Bento XVI, um papa alemão rezando em Auschwitz é uma cena que não deveria passar desapercebida a ninguém.
No cenário do maior crime deste século, o pontífice se atreve a questionar Deus sobre seu silêncio durante a Shoah. São dois grandes gestos, o de aproximar católicos e judeus na mesma aversão ao horror, e o de assumir que mesmo enquanto líder máximo de uma religião, ele também não tem todas as respostas. Bem diferente dos líderes de outras religiões que têm absoluta certeza de terem todas as respostas.
O Papa me reconforta. Eu já me questionei, e ainda me questiono sobre o silêncio de Deus ou mesmo sobre sua existência face à tragédias como o Holocausto, o genocídio de Rwanda, o tsunami ou até o terremoto desta semana passada na Indonésia. E quem não se questiona?
E se nem o Papa tem as respostas porque as teria eu? Não há respostas.
A imprensa européia no entanto criticou Bento XVI por atribuir a culpa do Holocausto a um bando de criminosos, quer dizer os nazistas. Segundo o editorial do Le Monde de ontem, isto equivaleria e eximir o resto do povo alemão de qualquer culpa, o que nenhum historiador concorda em fazer hoje.
Realmente, que Hitler e o nazismo tenham chegado ao poder é uma vergonha para a Alemanha dessa época, e o povo alemão tem uma imensa parcela de culpa nisso, afinal Hitler chegou ao poder pelas mãos do povo. O que me leva a um outro assunto, discutido por Ali Kamel na sua coluna de hoje em O Globo.
Assim como a Alemanha baniu o nazismo e seus símbolos, outros países verdadeiramente democráticos proíbem partidos e candidatos com propostas que atentem contra a própria democracia e as liberdades individuais de seus cidadãos.
Kamel está certo ao defender Condolezza Rice, que recentemente afirmou que democracia não é só eleição.
Hugo Chávez foi eleito democraticamente mas manipula seu congresso e a imprensa de seu país como quer. Lula foi eleito democraticamente mas comprou o Congresso e armou uma quadrilha para financiar seu partido. Mahmoud Ahmadinejad foi eleito no Irã porque os aiatolás deixaram. O Hamas foi eleito na Palestina e está pronto a estabelecer uma teocracia no país. Democracia não pode ser isso. O erro dos Estados Unidos é achar que a noção de democracia que eles levaram 200 anos para elaborar e aprender possa ser aplicada em outros lugares indiscriminadamente. A democracia verdadeira só chegará nestes países quando seus próprios cidadãos resolverem tomar a coragem de lutar pelas suas liberdades e direitos. A democracia tem que ser aprendida de dentro para fora e não imposta de fora para dentro.
Estamos vendo diante de nossos narizes líderes totalitários serem levados ao poder nestes países “democráticos” assim como aconteceu na Alemanha de 1936. E ainda veremos outras tragédias acontecerem. Tragédias que nos deixarão sem respostas diante do silêncio de Deus.
Tuesday, May 30, 2006
Sunday, May 28, 2006
Deutschland
Estive na Alemanha neste feriado de Ascenção.
Não muito para fazer dado o tempo chuvoso que tem feito por aqui. Passamos o fim de semana na pequena cidade de Oberhausen, pertíssimo da fronteira holandesa.
Oberhausen não tem muita coisa para se ver mas é onde fica o maior shopping center da Europa, dizem eles, e pelo menos neste feriado, completamente lotado.
A julgar pelo movimento do comércio a economia alemã vai bem obrigado. E nestes dias tudo o que é anunciado nas lojas tem alguma relação com o Fussball e com a Copa que se aproxima.
E a julgar pelos anúncios, a final será de novo Brasil e Alemanha...
Shopping nunca foi o meu programa favorito, mas fazer o quê em Oberhausen na chuva? Além do que mercados, feiras e comércio sempre me divertem.
Dou risada lembrando do ótimo filme Good Bye Lênin de Wolfgang Becker. No filme, Alex tenta convencer a mãe, que esteve em coma durante a queda do muro, de que a RDA não acabou.
