores do futuro?

Cuba Libre


Depois do Fidel de Nike, agora Che com Coca-Cola...
E pau nos dissidentes.

Ives Gandra e o PNDH3


Vão pra Cuba que os pariu...

Tuesday, March 09, 2010

Perdeu a moral mas não o autoritarismo


Trechos do Editorial da Folha de SP de 07 de março:

1. É que a capacidade petista para a mentira tem origens diferentes, e mais antigas, do que a simples charamela lacrimosa dos espertalhões de voo curto. Pois o PT, no clássico figurino stalinista, sempre pode dar uma interpretação "de classe" às críticas que venha a merecer. Como o partido se julga o representante místico dos "trabalhadores", o financiamento escuso que receba de empreiteiras, as alterações legais casuísticas que promova em favor de uma empresa de telecomunicação, não representarão escândalo jamais.

2. Ao contrário: aliar-se financeiramente a "setores do empresariado" que vivem à sombra das benesses do governo, e aliar-se politicamente à escória do Legislativo brasileiro, torna-se um sinal de esperteza política na linha dos fins justificam os meios. Autoabsolvido pelo venerável espírito hegeliano-marxista da História, o petismo pode fazer tudo o que condenava em seus adversários, e apresentar-se ainda assim como detentor das virtudes mais cristalinas.

3. Quem apontar a farsa será tachado de inimigo dos trabalhadores e, na tese de uma imaginária "guerra de extermínio", o PT mostra apenas a sua própria tentação totalitária. Nessa lógica, que não admite críticas, faz-se de perseguido aquele que se apronta para perseguir; faz-se de vítima quem pretende ser algoz; faz-se de democrata o censor, de honesto o corrupto, de inocente o bandido. O PT perdeu a moral que tantas vezes ostentava quando na oposição. Perdeu a moral, mas não perde o autoritarismo, a mendacidade e a arrogância.

Na imagem, a capa da MAD censurada no Brasil, mostrando Dilma comandada pelo Lulavatar.

24 semanas

É assim que ele está:

Mas sem esse sotaque portuga.

Dia da Mulher II


O outdoor é de uma campanha anti-aborto polonesa, e lembra que foi o nazismo que introduziu o aborto para as mulheres polonesas.
David Bentley Hart em Atheist Delusions diz que a máxima expressão da modernidade traduz-se em liberdade sem peso na consciência. Somos consumidores vorazes, e a liberdade de poder escolher torna-se muito mais importante do que aquilo que escolhemos.
Mulheres mais do que homens são vítimas dessa nova ditadura da liberdade, talvez porque oprimidas por tanto tempo. Agora torna-se imperativo para a mulher moderna dizer o que pode ou não fazer com o próprio corpo, seja usá-lo num filme pornográfico, ou a exibir-se seminua na passarela do samba, comportando-se como uma biscate para vender cerveja a marmanjos, ou cometendo um aborto (se elas pensam que o aborto diz respeito somente ao seu próprio corpo).
É uma grande conquista do feminismo o fato da modernidade ter trazido essa liberdade a essas mulheres. Obviamente não sou eu ou a Secretaria da Mulher que vai ditar o que elas devem ou não fazer.
Mas é bom lembrar a essas mulheres e também aos homens modernos o que disse São Paulo: A mim tudo me é permitido, mas nem tudo me convém.

Dia da Mulher


Kathryn Bigelow e o Oscar por The Hurt Locker
Girls and her brains beats boy and his toys...Como sempre.
Tomou James Cameron? E da ex-mulher ainda...

Friday, March 05, 2010

Grande Dicionário Ilustrado Lumières de Sinônimos e Antônimos

DEVASSA

PUDICA

E a Secretaria da Mulher é quem decide...

Wednesday, March 03, 2010

Notícias Populares

Regra Lumières No 1 em sociologia: de minuto em minuto nasce um otário no mundo.

O Casseta e a censura

Nem piada o tal controle social da mídia aguenta...

Tuesday, March 02, 2010

Springboks June 1995

Nelson Mandela e François Pienaar

Invictus


Em 1995 eu havia entrado na posição de segundo centro para o glorioso Luiz de Queiroz Rugby Club, time da ESALQ em Piracicaba.
Era ano da Copa do Mundo de Rugby na África do Sul. O apartheid havia terminado em 1990 e o país era novamente aceito nas competições internacionais
Em Piracicaba compramos camisetas com o emblema da Copa e acompanhávamos as notícias da competição através daqueles que tinham o luxo da TV a cabo. Ali eu ouvi o nome de François Pienaar, capitão dos Springboks pela primeira vez.
O desempenho da África do Sul, liderada por Pienaar, foi surpreendente. Um ano antes o buraco na defesa dos Springboks parecia maior do que a Table Mountain. Agora eles não só haviam chegado à final como haviam vencido os melhores do mundo, os All Blacks da Nova Zelândia de Jonah Lomu. No rugby sabe-se que ganha a partida que tem mais vontade de ganhar, e a África do Sul tinha essa sede de vitória.
Mas Invictus não é um filme sobre este magnífico esporte que é o rugby (eu daria meu reino por um par de ombros novos para jogar de novo).
Invictus é sobre um homem e o nascimento de uma nação.
Nelson Mandela chegou à presidência de um país com a alma dilacerada, dividido em duas metades que se odiavam. A maioria negra poderia facilmente ter cedido à tentação da vingança e declarado uma guerra civil à minoria branca que por tantos anos os havia subjugado, como ocorrera no Zimbábue, em Angola, Moçambique e outros países africanos. Mandela tomou o país pelas mãos falando em perdão e reconciliação. Viu no time dos Springboks, antigo símbolo do apartheid, e na Copa do Mundo uma oportunidade para construir sua Rainbow Nation, um país com todas as cores. E conseguiu. A final no Ellis Park de Johannesburg foi o nascimento da nova África do Sul.

Invictus
William Ernest Henley

Out of the night that covers me,
Black as the Pit from pole to pole,
I thank whatever gods may be
For my unconquerable soul.

In the fell clutch of circumstance
I have not winced nor cried aloud.
Under the bludgeonings of chance
My head is bloody, but unbowed.

Beyond this place of wrath and tears
Looms but the Horror of the shade,
And yet the menace of the years
Finds, and shall find, me unafraid.

It matters not how strait the gate,
How charged with punishments the scroll.
I am the master of my fate:
I am the captain of my soul.

Keep Walking

A história do meu amigo Johnnie Walker:

Monday, March 01, 2010

Food Inc.


Somos o que comemos. E Food Inc. quer mostrar que há algo de errado com o que comemos. Preciso realmente ver o filme antes de qualquer comentário para ter certeza de que não se trata de um Michael Moore da comida, mas basicamente concordo com a premissa de que a indústria quer tudo mais rápido e mais barato. Isso é verdade tanto para carros e eletrodomésticos como para alimentos, com a diferença que estes últimos vêm parar dentro de nós.
O problema, como todos os outros problemas, está no comportamento individual do consumidor. Em resumo, se você continua comprando lixo vão continuar produzindo lixo.
Indicado ao Oscar de melhor documentário.