Wednesday, September 09, 2009

Meus Amigos e Eu


Meus amigos e eu gostamos de festa. Somos gulosos e beberrões. Meus amigos e eu comemos carne vermelha todos os dias. E torresminho. E mortadela. Não sabemos o que é gordura trans.
Meus amigos e eu assistimos esporte na tv, xingando o juiz, a outra torcida e suas mães. Gostamos de esportes onde ossos se partam frequentemente. Gostamos de jogar cartas. Gostamos de carros, armas, motos e mulheres.
Meus amigos e eu contamos mentiras sobre aventuras passadas. Olhamos as moças bonitas que passam na rua, assobiando e fazendo graça. E quando tivermos 80 anos, se chegarmos lá, vamos beliscar as enfermeiras.
Meus amigos e eu nos cumprimentamos com tapas e palavrões. Somos desastrados e desafinados para cantar. Gostamos de filmes cheios de bordoadas e tiros.
Meus amigos e eu somos gordos e temos pêlos em lugares indesejáveis. Não temos abdômen definido, não fazemos check-up médico, nem usamos cremes faciais e outros cosméticos.
E se um amigo cai no chão, ou dorme bêbado, não vamos ajudá-lo, vamos muito mais provavelmente arrancar-lhe os sapatos, pintar-lhe a cara, ou jogar-lhe um balde d'água em cima.
Mas meus amigos e eu sabemos reconhecer um canalha. Sabemos o que é certo e o que é errado. Amamos nossa família, cumprimos com a nossa palavra e não temos medo de muita coisa.
E não somos de todo bárbaros, há os que gostam de cozinhar, os que gostam de jazz, os que gostam de livros.
Contardo Caligaris escreveu que os homens estão assim perdidos na modernidade, por terem perdido o papel de guerreiro que lhes cabia antigamente. Somos talvez os últimos dos broncos, um resquício de masculinidade sobrevivendo em uma Era arruinada pelo politicamente correto, pela ditadura do corpo, pelo feminismo e pelo David Beckham.
Nosso barbarismo primitivo confina-se agora nos happy hours de fim de semana, fora das obrigações e humilhações da rotina diária. É como dizia aquele mineiro famoso, Liberdade Ainda que à Tardinha.
Que seja. O mais importante de tudo é que sempre tive amigos assim. E amigos assim não nos deixam nunca na mão.
Porque o amigo verdadeiro não é o que vem apartar a briga, o amigo verdadeiro é o que chega dando a voadora.

11 comments:

Anonymous said...

EXCELENTE ALMA!!!!
hahahahaha. Boa.
Mas, claro, que eu não sou dessa gotesquice toda. Sou um lord.
VOu colocar um link lá no meu Bróóg...
abraço
Big-Ben

Everardo said...

E, ainda assim, são civilizados????

Juliana said...

Que horror...e nós suas mulheres sempre tentando colocar um pouco de juízo e saúde na vida de vocês!
(quase sempre sem sucesso)
Ju

Lelec said...

Só se esqueceu de uma coisa, "bróder": filme bom pra gente são aqueles do Stalone, do Chuck Norris e do Charles Bronson.

Alma said...

Lelec, tava sumido cumpadi. Até acrescentei sua sugestão. Valeu.

Alice said...

Mas para compensar, suas amigas são finas e agradáveis!

Zé Costa said...

É de amigos assim que eu preciso.

Sandra Leite said...

Fernando

* ri muito, muito...o texto é ótimo. Tem algum amigo solteiro nesse meio? :) (rindo ainda mais)

bjos

Ribamar said...

Alma,

Bem mulamba seu texto. Vamos ver se ainda conseguimos fazer pelo menos parte disso hj a noite, no casório do Billy.

Abs, Ribamar

Alma said...

É meninas, nós temos nosso charme não é?

Rozo said...

Grande alma, excelente texto. O casamento de Bily incorporou bem este espírito grotesco civilizado e não canalha.
Só faltou escrever que pulávamos em piscinas com roupas debaixo em eventos sociais (não tão formais e civilizados assim).
Grande abraço e felicidades para vc e a Ju.