O tema da Campanha da Fraternidade 2010, recém lançada pela CNBB, é Economia e Vida.
Efeito talvez da recém superada crise financeira mundial, a Campanha vem querer por a sua pá de cal sobre o cadáver do capitalismo, que embora não saibam, continua vivo. Cita entre suas estratégias (tiradas de uma apresentação disponível para download no site da CNBB):
• Denunciar a perversidade de todo modelo econômico que vise em primeiro lugar o lucro, sem se importar com a desigualdade, miséria, fome e morte.
• Educar para a prática de uma economia de solidariedade, de cuidado com a criação e valorização da vida como bem mais precioso.
• Conclamar as Igrejas, as religiões e toda a sociedade para ações sociais e políticas que levem à implantação de um modelo econômico de solidariedade e justiça para todos.
A Igreja e as igrejas são convidadas a olharem a realidade a partir dos oprimidos e excluídos libertando-se da postura dominadora e transmutando-se em agente de transformação junto aos sofredores.
Seus aliados nessa luta: a Educação e processo de domesticação (sic, achei um pouco chocante a CNBB relacionar educação com “domesticação”), Movimentos sociais, ONGs, Sindicatos, Organizações civis e aparelho estatal.
É impossível não sentir o ranço marxista sendo destilado nessa Campanha. Discutir o quê agora? A Igreja Católica como já anunciava Olavo de Carvalho não existe mais como tal no nosso país. Deu lugar a uma ONG que transformou a busca pela redenção em uma luta de classes.
O lucro é o alvo principal da campanha embora Adam Smith já explicasse que ao buscar lucro em uma atividade econômica, um homem gera benefícios a todos os outros em seu entorno. Não ocorre à CNBB que o cristianismo tenha sido a origem das democracias capitalistas ocidentais justamente por reconhecer cada ser humano como igual perante Deus, e dar a cada homem o poder do livre arbítrio.
Este mundo capitalista tão odioso aos olhos da CNBB foi o que proporcionou o desenvolvimento de tecnologias que trouxeram conforto e a saída de milhões de pessoas da miséria no mundo inteiro. A miséria do mundo de fato concentra-se em lugares onde o capitalismo está ausente ou incipiente, e não o contrário.
Foi certamente com esse espírito ecumênico que o governo Lula sugeriu o Bolsa-Lucro, um confisco de 5% do lucro de empresas privadas para redistribuição entre os trabalhadores. Roberto Macedo, em artigo de 04/02 no Estadão explica como essa “obra” se encaixaria bem no famigerado PNDH3 e porque o efeito dessa tributação seria o inverso do que almeja.
O Agronegócio como não poderia deixar de ser é transformado em um vilão exemplar da economia solidária. Segundo a CNBB o agronegócio está acima das necessidades do povo e é uma das causas da depredação dos recursos naturais. O Brasil é citado como “um dos maiores poluidores do mundo”. Apesar do reconhecimento de seu fracasso, a continuação da luta pela reforma agrária está na agenda da Campanha junto com a luta para “Garantir o crescimento e funcionamento do sistema econômico participativo”.
Eu imagino que a CNBB ache que o feijão e o arroz da cesta básica sejam como o maná que cai dos céus. É a eficiência do agronegócio que garante alimentos a preços acessíveis e a preservação de áreas naturais. Fosse a Pastoral da Terra a produzir alimentos para a humanidade com seus assentados estaríamos assistindo a um genocído pela fome e uma devastação da natureza sem precedentes na história.
Por falar nisso o ambientalismo também logrou conseguir algo que tentava pelo menos desde a Eco 92, converter as igrejas à sua agenda. Assim, a idéia da ecologia como respeito à obra do Criador é transformada. A natureza toma o lugar do homem como objeto da espiritualidade. A visão cristã antropocêntrica da Criação dá lugar ao panteísmo primitivo da adoração à natureza. Daí que uma declaração como a de D. Tomás Balduíno, da Pastoral da Terra dizendo que a “terra é Mãe-Terra, é Pachamama” passe sem comentários na CNBB.
Há injustiça, há ganância, há corrupção, há usura, há abusos, há consumismo, há quem adore mais o dinheiro do que Deus no mundo? Claro que sim. E é a tarefa da Igreja fazer com que a mensagem do Cristo chegue ao coração de cada homem e de cada mulher. Mas duvido muito, e a história assim o demonstra, que o marxismo seja a resposta para isso.
Bento XVI enviou uma mensagem à CNBB sobre o lançamento da Campanha.
Diz ele: “Recordo que a escravidão ao dinheiro e a injustiça tem sua origem no coração do homem, onde se encontram os germes de uma misteriosa convivência com o mal...Nós existimos para mostrar Deus aos homens”.
Que a CNBB escute.