O choque para a mãe, comunista fanática, seria grande demais.
A maravilha do capitalismo é que para cada gosto, para cada desejo, sempre vai aparecer um produto. Ou às vezes cria-se um produto e o marketing se encarrega de criar a necessidade dele.
Diriam, porque alguém quer pagar 2.000 euros por uma bolsa Louis Vitton? Eu digo que a Louis Vitton tem absolutamente todo o direito de vender suas bolsas ao preço que bem entender. Assim como a Lacoste ou a Ferrari. Se alguém paga o preço, melhor para eles. Não serei eu obviamente a pagar, pois satisfaço meus desejos e necessidades sem cair nas armadilhas do marketing. Mas enfim esta é a beleza do livre mercado. Nossa individualidade pode ser expressa no que vestimos e no que compramos. No comunismo isso é um crime contra o sistema.
De lembrança da Copa trouxe um hacksack para treinar embaixadinhas em frente à TV, e do shopping otras cositas más.
Passada a chuva, tivemos a chance de encontrar por acaso uma festa de degustação de vinhos da Westfália em uma praça de Oberhausen. Alemães bêbados são bem mais simpáticos do que sóbrios.
Na barraquinha de uma das vinícolas, garimpamos uma delícia. Um prosecco Pricollino Selina branco de uma vinícola chamada Lersch, safra 2004. Três garrafas vieram para casa. Ainda tenho duas. Esse programa sim me diverte mais do que o shopping.
Tuesday, May 23, 2006
Filmes da Semana
Da Vinci Code: assisti o tão esperado Da Vinci Code. O filme é bom? É, os atores são bons, a direção é competente, os efeitos idem. Mas o filme não entusiasma como o livro. No livro quase dá para acreditar na teoria conspiratória de Dan Brown, e temos aquela ansiedade de terminar logo a página para passar para a outra. O filme virou mais um outro filme de pessoas buscando o Graal. Não tem aquele charme da adoração do feminino do livro que na minha opinião é mais uma grande homenagem às mulheres do que uma hipótese obscura.
O engraçado é que Dan Brown parece acreditar mesmo em sua teoria a julgar pelas entrevistas que dá. Segundo Jacques Attali, que escreve na l’Express dessa semana, quanto mais o mundo fica caótico, e quanto menos controle temos sobre ele, mais precisamos acreditar em conspirações como o Da Vinci Code. A idéia de que há responsáveis manipulando as cordas por detrás do caos e de que existe uma secreta luta entre Bem e Mal nos ajuda a simplificar a vida. Tal seria a razão do sucesso de livros como o Da Vinci e Harry Potter hoje. Teorias conspiratórias são os bodes expiatórios de nossos próprios demônios.
Mission Impossible 3: Este é um filme honesto. Ele faz exatamente o que se propõe a fazer, uma montanha russa em forma de filme. Só faltam os cintos de segurança na poltrona. Esqueça se o Tom Cruise nunca iria conseguir saltar daquele prédio, ou como americanos saem atirando no meio de Shangai sem serem incomodados. Não tem a menor importância, o negócio é perder o fôlego.
Walk the line: vi no DVD. Uma história bem ao gosto dos americanos. Ascensão, Queda, Redenção e segunda chance. Mas com música boa e atores ótimos, especialmente Reese Whiterspoon como June Carter, que aliás levou o Oscar por isso.
Kiss Kiss Bang Bang: também saiu no DVD agora. Quem não assistiu deveria. Uma comédia inteligente em clima de film noir com Val Kilmer como um detetive gay e Robert Downey Jr. Como um bandido fracassado. Os dois em grande forma! Vale a pena.
Sunday, May 21, 2006
Provence, Alpes, Côte d’Azur, Clearstream, PCC e outros bichos
Passei quase a semana toda no sul da França, infelizmente a trabalho. Enquanto ia de carro de uma cidade a outra visitando meus clientes, pensava nos livros de Marcel Pagnol e em como tem sorte alguém que vive em um lugar onde lavanda nasce como mato.
