Tuesday, May 02, 2006
A arte da conversação
Alguém chamado Stephen Miller escreveu um livro intitulado “Conversation: History of a Declining Art”. Não li o livro, mas li excelente um artigo sobre ele na New York Review of Books escrito por Russell Baker.
O ponto principal de Miller é de que na era da informação, paradoxalmente as pessoas desaprenderam o sublime prazer de conversar. Fala-se muito, troca-se informação, mas não se conversa.
A boa conversação exige uma certa etiqueta, uma elegância que raramente encontramos hoje em dia.
Os participantes têm que ouvir atentivamente um ao outro. Não podem tentar se auto-promover ao tentar agradar o outro. Ambos tem que estar prazeirosamente aproveitando o exercício intelectual, sem fazer discursos ou deixar desacordos se transformarem em raiva. Tais são as “regras” tiradas de gente que Miller cita como mestres na arte da conversa, como Michel de Montaigne, Samuel Johnson, Jonathan Swift, Benjamin Franklin ou Virginia Woolf. E esta etiqueta é difícil de conseguir quando se conversa com pavios-curtos, políticos, egocêntricos ou palhaços, ou ainda qualquer um que ache que sua opinião tem apoio divino.
Uma boa conversa não pode ser um sermão, uma confissão, um desafio, uma auto-proclamação de sabedoria ou de opinião. Em resumo, nas palavras do filósofo britânico Michel Oakeshott, é uma aventura intelectual não ensaiada.
E não há nada de arrogante ou elitista nisso. Baker cita a conversa de Huckleberry Finn e do negro Jim descendo o Mississippi na imortal obra de Mark Twain como uma das conversas mais memoráveis da literatura. Sobre o salário dos reis, ou a sabedoria de Salomão ou ainda da má-sorte dos franceses que são obrigados a falar francês.
Hoje, temos tantas maneiras caras de nos divertir que alguém que sugira uma conversa seria chamado de ingênuo. Miller diz que o rádio, internet, i pods, celulares, videogames e a televisão são mecanismos anti-conversação que ao fim nos vão tirar nossa humanidade. Como o próprio Oakeshott disse, o macaco perdeu o rabo e virou homem de tanto ficar sentado conversando.
Os talk-shows da televisão são exemplos do que se tornou a conversação moderna. A platéia assiste muda enquato entrevistador e entrevistado se disputam numa violência que viola todas as regras acima.
Os que me conhecem certamente acharão irônico um texto meu a respeito de conversação, já que dificilmente eu abro a boca em público. Mas isto é mais por falta de alguém que saiba conversar do que por vontade minha. Estou cansado dos que falam sem ouvir e sem pensar.
Como bem diz o autor: “The man who wants to say a few words of his own nowadays may have trouble finding anyone to listen, but never mind, he can always retreat to the solitude of his Web site and speak to the whole cyberworld through the electronic megaphone he calls his blog."
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