Li algumas coisas nesses últimos dias que me fizeram pensar sobre um tema certamente importante e ao mesmo tempo extremamente difícil para todos nós, a existência de Deus. Li por exemplo um debate na Newsweek entre Sam Harris, ateísta autor de “The End of Faith”, e Rick Warren, pastor americano autor de "The Purpose-Driven Life”. Li na New York Review of Books a crítica de H. Arren Orr ao livro “The God Desilusion” de Richard Dawkins, a nova bíblia dos ateus. Li o artigo de Olavo de Carvalho intitulado Ateus e Ateus publicado no Jornal do Brasil a 15 de março passado. E li o romance “A Fórmula de Deus” de José Rodrigues dos Santos, best-seller português.
Primeira conclusão: sem dúvida houve um renascimento do fundamentalismo cristão, especialmente no chamado Bible Belt dos Estados Unidos. Na base deste renascimento estão os eleitores de George Bush, gente que faz compras no Wal-Mart e que acredita firmemente que o diabo existe com chifre e tridente e que não têm a menor idéia do que se passa fora das fronteiras americanas. Existe também uma reação contrária, como seria de se esperar, representada por um forte movimento ateísta que prega que a religião, todo tipo de religião, é maior peça já pregada na humanidade. Quem quiser ter uma idéia de como pensa essa gente basta pesquisar por exemplo a igreja do Flying Spaghetti Monster na internet, ou dar uma folheada no livro de Richard Dawkins. O debate na Newsweek é muito ilustrativo do tipo de argumento ridículo usado entre estas duas frentes de combate.
- Se Deus existe, porque criancinhas morrem de câncer?
- O mundo foi criado em seis dias porque está escrito na Bíblia que foi assim.
Obviamente um debate assim não vai longe. Olavo de Carvalho foi quem me convenceu que o ateísmo atual é de uma ignorância tão obscurantista quanto o pior dos fundamentalismos. Diz o filósofo: “Como tudo o que sabemos é circunscrito e limitado, vivemos dentro de uma redoma de conhecimento incerto cercada de mistério por todos os lados... a nossa situação é de desconforto permanente. Ela exige de nós uma adaptação ativa, dificultosa e problemática. Daí as opções da alma: a abertura ao infinito, ao inesperado, ao heterogêneo, ou o fechamento auto-hipnótico na clausura do conhecido... A primeira dá origem às experiências espirituais das quais nasceram os mitos, a religião e a filosofia. A segunda leva à "proibição de perguntar", a repulsa à transcendência, a proclamação da onipotência dos métodos socialmente padronizados de conhecer e explicar... É possível ser ateu e estar aberto ao espírito. Mas o ateu militante, doutrinário, intransigente, opta pela recusa peremptória do mistério, deleitando-se no ódio ao espírito, na ânsia de fechar a porta do desconhecido para melhor mandar no mundo conhecido.”
Daí vem minha segunda conclusão, a de que o ateísmo militante não passa de uma forma de religião fundamentalista. Já o fundamentalismo cristão é essencialmente protestante. Se os católicos aceitam a intermediação da Igreja na interpretação do Livro, os protestantes o levam ao pé da letra. Para mim é difícil acreditar no Deus bíblico, antropomórfico, ciumento e contraditório como descrito no Livro. Santo Agostinho já dizia que a Bíblia muitas vezes fala por metáforas. A Bíblia interpretada como metáfora se torna então uma espécie de código civil que permite à humanidade suportar-se mutuamente e assim sobreviver.