Vi os alagados da Camargue, a água azul das praias de Nice e Antibes, passei por Arles onde já andaram van Gogh, Gauguin e Picasso.
Jantei no porto velho de Marseille, a melhor cuisine do mundo, tomando vinho rosé de Provence em um terraço à sombra de oliveiras, e acredite se quiser, um acordeonista tocava la vie en rose, e o sol do fim da tarde iluminava Notre Dame de la Garde.
A França é o país mais bonito da Europa, e hoje os franceses são o povo mais pessimista da Europa. Os dois maiores motivos do pessimismo estão relacionados primeiro com les arabes, quer dizer a imigração, e em segundo o desemprego, pelo qual culpam a Europa e o liberalismo econômico. Minto, na verdade, o principal motivo do pessimismo é a indiferença da classe política em relação aos problemas citados anteriormente. Os políticos digladiam-se pelo poder enquanto a eleição presidencial de 2007 se aproxima e enquanto a França afunda.
Neste momento, l’affaire Clearstream, um escândalo de propinas em contratos de armas para Taiwan que envolve diretamente o palácio do Elysée e seus ministros.
A alta política francesa já produziu escândalos com François Mitterrand, Giscard d’Estaing, Alain Juppé, Jacques Chirac, esquerda e direita sem distinção. Isso felizmente ou infelizmente não é exclusividade brasileira.
Mas o que acontece hoje na França nos deveria servir de alerta. Esquerda e direita se tornaram aos olhos do povo farinha do mesmo saco. O asco e a raiva produzidos pelo excesso de escândalos anestesiam e distanciam o povo da política pondo em perigo a própria democracia.
Os grandes beneficiados dessa raiva são extremistas que pregam a ruptura total com o sistema. No caso francês Jean Marie Le Pen que em 2005 já tinha chegado ao segundo turno das eleições presidenciais e cujos objetivos políticos são o de tirar a França da União Européia e o de bloquear toda a imigração.
Enquanto estou na França, BBC, CNN, TF1 e todos os jornais noticiam a baderna promovida pelo PCC em São Paulo. E a mim custa explicar aos europeus como é que bandidos conseguem coordenar uma guerra civil de dentro de presídios de segurança máxima.
Enquanto São Paulo arde os políticos discutem para ver de quem é a culpa.
O Brasil tem muito mais problemas do que a França, e uma classe política infinitamente mais incompetente e corrupta. O povo brasileiro está se distanciando da política, votando na base do rouba mas faz. Mas vai acabar se cansando. E aí teremos Enéas, Garotinho ou Heloísa Helena na Presidência da República.
Em tempo, passei por Cannes quando desenrolavam o tapete vermelho para o Festival de Cinema. Uma imensa pirâmide foi erguida em La Croisette para promover o Da Vinci Code. Apesar de todo o barulho o filme foi recebido sem grande entusiasmo por aqui, o que já era esperado em um Festival que não preza muito blockbusters. Mas duas surpresas boas nos aguardam para os próximos dias: Marie-Antoinette de Sofia Coppola, e Volver de Pedro Almodóvar. Prometem.
Também nesta mesma agitada semana foi a finalíssma da UEFA Champions League: Arsenal e Barcelona. Perdi a vontade de assistir logo que o goleiro Lehman do Arsenal foi expulso por agarrar o pé de E’to quando este estava prestes a marcar o primeiro gol do Barça logo no comecinho do primeiro tempo. Uma cretinice dessas não tem desculpa. Mereceram perder.
Saturday, May 13, 2006
Mors certa, hora incerta
Vou falar sobre a Morte. Devíamos falar mais sobre a morte. Eu ainda mais pois desde que me conheço por gente fujo de velórios, cemitérios e hospitais como o diabo da cruz. A idéia me veio porque andei lendo uma edição especial da Nouvel Observateur toda escrita por filósofos discutindo exatamente a morte.
