Tuesday, May 29, 2007

Vive la Gaule!


Quando me perguntam a diferença entre viver na França onde passei dois anos, e na Holanda onde vivo hoje, sempre suspiro e olho para cima, relembrando meus bons tempos em Anjou. Embora os dois países tenham uma excelente qualidade de vida, o que me faz mais falta é o espírito francês em apreciar as boas coisas da vida, especialmente em gastronomia. Gostar de um bom vinho, tomar o tempo necessário para preparar e saborear uma refeição e todos os seus ingredientes, e enquanto isso discutir culinária (principalmente), arte, política, literatura… Isso é algo que passa longe dos holandeses, sempre práticos em suas refeições, sempre indiferentes aos sentidos. Mais do que uma diferença entre França e Holanda, este é um traço cultural generalizado que separa a Europa do Sul, latina, da Europa do Norte escandinava ou anglo-saxônica.
Jacques Attali em seu blog cita um estudo do Insee, o IBGE francês, que os franceses, em sua maioria, são os últimos ocidentais ainda a almoçar e jantar em família. Diante da máquina de fabricar solidão que se tornou a sociedade ocidental moderna, onde todos almoçam de pé em 15 minutos no local do trabalho, os franceses são os últimos a resistir, e resistir é algo que eles fazem bem. Ainda segundo o Insee, o resultado está na saúde dos franceses que são menos obesos e sofrem menos de doenças cardio-vasculares. Mas mesmo na França as refeições estão perdendo seu sentido original enquanto os homens assistem a TV e as mulheres arrumam a louça. Attali, como bom francês (e talvez futuro secretário de Sarkozy) recomenda que as refeições devem ser protegidas em sua duração e forma e que as tarefas sejam divididas entre os sexos. Ele diz que refeições devem ser tratadas como um assunto do mais alto interesse político, e que é a atitude de um povo em relação à refeições que cria o essencial da construção social, por ser a principal ocasião de partilha e transmissão de conhecimento na família. Dou o maior apoio e rezo para que algum político holandês lhe ouça, obviamente uma utopia minha. Mesmo assim ainda continurei fazendo campanha pelo Slow Food Movement e preservando as refeições possíveis na minha família, em uma grande mesa e com javali assado. E com aquele parente chato amarrado na árvore, por Tutatis!

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