Friday, July 24, 2009

O caminho da servidão


“Eu vejo uma inumerável multidão de homens parecidos, que se reviram sem repouso procurando pequenos e vulgares prazeres com os quais eles possam encher suas almas.
Acima deles eleva-se um imenso, tutelar poder, que se encarrega por inteiro de assegurar seu divertimento e vigiando seu destino. Ele é absoluto, atento aos detalhes, regular, providente e gentil. Ele se assemelharia a um poder paternal, se como este poder tivesse por objetivo preparar meninos a serem homens, mas ao contrário, ele busca mantê-los irrevogavelmente presos à infância...providencia sua segurança, prevê e lhes fornece o necessário, os guia em seus negócios...
O soberano estende seus braços sobre a sociedade como um todo, cobre toda ela com uma rede de pequenas regulamentações – complicadas, minuciosas e uniformes – através das quais mesmo a mais originais mentes e as mais vigorosas almas não saberão como fazer seu caminho... Não destrói desejos, mas atenua-os, modifica-os, redireciona-os; raramente força alguém a agir, mas constantemente se opõe a que alguém aja por si só... não tiraniza, entra no caminho. Limita, enerva, extingue, estupefaz, e finalmente reduz uma nação a ser nada mais do que um rebanho de animais tímidos e servis, do qual o governo é o pastor.”

Esse texto poderia estar descrevendo o Estado de burocracia em que se transformou a União Européia ou em que estão se transformando os EUA de Barack Obama neste século XXI. Mas foi escrito por Tocqueville há mais de um século, quando nos alertava para os riscos de uma volta à tirania depois das conquistas das revoluções francesa e americana.
A passagem é o ponto de partida do livro Soft Despotism, Democracy’s Drift de Paul A. Rahe’s, analisado na New Criterion por Mark Steyn.
A nova forma de despotismo chega de forma gentil. Nos diz que temos direito à moradia, direito à aposentadoria, direito a um emprego, direito a um plano de saúde, e agora como novidade direito à segurança ambiental e alimentar. As ofertas são tão tentadoras que a maioria das pessoas abdica facilmente da própria liberdade em troca dessa segurança providenciada pela mão estatal. Mas a cada vez que nos empurram um desses direitos, nos arrancam nossa liberdade, nossa responsabilidade e a capacidade de decidir nosso próprio destino.
A tirania torna-se mais e mais grave à medida em que o Estado começa a centralizar todas as decisões, retirando gradualmente o poder de estados e municípios. Hoje, a tecnologia tornou possível que um governo mesmo distante consiga controlar as decisões e a vida de seus cidadãos, criando uma burocracia gigantesca. Obviamente decisões que afetam a vida de cidadãos em um determinado local podem ser tomadas com muito mais propriedade por eles mesmos do que um burocrata distante.
Infelizmente, na Europa, nos EUA, no Brasil e em todo lugar as pessoas passaram a acreditar que é o Estado quem deve ser responsável pelo que fazem, pelo que são, como vivem e às vezes até o que pensam. A descentralização do poder é a única alternativa para evitar a tirania.
O Professor Rahe escreve: “A dignidade humana depende da capacidade de tomar a responsabilidade pelos próprios atos. Podemos ser o que fomos um dia, ou escolher uma descida gentil e gradual para a servidão”.

2 comments:

Bruno Pontes said...

O Obama segue firme estatizando o que puder - bancos, indústria automobilística, agora quer criar um gigantesco plano de saúde federal. E aqui no Brasil o pessoal entrega até a mãe se a autoridade estatal prometer o paraíso em troca.

"O caminho da servidão" é essencial para se entender o nosso mundo - e olhe que o Hayek escreveu aquilo há mais de 60 anos. Imagine ele vivo em 2009 e vendo coisas como a União Européia e especialmente o Obamismo.

Everardo said...

O "socialismo de mercado" é uma invenção chinesa que os EUA estão tentando imitar, no desespero. É preciso encontrar um modelo coerente para o capitalismo americano, sob pena de não ser possível encontrar uma saída para quem ainda é quase umterço do PIB mundial, mas caminha para o destroço. Por enquanto, vamos cuidando das coisas possíveis, como o modelo brasileiro.