Friday, February 20, 2009

Diogo acertando na mosca


Apesar do copyright da Abril, tive que reproduzir na íntegra este artigo do podcast do Diogo Mainardi. Quanto mais gente ler melhor:

- Hamas, Hamas, os judeus na câmara de gás.
O bordão foi entoado na Holanda, durante uma passeata organizada por grupos de esquerda para protestar contra a batalha de Gaza. Dois parlamentares do Partido Socialista participaram da passeata.
O antissemitismo? Foi tomado pela esquerda. Gadi Luzzato Voghera é autor de um ensaio sobre o assunto, "Antissemitismo à esquerda", da editora Einaudi. Professor da universidade de Veneza, judeu e esquerdista, ele comparou a cumplicidade da esquerda européia com o Hamas à cumplicidade da esquerda européia com o stalinismo. Assim como os intelectuais de esquerda, no passado, se recusaram a condenar o totalitarismo de Stalin e o caráter assassino de seu regime, os intelectuais de esquerda, atualmente, acobertam o totalitarismo do Hamas e o caráter terrorista de seu regime - são os Jean-Paul Sartre do Hamas.
O antissemitismo de esquerda é camuflado como antissionismo. Para poder colaborar abertamente com os assassinos do Hamas, os antissemitas de esquerda falsificaram a história, associando os terroristas palestinos aos grupos anticolonialistas do século passado ou ao movimento contra o apartheid na África do Sul, como se Israel fosse um império colonial ou um regime segregacionista. Pior: eles igualaram Gaza ao gueto de Varsóvia, como se Israel fosse a monstruosidade nazista. Em nome do antissionismo, a esquerda acolheu alegremente o despotismo do Hamas, o fundamentalismo religioso, a opressão das mulheres e a retórica genocida contra os judeus.
De setembro para cá, o antissemitismo de esquerda ganhou o impulso da crise financeira internacional. De acordo com uma pesquisa realizada em sete países europeus, 31% dos entrevistados culparam os judeus pelos desastres da economia mundial. É o retorno em grande escala daquele arraigado preconceito antissemita do judeu agiota, do judeu conspirador, do judeu inescrupuloso, do judeu golpista. Agora é a vez do judeu do subprime, do judeu dos ativos tóxicos, do judeu capitalista. Os novos Protocolos dos Sábios do Sião afirmam que o neoliberalismo é obra de judeus apátridas, como Bernard Madoff, e que só a esquerda pode extirpá-lo, com um vigoroso Pogrom keynesiano de investimentos estatais.
A esquerda nem sempre foi assim. Eu, como Tristram Shandy, relato o que aconteceu antes de meu nascimento, quando ainda estava acomodado no útero materno. Passei a gravidez num kibbutz, em Israel. O kibbutz Ashdot Iaakov, pertinho do mar da Galiléia, aos pés das colinas de Golan. Data: 1962. Lá estou eu, boiando no líquido amniótico. Lá está ela, minha mãe, aos 27 anos, grávida de mim, trabalhando na creche do kibbutz. Lá está ele, meu pai, colhendo uvas no vale do Jordão. E lá está ele, meu irmão, aprendendo hebraico na escola. Nenhum deles era - ou é - judeu. O que faziam num kibbutz? Experimentavam a vida comunitária, aquele ideal socializante de irmandade e de partilha dos bens. O ideal socializante, agora, é outro:
- Hamas, Hamas, os judeus na câmara de gás.

Diogo foi absolutamente na mosca aqui. O resto, como diz a Marie, são secos e molhados.

12 comments:

Guillaume said...

Diogo Mainardi quer o fim do Hamas. Ele está correto. Não há lugar no século XXI para que a religião restrinja a liberdade dos homens. Mainardi defende Israel apaixonadamente. Ele está errado. Se Israel não existisse não haveria Hamas, quiçá qualquer fundamentalismo religioso. A criação do estado de Israel, sob o trauma da 2ª Guerra Mundial, se baseou exclusivamente em argumentos religiosos. A razão foi suplantada pela paixão e pela fé. Fieis de outras religiões que também definhavam frente ao racionalismo, o Islã em particular, mas também o Cristianismo, aproveitaram esta oportunidade para ressuscitar costumes retrógrados. Deus, que se não estava morto, estava na UTI, teve um retorno triunfal. Assim não se trata de absurdo questionar a existência de Israel, e advogar sua dissolução pacífica, e substituição por uma nação democrática, laica e materialista. Subtrai-se assim o alimento dos fundamentalismos islâmicos, cristãos e judaicos, esperando-se que em breve venham sucumbir naturalmente, dando espaço para um mundo mais justo guiado pela razão e pelos ideais humanistas.

