Monday, June 01, 2009

Liberty and Tyranny


Contardo Calligaris afirmou certa vez em entrevista a Reinaldo Azevedo que o Iluminismo anglo-saxão sempre foi preterido pelos intelectuais quando comparado ao Iluminismo francês. No entanto, gerou a Revolução Americana, e a Magna Carta na Inglaterra. Na França, a Revolução Francesa iria gerar o Terror, Napoleão Bonaparte, a restauração dos Bourbon e Napoleão III. Depois da Revolução, a França levaria ainda um século para se tornar uma República.
Mas foram as idéias dos iluministas anglo-saxões, John Locke, Adam Smith, Edmond Burke e também de alguns franceses como Montesquieu que deram as bases da Revolução mais importante da história do mundo Ocidental, a Revolução Americana. Foram esses pensadores que influenciaram as idéias dos Founding Fathers americanos que com a Declaração de Independência e a Constituição estabeleceram as bases daquela que seria a nação mais livre e próspera do mundo.
Em seu livro Liberty and Tyranny, Mark Levin, um dos líderes do pensamento conservador na América contemporânea, fala de como os Estados Unidos hoje estão se afastando dos princípios que fundaram o país. A América original estaria sendo pouco a pouco estrangulada e subjugada pelo câncer do Estatismo, Mark Levin defende, como todo conservador deve defender, o direito de cada indivíduo viver livremente em busca da própria felicidade, o livre mercado, o Estado de Direito, o direito à propriedade, a descentralização do poder, a limitação do poder central, a preservação da sociedade civil, a tradição e a fé como formas de manter a identidade cultural de um povo.
Já o Estatista, que é como ele identifica os liberais (esquerdistas) modernos, acredita na supremacia do Estado. Para o estatista, indivíduos são criaturas imperfeitas, e a busca individual de cada um impede o objetivo de criar um estado utópico coletivo para o bem de todos. A agenda do estatista cria aquilo que o francês Alexis de Tocqueville chama de tirania leve, que progride constantemente em direção à tirania totalitária pura e simples.
Mark Levin identifica o nascimento do Estatismo moderno no New Deal de Franklin D. Roosevelt, que fez o governo federal intervir no mercado para diminuir os efeitos da crise de 29 e criou os primeiros programas assistencialistas. Segundo estudos econômicos de hoje, o New Deal fez a crise de 29 durar muito mais tempo do que se não houvesse interferência. O intervencionistas e os programas assistencialistas de atendimento médico e previdência foram depois ampliados por governos democratas e agora chegam ao auge com Obama, com seus bailouts trilionários e com seu projeto de dar assistência médica universal a todos gerando uma dívida impagável para futuras gerações. O estatismo também tomou conta do sistema judiciário que interpreta a Constituição como quer, tomou conta da economia pedindo mais interferência do Estado, mais assistencialismo, distribuição de riquezas. Tomou conta dos movimentos ambientais que querem regular desde o consumo de energia de cada um até o uso de defensivos agrícolas. Está em resumo em todos os lugares, pedindo mais interferência do Estado, mais controle, mais impostos, diminuindo as liberdades e direitos individuais.
O livro de Mark Levin não é só uma leitura fundamental para conservadores americanos. Aqui mesmo no Brasil o Estatismo tem bem mais defensores do que lá, e os Conservadores contam-se nos dedos. Liberty and Tyranny é um Manifesto Conservador, é uma obra essencial para qualquer conservador, com idéias e projetos para evitar que o Estatismo se aprofunde ainda mais e que a tirania se instale.
Um conservador é sobretudo alguém que acredita no próximo, na capacidade de cada indivíduo, respeitando o direito dos outros, decidir o próprio destino. É no que eu acredito.

3 comments:

Everardo Ferreira said...

