No dia seguinte à divulgação do relatório do Greenpeace sobre o desmatamento na Amazônia, fui acordado logo cedo por telefonemas e mensagens que chegavam da Holanda me perguntado se a carne que eles estavam comprando por lá vinha de áreas de floresta desmatada.
Expliquei que a carne que ia para a Europa vinha de fazendas da lista Trace, aprovadas no sistema ERAS de rastreabilidade e inspecionadas pelo Ministério da Agricultura. Passei as três horas seguintes marcando em um mapa todos os municípios o Brasil onde se encontravam as propriedades da lista Trace. A imensa maioria está em Minas Gerais, Goiás e no sul do Mato Grosso, a 1000 km da Amazônia. O mais perto dali que a lista chegava eram duas fazendas em Alta Floresta/MT.
Mandei o mapa e depois me mandaram de volta perguntando onde era a Amazônia.O moral da história é que por mais ignorante da realidade brasileira que o mercado externo seja, a questão do desmatamento tornou-se um ponto extremamente sensível na comercialização do produto brasileiro, tanto lá como cá, e isso é o fruto da militância ambiental ativa.
O problema é que o Greenpeace colocou bons e maus produtores no mesmo saco, tratando todos como vigaristas, para usar o termo escolhido pelo Ministro Minc, e hoje existem produtores impedidos de comercializar o fruto do seu trabalho pelo Ministério Público.
Na sexta feira passada, um encontro durante a Feicorte reuniu produtores rurais da região Amazônica, profissionais do setor agropecuário, representantes de associações de classe e membros do poder público, como os deputados federais Moreira Mendes e Abelardo Lupion, dois raros parlamentares efetivamente interessados no desenvolvimento do país. A idéia era coordenar uma resposta do setor ao absurdo da situação.
No meu ponto de vista, a mensagem que os deputados deveriam levar a Brasília tem dois ângulos essenciais.O primeiro é que o Greenpeace, e outras organizações semelhantes, estão ignorando séculos de história de ocupação da Amazônia, uma história que começa com os colonizadores portugueses. Não é à toa que as calhas do rio Amazonas, Tapajós, Xingu e Tocantins são o berço de cidades como Belém, Santarém, Monte Alegre, Óbidos e Aveiro, todos nomes de cidades portuguesas dados por ordem do Marquês de Pombal no século XVIII.
Mais recentemente, ignoram décadas de esforços do governo brasileiro em desenvolver a região, especialmente no período militar.
Meu pai esteve em Alta Floresta nos anos 70. Trabalhando como agrônomo, ajudou a plantar mais de 200.000 pés de café e 50.000 pés de cacau na região, e havia então projetos para uma expansão muito maior da agricultura ali naquela fronteira.
Nos anos 80, esteve em Conceição do Araguaia, no sul do Pará, abrindo fazendas, levando progresso e desenvolvimento à região. Como ele, muitos outros foram incentivados pelo governo a ocupar terras na floresta. Todos esses capítulos da história do país são sumariamente ignorados por ambientalistas, que nos dizem hoje que somos todos vigaristas e bandidos.
Ao comentar uma cena do filme O Aviador, em que Howard Hughes desbanca Katheryn Hepburn dizendo "Quem você pensa que é?! Você não passa de uma atriz!", João Pereira Coutinho diz ter chorado de nostalgia de um tempo onde celebridades não eram a encarnação suprema do bem e da verdade.
Pois alguém precisa dizer ao Greenpeace e outros similares e genéricos: "Quem você pensa que é, você não passa de uma ONG!".
Querem contribuir com o debate para estudar uma solução inteligente e racional ao problema, sejam bem vindos. Querem que o país adote a sua pauta preservacionista como verdade universal, transformando a Amazônia em um zoológico gigante, vão catar coquinho.
Pode ser tarde demais, mas é preciso que a oposição evite que o Ministério Público, o Ibama, o Ministério do Meio Ambiente sejam aparelhados por essas organizações como o MST aparelhou o Incra e o Ministério do Desenvolvimento Agrário. Aliás o Greenpeace parece ter esquecido que o Incra apareceu como o maior desmatador do Brasil no ano passado. Como o Dr. Gianetti da Abiec disse, o Greenpeace não tem o monopólio da verdade sobre o assunto.
O poder público não pode ser pautado pelo que o Greenpeace quer, porque o que eles querem é irreal e é irresponsável. O Poder Público tem sim um compromisso com a preservação ambiental e com o desenvolvimento sustentável, mas tem um compromisso maior ainda com as vidas de 30 milhões de brasileiros que vivem na região, cujas famílias garantiram que todo aquele território fizesse hoje parte do país.
E aí vem o segundo ponto crucial que precisa ser levado ao Congresso. Existem hoje mais de 10.000 ONGs atuando só na Amazônia. Quem é essa gente? O que eles querem? Quem os financia? Quais as reais intenções dessas organizações?Na quinta-feira antes de embarcar de Campo Grande para a Feicorte, a notícia no jornal da noite era: "Polícia Federal prende três americanos e dois brasileiros fazendo prospecção de minério em uma reserva ambiental no Pantanal."Lembrem-se do que disse o general Augusto Heleno. Lembrem-se do que disse Orlando Villas Boas há trinta anos atrás, quando avisou que essas organizações estavam levando lideranças indígenas para a Europa e os Estados Unidos, e que um dia iram voltar e reclamar territórios independentes no Brasil.
A discussão vai muito além da derrubada de árvores. Trata-se da preservação do território nacional. Um território conquistado e mantido por gente que gosta de trabalhar, e não por vigaristas ambientais.
3 comments:
Ah, Fernando, o problema é que boas e más ONGs são avaliadas no mesmo saco também.
Acredite em mim, se não acredita nas ongs. Tem gente séria nisso:) Eu sou uma;)
Sandra, há obviamente gente bem intencionada nas ONGs. Minha crítica é à pretensão do Greenpeace monopolizar um debate que é público, e ignorar a realidade de 30 milhões de pessoas.
Eca, Sandra, você sempre me chama de Sandrinha :(
Fernandinho, amanhã é aniversário do IeBN e você é um presentão. Obrigada por tudo! E nosso blog???:)
beijos
PS: concordo 100% com seu comentário
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