Saturday, May 12, 2007

O Canto da Missão


Pensou-se que o fim da Guerra Fria acabaria com o filão literário mais explorado por John Le Carré, o romance de espionagem. Enganaram-se, o mundo está cheio de palcos onde homens ambiciosos e hipócritas jogam perigosos jogos de poder. A África foi o que John Le Carré encontrou agora para contar estas histórias. Depois de O Jardineiro Fiel, onde o vilão eram multinacionais farmacêuticas no Quênia, Le Carré volta os olhos para o Kivu, uma região tão rica quanto atormentada no Congo Oriental.
O Canto da Missão é a história de Bruno Salvador, um mestiço filho de um missionário irlandês e mãe congolesa, intérprete de uma variedade de línguas e dialetos da África Central. Embora a história seja sobre o Congo, grande parte dela se desenrola em Londres e em uma ilha no mar do Norte para onde Salva é levado a serviço de Serviço de Inteligência britânico para planejar um golpe de estado no Kivu. Entre senhores da guerra africanos e mercenários ingleses, a ilusão de que seu trabalho é para o bem do país vai desmoronando ao mesmo tempo em que sua consciência africana desperta.
É impossível ler o livro e não lembrar-se das cenas de Mark Thatcher, filho da ex-primeira ministra britânica Margareth Thatcher, sendo preso na África do Sul acusado de conspirar em um golpe de estado na Guiné Equatorial. Nas sombras do poder, milhares de outros golpes e crimes devem ter sido executados em cima da miséria dos africanos. John Le Carré escancara a hipocrisia ocidental e mostra como golpes deste tipo são planejados, como se estivéssemos lá naquela sala a imaginar como matar, explorar e enriquecer.

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