Antigamente a morte estava no centro de nossas sociedades, representada nos cemitérios em volta das igrejas. A morte era mais comum. Pessoas morriam muito mais facilmente do que hoje. Com o progresso da ciência e da medicina, a morte virou um assunto evitado. A morte virou algo restrito à terceira idade, não se tem que pensar nisso enquanto somos jovens.
Engano. A consciência da morte é de fato uma das coisas, juntamente com o pensamento e com a linguagem que nos faz humanos. O homem é o único animal que sabe que vai morrer um dia. E isso aprendemos pela perda do outro. Na história de sua evolução, o homem se tornou humano a partir do momento em que começou a realizar seus ritos funerários, há 80.000 anos atrás. Só aí sabemos que o homem começa a se relacionar ao próximo como ser humano.
Michel de Montaigne diz que filosofar é aprender a morrer. Luc Ferry diz que o objetivo final da filosofia é o de vencer o medo da morte. Nada a ver com religião. A religião se contenta em promover a idéia de uma suposta imortalidade da alma, baseada em preceitos que vivos nunca poderemos comprovar. A filosofia busca uma reposta para dar um sentido a vida perante uma morte certa porém desconhecida.
Sócrates enfrenta a morte com estoicismo. Prefere a morte a renegar seus princípios. Diz que o importante não é sua pessoa mas a verdade de sua obra que sobreviverá por ele. Como Sophie Scholl enfrentando a guilhotina nazista. Como Cristo na cruz. Como os samurais que segundo o bushido, seu código de honra, preparam-se dia e noite para a morte, se considerando mortos vivos e por isso sem medo.
Já os drogados e os desajustados que gostam de saltar de precipícios ou sobre carros em chamas com uma moto gostam de olhar a morte na cara porque têm as vidas tão vazias que esta é simplesmente a única maneira de saber que ainda estão vivos.
Há quem passe a vida tentando prolongá-la de qualquer maneira, até o extremo de querer se congelar para ressucitar no futuro. Preocupados com qualquer bactéria ou com o colesterol, com carros blindados, capazes de sacrificar inclusive sua honra se disso depender sua vida. A vida se torna um capital a preservar a qualquer custo. Se tornam como esses mercadores de Osaka tão desprezados pelos samurais.
O fato é que a morte é inevitável. E por mais insuportável que seja a agonia, a dor, ou a perda de um ente querido, saber que somos mortais nos devolve a humildade perdida, e com ela nossa humanidade.
E o melhor jeito de perder o medo da morte é o de aprender a viver, e aprender a viver é aprender a pensar e a ter alegria com a vida. Diz Rousseau que o homem que mais viveu não é o que contou mais anos vividos, mas sim o que sentiu mais a vida.
Exercícíos de Futurologia II
Digamos daqui a uns 3.000 anos.
A humanidade viverá em imensas cidades-estado auto-sustentáveis, com suas economias, ciência e cultura interligadas. As antigas cidades serão desmanteladas mas seu patrimônio histórico e cultural resgatado e preservado.
Não existirão mais guerras a teremos colonizado a Lua, Marte e as Luas de Saturno. Viajar pelo espaço será comum como viagens de avião hoje.
Ätomos darão toda a energia que necessitamos. Alimentos serão produzidos sinteticamente.
Todo o ecossistema terrestre será despoluído e as florestas e corais reconstituídos. Animais extintos serão recriados.
Homens serão todos de uma única raça mista. Religiões serão extintas. Corpos femininos e masclinos serão semelhantes. Os filhos serão gerados em laboratórios e a genética vai curar todas as doenças. Viveremos mais de 200 anos.
Famílias não existirão mais e as crianças serão criadas em conjunto pela comunidade aprendendo livremente.
Nossos cérebros serão integrados a super computadores. Crianças aprenderão em segundos o que levam hoje anos para aprender.
Desenvolveremos habilidades telepáticas. Uma idéia partindo de um indivíduo isolado chegará rapidamente aos outros através de uma internet mental.
Faremos contato com civilizações extra terrestres.
A ser continuado...
