Saturday, June 16, 2007

Bella Italia


Um país que tem mais de 60% do patrimônio histórico mundial tombado pela Unesco certamente mereceria uma visita de pelo menos um ano, o que é impossível à maioria dos mortais pelas duas razões mais óbvias do mundo, tempo e dinheiro. Por isso, nesta última road trip, quis levar meus pais e minha esposa conhecerem duas das que considero as mais belas regiões da Itália, a Toscana e a Campania.
Meu verdadeiro interesse na Itália (ou meu interesse como turista em geral) não está em seus museus e monumentos, mas nas pequenas coisas que fazem a Itália ser Itália.
Visitar as pequenas vilas medievais da Toscana me dão muito mais prazer do que andar no tumultuado centro de Firenze, esperando horas na fila da Galeria Uffizi para observar por alguns minutos as partes baixas do David de Michelângelo. Quando passamos por Roma havia uma fila de quilômetros para entrar no museu do Vaticano, onde está a capela Sistina. Acho que até o Pontífice Máximo chegaria na capela com o saco na lua depois de toda aquela espera no sol quente. Eu desisto logo.
Eu prefiro caminhar pelas ruelas de Siena, rodar pelas estradinhas descobrindo igrejas perdidas, outros vilarejos, campos de trigo, mosteiros, cada um como se fosse em si uma pintura esperando para ser descoberta. Observar os velhotes a jogarem o dominó e as cartas no bar, as velhas casas de terracota com vasos de gerânios, pintura descascando e cuecas e sutiãs no varal pendurado para fora da janela. Prefiro sentar na praça, descobrir uma boa trattoria escondida e apreciar um Chianti comendo prosciutto crudo com queijo parmesão, berinjelas no azeite e um belo prato de massa. Essa é a verdadeira Toscana, e a verdadeira Itália.
E a Campania... É a terra da mozzarela, da pizza, do fusilli, do limoncello e do café expresso extra extra forte. Fomos primeiro a Nápoles. “See Napoli and die”, disse um dia Herman de Melville, frase copiada e repetida até hoje pelos napolitanos. Esta cidade um dia deve ter sido magnífica. Hoje vemos velhos edifícios decadentes, um trânsito caótico, e até alguns meses atrás a Camorra ainda estava ajustando suas contas à bala nos subúrbios. Em uma rua de um bairro popular próximo ao porto, forrado de bandeiras azuis do Napoli Futebol Club um carro na nossa frente desceu a ladeira de ré para se arrebentar contra o muro no outro lado da rua. No volante, um cachorro com cara de quem perdeu a dona. Parece mentira mas não é. Considerando a frequência das buzinas, o estacionamento em fila dupla e toda a zona generalizada no trânsito, não se acha um carro intacto na cidade...Mesmo assim sobrevivemos e passamos ainda pela belíssima costa Amalfitana, de Salerno até a chiquérrima Positano, visitamos as assombrosas ruínas de Pompéia ao pé do Vesúvio, e o Cilento, as montanhas de onde saiu minha família materna há muitos anos atrás...
E como todos os caminhos levam a Roma acabamos a road trip por lá. No mesmo dia em que o Bush visitava a cidade. Com todos os carabinieri mobilizados, a cidade estava um caos. Coitado dele, achando que estava seguro por ali. Os polícias italianos estavam mais preocupados em impressionar as mocinhas que passavam do que com a segurança dele. É a Itália que eu gosto.

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