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Como vocês sabem eu estou de férias no Brasil. Moro na Europa desde 99 e pelo menos uma vez por ano tenho que vir para cá recarregar as baterias. Nem tive tempo de ver que o blog virou destaque na Gazeta dos Blogueiros e no Links e Sites. Meus sinceros agradecimentos a todos e minhas desculpas aos que enviaram comentários que eu (ainda) não respondi. Logo que eu voltar para a paz e a tranquilidade de casa na Holanda prometo voltarei com a programação normal.
Quem passa muito tempo fora do Brasil e volta entende o que vou dizer. Quando regressamos assim depois de um ano longe acabamos vendo as coisas de um jeito diferente. Algumas coisas que não chocavam antes hoje já saltam aos nossos olhos. Para começar a própria visão da cidade de São Paulo do avião já é um choque. Aquela monstruosidade de concreto se espalhando como um câncer na mata Atlântica é inconcebível. A Grande São Paulo tem mais habitantes do que a Holanda. E o trânsito de São Paulo, seja sob um sol de rachar ou seja sob a chuva tropical? E os motoboys passando feito loucos entre carros e caminhões? Ambulantes vestidos de Papai Noel no semáforo quando faz 40°C lá fora...
Outra coisa que choca são as grades, os cacos de vidro no muro, as cercas elétricas, as travas, correntes e cadeados. Algo que não percebemos aqui, mas as nossas próprias casas estão se transformando em presídios. Lembro da música do Rappa (que soa melhor cantada pela Maria Rita): qual a paz que eu não quero conservar pra tentar ser feliz...
E como brasileiro adora comer. Em dez dias eu tenho a impressão de nunca ter saído da mesa. Aliás desci do avião e fui parar direto num rodízio às dez e meia da noite. Me sinto um daqueles gansos de foie gras enquanto a balança indica que caminho vertiginosamente para os três dígitos de peso e o único músculo do meu corpo a se exercitar é o panceps, também conhecido como músculo brahma. Mas especialmente neste período tudo é festa. Uma russa que por acaso veio cair de pára quedas na festa da minha família disse que nunca viu nada igual na vida dela. Absolutamente extraordinário ela me confessou. As promessas de dieta vão para o ano que vem com todas as outras.
Mas o que choca mesmo, o que continua chocando cada vez mais os estrangeiros e visitantes como eu é a enorme diferença entre a riqueza e a pobreza no Brasil, diferença essa contra a qual os brasileiros estão cada vez mais anestesiados. Durante essas férias passei pelo Shopping Center de Higienópolis em São Paulo e visitei uma casinha popular na periferia de Catanduva. É inimaginável, ainda mais para alguém que conhece o Estado de bem-estar social holandês que estes dois cenários pertençam ao mesmo país.
Alguém imaginaria que o governo Lula daria um jeito nisso. Mas é absurda a solução que o governo do PT e seus brilhantes economistas nos estão propondo.
O PT quer que a renda seja melhor distribuída e que a sociedade fique mais igualitária. Em vez de fazer a economia crescer damos esmola aos pobres e empobrecemos a classe média. Estatisticamente será uma maravilha, em vez de sermos como a Holanda onde todos são ricos seremos todos igualmente pobres (menos os banqueiros que adoram o governo Lula), como são Cuba, a Bolívia e o Paraguai, países onde a distribuição de renda é melhor do que a do Brasil.
Mas é Natal, os vendedores solícitos jogam a loja aos seus pés, naquela falsa cortesia de quem deseja desesperadamente o dinheiro da comissão (na Holanda você precisa implorar para ser atendido). E o povo compra pagando juros escorchantes em cinquenta prestações, e a porcaria do móvel ou do eletrodoméstico que eles podem pagar estará quebrado e sem garantia antes que acabe o crediário. E o pior é que esse “pobrismo” dos nossos dirigentes que contamina a política econômica acaba contaminando todo o resto. O que nós brasileiros vemos, lemos, compramos, comemos, vestimos, construímos será cada vez mais barato, mais vulgar, mais feio. O perigo é que isso acabe contaminando também nossas cabeças. E já está. Leiam a coluna do Mainardi na Veja desta semana. Essencial.