Saturday, June 28, 2008

100 Anos de Guimarães Rosa


Descobri Guimarães Rosa com Sagarana. Depois com Manuelzão e Miguilim, e depois com Grande Sertão: Veredas.
Me apaixonei de vez por aquele mundo estranho e mágico do sertão.
Anos depois, fuçando livrarias européias, Rosa foi o único autor brasileiro que encontrei por lá, além de Paulo Coelho.
Não é difícil "captar a mensagem" de um livro de Paulo Coelho. Por isso aquele amontoado de obviedades de auto-ajuda com aura mística viraram best-seller no mundo todo.
Agora conseguir entrar e sentir o mundo dos sertões e das Gerais pela linguagem de Guimarães Rosa não é tarefa fácil, mas é recompensadora. Não é qualquer brasileiro que dá conta, imaginem um gringo.
Uma amiga que estudava Letras na Universidade Católica de Angers na França fazia a tese de mestrado dela só com Grande Sertão: Veredas. Dizia ela que era uma tradução no limite do impossível. Tiro meu chapéu para ela e a qualquer um que tenha feito com que eu encontre outro brasileiro que não o Coelhô em uma livraria francesa.
E espero que qualquer gringo que o tenha lido, tenha captado pelo menos um pouquinho que seja do universo mágico das Gerais.

1 comment:

Lelec said...

Olá Fernando,

Guimarães Rosa teve profunda influência na minha consciência de pessoa. Quando resolvi criar um blog, há quase um ano, não hesitei em homenageá-lo logo no título.

O primeiro livro dele que li foi "Manuelzão e Miguilim". Depois, vieram todos os outros. Como adolescente alucinado, fui a Cordisburgo, visitei o museu, a casa, a cidade do escritor, tirei fotos e tudo o mais.

Grande Sertão: Veredas mudou minha maneira de pensar. Certa vez, participei de um seminário sobre o autor, em que se homenageou uma jovem tcheca que estudava Rosa. Ela já lera Rosa em tcheco (ou alemão, sei lá). Apaixonada pela obra, aprendeu português só para ler nosso autor. E aprendeu e leu "Grande Sertão: Veredas" na nossa língua. Um exemplo que demonstra o quão reducionista é a etiqueta de regionalista que dão a Rosa. Como toda Literatura (com "L" maiúsculo mesmo), Rosa é universal, apesar de poder ser plenamente desfrutado por apenas uma pequena porção da humanidade: nós, brasileiros.

Quando faleceu, em 1967, os editores europeus de Rosa já se mobilizavam para indicá-lo ao Nobel. Infelizmente, a embolia pulmonar veio antes. Resta sua herança, sua literatura, tal qual um James Joyce da língua portuguesa.

Vale lembrar, Rosa é incompreendido por muita gente, como Mainardi e Reinaldo Azevedo, que ocasionalmente apedrejam o autor. Apenas reciclam os críticos de primeira hora do escritor, que diziam que "Grande Sertão: Veredas" era uma estória de jagunços escrita para lingüistas.

Nonada!

Deixo esses caras para lá. Cá comigo, na minha intimidade, sonho com o dia em que poderei retornar ao Sertão geográfico (o Sertão metafísico, dele nunca saí) e visitar o Parque Nacional que leva o nome da obra-prima do maior escritor brasileiro do século XX.

Abraço rosiano,

Lelec