A lenda grega conta que Cassandra, filha do rei Príamo de Tróia, ao ceder seus amores ao deus Apolo, pediu em troca o dom de prever o futuro. O deus, que pelo visto não gostou tanto assim do serviço concedeu o dom junto com uma maldição. Cassandra seria capaz de prever o futuro, mas nunca ninguém acreditaria nela. Quando seu irmão Paris sequestrou a bela Helena e começou a guerra contra os gregos, Cassandra previu a queda de Tróia, mas, tida como louca pelos compatriotas, ninguém a escutou.
O programa tegenlicht da televisão holandesa produziu um excelente documentário sobre o Crash econômico de 2008, usando declarações de personalidades do mercado como Jim Rogers, o Indiana Jones dos investimentos segundo a Times, o economista italiano Marco Vitale, o economista chefe do Morgan Stanley Stephen Roach, o investidor Peter Schiff e o banqueiro Charles R. Morris.
Todos são Cassandras que anos atrás já previam a crise de 2008.
Stephen Roach já via a bolha imobiliária prestes a estourar, Marco Vitale falava da Parmalat não como um caso isolado, mas como a ponta de um iceberg podre no mundo das finanças, como se veria depois com a Enron, Worldcom e outras.
Um amigo que participou de um road show de apresentação para a abertura de capital de uma grande empresa brasileira me contou como funcionava. Eles desciam em Nova Iorque em vans pretas, indo de um banco a outro, de um fundo de investimento a outro, contavam o que faziam e perguntavam quantas ações eles iam querer comprar.
Em um certo fundo de pensão por exemplo, com capital equivalente ao dobro do PIB brasileiro, uma garota de uns 30 anos comprou 100 milhões de dólares em ações como se estivesse comprando bala jujuba na quitanda.
É como diz um dos entrevistados no documentário, esses jovens ganham milhões por ano, negociam milhões na bolsa, e acham que aquilo tudo ali que eles estão vivendo, aquele cassino, é perfeitamente normal. empresas ganhavam bilhões no mercado financeiro sem que ninguém soubesse exatamente de onde vinha aquele dinheiro todo. em outubro de 2007 o CFO do Citibank declarou não saber o valor da própria empresa porque todo o dinheiro que eles tinham estavam em investimentos que ele não entendia. Pessoas estavam vivendo acima dos próprios meios, gastando mais do que ganhando. Bem, não era normal como estamos vendo agora. A exuberância irracional acabou no fundo do poço.
O documentário alerta para a globalização do capital, e também para a influência do big business na política americana, e a promiscuidade entre política e negócios, cujo exemplo mais óbvio é o Carlyle Group.
O mundo hoje critica a maneira como os Estados Unidos querem exportar ao mundo suas idéias de democracia e livre mercado. Mas agora quem vai dar uma de Cassandra sou eu.
O ano de 2008 para mim será o início de uma nova e lamentável era.
A eleição de Barack Obama foi o momento em que os americanos deixaram de ser America, para se tornarem Latino America. Invertendo o lema de São Paulo, em vez de conduzirem, escolheram ser conduzidos. Escolheram um guia, um messias, um Peron. Em 2008, os Estados Unidos se tornaram oficialmente uma Banana Republic.
Ao mesmo tempo, a crise financeira deslocou o eixo econômico do planeta de Wall Street para o Oriente, mais precisamente para a China, e isso é o que Jim Rogers também fala.
A crise vai passar, as coisas vão se ajustar, mas 2008, o ano das olimpíadas de Beijing será o ano em que a China tomará as rédeas do planeta.
E todos aqueles anti-americanistas que hoje reclamam da onipresença ianque no planeta se arrependerão profundamente de um dia ter odiado os Estados Unidos.
Porque, meninos e meninas, na hora em que a China decidir exportar a sua visão de mercado e de democracia, o mundo vai ver o que é bom para tosse.
O programa Tegenlicht é em grande parte em inglês, e está aqui nesse link (crash 2008):
Dank je Remco.
No comments:
Post a Comment