Anoitecia em Belém, quando um exausto casal de viajantes vindos de Nazaré, começou a bater de porta em porta nas hospedarias da cidade em busca de abrigo. A jovem esposa, Maria, grávida, sentia já as dores do parto iminente. ”Estamos lotados”, “não há mais lugar”, respondiam, um após outro, os estalajadeiros. Sem poder mais esperar, José, o marido, acomodou Maria num manto estendido sobre as palhas de um estábulo nos arredores da cidade. E ali, entre vacas, ovelhas e jumentos, nasceu o menino que o Anjo anunciara ser o Filho de Deus enviado à Terra para ensinar os homens a reconstruírem o reino perdido do Amor, da Justiça e da Paz.
Eu queria um Deus resplandecente e forte
que se impusesse aos poderosos e que mudasse radicalmente o mundo
e ele apareceu na fragilidade de um recém-nascido
numa gruta de pastores
deitado na manjedoura dos animais;
Alertados por intensa luz que do céu se derramava, os pastores seguiram rumo a Belém para prestar homenagem de adoração ao Messias tão esperado, no silêncio e no recolhimento daquele santo lugar.
Eu queria um Deus que miraculosamente acabasse com a injustiça e a hipocrisia
que fizesse chover do céu a ordem
o bem estar
a segurança
e ele apareceu na figura de uma criança que os grandes rejeitaram
e que só os pobres
os simples
os marginalizados
acolheram;
Contemplemos, como os pastores, esse Deus que se fez menino e abramos nosso coração: Senhor, o mundo esta cheio de más notícias. Pelos meios de comunicação acompanhamos diariamente noticias que nos falam de terrorismo, guerras, fome, corrupção, crises econômicas e tragédias ecológicas que nos causam tanta tristeza e insegurança.
Eu queria um Deus cujo poder atingisse cada canto da Terra
que se impusesse aos projetos maquiavélicos dos senhores do mundo
que transformasse a história humana com a força do seu braço
e ele nasceu numa pequena cidade sem história
no seio de um povo pequeno e insignificante
cuja voz nem era escutada nos imponentes palácios onde se discutia o destino do mundo;
Senhor, em nossa sociedade há tanto egoísmo, tanta busca frenética pela beleza, pela riqueza e pelo sucesso a qualquer custo e tamanha é a impunidade, que às vezes somos tentados a acreditar que estão certos os que vivem nesse mundo para o aqui e o agora, sem se importar com o seu semelhante ou com as contas a prestar um dia na Tua presença.
Eu queria um Deus exigente
que não deixasse cada um fazer o que quisesse
e este menino veio para nos falar como um Pai Universal
paciente e bondoso
capaz de compreender e desculpar as falhas e as debilidades dos homens
um Pai que nem castiga
nem se vinga
mas perdoa sempre:
Senhor, a Vida, este bem supremo, de inigualável beleza, a nós concedido por tua vontade e generosidade, por toda parte está sendo violentada, desrespeitada, banalizada, ignorada pelos que assassinam, exploram, poluem, drogam, estupram sem nenhum respeito ou cuidado por sua natureza miraculosa e finita.
Eu queria um Deus que se impusesse
que não nos deixasse fazer asneiras nem conduzir o mundo por caminhos de egoísmo e de sofrimento
e encontro um Pai que sabe respeitar as decisões de cada homem ou mulher
que promove até o fim a liberdade humana
e a respectiva responsabilidade;
Senhor, nessa nossa época tão submissa às leis do mercado, na qual sentimentos, crenças, princípios e valores têm sido coisificados, transformados em objetos de consumo que podemos escolher, conforme nossos interesses e conveniências, como artigos nas prateleiras de uma loja, tão difícil nos parece estabelecer o que é certo, dar exemplo, educar...
Eu queria um Deus que fosse a solução eficiente e rápida para todos os problemas e dúvidas que inquietam o meu coração
e encontrei um Deus que não me dá respostas prontas
mas me ensina a procurar no diálogo com meus irmãos
o caminho a percorrer;
Ó Deus Menino, de riso luminoso e braços estendidos, que nasceste despojado de poder e de riqueza, aqui estás para pedir que reorientemos nossas vidas para o Bem, para a Fraternidade e para a Paz;
Armado apenas da Fé e do Amor que transborda desse olhar puro e franco de criança, vens nos exortar a querer menos para que todos tenham o necessário
e incentivar-nos a não calar diante das injustiças.
Docemente, convida-nos a irmos além de nós mesmos, dos nossos interesses, das nossas ambições, dos nossos medos, dos nossos preconceitos, da nossa comodidade, para caminhar, também nós, de braços estendidos e confiantes ao encontro dos outros homens;
Eu queria um Deus racional
que eu entendesse à luz da minha lógica
e encontrei um Deus desconcertante
com uma lógica estranha
que parece privilegiar certos valores que os homens desprezam e desprezar certos valores que os homens amam;
Jesus Menino, diante desse presépio, celebrando o teu nascimento, é imperioso refletir sobre o modo como escolheste nascer para dar testemunho aos homens de que um deles, pobre carpinteiro da humilde Nazaré, com a coragem de que o revestiu um Amor incomensurável pela humanidade, tornou-se capaz de mudar a face do mundo e vencer todos os medos, até mesmo o da morte em doloroso e consentido sacrifício;
Foi esse Deus frágil
discreto
desconcertante, cheio de afeto que
há cerca de dois mil anos
nasceu em Belém
e que ainda hoje
continua querendo nascer no coração de cada homem
mulher ou criança
que deseje
sinceramente
fazer desse mundo um lugar abençoado para se viver.
Vinde, Jesus,
para estabelecer teu reino entre os homens, fazendo
com que a humanidade se oriente pelos caminhos da Paz e da Fraternidade;
para que em nossa família possamos viver o Amor, o acolhimento e o perdão;
para que este Natal nos encoraje a caminhar na Fé, na Esperança e na Caridade;
para que, por onde formos, sejamos portadores da luz que nos trouxeste com o teu nascimento.