Às vezes sentimos que estamos tateando no escuro. Eu andava assim há não muito tempo atrás. No começo deste ano mesmo escrevi aqui que andava perdido, com a angústia de um quadro de Munch. Duvidava das decisões que tinha tomado.
Embora houvesse voltado a uma terra calorosa e amiga, continuava distante da família e dos amigos.
Minha vida profissional parecia ter empacado em um eterno brejo de frustrações.
Para completar tínhamos que conviver com outra frustração, a de não conseguir um filho. Tentamos de simpatias a chá dos índios amazônicos, de orações até uma fertilização in vitro com as mais modernas técnicas científicas, e nada parecia funcionar, embora não houvesse nada de errado conosco. Todos têm cruzes a carregar, pensamos, não vamos reclamar da nossa.
O tempo passou. Fizemos excelentes amigos. De toda forma estivemos sempre que possível perto da família.
Chacoalhando a poeira, decidi sair do meu trabalho. Falei com gente, expus o que eu queria para mim, pessoas me ajudaram, e finalmente vou ter um trabalho que já estou adorando fazer. Vou poder realmente influenciar alguma coisa no meu meio, transformar para melhor o lugar em que vivemos, me engajar em algo. E por incrível que pareça algumas coisas que aprendi no ano que eu considerava profissionalmente perdido me servirão para meu trabalho novo.
Vamos mudar de cidade, e ficar mais perto da família e de velhos amigos, sem jamais esquecer os novos. Coincidentemente meu trabalho novo, na maior cidade do país, é a alguns quarteirões de um apartamento que meus pais acabaram de conseguir e de mobiliar, então terei um canto para ficar até achar o meu, sem stress.
E quando nesse grande puzzle tudo parecia estar se encaixando, eis que ele aparece do nada, naturalmente, sem chás nem tubos de ensaio. Uma coisinha do tamanho de um grão de feijão, crescendo no útero da mulher da minha vida. Havíamos finalmente compreendido que um filho não poderia ser nunca um objetivo na vida, especialmente porque ele não nos pertence. Aí ele apareceu, e será sim parte dela, e uma parte extremamente valiosa, mas criada para ser livre e para o bem.
Há um tempo atrás eu quis gritar que a vida era injusta, mas não gritei. Preferi destruir minhas pretensões de querer comandar o universo, e a humildade recém ganha me fez entender que a vida nos leva onde queremos ir, ou onde devemos ir.
Invejo a tradição americana do Thanksgiving. Seria uma festa muito mais útil a ser importada do que aquele Halloween besta de escolinhas de inglês. Seria bom ao menos uma vez por ano dar graças pelo que temos recebido, embora o devêssemos fazer uma vez ao dia.
Eu dou graças porque não acredito que tudo tenha sido mero acaso. E humildemente espero o que a vida reserva para mim no futuro. Pode até ser que outros tempos de dúvida e de angústia venham, e virão. Estarei novamente tateando no escuro, mas com a certeza de que não há trevas sem luz, nem noite sem alvorecer, nem tempestade sem bonança, nem caminhos que uma hora não se iluminem. Graças a Deus.
7 comments:
Alma,
Como você disse, amigos sempre estão por perto.
Sucesso nessa nova fase.
Big-Ben
Parabéns!!! O caleidoscópio finalmente gira com a chegada de um filho e, apesar das preocupações, são infinitamente multiplicadas as alegrias.
Parabéns Fernando, vocês merecem!!!
Parabéns por tudo!
''Há um tempo atrás eu quis gritar que a vida era injusta, mas não gritei. Preferi destruir minhas pretensões de querer comandar o universo, e a humildade recém ganha me fez entender que a vida nos leva onde queremos ir, ou onde devemos ir.''
Verdade absoluta! Existe algo encantador nisso tudo. Não tem como ser tudo por acaso mesmo!
Belo texto sobre essa arte "dificultosa" que é viver...
Parabéns por, nos meandros que a existência nos impõe, seguir firme rumo à sabedoria da dignidade de viver.
Abraço.
Amém, assim seja.
Oi, Fernando.
Vim aqui à cata de algum post teu sobre o DEM e acabei caindo aqui. E me emocionei muito.
Lá atrás, quando vc compartilhou aqui no blog a dor de vcs pelo desejo não realizado de ter um bebê, te disse que ele viria quando vcs menos esperassem,quando já estivessem a ponto de perder a esperança, quando já estivessem resignados á suposta impossibiliadde. E assim parece ter sido.
Estou MUITO, MUITO feliz por vcs, Fernando. Parabéns! E que Deus abençôe cada dia desta gestação.
Olha, deduzo que vcs estejam vindo para SP. Te deixo meu mail. Seria um prazer poder tomar um café contigo.
deborahlee@uol.com.br
beijos, extensivos à esposa e ao baby!!
;o)
deborah
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