Tuesday, October 28, 2008

Paris


A primeira vez que vi Paris foi em uma manhã de primavera, há onze anos atrás. Cheguei ainda de madrugada, na gare de Montparnasse, mochilão às costas.
Saí sem mapa e sem destino pelas ruas ainda escuras e vazias, sem quase nenhum tráfego. Fazia um friozinho, e uma névoa leve se espalhava ainda enquanto o sol pálido ameaçava aparecer.
Eu andava pelas ruelas sem importância, e ainda assim deslumbrantes daquela cidade. Cheguei a uma praça, onde uma feira de rua apenas começava.
Algumas senhoras já faziam suas compras, sem pressa. As pessoas se diziam bonjour, e respondiam bonjour.
Passei pelas barracas dos legumes e frutas, com seus aspargos e morangos, passei pelos queijos, com a boca já cheia d'água. O açougue com suas carnes muito bem arrumadas, a barraca dos peixes com ostras maravilhosas. Flores. Mais adiante, nas calçadas, senhores tomavam seus cafés, liam os jornais e acendiam os primeiros gauloises do dia.
Eu me lembro de cada aroma daquela manhã.
Virei outra ruela, e mais outra. O sol já aparecia, e atrás de uma esquina apareceu a imensa e elegante torre Eiffel.
Caminhei até o Campo de Marte e me deitei ali para descansar.
Essa não era a Paris dos monumentos grandiosos, das luzes. Era o eco de uma cidade cada vez mais difícil de se encontrar. Era a Paris de Robert Doisneau.
Esta semana, fui com brasileiros, holandesas, belgas, uruguaios e outras nacionalidades ao Barrio Latino, um pedaço do caribe em plena praça da Bastille. Uma balada divertida sem sombra de dúvida. Por mais que eu seja considerado um cabo de vassoura no Brasil, qualquer requebrada nas cadeiras entre europeus me faz virar quase irmão do Enrique Iglesias.
Era tanta a concentração de brasileiros por lá que a certa altura rolou um axé music, e depois o créu. Eu nunca pensei que um dia em minha vida ouviria o créu em Paris. Foi engraçado para mim e para a brasileirada que estava lá, mas pensando bem, pauvre France! Houllebecq está certo quando fala da decadência do mundo ocidental.
No dia seguinte, voltei a procurar minha Paris, e nas poucas horas livres que tinha percorri sebos e galerias de arte nas ruelas de Saint Germain des Près. Comendo crêpe com creme de castanhas.

3 comments:

bete p.silva said...

Inda bem, que susto! Tava com medo que o créu te fizesse perder o rumo da sua Paris!

Sandra Leite said...

que narrativa linda, Fernando.
"We always have Paris", de uma maneira ou de outra, Paris está presente.A-do-rei!

Anonymous said...

Créu em Paris é Flórida...