Sunday, February 11, 2007

De volta à barbárie


O inverno deu as caras pela primeira vez no ano esta semana aqui na Holanda. Temperaturas abaixo de zero, vento, gelo e neve. A única vantagem nisso é a de poder ver a neve caindo na janela. Ainda mais para quem nasceu nos trópicos, o branco da neve cobrindo ruas e prédios é bonito demais de se ver. Os flocos caindo fazem imaginar uma imensa briga de travesseiros entre querubins no céu. Ver a neve dá paz. As pessoas até melhoram o humor. Neve, um livro, um café ou uma taça de vinho em uma casa aquecida, tulipas no vaso. Há vantagens na civilização.
Então inevitavelmente leio notícias sobre o Brasil. E invariavelmente notícias que estragam o meu dia. Leio sobre a morte horrível desse garoto João Hélio, arrastado pelas ruas do Rio no carro da família, roubado por bandidos menores de idade.
Nas histórias antigas de folclore, com raízes medievais, recontadas por Câmara Cascudo e Monteiro Lobato, o malvado sempre terminava seus dias sendo arrastado por cavalos bravos pelas ruas da cidade. Aquiles arrastou o corpo de Hector diante das muralhas de Tróia, como nesta pintura de Donato Creti. Naqueles tempos bárbaros, esse era o pior castigo e o maior sinal de desprezo pela vida do outro. É o que acontece no Brasil hoje, os bandidos desprezam a vida. Voltamos à barbárie. A morte e o terror viraram um cotidiano banal, anestesiando-nos para o horror a cada dia que passa. A vida nas ruas do Rio e de São Paulo não valem muita coisa.
Há falsos “humanistas” que defendem os bandidos, dizem que a culpa não é deles, que é o ambiente, que é a sociedade, que a culpa enfim é nossa. É uma cretinice. Há milhões de pobres levando uma vida honesta. Dizer que pobreza causa crime é uma mentira. O que causa crime é impunidade.
Eu lhe asseguro, se você trabalha todo dia, paga seus impostos e vota direito a culpa não é sua. E é seu direito exigir que bandidos sejam punidos, mesmo os menores.
Eu já perdi um amigo na escola baleado por um menor, que a essas alturas deve estar por aí solto e aprontando outras. Basta! Se tem idade para matar é porque tem idade para ser punido pelo que faz.

2 comments:

Anonymous said...

Estou de luto por isso. Me sinto como se tivesse perdido uma pessoa da família.

Para muitos cariocas, os crimes na cidade já se tornaram tão comuns que criaram um escudo de defesa - as pessoas chegam a um ponto em que se cansam de sofrer com a realidade.

Eu também vivi muitos anos assim. Via a barbárie com racionalismo e conseguia me colocar no papel de espectadora indignada. Hoje não tenho mais essa habilidade. Ao invés de evoluí-la, retrocedi. Me sinto primitiva e não consigo mais evitar o sentimento de profunda tristeza, como se tivesse acontecido com uma pessoa próxima.

Li no blog da Clarisse sobre o site riobodycount.com.br . De pirmeiro de fevereiro até hoje, dia 13/02, 124 pessoas foram mortas na minha cidade maravilhosa.

Aos que estão no Brasil, eu peço: por favor, deixem de fomentar o crime. Cada pessoa que reforça um ato corrupto, cada pessoa que compra um cigarrinho de maconha, compra um reloginho caríssimo por um precinho barato na mão de terceiros, pode ser considerada responsável pelo caos que se instalou nas grandes capitais.

Vou utilizar um velho, mas relevante jargão: a culpa é de todos nós.

Paula

sonia a. mascaro said...

Obrigada Fernando pela sua visita!

Criei meu blog em Inglês porque a grande maioria das minhas amigas/os virtuais eram até então de língua inglêsa e se eu escrevesse em Português ninguém ia entender nada. Nunca morei fora do Brasil e nem falo Inglês, mas neste um ano de blog aprendi bastante, embora cometa muitos erros! Tem sido muito gratificante "conhecer" e me comunicar com pessoas do mundo todo! Espero outras visitas suas!

Sou paulistana mas estou morando num loteamento (Enseada Azul) há 50 km de Avaré há oito anos. Perto de casa (20 km) fica a Holambra II, um distrito fundado por holandêses, familiares dos fundadores de Holambra perto de Jaguariúna (SP). Assim, conheço muitas famílias de holandeses.

Vou voltar logo para visitar novamente seus arquivos. Um abraço!