Monday, May 14, 2007

Flags of Our Fathers, Letters from Iwo Jima


Clint Eastwood conseguiu fazer dois filmes espetaculares, sobre a mesma batalha, Iwo Jima. Um visto pelo lado americano, e o outro pelos japoneses, um feito inédito e louvável.
No filme Flags of Our Fathers, Eastwood trata da mistificação do heroísmo da guerra, tal como fez em Os Imperdoáveis, onde toda a aura heróica dos pistoleiros do velho oeste desaparecia em covardia e brutalidade. Flags of Our Fathers é a história de uma foto, a famosa foto de Joe Rosenthal da bandeira americana sendo erguida no Monte Suribachi, publicada em todos os jornais dos Estados Unidos nos dias em que se seguiram à tomada de Iwo Jima. A imagem é a tradução do heroísmo e da coragem, e se transforma em uma máquina de propaganda para arrecadar mais fundos para a guerra. Os soldados protagonistas da foto são levados em triunfo por cidades americanas e recebidos em toda parte como heróis, quando tudo o que eles se lembram é do horror da guerra. Em tempos recentes, o exército americano tentou algo parecido com a recruta Jessica Lynch, ferida, detida e resgatada do Iraque. Parece que ainda não aprenderam
Ian Buruma, que escreveu na New York Review of Books sobre o filme diz que embora Eastwood mostre muito bem a vazio entre a realidade doentia da guerra e as estórias contadas depois, ele não nega a possibilidade de atos heróicos. No filme vemos Doc Bradley, um dos soldados, arriscando sua vida em um fogo cruzado mortal e rastejando para fora de seu buraco para resgatar um companheiro ferido. Diz Buruma que é um ato que não tem nada a ver com patriotismo, “fighting for freedom” ou qualquer coisa do tipo, e tudo a ver com simples decência, que é rara o suficiente para ser chamada de heróica.
No filme falado em japonês e encenado por atores japoneses (Ken Watanabe excelente), a base da narrativa são as cartas escritas por soldados e encontradas enterradas em Iwo Jima muitos anos depois da batalha. Escondidos em cavernas, vivendo em precárias condições e face à iminente batalha suicida, os japoneses dividem o pensamento entre a obsessão pela honra e pelo Imperador e a luta para sobreviver e pela própria individualidade. Em 36 dias de luta morreram 7.000 americanos e 22.000 japoneses em Iwo Jima. Vista pelo lado japonês, a guerra é ainda mais sem sentido. Clint Eastwood fez aqui um filme magistral.

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