Alma said...

Mais um porco anti-semita.
Desde quando Israel não é uma nação democrática onde qualquer cidadão tem liberdade de credo?

Minhas idéias said...

A eliminação de Israel é apenas uma parte do que quer o fundamentalismo islâmico.O final é a instituição do califado que vai da Ásia até a Espanha.E o comunismo que é ateu se aliou a eles.O inimigo comum uniu radicais religiosos com uma corrente ideológica atéia.

Guillaume said...

Fernando, tu não tens argumentos. Israel é uma nação fundada sob argumentos religiosos, e de ideologoa racista. Sob esta óptica, é claro que trata muito desigualmente os habitantes do país, e portanto não é um país democrático. Os fundamentalismos religiosos, e por que não dizer as religiões em si, devem ser combatidos. Não há razão para, em qualquer país, para que as entidades religiosas tenham qualquer tipo de privilégio sobre outras formas de organização civil da sociedade. Voltando a este ponto, não há lugar para deus no estado democrático, que deve ser laico e materialista. Não me ofendo se me chamares de porco, pois creio que os animais, não sendo dotados de razão, são irresponsáveis, e portanto incapazes de planejar o mal tal como o ser humano. Em tempo, estou procurando a notícia original sobre a manifestação na Holanda, e ainda não a encontrei. Se acos tiveres o link, agradeço-te se o publicares, ou me enviares.

Alma said...

Guillaume, aqui o link do jornal holandês Telegraaf:

http://www.telegraaf.nl/binnenland/2965197/__Van_Bommel_onder_vuur__.html?p=38,1

Aí está o deputado Harry van Bommel do Partido Socialista. Conheço bem a peça porque morava ali antes de voltar ao Brasil. Se não entende o holandês, dá ao menos para perceber o final: "Hamas Hamas, alle joden aan het gas"

Meu argumento é bastante simples. Israel é o único país da região onde cada cidadão tem liberdade de credo, onde mulheres e homossexuais têm seus direitos respeitados e onde árabes judeus e cristãos tem direito ao voto.
Sua alternativa é no mínimo ingênua. Criar um estado laico e materialista? E quem vai fazer isso, os palestinos?

Guillaume said...

Fernando, mais uma vez, desculpe-me se pareço insistente. Israel não é uma democracia, nem de longe. Eu sei, por experiência pessoal. Minha família é palestina, cristã maronita (sim existem palestinos cristãos maronitas, de cultura e valores muito próximos aos europeus!) cujo vilarejo original, Ikrit, foi limpo etnicamente. Hoje não temos direito a retornar às nossas casas ancestrais, a não ser se morrermos, pois o único direito que nos restou foi de enterrar nossos mortos lá. O fato de sermos de tradição religiosa pró-ocidental não nos deu nenhum alívio de tratamento. Em tempo, eu não acredito em deus, e em nenhuma religião, e acho absurdas as vantagens dadas em todos os países para instituições religiosas. Exemplo: se eu quiser abrir um clube ou um bar eu tenho que conseguir um alvará com a prefeitura, agora se eu disser que este clube se trata de uma igreja eu não precisarei do alvará! Sob este aspecto retorno a idéia da minha mensagem original: no início do século 20 todas as religiões estavam em descrédito. A sociedade caminhava para o desligamento total da religião do funcionamento do estado, mas aí veio a 2ª Grande Guerra, e a criação do estado de Israel, dando ouvidos e força, paradoxalmente, a todas as religiões, e seus costumes retrógrados. Cabe a nós todos, amantes da paz e da justiça sairmos do imobilismo e retomarmos os ideais de Bertrand Russel, de humanidade e luta contra todo tipo de preconceito. Por este caminho passa sim a organização da sociedade em Israel, Palestina, não importa o nome que prefiras, com a proposição da dissolução pacífica do estado de Israel, e a criação de um estado democrático, laico e materialista. Evidentemente que os privilégios dados aos grupos religiosos no ocidente, Europa e estados unidos em especial, também deveriam ser revistos. Caso contrário charges em jornal sobre personagens históricos ou mitológicos continuarão a ser mais importantes que seres vivos.

Alma said...

Você já pensou que os horrores das duas grandes Guerras, o nazismo e o comunismo pode ter sido consequencia desse seu materialismo? da morte de Deus?

Guillaume said...