Keep Walking
Here I am again. Outra noite solitária mas em boa companhia, o que quer dizer Diana Krall e Johnny Walker. O que estarão fazendo os outros 6 bilhões de habitantes do planeta? É bizarro imaginar quantos estão morrendo, nascendo, dançando, rindo ou chorando neste exato instante. Vendo o sol nascer na Austrália ou se pondo em São Francisco.
Pessoas comuns estão por aí vivendo, bem ou mal. Líderes importantes estão neste momento decidindo sobre nossas vidas em reuniões fechadas longe de nossos olhos e ouvidos plebeus.
As vezes queria ser eu uma dessas pessoas importantes com o poder de melhorar a vida dos outros. O pior é que alguns usam esse poder que adquiriram para piorar a vida dos outros. Enfim, me imagino trabalhando na ONU, na Oxfam, no Greenpeace, no governo brasileiro, na FAO, em qualquer lugar onde eu sentisse que estou fazendo a diferença.
Gente como Abraham Lincoln ou Martin Luther King também saíram do nada para a posteridade. Mas cada vida tem seu passo, seus acontecimentos e oportunidades. É impossível que cada ser humano venha a ser presidente, rei ou secretário geral da ONU. E talvez não seja nem necessário. Se há um ensinamento que o cristianismo me deixou é o de que para se viver num mundo melhor basta que cada um viva sua vida decentemente, com respeito ao outro. Não se pedem sacrifícios, jejuns, andar em brasas, mover montanhas.
Alguém já disse que é muito fácil amar a humanidade, mas é muito mais difícil amar o próximo.
É fácil fazer discursos sobre salvar o planeta, enviar doações para a fome na África e ainda assim ser mal educado com o porteiro ou o taxista.
Se cada um aprendesse isso, realmente a diferença já seria enorme. E nem precisamos ser presidentes para aplicar este pequeno conselho. Viva a sua vida com ética, and keep walking.
Monday, May 08, 2006
As veias abertas da América Latina
Será que nunca faremos senão confirmar a incompetência da América Católica, que sempre precisará de ridículos tiranos? Será que essa minha estúpida retórica terá que soar, terá que se ouvir por mais mil anos?
Caetano contra a ditadura da direita, sem saber que todos esses anos depois a América Latina está ameaçada pela ditadura da esquerda. Tanto uma como a outra ridículas e escandalosas.
A história realmente se repete como uma idiota. Parece que estamos voltando no tempo, parece que 3 décadas não nos ensinaram nada e que queremos voltar a 1960.
Hugo Chávez, Evo Morales, Fidel Castro, Lula, Ollanta Humala e Nestor Kichner são farinha do mesmo saco em maior ou menor grau de imbecilidade populista. Querem tentar transformar o continente usando o mesmo caminho tantas vezes tentado e falhado. Com seus grandes projetos, seu nacionalismo barato e seu discurso demagogo querem perpetuar-se no poder, e acham que têm autoridade para tal já que supostamente o fariam pelo bem do povo. E em nome dessa autoridade outorgam-se direitos como o de espoliar os cofres públicos como fez o PT, silenciar a oposição como faz Chávez ou expropriar os bens alheis como fez Morales. Quando aprenderemos?
Será que não existe nenhuma outra força política capaz de nos tirar dessa miséria moral?
A América Latina precisa de uma nova direita. Não uma direita católica, militar ou caudilhesca, oriunda da nossa eterna aristocracia.
Precisamos de uma direita moderna, laica, democrática, globalizada, saída das universidades, capaz de inserir nosso continente no mercado global, capaz de criar crescimento econômico, capaz de reduzir o peso do Estado ao mínimo necessário, já que a única coisa que nosso Estado sabe criar são tetas para a mamata da cambada oportunista que quer manter nossa estupidez. Uma direita que saiba evitar criar Estado-dependentes como o modelo francês criou, mas que saiba proteger seus cidadãos mais desmunidos, como o estado norte-americano não foi capaz de proteger na tragédia do furacão Katrina em Nova Orléans.
