Uma amiga me enviou a foto acima. Trata-se de um projeto de dois holandeses que foram ao Rio com a intenção de pintarem murais, junto com moradores, nas casas e prédios da comunidade de Vila Cruzeiro.
Por enquanto eles terminaram a primeira pintura, um mural azul com um menino empinando papagaio. Dizem eles que outras virão.
François Miterrand já dizia muito antes dos incêndios de carros nas periferias de Paris que a feiúra daqueles prédios e cidades acabariam enfeiando também os pensamentos da juventude que ali vivesse.
Eu também acho beleza fundamental. Me lembro de um personagem de Júlio Verne que dizia que mesmo um ladrão ao fazer um buraco em um cofre deveria se preocupar em dar ao buraco uma forma de lira, de flor, ou qualquer outra coisa.
Viver em um lugar bonito realmente ajuda a viver melhor.
Mesmo assim acho fundamentalmente errada a idéia dos dois holandeses. A coisa funciona mais ou menos assim. Holandeses são reputados pão duros na vida quotidiana, mas extremamente generosos com causas nobres. Muito dinheiro da Holanda vai parar em boas ações na África, Sudeste Asiático e América Latina.
Os dois holandeses desocupados arrumam financiamento aqui para seu projeto. Viajam ao Brasil para o Rio de Janeiro, se integram na comunidade de Vila Cruzeiro, curtem um sambinha e um baile funk, contam aos amigos na Holanda sobre os tiroteios nas favelas e os raids da polícia, se sentem felizes pela boa ação que estão fazendo, os turistas vêem a favela bonita e colorida como nos filmes, e eles voltam para a Holanda para arrumar mais financiamento.
Isto é o que quero dizer quando digo que o Terceiro Mundo se tornou a Disneylândia do Primeiro. Assim como nossos jovens querem viajar para os Estados Unidos ou Europa, os gringos querem ver um pouco de pobreza e violência ao vivo. Eles vão à Africa ou ao Brasil, fazem alguma caridade e voltam para contar as aventuras na terra natal.
Inúmeras ONG’s têm trabalhado dessa maneira.
Eu também acho que a favela fica mais bonita pintada, mas eu não quero que ninguém pinte a favela.
Eu quero sim é que quem mora na favela tenha renda suficiente para poder pintar a própria casa, da cor que quiser e como quiser. Melhor ainda: eu quero que quem more na favela tenha uma renda suficiente para sair da favela. Eu quero que a favela suma. Como já dizia Joãozinho Trinta, quem gosta de pobreza é intelectual.
Por isso eu acho essencial que qualquer um que se interesse pelo tema leia a última edição da ReVista, Harvard Review of Latin America, editada pela Universidade de Harvard. A ReVista introduz o conceito de Market-Based Poverty Initiatives, fruto de um ciclo de estudos da Social Entreprise Knowledge Network formada por nove universidades da América Latina, Espanha e a Harvard Business School. São 18 casos estudados, 8 citados na publicação, que contam como empresas criadas nas camadas mais pobres da população puderam modificar a renda e a vida dessas pessoas. São iniciativas no agronegócio (como a produção de óleo de palma no Peru e no Pará e fazendas de borboleta na Costa Rica), na indústria de cerâmicas na Colômbia, no seguro saúde pré-pago na Venezuela, reciclagem na periferia de Buenos Aires e na construção civil no México.
Elio Gaspari em sua coluna de sábado passado no Globo cita a Revista e o impacto da iniciativa da Agropalma no Pará. São 150 famílias com renda acima da média, 4 hectares de mata preservados para cada 10 hectares de dendê plantados, biodiesel produzido, lucro para a empresa e impostos para os municípios. Sem trabalho escravo, sem extração ilegal de madeira.
Paradoxalmente, a melhor ferramenta para se reduzir a pobreza é capitalismo. Ë nessa idéia que ONG’s deveriam se concentrar.
A ReVista está neste endereço: http://drclas.fas.harvard.edu/revista/
Por enquanto eles terminaram a primeira pintura, um mural azul com um menino empinando papagaio. Dizem eles que outras virão.
François Miterrand já dizia muito antes dos incêndios de carros nas periferias de Paris que a feiúra daqueles prédios e cidades acabariam enfeiando também os pensamentos da juventude que ali vivesse.
