Embora há muito tempo vivendo na Europa, e me considerando adaptado aos costumes dos nativos, ainda existem momentos da vida aqui na Holanda que me fazem lembrar o tamanho do fosso cultural entre meu mundo católico latino americano e o calvinista norte europeu.
Quando visitei Roma, conheci as imensas ruínas das Termas de Caracalla, um exemplo da magnificência da arquitetura romana. Ali dentro eu imaginava os romanos se divertindo e fazendo a “social” entre uma piscina e outra, discutindo política e outros assuntos mais triviais. Ontem fui a uma sauna holandesa. O lugar me lembrou Caracalla não só por causa das diferentes saunas e piscinas, e porque eu estava me sentindo em uma pintura de Alma-Tadema, mas também por causa do ditado: em Roma, faça como os romanos. A sauna holandesa é mista, entram homens e mulheres juntos, inclusive no mesmo vestiário. Lá dentro não se usam roupas, pode-se andar de um lado a outro em roupão de banho, pode-se até jantar de roupão, mas nas saunas e piscinas é todo mundo nu. Nada de sacanagem, e ainda há plaquinhas lembrando que é proibido todo contato físico entre os visitantes.
Há uma piscina de água salgada, que faz você boiar como se estivesse no Mar Morto. Lembrei da piadinha do menininho que fica boiando e afundado na banheira. A menininha pergunta, tá brincado de quê? De submarino. Posso brincar também? E ele diz: não, você não tem periscópio...
Tem piscina quente, piscina gelada, piscina com cheiro, sauna a vapor, sauna seca, infravermelho, massagem turca. E você se sente como um ingrediente de um banquete canibal que pode ser temperado, cozido, assado ou grelhado.
Sua primeira grande preocupação é a de encontrar alguém conhecido, por exemplo seu chefe, um colega de trabalho, um vizinho... Passado esse primeiro momento de terror, quando você descobre que é um anônimo na piscina, chega a hora de tirar o roupão. Aí vêm preocupações secundárias como prender a respiração para diminuir a barriga, ou reparar se o seu bilau está na média de tamanho aceitável, mas a verdade é que depois de algum tempo de observação conclui-se que exceto em raríssimas e belas exceções, humanos, como espécie em geral, não passam de tristes e ridículos macacos sem pelo e sem rabo. Sou tentado a pensar que inventamos roupas não por frio ou por proteção, mas só para não termos que nos olhar pelados o tempo inteiro.
Of course os holandeses e holandesas novos e velhos, magros e gordos acham tudo aquilo muito normal e andam por ali como se estivessem no supermercado.
E aí vem um grande paradoxo que ainda me intriga. Na Holanda, e nos países nórdicos de um modo geral a nudez é vista com naturalidade, sem um pingo de malícia. Mas pode-se fazer sexo no primeiro encontro, às vezes antes mesmo de você beijar a outra pessoa. Por outro lado, brasileiros e latinos são todos calientes e sensuais, não param de pensar em sexo mas têm vergonha de tirar a roupa em público, principalmente porque estão pensando que todo mundo está pensando em sexo. Há algo profundamente hipócrita de algum dos lados.
Se uma mulher faz top less na Holanda, absolutamente ninguém vai olhar. Se uma mulher fizer top less em uma praia brasileira em cinco minutos vai ter um caiçara vendendo espetinho e cerveja para a platéia que juntou ali do lado. Ou algum brasileiro certamente pensaria em um Serviço de Inspeção de Topless destinado a conceder autorizações, mediante exame detalhado, para aquelas mulheres cujo topless não ofendesse a paisagem natural das praias brasileiras.
E lá estava eu pensando: será a religião? Será o feminismo? Será que eles não pensam naquilo? Será que a Holanda precisa de uma revolução bolivariana? Olha para o outro lado, olha para o outro lado, ai! aai! meus olhos...Ah melhorou, ah não, ah não, olha pro teto, olha pro teto...
Aí eu desisti, larguei o roupão me sentindo o próprio Nero entrando nas Termas e olhei para o céu enquanto quatro mulheres nuas (inclusive minha esposa) dividiam o ofurô comigo.
Quando visitei Roma, conheci as imensas ruínas das Termas de Caracalla, um exemplo da magnificência da arquitetura romana. Ali dentro eu imaginava os romanos se divertindo e fazendo a “social” entre uma piscina e outra, discutindo política e outros assuntos mais triviais. Ontem fui a uma sauna holandesa. O lugar me lembrou Caracalla não só por causa das diferentes saunas e piscinas, e porque eu estava me sentindo em uma pintura de Alma-Tadema, mas também por causa do ditado: em Roma, faça como os romanos. A sauna holandesa é mista, entram homens e mulheres juntos, inclusive no mesmo vestiário. Lá dentro não se usam roupas, pode-se andar de um lado a outro em roupão de banho, pode-se até jantar de roupão, mas nas saunas e piscinas é todo mundo nu. Nada de sacanagem, e ainda há plaquinhas lembrando que é proibido todo contato físico entre os visitantes.
