Saturday, November 07, 2009

Mad World





Lá estava ela, ferida de morte no asfalto frio.
Ele não podia acreditar no que via. Era perigoso dizia, me espere. Ela nunca dava bola às suas demasiadas preocupações.
E agora o destino, horroroso destino, lhe dava razão. Deitada, olhava o vazio, com dor calma.
Ele tremia, custava a crer, desejava estar em um pesadelo pavoroso do qual o sol da manhã lhe arrancaria.
Não conseguia encarar o sangue, muito menos o olhar.


Me diga o que fazer, implorou. Traz me um pouco d'água, ela disse.
Obediente, foi. Traria cachoeiras inteiras se ela houvesse pedido. Ela só queria água, e com uma angústia espinhosa ele sentiu uma migalha de derradeira felicidade por ter conseguido cumprir ao menos esse último desejo, com a esperança de que aquilo talvez a reanimasse, a fizesse logo saltar do chão. Um último milagre.


Tentou movê-la, mas seu corpo inerte não respondeu. Queria levantá-la à força, mesmo que tremesse de medo, mesmo que não tivesse força nenhuma naquele momento. Vamos, para cima, e a tocava, mas no fundo aquele vazio no peito começava a transformar-se em infinito vácuo.


A dor agora era só dele. Ela se foi deixando-o só no mundo indiferente. Ela deitada, o asfalto, o frio. Quis gritar, gritar para voltar no tempo, para passar a dor, para passar a raiva.


Por fim calou-se, e ali ficou. Horas. Perdido.
O mundo poderia ser indiferente, mas ele não era. Não é isso o amor? Não é o que faz a diferença? O que fazer com a dor imensa?
Olhou o azul imenso e decidiu que há perguntas sem resposta.

1 comment:

Sandra Leite said...

Ai, Fernando

Que linda história de amor!Certamente, o amor...

beijo