Sunday, May 02, 2010

Pureza Fatal


O Iluminismo gerou Rousseau, Rousseau gerou Robespierre, Robespierre gerou o Terror.
Ninguém encarnou com mais profunda devoção os ideais da Revolução Francesa do que Maximilien Robespierre, um advogado de origem modesta e provinciana que fez uma meteórica carreira política durante a queda do Antigo Regime francês.
Para Robespierre, a revolução era o nascimento de uma nova França, onde todos seriam iguais, onde o poder seria exercido pelo povo, onde a razão prevaleceria, onde o Deus católico seria substituído por um Ser Supremo, onde os homens aspirariam ao bem e à virtude.
Em nome dessa utopia, Robespierre, tão cheio de sua virtude, tão incorruptível, desencadeou uma fase de violência e repressão nunca antes vista na história do mundo.
O Terror foi a matança em escala industrial bem antes dos campos de concentração e dos goulags, de cidadãos julgados e condenados tão somente por suspeitas de comportamento anti-patriótico. A guilhotina, recém inventada máquina de matar, funcionava centenas de vezes ao dia. Crianças foram massacradas em escola católicas, cidadãos inocentes e famintos metralhados nas ruas de Lyon, outros afogados às dezenas nos rios da Vendée.
Nem mesmo os próprios revolucionários escaparam à rede de intrigas e paranóias do Terror de Robespierre. Tudo o que era contra sua utopia, era contra a Revolução, e portanto contra o povo francês, e por isso passível de punição.
Pureza Fatal é o livro de estréia de Ruth Scurr, crítica literária e professora de História em Oxford e Cambridge, a biografia deste homem terrível e ao mesmo tempo tão banal com suas angústias, arrogâncias e complexos.
Claro e preciso, dá uma idéia exata da atmosfera em Paris naqueles tempos e um retrato detalhado de homens como Mirabeau, Marat, Danton, Brissot, Saint-Just, Camille Desmoulins e tantos outros que escreveram com sangue a loucura da Revolução.
Depois de Robespierre, muitos outros apareceram e aparecem, em diferentes lugares e tempos, com suas utopias, em nome das quais tudo era permitido, inclusive o derramamento desvairado de sangue inocente.
A História infelizmente parece não nos ensinar nada, se repete como uma idiota.

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