Se quiseres crer em deus, ou deuses, não me oponho. Só quero que aceites que isto é um assunto íntimo, individual, que não deve ganhar nenhuma vantagem do estado, ou no caso de israel, ganhar um estado, ou no caso do irã, dominar o estado. Parece-me claro que o fim da militância utópica comunista, deu espaço para o fortalecimento do fundamentalismo religioso, que, conforme afirmei anteriormente, teve a sua refundação consolidada com o sucesso no estabelecimento pela liga das nações do estado de israel. A razão dobrou-se ante a crença mitológica. O comunismo não é mau. Até o Diogo Mainardi afirma isto em seu texto, no elogio às fazendas coletivas, inspiradas nos kolkhozes soviéticos. O comunismo soviético estalinista é que foi uma grande bobagem. Todo argumento anticomunista usado pela direita é cópia das críticas de Trotski ao regime estalinista. O nazismo parece defender os mesmos valores do fascismo e da direita convencional, pátria, tradição, e outros conservadorismos, até mesmo deus. Desta forma, não vejo relação entre deus e virtude. Relembre-se de Bertrand Russel, que foi expulso dos EUA por ser contra o preconceito sexual, imposto principalmente pela religião.
Em tempo li o artigo do “De Telegraaf”, e pelo que entendi o deputado van Bommel se retiraria se tivesse ouvido os insultos referidos no artigo do Mainardi. Não li em nenhum momento confirmar, ou negar, que aquelas palavras de ordem tivessem sido usadas na manifestação. É isto mesmo?

Alma said...

A frase foi dita sim. E está sendo repetida em estádios de futebol por torcedores muçulmanos do Feyenoord contra a torcida judia do Ajax. Quando interrogado pelo Parlamento o van Bommel para se defender disse que não escutou, e se escutasse teria abandonado a passeata. Mas filmaram ele cantando junto : Intifada, Intifada, Palestina free" e "Israel terrorista".

Sobre religião eu já escrevi bastante a respeito do assunto, é só clicar ali do lado para ler o que penso do assunto.
Concordo que religião deve ser uma busca íntima e pessoal, mas também afirmo que a liberdade e democracia de que usufruímos hoje no Ocidente são herança direta da cultura judaica-cristã, e não do materialismo/humanismo dos qual você se faz advogado.

Guillaume said...

É muito diferente gritar “intifada” ou “Israel terrorista” de “morte aos judeus”. As primeiras palavras de ordem expressam opiniões políticas, as últimas expressam intolerância. Há uma constância nos apoiadores de Israel em convenientemente misturar ambos os fatos. Uma coisa é desejar mudar o regime estabelecido, outra visar mal de outro ser vivo. Mas ao misturarem-se estas posições, que rigorosamente nada tem a ver entre si, se tenta desqualificar ou demonizar o interlocutor na sua pessoa, e fugir da verdadeira questão. Repete-se assim o estratagema passional usado para a criação do estado judeu na Palestina. Já paraste para perguntar que autoridade tinha a liga das nações para decretar a partilha da Palestina. Por que a decisão veio de cima para baixo, e a população local não foi consultada, como, por exemplo, foi na Irlanda?
PS.: Apesar de no caso irlandês os detentores do poder determinar que os votos dos condados não fossem somados, mas, convenientemente, totalizados independentemente, ocasionando a manutenção do domínio parcial da coroa britânica.

Alma said...

Haha, até parece que os árabes ali da passeata eo o Hamas não "visam o mal de outro ser vivo"... Eles só querem erradicar Israel do mapa e os judeus do mundo. Você precisa ir estudar um pouco de história. A população local na Palestina já era formada de colonos judeus que conviviam ali com árabes desde o fim do Império Otomano. Depois vieram os ingleses. A chamada Palestina britânica foi então dividida entre 80% para os árabes no que hoje é a Jordânia e 20% seriam destinados ao futuro estado de Israel. Mesmo assim esses 20% foram divididos em 1948 com uma parte árabe (Gaza e Cisjordania) e outra para os judeus.
Agora depois do Holocausto você querer que eles sejam exterminados silenciosamente é demais.
A sua sugestão ateísta para o fim do conflito é absurda, você tem alguma outra?

Guillaume said...

Mas o van Bommel não escutou a tal frase do Mainardi. A TV só o mostrou gritando "free Palestine" e "Intifada". Parece-me que estás prejulgando.

A Palestina é uma coisa, a Jordânia é outra. Esta confusão é malintecionada. Tu, que estudaste história, sabes que em 1948 2/3 da população da Palestina era árabe, e que entre os 1/3 judeus, a maioria era de recém imigrados. Eu conheço a minha terra ancestral muito melhor que tu, que simplesmente te apaixonaste cega e brutalmente por israel. Em tempo, não prego a expulsão nem a morte de nenhum judeu, nem em israel, nem no irã, nem em qualquer lugar. A solução, que apelidaste de ateista, deve levar em consideração todos que vivem na Palestina/Israel, e que foram expulsos de lá.