Wednesday, March 31, 2010

Viva a República


Nos meus saudosos e gloriosos tempos de estudante em Piracicaba, passei cinco anos dividindo a casa com mais dez brutos e alguns cachorros. Se as paredes falassem...
Hoje há uma espécie de campanha politicamente correta argh! para acabar com as repúblicas, consideradas pelos nerds que se tornaram professores como antros de sexo, drogas e, no caso de Piracicaba, música sertaneja. Andam até instruindo pais e mães para não deixarem os filhos morar em república. Coitadinhos.

Fiz a seguinte carta de motivação para os pais e enviei aos meus bixos de faculdade, para que não deixem acabar a República:


Meu senhor, minha senhora,


É chegado o momento em que o cordão umbilical finalmente se rompe, pela segunda vez, e o seu filhote, já um homenzinho, deixa o calor do lar para enfrentar as agruras da vida adulta.
Bem entendemos a vossa preocupação quanto ao futuro do bambino, já que foram tantos anos de esforços para fazê-lo finalmente chegar à Universidade. É compreensível que o senhor e a senhora queiram que o petiz esteja bem acomodado durante os vindouros anos de estudo e dedicação.
Nesse ínterim, gostaríamos de fazer ver a vossas senhorias, que apesar da má fama, as Repúblicas de estudantes dessa formosa cidade de Piracicaba, a Noiva da Colina, podem ser um ambiente extremamente saudável para o calouro.
Meu caro pai. Lembra-se de sua vida de estudante? Andando no bonde puxado à cavalo, fazendo serenatas para as moças? Fazendo suas incursões com os amigos em casas de burlescos? Porque você privaria seu filho dessas alegrias da vida? O senhor olha este filho hoje sem muita convicção, sem saber se ele vai para frente ou não, e tem aquele medo instintivo de todo pai, de que o filho um dia apareça em casa com um argentino cabeludo dizendo pai, este é Juan, meu namorado… Mas deixe ele conosco. Certamente ele vai levar algum trote, aqui conhecido como ralo. Mas meu caro senhor, seu filho poderia ter feito arquitetura, coreografia, corte e costura, mas não. Eles escolheu vir para a ESALQ, e aqui faremos dele um esalqueano. Pense no trote como uma espécie de rito de passagem, que seleciona quais meninos serão os guerreiros da tribo, como uma ferramenta que ajuda os mais novos a aprenderem a respeitar os mais velhos. Depois de alguns porres (o senhor não teve os seus?), de muitas mulheres, e de comer muita poeira, verá que o menino ainda será motivo de orgulho para a família.
Minha cara mãe. A senhora receia o álcool e as drogas, as doenças sexualmente transmissíveis, a comida duvidosa, o quarto bagunçado? Lembra-se dos anos 60, com aquele baseado na mão, namorando no banco de trás do Passat? Temos todos nossas experiências minha senhora. Se seu filho é maconheiro, continuará maconheiro independentemente de nossa vontade, e provavelmente não virá morar conosco. E pense bem, antes alguns porres de alegria do que ter um maconheiro em casa não é mesmo? Quanto às DST’s, em uma república sempre haverá uma mão amiga oferecendo ao seu querido filho um preservativo. E acredite, a chance dele encontrar uma nora simpática será muito maior quanto mais variedade ele conseguir experimentar. A comida duvidosa vai acabar com aquela frescura dele só comer o que lhe apetece, além de fornecer anticorpos que o manterão saudável no futuro. Ou a senhora prefere que ele vá ao McDonalds todos os dias? Quando terminarmos com seu filho, ele comerá até pregos, e achará sua comida sempre uma delícia. Quanto à bagunça, veja o lado bom, este problema finalmente deixará de ser seu.
A alternativa? Comprem um apartamento e um carro para o menino. Deixem ele vir para casa todo fim de semana trazendo toda a roupa suja, lhe peguem no colo, dêem tudo o que ele pedir, e quando ele tiver 40 anos ele ainda vai ser um virgem, dependente financeiramente de vocês e que só come bifinho com batata frita.
E não se enganem quanto ao desempenho escolar do seu filho, isso só depende dele, seja na República, seja em um apartamento. Há quem se forme em cinco anos sem nunca ter perdido uma festa da faculdade, há quem seja jubilado morando em casa com os pais.
E a República não é apenas por cinco anos, é para a vida inteira um laço de amizade que une quem morou, quem mora e quem vai morar, o que é um serviço de inestimável valor seja na vida pessoal, seja na profissional.
Deixem-nos fazer de seu filho um homem. Deixem ele morar em uma República da ESALQ.
Saudações esalqueanas,


República Popular e Democrática da Lesma Lerda

5 comments:

Anonymous said...

óóóóóóóótimo Alma. Ótimo.
Eu não consegui ler no e-groups pois veio desconfigurado.

abraços

Big-Ben

Alice said...

Passei dias felizes e saudáveis (mais nem tanto) como visitante de Repúblicas em Ouro Preto. Apoio radicalmente essa forma de desenvolvimento desgovernado "ma non tropo".

Alma said...

Ah dona Alice, se entregou...

Lelec said...

Excelente texto, cher Fernando!

Ah, meus tempos universitários não tiveram nada disso, caretão que eu era... Não dá para voltar no tempo. Só me resta lamentar.

Abração

Anonymous said...

Texto nota 10, Alma já havia lido... mas a foto tb é muito boa:
- que mulambagem da porra nego!-, era o que Bily e Vovo estavam falando ou pensando.
Abraço Xulé