Fernando, o liberalismo americano está levando o país a uma situação deveras esquisita. O Banco Central Americano prevê um déficit orçamentário de 70% do PIB em dez anos (hoje está próximo dos 40%) e o programa de "ajuda" do governo à economia é um eufemismo de um programa de estatização mais audacioso do que o do Evo Morales. Imagine se, ao invés de 51% de participação no gás, o Morales tivesse adquirido 60%, como os EUA estão fazendo com o ícone General Motors? Como ficaria. Como se fala em liberalismo "dar certo" se na hora "H" é o Estado, com suas poupanças, que socorre "livre iniciativa"? E o PROER de lá? Essa lorota está se desmascarando.

Ari said...

Oi Fernando, prazer em conhecer.
Meu nome é Arimatéa. Descobri teu blog há pouco tempo e tem sido legal visitá-lo.
Esse post que comento fez voltar-me à mente algo que tem sido recorrente, nas minhas tentativas de entender o que se passa...
Trata-se de uma experiência já meio antiga, consta que realizada numa ilha do Rio Tâmisa, onde foram colocados alguns casais de ratos e, diariamente, fornecida uma quantidade fixa de comida. Observou-se ao longo do tempo o comportamento dos animais. Enquanto a comida sobrava, sobrava também a paz e a sociabilidade. Com a proliferação maciça o alimento passou a ser cada vez mais insuficiente, alterando num crescendo as relações inter-ratais, se me permite. A coisa acabou no canibalismo, como não poderia deixar de ser.
Os tempos cada vez mais agudos que estamos vivendo, provavelmente, estão sofrendo uma influência silenciosa (às vezes nem tanto) de uma pressão correlata. A demanda mundial pelos recursos naturais não-renováveis já vislumbra a impossibilidade de manutenção do ritmo atual de crescimento. O pouco que haverá precisa desde já ser preservado e garantido para usufruto dos “ratos mais fortes”, até porque a alternativa deles seria definhar, e ver outros tornarem-se por sua vez mais fortes.
Estamos nos aproximando de uma situação cada vez mais explícita, nua e crua, em que pesem as enganações de praxe, de cada grupo precisar se organizar para fazer frente ao desafio de sua própria sobrevivência.
Aliás, a coisa tem sido assim desde sempre, não?
Alguma chance de um decreto socialista abolir esse combate vital? Só se conseguirem dominar tudo, e mesmo assim é provável que se vejam na contingência de ter que escolher quem vai entrar no bote e quem vai ficar à deriva. Mas o apelo de uma alternativa que evite o canibalismo é realmente grande, e deve ser daí que retiram sua base moral. Faz sentido, não? Que importância teriam os crimes que cometem se necessários para evitar o pior?
Está sendo preciso encontrar uma resposta melhor que a deles...

Ari said...

Fernando, complementando a idéia:
Quem formulou e enunciou o "crescei-vos e multiplicai-vos", colocando-o, se não me falha a memória na boca de uma divindade, para maior autoridade, providenciou também um núcleo de poder que garantisse a continuidade do projeto. Isso foi viável enquanto a natureza permitiu, mas há uma limitação lógica óbvia para tanto, e nossa época já dela se aproxima, em termos globais. Aquele ímpeto não é mais viável. Necessariamente precisamos formular e nos adequar a outro, se não quisermos que forças cegas nos arrastem. Nas novas circunstâncias, para que seja preservada a liberdade individual, é indispensável que cada indivíduo seja responsável e responsabilizável, com a concomitante qualificação que isso demanda. Caso contrário, não há como escapar de conduzir-se o "coletivo" como um rebanho. Assim, entre outras coisas, é necessário um investimento maciço em educação e cultura, pois seu retorno transcende aquele meramente econômico.
Uma política com foco no indivíduo talvez seja a resposta adequada àquela com foco no "social".
Mesmo que, e principalmente se, o nosso destino for o de um mundo unificado, com a espécie humana obtendo uma perspectiva mais universal, a idéia continua válida.