Eu também acho beleza fundamental. Me lembro de um personagem de Júlio Verne que dizia que mesmo um ladrão ao fazer um buraco em um cofre deveria se preocupar em dar ao buraco uma forma de lira, de flor, ou qualquer outra coisa.
Viver em um lugar bonito realmente ajuda a viver melhor.
Mesmo assim acho fundamentalmente errada a idéia dos dois holandeses. A coisa funciona mais ou menos assim. Holandeses são reputados pão duros na vida quotidiana, mas extremamente generosos com causas nobres. Muito dinheiro da Holanda vai parar em boas ações na África, Sudeste Asiático e América Latina.
Os dois holandeses desocupados arrumam financiamento aqui para seu projeto. Viajam ao Brasil para o Rio de Janeiro, se integram na comunidade de Vila Cruzeiro, curtem um sambinha e um baile funk, contam aos amigos na Holanda sobre os tiroteios nas favelas e os raids da polícia, se sentem felizes pela boa ação que estão fazendo, os turistas vêem a favela bonita e colorida como nos filmes, e eles voltam para a Holanda para arrumar mais financiamento.
Isto é o que quero dizer quando digo que o Terceiro Mundo se tornou a Disneylândia do Primeiro. Assim como nossos jovens querem viajar para os Estados Unidos ou Europa, os gringos querem ver um pouco de pobreza e violência ao vivo. Eles vão à Africa ou ao Brasil, fazem alguma caridade e voltam para contar as aventuras na terra natal.
Inúmeras ONG’s têm trabalhado dessa maneira.
Eu também acho que a favela fica mais bonita pintada, mas eu não quero que ninguém pinte a favela.
Eu quero sim é que quem mora na favela tenha renda suficiente para poder pintar a própria casa, da cor que quiser e como quiser. Melhor ainda: eu quero que quem more na favela tenha uma renda suficiente para sair da favela. Eu quero que a favela suma. Como já dizia Joãozinho Trinta, quem gosta de pobreza é intelectual.
Por isso eu acho essencial que qualquer um que se interesse pelo tema leia a última edição da ReVista, Harvard Review of Latin America, editada pela Universidade de Harvard. A ReVista introduz o conceito de Market-Based Poverty Initiatives, fruto de um ciclo de estudos da Social Entreprise Knowledge Network formada por nove universidades da América Latina, Espanha e a Harvard Business School. São 18 casos estudados, 8 citados na publicação, que contam como empresas criadas nas camadas mais pobres da população puderam modificar a renda e a vida dessas pessoas. São iniciativas no agronegócio (como a produção de óleo de palma no Peru e no Pará e fazendas de borboleta na Costa Rica), na indústria de cerâmicas na Colômbia, no seguro saúde pré-pago na Venezuela, reciclagem na periferia de Buenos Aires e na construção civil no México.
Elio Gaspari em sua coluna de sábado passado no Globo cita a Revista e o impacto da iniciativa da Agropalma no Pará. São 150 famílias com renda acima da média, 4 hectares de mata preservados para cada 10 hectares de dendê plantados, biodiesel produzido, lucro para a empresa e impostos para os municípios. Sem trabalho escravo, sem extração ilegal de madeira.
Paradoxalmente, a melhor ferramenta para se reduzir a pobreza é capitalismo. Ë nessa idéia que ONG’s deveriam se concentrar.
A ReVista está neste endereço: http://drclas.fas.harvard.edu/revista/
2 comments:
Gostei do post. A se pensar.
Paula
Tinha que botar defeito, né?:-)
Mas concordo contigo. Já tinha me esquecido como os holandeses sao pao duros e adoram uma boa causa...
Só que uma coisa nao anula a outra, né, Fernando!
Estimular a indústria local é, sem dúvida, a melhor forma de acabar com a pobreza. Mas só funciona em áreas onde tudo que se planta dá. O que fazer na Vila Cruzeiro? Botequim, mercearia? Boca de fumo?
Tava lendo uma reportagem sobre produtores de café na Etiópia, a miséria em que vivem os fazendeiros por venderem o quilo de graos de café por 3 centavos de euros, sendo que uma xícara no Starbucks nao custa menos que 3 euros.
Esse é o perigo do capitalismo quando tenta salvar os pobres.
Beijos,
Cla
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