Thursday, August 19, 2010

Repórteres...


O vídeo que aparece aqui é da reportagem do SBT Repórter de segunda feira passada. Eu apareço ali entre o 7:10 e o 7:14 minutos deste bloco.
São 4 segundos de fama na TV mais feliz do Brasil.
Para aparecer 4 segundos, saí de são Paulo em uma van e passei o dia gravando em uma fazenda em Paulínia. Falei horas sobre o impacto ambiental da pecuária, de como a ciência e a tecnologia podem mitigar esses impactos, falei de recuperação de pastagens, da importância que isso terá no combate ao desmatamento, falei de mitos sobre as emissões de metano, falei de nutrição animal.
Tudo isso para que a edição do programa usasse apenas uma frase "engraçadinha" para ir ao ar.
Eu queria fama? Não, principalmente não junto com Silvio, Hebe & cia. Eu apenas cometi o erro de acreditar que a TV realmente se interessa em esclarecer a população sobre determinados assuntos. Mas não foi a primeira vez, e nessas experiências aprendi um pouco sobre jornalismo. Algumas lições (que valem uma faculdade de jornalismo):

1. Reportagem que vende é a que apela às massas. Segundo o Gilberto Smaniotto, nessa categoria estão reportagens sobre comida, sexo e histórias policiais. Fora disso o assunto é "cult".
2. Repórteres são seres absolutamente ignorantes em todos os assuntos. Na verdade, eles aprendem que não precisam saber nada, já que a função deles é a de reportar, ou seja, a de dizer "Fulano que é especialista falou isso". O problema é que nesse processo ele vai acumulando o que ouviu a torto e a direito, e o resultado é o repórter que continua sem saber nada mas que agora acha que sabe tudo.
3. Não interessa qualquer tipo de informação relevante que você queira passar ao público. É o repórter quem decide o que ele acha que é relevante (e isso sem saber nada). E nessa tarefa, ele não vai obviamente reportar o que você acha importante, ele vai ficar de olho na sua frase mais "engraçadinha" ou "polêmica" para por no ar (tipo: carne de porco é afrodisíaca, frase dita pela infame Cristina Kirchner e ridicularizada na Argentina inteira). Essa é a que chama a atenção e traz ouvintes, telespectadores e leitores. Informação é efeito colateral.
4. Jornalismo tem obsessão pelo "outroladismo". Se há uma notícia ruim sobre o PT, ele busca outra pior sobre o PSBD para por na mesma página do jornal. Se a reportagem é sobre carne, vamos ouvir os vegetarianos. Não interessa se o "outro lado" está dizendo os maiores absurdos.
5. O "outroladismo" não significa em absoluto imparcialidade. Porque tudo o que o repórter juntou, ele passa a seu editor. E aí você depende das boas graças desta figura para saber se sua mensagem passou ou não. No caso do SBT Repórter, o editor achou por bem destacar o casalzinho-campineiro-moderno-descolado-consciente-eu sou jóia-vegetariano (que domina o resto do programa) cozinhando estrogonofe de cogumelo e relacionar o consumo de carne aos peões do Pantanal e churrasqueiros pançudos.
6. A praga do politicamente correto que assola a inteligência do país está obviamente presente no jornalismo. E segundo os editores do SBT, politicamente correto é não comer carne. Nessa reportagem, como notado por alguns amigos com um mínimo de QI, o recado foi: Se possível evite carne. Ou como diz a top do Esquadrão da Moda: "Geeeente, meu sonho é ser vegetariana"...Comer carne virou sinônimo de peso na consciência. Felicitações ao jornalismo engajado.

Bem, longe de mim interferir na liberdade de imprensa. Mas a lição está aprendida. E como foi dito no Congresso da ABAG, se o agronegócio quiser aprender a se comunicar melhor, é bom ele mesmo tomar para si esta tarefa.

3 comments:

Anonymous said...

De landbouw ingenieur heeft gesproken: een bbq voor de hele wereld is mogelijk. Fantastisch. Dan hebben we rundvlees en kippenvlees uit Brazilie en varkensvlees uit Nederland. Genoeg om de hele wereld om de dag van een ander stukje vlees te voorzien. Bedankt Fer.

Mijn advies: Heb je een kopie van het gehele interview? Zo nee, vraag die op en publiceer die op internet als antwoord op je 10 seconden beroemdheid. Een beetje eerherstel is wel op z'n plaats. Anders blijf je volgens mij met het gevoel achter dat je bent verkracht door deze (*&#%(& verslaggever. Dus doe je best. Ik ben in ieder geval benieuwd naar de rest van het(ontbrekende)interview

Gr,

R.

Augusto Araújo said...

Pois eh Fernando, eu peguei a materia andando e ateh ia escrever pra voce pra saber se vc tinha aparecido mais, mas agora vc jah esclareceu

engracado q o aviso implicito, ou nao tao implicito eh o seguinte: " carne: coma com moderacao" ou talvez " Carne: coma com moderacao e se possivel evite"

eh bem o q aquela modelo do esquadrao da moda disse " eu queria ser vegetariana, mas por enquanto nao consigo"

o pessoal come carne com sentimento de culpa, q bobagem

A materia deveria ter explicado q a carne nao eh soh sabor, mas um alimento de alto valor nutricional e q favoreceu o desenvolvimento cerebral do Homo sapiens

Anyway, o negocio eh isso mesmo q vc falou, o agronegocio tem q saber fazer seu marketing, embora as melhores materias q jah vi sobre carne tenham saido na VEJA, uma dizia "vaca, a melhor amiga do homem"

abraco!

clabrazil said...

Fernando,

Você acaba de desvendar o segredo dos jornalistas, meu caro.

Faz sentido agora que não se deva acreditar em tudo que se leia ou veja?

Gostei do chapéuzinho. E a matéria me fez ficar com desejo de picanhas suculentas com aquela capinha de gordura. Ai, meu bebê.

No fim das contas, é só isso que deu pra levar a sério.
Beijos,
Clarisse