Wednesday, July 15, 2009

O tempo não pára


Um dos paradoxos da modernidade é que estamos sempre sem tempo, apesar de toda a tecnologia que entrou em nossas vidas. Temos máquinas para lavar nossas roupas e louça, carros e aviões para chegar em qualquer lugar, computadores para ajudar a pensar. E no entanto parece que estamos sempre correndo.
Zigmunt Bauman, o prestigiado sociólogo polonês disse em entrevista ao Globo que estamos experimentando a passagem do tempo de maneira diferente. Sociedades agrárias vivem o tempo como uma coisa cíclica, dia após dia, lua após lua, chuva e seca, estações do ano. Depois da revolução industrial começamos a encarar o tempo de forma linear, do passado ao futuro, do atraso ao progresso.
Hoje, na Era da Informação, o tempo dissipou-se em uma infinidade de momentos. Não tem senso nem direção, cada episódio é curto e frouxamente conectado ao seguinte ou ao anterior. Isso porque nos tornamos dependentes de estímulos externos, que chegam pela televisão, pelo Ipod, pelo celular e pela internet. Esses estímulos criam oportunidades imprevisíveis e incontroláveis de promover sensações com as quais procuramos preencher nosso tempo. Se estamos desconectados sentimos estar perdendo essas oportunidades.
Segundo Bauman perdemos a capacidade de nos auto estimular. O tempo livre que antes servia para reflexão e auto conhecimento, de conversa consigo mesmo, hoje é encarado como tédio puro e simples. A solidão, o tempo consigo mesmo é tão abominado que para evitá-la precisamos estar sempre conectados ao Orkut, ao Facebook, ao Twitter.
Eu concordo com Zigmunt Bauman. E acredito que essa seja a consequência mais nefasta da modernidade. As pessoas hoje, principalmente nos grandes centros urbanos tentam preencher cada espaço na agenda (e na dos filhos) correndo do trabalho à academia, ao computador, à televisão, ao curso sei lá do quê, e pior do que isso, almejam uma juventude eterna seja no comportamento seja nas plásticas, roupas, regimes e academias da ditadura do corpo.
Acho que têm tanto medo de se verem sozinhs consigo mesmas porque se ficarem talvez tenham medo do que vão descobrir.

3 comments:

Guga Pitanga said...

E os momentos em que nos permitimos não fazer nada ficam cada vez mais escassos, sendo tão necessários!

Everardo said...

Realmente, Fernando, Zigmunt Bauman tem razão. O paradigma racional (da linearidade, da causalidade, da evolução a partir do estado imediatamente anterior), enfim, do mecanicismo em sentido amplo, está sendo substituído pelos valores da nova era quântica, em que o conceito de tempo e espaço, como o conhecemos, está sendo complementado com outros que, durante séculos, deixamos de estudar, por puro preconceito. Conceitos como impenetrabilidade dos corpos, ação e reação contrária e igual, centros gravitacionais, inexorabilidade temporal, etc., estão sendo corajosamente revistos. Um grande pensador na área é Fritjof Capra, A PARTIR DA OBRA "O Ponto de Mutação".

Luiz Felipe said...

Fernandao,
mais uma vez vc acerta em cheio com sua sagaz e oportuna percepcao...
Tempo??? eis a questao...
O que nos impulsiona e o que nos retrai? Lembrei ate daquela musica dos engenheiros "Mapas do Acaso" (nome sugestivo), "ancora... vela, qual me leva? qual me prende?"
Uma questao de ponto de vista e estimulos, resta a nos mesmos, com nossa individualidade, julgar e agir conforme nosso tempo, aceitando ou nao o que a modernidade nos impoe...
Abracos,
Bode