
A briga sobre o tal plano de saúde universal de Obama nos Estados Unidos está bem boa. Vale a pena acompanhar.
Como em toda política estatista, a história toda começa com o governo querendo decidir o que é bom para a gente. É até bonito, dizem que todos têm direito à saúde e que é obrigação do governo dar saúde a todos.
Para começar, um direito não é uma coisa que se ganha do governo. Direito de verdade é direito à vida por exemplo. Direito de verdade é o direito de ser tratado como igual, independente de raça, cor ou sexo por exemplo.
Dizer que temos todos direito à educação, sáude, moradia são armadilhas para dar ao governo um poder que ele não deve ter, o poder de decidir sobre as nossas vidas.
Mas os que afirmam isso são tratados imediatamente como seres cruéis e sem coração que acham que pobres devam morrer sem cuidados médicos. O próprio Obama disse aos críticos de seu plano: "get out of the way". Ele disse mesmo querer fazer as coisas "the Chicago way", ou se eles trazem uma faca para a briga, nós trazemos um revólver.
Ora, ninguém nega que a saúde tenha ficado mesmo cara nos últimos anos. É lógico, porque desenvolver novos remédios ficou mais caro, novos equipamentos médicos são mais caros, novas técnicas são mais caras. Um paciente que antes receberia no máximo uma extrema unção pois já não havia mais o que fazer com ele, hoje pode ter sua vida razoavelmente prolongada com novas técnicas e drogas.
O que Obama nem seu partido sabem dizer é se o seu plano vai causar racionamento, se vai limitar escolhas, se vai impedir a inovação em medicamentos, máquinas e procedimentos, já que será financeiramente inviável desenvolvê-los se o governo se apropriar de tudo, e o mais importante de tudo, como o governo pretende pagar por tudo isso.
Na Holanda, eu convivi com essa medicina tipo socialista proposta por Obama. Em primeiro lugar, para qualquer problema você consulta um clínico geral. Ele olha as estatísticas de doenças do país e chuta a doença que você tem. Na verdade, na base do chute, até que ele resolve uma boa parte dos casos. Só pede um exame em último caso, depois que você voltou nele com o mesmo problema umas quatro vezes. Você só vai a um especialista se ele decidir que você deve ir ao especialista. Recebe só o medicamento que ele receitar, contadinho, comprimido por comprimido. O problema é que nos casos graves de verdade, você vai esperar bastante até ter o tratamento ou a cirurgia que precisa, isso se eles decidirem que você precisa. Nos casos mais graves mesmo, o mais provável é que desliguem sua máquina, claro que em nome de uma eindlossung mais humana e justa. Tudo para que o sistema permaneça barato.
No Brasil, não acho normal que existam mais farmácias do que padarias por exemplo. E não acho normal que qualquer médico, a imensa maioria incompetente, peça duzentos exames para descobrir a causa de uma dorzinha.
Mas também não acredito que o governo seja competente para administrar um hospital ou o SUS por exemplo.
Eu acredito que seguro saúde deva ser exatamente isso, um seguro para a eventual necessidade de uma internação custosa e grave, afinal é disso que temos todos medo. E não acredito que seja do governo a obrigação de nos dar esse seguro.
Acredito sim que todos os cidadãos devam ter oportunidades iguais de consegui-lo.