Tuesday, June 22, 2010

Entre les Murs


Quando a França ganhou a Copa do Mundo em 1998, a imprensa do país exaltava a seleção black-blanc-beur formada na maior parte por imigrantes africanos, antilhanos e árabes liderada pelo argelino Zinedine Zidane como um exemplo do multiculturalismo da sociedade francesa.
Passada a ufania nacional, virou moda vaiar a Marseillaise nos jogos da seleção. O hino francês foi vaiado, algumas vezes no próprio Stade de France, no jogo França-Argélia em 2001 e na final da Taça da França entre Lorient e Bastia em 2002, quando Jacques Chirac deixou o estádio em protesto.
Depois disso o hino foi vaiado novamente por franceses nos jogos da França com Israel em 2005, com a Espanha em 2006, com a Itália e o Marrocos em 2007 e com a Tunísia em 2008.
As revoltas nas cités parisienses de 2005 destruíram o mito da integração racial francesa.
Há uma tolerância mal tolerada, um racismo disfarçado e uma agressividade incomum entre as comunidades que convivem no país, o que vi de perto quando morei ali.
A sociedade francesa é uma bomba relógio prestes a explodir a qualquer momento e em qualquer lugar, e o pior é que os franceses não tem idéia de como lidar com isso.
As brigas e a a recente eliminação da França na Copa são um pequeno sintoma disso. Zidane, que está lá dando pitaco saiu-se com uma típica explicação Lula-Dunga: a culpa é da imprensa. Se a imprensa não divulgasse o que acontece entre os muros da concentração, eles se entenderiam.
A Ministra dos Esportes francesa chegou a discursar para lembrar aos jogadores quem eles eram e o que representavam. Acho que não surtiu muito efeito.
Domenech é realmente um técnico ruim, arrogante e pretensioso. Não digo que os problemas de sua equipe sejam uma questão racial. Mas o time francês é um microcosmo das periferias problemáticas das cidades francesas, onde o relativismo cultural transformou entendimento e cordialidade em uma fantasia.
A briga do técnico, "entre os muros" com seus jogadores me lembrou justamente do filme Entre les Murs, vencedor da Palma de Ouro em Cannes.
O filme mostra a vida cotidiana uma escola francesa lidando com alunos de origens e histórias distintas, e da esquizofrênica sensação de impotência de professores com a tarefa de integrar quem não quer ser integrado.
Quanto ao timeco de Domenech, já vai tarde.

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