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Lá estava ela, ferida de morte no asfalto frio.
Ele não podia acreditar no que via. Era perigoso dizia, me espere. Ela nunca dava bola às suas demasiadas preocupações.
E agora o destino, horroroso destino, lhe dava razão. Deitada, olhava o vazio, com dor calma.
Ele tremia, custava a crer, desejava estar em um pesadelo pavoroso do qual o sol da manhã lhe arrancaria.
Não conseguia encarar o sangue, muito menos o olhar.
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Me diga o que fazer, implorou. Traz me um pouco d'água, ela disse.
Obediente, foi. Traria cachoeiras inteiras se ela houvesse pedido. Ela só queria água, e com uma angústia espinhosa ele sentiu uma migalha de derradeira felicidade por ter conseguido cumprir ao menos esse último desejo, com a esperança de que aquilo talvez a reanimasse, a fizesse logo saltar do chão. Um último milagre.
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Tentou movê-la, mas seu corpo inerte não respondeu. Queria levantá-la à força, mesmo que tremesse de medo, mesmo que não tivesse força nenhuma naquele momento. Vamos, para cima, e a tocava, mas no fundo aquele vazio no peito começava a transformar-se em infinito vácuo.
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A dor agora era só dele. Ela se foi deixando-o só no mundo indiferente. Ela deitada, o asfalto, o frio. Quis gritar, gritar para voltar no tempo, para passar a dor, para passar a raiva.
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Por fim calou-se, e ali ficou. Horas. Perdido.
O mundo poderia ser indiferente, mas ele não era. Não é isso o amor? Não é o que faz a diferença? O que fazer com a dor imensa?
Olhou o azul imenso e decidiu que há perguntas sem resposta.
1 comment:
Ai, Fernando
Que linda história de amor!Certamente, o amor...
beijo
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