Tuesday, June 06, 2006

Jarheads

Em Novembro passado, antes da batalha de Fallujah no Iraque, os homens da Kilo Company, US Marines, vestidos com togas romanas e elmos e escudos de papelão promoveram uma corrida de charretes (tanto cavalos como charretes foram confiscadas a suspeitos) para se animarem para a batalha.
Um capitão da companhia, imitando uma cena de Gladiator declarou “What you do here echoes in eternity” ao som heavy metal de “Cum On Feel the Noize“.
Na manhã de 19 de novembro, na vila de Haditha, os marines da Kilo Company foram responsáveis pelo massacre a sangue frio de pelo menos 15 iraquianos civis e desarmados.
Haditha tem sido descrita na imprensa americana como a pior tragédia causada por militares do país desde o massacre de My Lai no Vietnam em 68.
A guerra no Iraque vai entrar em seu quadragésimo mês. O atoleiro em que se meteram os Estados Unidos parece não ter fim. Tentando fazer o máximo para retirar seus soldados o mais rapidamente possível do país, os americanos deixam o Iraque, um país de 26 milhões de habitantes profundamente dividido, cada dia mais à beira de uma guerra civil, se é que já não está.
Marines e outros militares são treinados para matar. Conquistaram o país inteiro em 21 dias, mas são incapazes de manter a ordem ou de conquistar a simpatia da população iraquiana e obviamente Haditha não vai ajudar em nada
Não é claro ainda como tudo aconteceu em Haditha neste dia. Mas é possível ter uma idéia do porque. Leia “Nada de Novo no Front” de Eric Maria Remarque ou “Catch 22” de Joseph Heller. Assista “Platoon” de Oliver Stone ou “Born to Kill” de Stanley Kubrick. Ou, para ficarmos no Iraque, leia “Jarhead” de Anthony Swofford, ou veja o filme de Sam Mendes.
São meras amostras da insanidade que se entranha nos cérebros de soldados como um câncer. Nunca entenderemos completamente, mas com certeza chegaremos à conclusão de que viver para matar simplesmente não é humano.
Em Jarheads, a insanidade não vem da guerra, que os soldados mal vêem de perto. Vem da frustração de não ter ninguém para matar.
Não podemos nos enganar, o exército americano é hoje o mais bem treinado, equipado e disciplinado do mundo. Ainda assim são capazes de atrocidades. Imaginem os outros. Lembrem-se do que o exército do Japão fez na China, do que os franceses fizeram na Argélia, do que os Belgas fizeram no Congo, do que os ingleses fizeram na África do Sul, ou do que o próprio Saddam fez contra os curdos.
Echoes in de eternity.

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