Deixando a Bíblia de lado, resta a questão da existência de Deus. José Rodrigues dos Santos aborda a questão de maneira interessante misturando ficção e teoria científica com um toque de Dan Brown como já tinha feito em seu romance “Codex 632”. Em Codex, a teoria era a de que Cristóvão Colombo seria um agente secreto português. Em “A Fórmula de Deus”, onde aliás ele usa o mesmo personagem de Codex, sua teoria é a de que o Universo teria sido criado de forma inteligente, com a finalidade de produzir vida, e que essa vida se tornasse inteligente e que essa inteligência fosse preservada até o final dos tempos. Em meio às aventuras de seu personagem pelo Irã, Tibet e Portugal, as modernas teorias da física são explicadas de forma surpreendentemente simples, e descobrimos que as verdades descobertas pela ciência encontram paralelos em diversos textos sagrados da humanidade.
Primeira conclusão: sem dúvida houve um renascimento do fundamentalismo cristão, especialmente no chamado Bible Belt dos Estados Unidos. Na base deste renascimento estão os eleitores de George Bush, gente que faz compras no Wal-Mart e que acredita firmemente que o diabo existe com chifre e tridente e que não têm a menor idéia do que se passa fora das fronteiras americanas. Existe também uma reação contrária, como seria de se esperar, representada por um forte movimento ateísta que prega que a religião, todo tipo de religião, é maior peça já pregada na humanidade. Quem quiser ter uma idéia de como pensa essa gente basta pesquisar por exemplo a igreja do Flying Spaghetti Monster na internet, ou dar uma folheada no livro de Richard Dawkins. O debate na Newsweek é muito ilustrativo do tipo de argumento ridículo usado entre estas duas frentes de combate.
- Se Deus existe, porque criancinhas morrem de câncer?
- O mundo foi criado em seis dias porque está escrito na Bíblia que foi assim.
Obviamente um debate assim não vai longe. Olavo de Carvalho foi quem me convenceu que o ateísmo atual é de uma ignorância tão obscurantista quanto o pior dos fundamentalismos. Diz o filósofo: “Como tudo o que sabemos é circunscrito e limitado, vivemos dentro de uma redoma de conhecimento incerto cercada de mistério por todos os lados... a nossa situação é de desconforto permanente. Ela exige de nós uma adaptação ativa, dificultosa e problemática. Daí as opções da alma: a abertura ao infinito, ao inesperado, ao heterogêneo, ou o fechamento auto-hipnótico na clausura do conhecido... A primeira dá origem às experiências espirituais das quais nasceram os mitos, a religião e a filosofia. A segunda leva à "proibição de perguntar", a repulsa à transcendência, a proclamação da onipotência dos métodos socialmente padronizados de conhecer e explicar... É possível ser ateu e estar aberto ao espírito. Mas o ateu militante, doutrinário, intransigente, opta pela recusa peremptória do mistério, deleitando-se no ódio ao espírito, na ânsia de fechar a porta do desconhecido para melhor mandar no mundo conhecido.”
Daí vem minha segunda conclusão, a de que o ateísmo militante não passa de uma forma de religião fundamentalista. Já o fundamentalismo cristão é essencialmente protestante. Se os católicos aceitam a intermediação da Igreja na interpretação do Livro, os protestantes o levam ao pé da letra. Para mim é difícil acreditar no Deus bíblico, antropomórfico, ciumento e contraditório como descrito no Livro. Santo Agostinho já dizia que a Bíblia muitas vezes fala por metáforas. A Bíblia interpretada como metáfora se torna então uma espécie de código civil que permite à humanidade suportar-se mutuamente e assim sobreviver.
Deixando a Bíblia de lado, resta a questão da existência de Deus. José Rodrigues dos Santos aborda a questão de maneira interessante misturando ficção e teoria científica com um toque de Dan Brown como já tinha feito em seu romance “Codex 632”. Em Codex, a teoria era a de que Cristóvão Colombo seria um agente secreto português. Em “A Fórmula de Deus”, onde aliás ele usa o mesmo personagem de Codex, sua teoria é a de que o Universo teria sido criado de forma inteligente, com a finalidade de produzir vida, e que essa vida se tornasse inteligente e que essa inteligência fosse preservada até o final dos tempos. Em meio às aventuras de seu personagem pelo Irã, Tibet e Portugal, as modernas teorias da física são explicadas de forma surpreendentemente simples, e descobrimos que as verdades descobertas pela ciência encontram paralelos em diversos textos sagrados da humanidade.
