Wednesday, May 26, 2010
O sertão vai virar mar
Vosmecê conhece a caatinga?
Eu já andei pela caatinga do sertão nordestino.
Sertão mesmo, de caatinga, aquele descrito por Euclides da Cunha e Graciliano Ramos. O céu é daquele “azul terrível, que deslumbrava e endoidecia a gente”. O sol, inclemente. A poeira, as pedras, os leitos de rios secos, os mandacarus e xiquexiques.
E no meio de tudo o homem, o sertanejo. Casas de pau a pique, paredes de barro, telhado de palha, chão de terra batida, sem água, nem luz, nem gás. Esgoto nem pensar.
Às vezes, na beira da estrada, em açudes, mulheres que aparentavam 20 anos a mais do que realmente tinham, tomavam banho com suas crianças. Elas, seminuas, peitos encostando nos joelhos, judiadas. As crianças magricelas, com aquele bucho de verminose. Freqüentemente o que tinham para comer era caju com farinha.
O sertão sempre maltratou o homem, não é à toa que tantos fugiram dali, inclusive nosso presidente.
No fim dos anos 80, me lembro de ter feito uma viagem de carro com meu pai do Piauí a São Paulo. De Teresina a Floriano, dali a Gilbués, Corrente, Formosa, Riachão das Neves, aí chegava-se a Barreiras na Bahia.
Virando à esquerda, ia-se até Mimoso do Oeste, um distrito de Barreiras, e dali pegava-se a BR-020 que cortava o sertão baiano até entrar em Goiás e chegar-se ao Distrito Federal.
Era o trecho mais desolador da viagem. Passamos 4 horas na estrada reta, sem cruzar viv’alma pelo caminho. Só caatinga, sequidão, buracos e poeira. Nenhum sinal de vida. Aqui e acolá um bode, ou uma carcaça de vaca embranquecendo ao sol.
Meu pai percorreu a mesma estrada esses dias. Mimoso do Oeste virou hoje o município de Luís Eduardo Magalhães, é a décima economia da Bahia e tem uma das maiores rendas per capita do Brasil. A região, a de maior concentração de pivôs de irrigação do país, produz 60% dos grãos do estado.
O gadinho curraleiro, de costelas aparecendo, sumiu para dar lugar a gado com a melhor genética brasileira.
Campos de soja são intermináveis, algodoais fazem crer que caiu neve no sertão.
No sul do Piauí a mesma coisa. Agora o eucalipto chega por ali, e a Embrapa faz experimentos com figos, maçãs, uvas e até oliveiras israelenses.
O que era caatinga virou uma promissora fronteira da agroeconomia. Mesmo no que ainda é caatinga, como na região em volta de Picos no Piauí, hoje existem alternativas para o homem do campo. Picos é um dos maiores pólos exportadores de mel do país, mel silvestre, sem contaminação e de excelente qualidade.
Por isso, quando vosmecê ouvir alguém dizer que o agronegócio oprime o trabalhador, quando um padre ou um bispo de olhos vermelhos falar que o agronegócio cria uma multidão de excluídos, quando uma atriz de rosto bonito e cabeça oca dizer que é contra a obra de transposição de um rio, quando um intelectual de apartamento e bandeira vermelha na mão dizer que o agronegócio provoca o êxodo rural e que é por causa dele que há favelas na cidade, desconfie.
Dê uma volta em Luís Eduardo Magalhães. Veja se a vida do sertanejo do lugar, que hoje tem emprego, plano de saúde e pode pagar escola está melhor ou pior de quando não havia agronegócio por ali.
Ou seria preferível amarrá-los para sempre à própria miséria condenando-os a viver com uma bolsa-esmola todo mês em troca da adulação eterna?
O sertão pode sim, virar um mar de prosperidade. E não vai ser com esmola, vai ser com a força de quem trabalha e produz.
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1 comment:
Fernando,
Adoro o que vc escreve! ADORO!!! Não é à toa que coloquei minha história em suas mãos!!!
Parabéns!!!
Estive em "Mimoso do oeste" em janeiro de 2002, fiquei de boca aberta, babei!!! Tinha hotel lá melhor do que em Bhte, estrutura exemplar para receber compradores do exterior, de soja e se não me engano de algodão.
A campanha da CNBB deste ano acabou com o restinho de prazer que eu sentia em ir à missa, depois que tive que enfrentar a poderosa pastoral da terra aqui de Montes Claros. Mas me inspiro no nosso grande mestre para lhe dizer o seguinte: " perdoe-os, eles não sabem o que dizem nem o que fazem".
O bem sempre vence o mal.
abraço
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