Sunday, March 28, 2010

Atheist Delusions


A história deles é conhecida e convictamente espalhada por aí. O mundo antigo criou as artes, a filosofia, a ciência. Veio o Cristianismo, e com o fim do Império Romano mil anos de trevas caíram sobre o mundo ocidental. O fanatismo religioso acabou com a ciência, despertou guerras sangrentas, causou a morte de milhares na Inquisição até que o Iluminismo viesse e a razão triunfasse finalmente separando Estado e Igreja. Agora é a hora de nos livrarmos finalmente desses dogmas absurdos e atrasados, resquícios de uma era de obscurantismo para que finalmente o homem e sua razão triunfem sobre a Terra.
David Bentley Hart em seu livro Atheist Delusions desmonta cada argumento desses, e não sobra nem pó. Ele só lamenta que tipos como Richard Dawkins, Daniel Dennet, Christopher Hitchens e Sam Harris, para citar só os ateístas militantes mais best-sellers do momento, sejam tão infinitamente mais pobres em argumentos, mais ignorantes em História, Filosofia e até na arte de escrever do que foram outrora outros ilustres críticos do Cristianismo como Voltaire e Nietzsche.
Com erudição sem par, David Bentley Hart fala dos primórdios do Cristianismo, da revolução causada na mentalidade antiga pela extraordinária idéia da caridade e do amor ao próximo como forma de salvação, em um mundo resignado com o destino e regido pela lei do mais forte. Fala de como a ciência e filosofias antigas foram salvas pela Igreja das ruínas romanas, e por ela preservadas e aperfeiçoadas nas universidades católicas. Fala de como as chamadas guerras de religião estavam muito mais ligadas ao surgimento do Estado moderno do que efetivamente a motivos religiosos. De como os tribunais da Inquisição na imensa maioria das vezes serviam mais para conter a fúria linchadora de uma população ignorante e de um poder secular desejoso de se mostrar eficiente do que para condenar inocentes à fogueira.
Fala também quão absurda é a crença no Absolutismo da Razão, dadas as terríveis experiências que vão desde a Revolução Francesa até as atrocidades genocidas do século XX. E de como vieram do Cristianismo frutos como a democracia, os movimentos abolicionistas e pelos direitos humanos, as organizações de caridade e até as liberdades democráticas e a noção de livre iniciativa.
A Igreja está, e não é segredo para ninguém, sob ataque constante. Ao atacarem a Igreja, instituição controlada e guiada por homens e portanto sujeita às falhas e erros destes, esperam destruir a idéia do Cristianismo, o que é um erro.
Convicção religiosa é um motivo poderoso para matar? Certamente sim. Mas é também é o único motivo para não matar, para compreender, para buscar a paz, para perdoar. E só uma profunda ignorância da história poderia deixar de reconhecer isso.
Cristãos tem a obrigação de não esquecer a inclinação humana para a violência, e nem quantas vítimas essa violência já fez, pois adoramos um Deus que não apenas toma o partido dessas vítimas mas que foi ele mesmo uma delas, brutalmente torturado e assassinado pelos poderes da sociedade dos homens.
Hoje, a figura do Cristo humilhado e torturado na cruz nunca mais pode ser vista como algo por assim dizer ridículo ou depreciativo. Mesmo os piores de nós, criados à sombra da Cristandade são incapazes de ignorar o sofrimento de alguém sem violentar a própria consciência.
Mas hoje vivemos em uma sociedade de consumo que quer a liberdade total. Essa é a única premissa da modernidade. A idéia de religiosidade moderna transformou-se num supermercado espiritual, pegamos uma aula de meditação zen budista aqui, um tarô ali, um dream catcher na feirinha de antiguidades, uma imagem de Shiva na estante, runas escandinavas, um santinho no quarto e arruda atrás da porta. Mas tal como queremos liberdade na hora de consumir, queremos liberdade de escolha total em nossa vida, sem que nenhum ranço antiquado de moralidade cristã venha nos atrapalhar. De fato preza-se mais o poder de escolher, do que a escolha (e suas conseqüências) realmente feita.
A pergunta que o autor faz ao final de sua dissertação é: tire-se que cristianismo de nossas vidas. O que vem depois? Nenhum dos famosos ateístas respondem a isso, embora já vejamos defensores de idéias como aborto e eutanásia falarem em nome da Razão. Outros falam em clonagem e manipulação genética de humanos. Será essa verdadeiramente a Razão, ou estamos entrando em uma era de irracionalidade disfarçada, de niilismo ilimitado?
Razão, no senso cristão do termo, é o conhecimento balanceado por virtude, paciência, humildade, prudência e sabedoria. A razão irracional da liberdade pura é o “humanismo total” dos homens sem Deus, e pode ser extremamente perigosa.

2 comments:

Lelec said...

Humm... Valeu pela dica. Gosto do assunto e tenho lido tudo quanto é livro que me tem parado nas mãos. Espero que esse livro seja traduzido para o português, porque, confesso, fico desanimado para ler em inglês...
Abraço

Bípede Falante said...

Eu não sei o que vem depois, mas deus não faz falta nenhuma na minha vida.