Embora com algumas diferenças, meu pensamento é o mesmo de José Rodrigues dos Santos. Não acredito que haja um velhinho de barbas brancas a olhar tudo o que fazemos, mas de certo modo acredito que há inteligência atrás do design do Universo. Acredito que há um grande plano atrás de tudo isso e que nossa evolução um dia nos trará explicações.
O Universo foi criado em uma explosão de luz há 15 bilhões de anos atrás. Basta olhar a complexidade do que nos cerca para imaginar, como Shakeaspeare que há algo mais entre o céu e a Terra do que sonha nossa vã filosofia. Negar isso é uma estupenda forma de arrogância. Um padre jesuíta contou à minha mãe uma vez esta história, da formiga que caminha sobre uma toalha de renda. Ela caminha tropeçando nos nós e caido nos buracos, e por isso pragueja contra a imperfeição do mundo em que vive. Mas por causa do seu ínfimo tamanho não consegue ver o belo desenho formado pela toalha inteira.
O Universo foi criado em uma explosão de luz há 15 bilhões de anos atrás. Basta olhar a complexidade do que nos cerca para imaginar, como Shakeaspeare que há algo mais entre o céu e a Terra do que sonha nossa vã filosofia. Negar isso é uma estupenda forma de arrogância. Um padre jesuíta contou à minha mãe uma vez esta história, da formiga que caminha sobre uma toalha de renda. Ela caminha tropeçando nos nós e caido nos buracos, e por isso pragueja contra a imperfeição do mundo em que vive. Mas por causa do seu ínfimo tamanho não consegue ver o belo desenho formado pela toalha inteira.
5 comments:
Caro Fernando,
Parabéns pelo seu blog e por este post em particular. Devo recordar-lhe que o livro de José Rodrigues dos Santos é uma obra de ficção. Utilizando a sua comparação a Dan Brown, fazer do livro "A Fórmula de Deus" uma justificação para qualquer justificação de deus seria como usar o "Código Da Vinci" como o melhor argumento contra a Bíblia!
O problema da formiga na sua metáfora é que ela não consegue ver além do seu horizonte nem tem consciência do tempo, passado ou futuro. Não possui a capacidade de se interrogar. Esse é o nosso grande atributo. Depois, cada um chegará às suas próprias conclusões. Mas, nem todos teremos razão. ;-)
Um abraço,
Helder
Que linda a historinha da formiga na toalha de renda, Fernando!
Gostei do Post, principalmente porque estou na fila para ler o novo livro do Michel Onfray.
Nao acredito em religiao alguma — pelo contrário, acho que todas as grandes sejam os piores meios de dominacao humana.
Mas a idéia de espiritualidade me atrai, e espero desenvolver a minha no futuro.
Olhe o blog do Michel Onfray: http://michelonfray.blogs.nouvelobs.com/
Beijos,
Cla
Clarisse,
Pelo menos você não discorda totalmente do seu amigo Olavão não é?
Depois me conta se o livro do Onfray é bom.
Beijo
Fernando
Helder,
O livro do José Rodrigues pode ser uma ficção, mas todas as teorias da física que ele usa como base são verdadeiras. E nós nos interrogamos sobre o que não entendemos mesmo sem ter reposta, afinal o importante é não parar de buscar, não é?
Abraço
Fernando
Fernando, acabei de ler um livro chamado Do terror de Javeh ao Abbá de Jesus, de Andrés Torres Queiruga. Ele defende uma posição parecida com a sua, de que esse deus ciumento, caprichoso, e muitas vezes cruel, não pode ser de forma alguma o Deus que Jesus veio a chamar de Pai. É um livro interessante.
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