Precisamos de uma classe política inteligente, viajada, culta, globalizada, informada e sobretudo ética. Abaixo os coronéis, os agitadores, os nacionalistas imbecis e populistas de discurso frouxo. Fora a burrice, fora a ignorância, fora a pretensão dos que se dizem guardiães do futuro e protetores da felicidade do povo.
Bem-vinda a inteligência.
Memoirs of a Gueisha
Fui assistir Memoirs of a Gueisha de Rob Marshal. Como sou completamente leigo no intrincado mundo das tradições e da cultura japonesa, para mim o filme é esplendoroso, com uma fotografia fantástica, mesmo apesar do final de novela, o que não poderia deixar de faltar numa estória tirada de um best-seller.
O filme nos fala de um mundo que oscila entre a beleza e a crueldade. Beleza que tem o ponto alto na dança de apresentação de Sayuri, e crueldade pela servidão involuntária, e pela feroz competição desse mundo feminino. Crueldade de mulheres transformadas em obras de arte mas que são prisioneiras de seu destino. Algo difícil de entender para as mentes ocidentais.
Pessoalmente acredito que se as mulheres modernas juntassem a busca pela perfeição das gueixas com a emancipação ocidental, atingiriam um grau de poder que certamente as fariam donas do mundo.
O filme não foi bem recebido no Japão, que discordam da visão apresentada no filme sobre as gueixas. Levando em conta que as atrizes principais são chinesas, eu acho que eles devem é estar com ciúmes. Se querem um bom filme sobre gueixas eles deveriam fazer um à altura.
Tuesday, May 02, 2006
A arte da conversação
Alguém chamado Stephen Miller escreveu um livro intitulado “Conversation: History of a Declining Art”. Não li o livro, mas li excelente um artigo sobre ele na New York Review of Books escrito por Russell Baker.
O ponto principal de Miller é de que na era da informação, paradoxalmente as pessoas desaprenderam o sublime prazer de conversar. Fala-se muito, troca-se informação, mas não se conversa.
A boa conversação exige uma certa etiqueta, uma elegância que raramente encontramos hoje em dia.
Os participantes têm que ouvir atentivamente um ao outro. Não podem tentar se auto-promover ao tentar agradar o outro. Ambos tem que estar prazeirosamente aproveitando o exercício intelectual, sem fazer discursos ou deixar desacordos se transformarem em raiva. Tais são as “regras” tiradas de gente que Miller cita como mestres na arte da conversa, como Michel de Montaigne, Samuel Johnson, Jonathan Swift, Benjamin Franklin ou Virginia Woolf. E esta etiqueta é difícil de conseguir quando se conversa com pavios-curtos, políticos, egocêntricos ou palhaços, ou ainda qualquer um que ache que sua opinião tem apoio divino.
Uma boa conversa não pode ser um sermão, uma confissão, um desafio, uma auto-proclamação de sabedoria ou de opinião. Em resumo, nas palavras do filósofo britânico Michel Oakeshott, é uma aventura intelectual não ensaiada.
E não há nada de arrogante ou elitista nisso. Baker cita a conversa de Huckleberry Finn e do negro Jim descendo o Mississippi na imortal obra de Mark Twain como uma das conversas mais memoráveis da literatura. Sobre o salário dos reis, ou a sabedoria de Salomão ou ainda da má-sorte dos franceses que são obrigados a falar francês.
Hoje, temos tantas maneiras caras de nos divertir que alguém que sugira uma conversa seria chamado de ingênuo. Miller diz que o rádio, internet, i pods, celulares, videogames e a televisão são mecanismos anti-conversação que ao fim nos vão tirar nossa humanidade. Como o próprio Oakeshott disse, o macaco perdeu o rabo e virou homem de tanto ficar sentado conversando.
Os talk-shows da televisão são exemplos do que se tornou a conversação moderna. A platéia assiste muda enquato entrevistador e entrevistado se disputam numa violência que viola todas as regras acima.
Os que me conhecem certamente acharão irônico um texto meu a respeito de conversação, já que dificilmente eu abro a boca em público. Mas isto é mais por falta de alguém que saiba conversar do que por vontade minha. Estou cansado dos que falam sem ouvir e sem pensar.