Há uma piscina de água salgada, que faz você boiar como se estivesse no Mar Morto. Lembrei da piadinha do menininho que fica boiando e afundado na banheira. A menininha pergunta, tá brincado de quê? De submarino. Posso brincar também? E ele diz: não, você não tem periscópio...
Tem piscina quente, piscina gelada, piscina com cheiro, sauna a vapor, sauna seca, infravermelho, massagem turca. E você se sente como um ingrediente de um banquete canibal que pode ser temperado, cozido, assado ou grelhado.
Sua primeira grande preocupação é a de encontrar alguém conhecido, por exemplo seu chefe, um colega de trabalho, um vizinho... Passado esse primeiro momento de terror, quando você descobre que é um anônimo na piscina, chega a hora de tirar o roupão. Aí vêm preocupações secundárias como prender a respiração para diminuir a barriga, ou reparar se o seu bilau está na média de tamanho aceitável, mas a verdade é que depois de algum tempo de observação conclui-se que exceto em raríssimas e belas exceções, humanos, como espécie em geral, não passam de tristes e ridículos macacos sem pelo e sem rabo. Sou tentado a pensar que inventamos roupas não por frio ou por proteção, mas só para não termos que nos olhar pelados o tempo inteiro.
Of course os holandeses e holandesas novos e velhos, magros e gordos acham tudo aquilo muito normal e andam por ali como se estivessem no supermercado.
E aí vem um grande paradoxo que ainda me intriga. Na Holanda, e nos países nórdicos de um modo geral a nudez é vista com naturalidade, sem um pingo de malícia. Mas pode-se fazer sexo no primeiro encontro, às vezes antes mesmo de você beijar a outra pessoa. Por outro lado, brasileiros e latinos são todos calientes e sensuais, não param de pensar em sexo mas têm vergonha de tirar a roupa em público, principalmente porque estão pensando que todo mundo está pensando em sexo. Há algo profundamente hipócrita de algum dos lados.
Se uma mulher faz top less na Holanda, absolutamente ninguém vai olhar. Se uma mulher fizer top less em uma praia brasileira em cinco minutos vai ter um caiçara vendendo espetinho e cerveja para a platéia que juntou ali do lado. Ou algum brasileiro certamente pensaria em um Serviço de Inspeção de Topless destinado a conceder autorizações, mediante exame detalhado, para aquelas mulheres cujo topless não ofendesse a paisagem natural das praias brasileiras.
E lá estava eu pensando: será a religião? Será o feminismo? Será que eles não pensam naquilo? Será que a Holanda precisa de uma revolução bolivariana? Olha para o outro lado, olha para o outro lado, ai! aai! meus olhos...Ah melhorou, ah não, ah não, olha pro teto, olha pro teto...
Aí eu desisti, larguei o roupão me sentindo o próprio Nero entrando nas Termas e olhei para o céu enquanto quatro mulheres nuas (inclusive minha esposa) dividiam o ofurô comigo.
5 comments:
Jajaja...me ha hecho mucha gracia este post.
Y tienes toda la razón. En España existen pocos lugares parecidos al que describes en Holanda, aunque me temo que es por una mezcla entre nacional-catolicismo y obsesión sexual por otra. Nada que ver con la racionalidad del norte europeo.
Un cálido saludo
Fernando,
Assimilar culturas é algo fantástico!São poucos que o conseguem fazer. Mais uma vez, parabéns pelo feito e pelo texto, que está ótimo.Gostei muito da parte de prender a respiração, para diminuir a barriguinha, me fez lembrar de uma amiga...
Quando ela tem algum compromisso social, toma chemical 2 vezes ao dia + desestimulantes de apetite, bebe só água e por aí vai, tudo para ficar como manda o figurino. Fiquei imaginando ela em uma sauna Holandesa... acho que nem respirar ela ia!!! Rssssrsss
òtimo! Dei boas risadas...mas é uma boa reflexão, não é só para rir.
abraços
Excelente texto; fez-me rir um bocado!
Abraço,
Lelec.
PS: Muito obrigado por colocar meu blog entre aqueles que você indica. É uma honra. Valeu mesmo.
Tô aqui imaginando o caiçara vendendo espetinho e cerveja para a platéia em volta da mulher de topless. haha
Eu acho a nossa relacao com a nudez mais saudável e menos hipócrita. Porque DUVIDEODÓ que as pessoas nao fiquem se checando na sauna. Só que ninguém admite.
E realmente, pelados em grupo somos feios pra dedéu. É uma coisa animalesca grotescona!
Beijim,
Cla
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