Como bem diz o autor: “The man who wants to say a few words of his own nowadays may have trouble finding anyone to listen, but never mind, he can always retreat to the solitude of his Web site and speak to the whole cyberworld through the electronic megaphone he calls his blog."
São Sebastião do Rio de Janeiro
Escrevi este texto há algum tempo, mas hoje, lendo sobre a greve de fome decretada pelo ex-governador do Antony Garotinho não resisti e decidi por o texto no blog. Garotinho quer ser mártir mas não explica como o governo de sua mulher repassou 330 milhões de reais a ONG's de fachada...Os verdadeiros mártires são os cariocas.
O Rio um dia se chamava São Sebastião do Rio de Janeiro.
Não sou carioca, sou um paulista exilado na Holanda mas acabei amando o Rio, por influência de meus amigos cariocas. Ou talvez porque como os estrangeiros eu também ache que o Rio seja um resumo do Brasil, com sua beleza, alegrias e problemas.
Como todo brasileiro exilado, vasculhamos a internet todos os dias à procura de notícias da terra natal, mas por causa desse amor ao Rio, o ato de ler o jornal acaba sendo um sofrimento cotidiano tamanha a avalanche de notícias pavorosas que estampam a cada dia as páginas que lemos.
Coincidentemente acabei por ler hoje também a história de São Sebastião e me ocorreu que o Santo e a cidade teriam mais do que o nome em comum.
São Sebastião, (antes de se tornar o ícone gay pintado por Caravaggio e Boticellli) era um cristão comandante da Guarda Pretoriana de Roma. Quando o Imperador Diocleciano descobre sua cristandade ele é condenado à morte por flechadas. Ainda vivo, seu corpo sangrando é atirado na Cloaca Maxima, o imenso esgoto da Roma Antiga onde é resgatado pela bondosa Irene que o leva para casa e cura suas feridas. Recuperado, Sebastião volta a enfrentar o imperador que irritado manda espancá-lo até a morte.
O Rio, como o Santo, está sangrando não por flechas, mas por balas, e está sendo arrastado para um imenso esgoto por seus governantes. Com as eleições que se aproximam, caberá ao carioca escolher quem será a Irene capaz de salvar o Rio. Ok, eu sou paulista devo admitir que tivemos o Quércia, o Maluf e o Pitta, mas em matéria de votar mal os cariocas há muito nos superam. Da próxima vez por favor escolham com sabedoria alguém que possa fazer o Rio voltar a ser o que nunca deveria ter deixado de ser : o melhor do Brasil resumido e concentrado.
Monday, May 01, 2006
Tristan & Isolde
Assisti a história de Tristan e Isolde de Kevin Reynolds no cinema. As imagens da Cornualha e da costa irlandesa são belas, e a reconstituição de época bem feito Apesar da pífia atuação de James Franco como Tristan eu gostei do filme.
A história conta como Tristan é adotado depois de se tornar orfão e é criado como filho pelo tio, o rei Mark da Cornualha. Tido como morto depois de levar uma flecha envenenada numa batalha, é colocado num barco em chamas à maneira dos funerais celtas. Tristan chega às praias da Irlanda, onde Isolde o encontra e cuida para que ele se recupere. Isolde é filha do rei Donnchad da Irlanda, o inimigo jurado dos bretões, e não revela seu nome para proteger se novo amor. Trista regressa como herói ressucitado à Cornualha e regressa para a Irlanda para disputar um torneio promovido pelo rei irlandês e cujo prêmio é justamente Isolde. Sem, o saber, Tristan ganha o torneio em nome do rei Mark que toma Isolde como esposa.
A história se torna a tragédia entre o amor e o dever, a lealdade e a traição.
A Idade Média profunda é a era da história que mais me atrai, e ainda não sei porque. Talvez seja porque nesse tempo um homem sem honra poderia ser tratado a fio de espada. Ou talvez porque nesse tempo todos os amores fossem para sempre.
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