Sunday, November 18, 2007

O Mundo e a Religião


Em 1966, a revista Time publicou uma capa famosa com a pergunta “Is God Dead?”. A britânica The Economist chegou a publicar o obituário do Todo-Poderoso em sua edição do milênio. Agora é a mesma The Economist que lança uma reportagem especial imperdível sobre o renascimento da religião no planeta e sua crescente influência na política mundial.
De fato, religião está na base de conflitos no Oriente Médio e na África. O pentecostalismo cresce nas favelas do Brasil e nas áreas pobres da América Latina. O hinduísmo nacionalista está voltando à cena política na Índia. Mega Igrejas dominam a Coréia do Sul e o cristianismo aumenta a cada dia na China. A Europa vê o islamismo avançar no seu território através da imigração. A direita cristã nos Estados Unidos está intimamente ligada à Casa Branca, enquanto as campanhas pelo criacionismo, contra o aborto e contra pesquisas de célula tronco proliferam pelo país. Mesmo o ateísmo, é defendido com tanta dedicação por seus apóstolos que se tornou uma religião a mais.
Há dez anos atrás filósofos e pensadores imaginavam um futuro secular e nenhum político tinha religião incluída em sua agenda. É irônico imaginar que no século XXI o mundo está vivendo um revival religioso. Para os europeus ocidentais, que desprezam o moralismo americano e encaram o Islam como retrógrado e atrasado, o mundo está indo na direção errada.
O fato é que foi no século XX, essencialmente secular, que se cometeram os maiores crimes da história da humanidade, sob as bandeiras dos sem-deus fascistas, nazistas e comunistas. A racionalista Europa Ocidental foi o palco central de duas guerras mundiais. Como Dostoievski tinha previsto, se Deus está morto tudo é permitido.
É natural que com o mundo se transformando na velocidade de hoje, as pessoas precisem de algo que lhes dê conforto e direção, uma tábua onde se agarrar na correnteza.
Evidentemente eu defendo a separação de Estado e Religião. Acredito que o estado democrático deva zelar pelo direito de cada um acreditar no que queira e acredito que a religião deva ser uma escolha de cada um.A conclusão da Economist é que o futuro não é ateu ou secular, mas pluralista, e a religião é cada vez mais uma escolha de cada um, não uma imposição.
Os estudiosos do Islam dizem que a verdadeiro sentido de jihad como luta religiosa é a do indivíduo consigo mesmo. A luta com a própria consciência para melhorar e entender o mistério da própria existência. Para mim, este é o sentido de toda religião, e o que todos os religiosos do mundo deveriam entender.
Por isso não respeito homens-bomba, não respeito igreja mais nova que o whiskey que bebo como diz o Reinaldo Azevedo, não respeito pastor que engana pobre para comprar canal de televisão, não respeito político que usa igreja para se eleger.
Recomendaram ao Vaticano que a Igreja e o catolicismo se modernizassem para ganhar mais fiéis e se tornassem mais flexíveis em assuntos como aborto, casamento gay, camisinhas etc. Bento XVI decidiu que a Igreja fica como está, quem quiser aceitar o catolicismo como guia moral que aceite como ele é. Não vai mudar os princípios em que acredita para aumentar seu market share. Eu respeito isso.

4 comments:

deboraHLee said...

Fê, faltou vc. falar da enorme influência do judaísmo em assuntos políticos tbém. ;o)

Isso me lembrou do filme "Crash, no limite", onde todos os preconceitos da sociedade americana são expostos, menos aqueles em relação aos judeus.
Não sei se vc, é judeu como alguns dos produtores de Crash, ou se foi só um ato-falho mesmo. Mas achei interessante este esquecimento. ;o)

Pessoalmente, não gosto de religiões e acho que elas mais atrapalham que ajudam o ser humano. Acredito em Deus, não tenho confiança em nenhuma religião.

Mas vejo com bons olhos a postura do Papa Bento XVI, mesmo que possa não concordar com muitas coisas que ele diz. A fé deve estar em compartimento separado da mídia, do marketing e da política; e só deve segui-la quem assim o deseja verdadeiramente.

beijo.

Alma said...

Déborah, realmente o judaísmo tem a sua influência na política do mundo ocidental (não é à toa que nos dizemos civilização judaico-cristã). Mas a influência dele está mais em New York e Washington doque nos subúrbios de Los Angeles. Acho que Crash não tinha mesmo como por um judeu ali no meio...
Religiões são caminhos para nos aproximarmos de Deus, mas sendo feitas por homens elas também tem seus problemas e falhas não é? E a maior falha é que há gente que usa religião como forma de poder.
Ainda falando do judaísmo, quando o estado de Israel foi fundado, mesmo seus fundadores como Ben Gurion insistiram que o Estado deveria ser separado da religião. No Islam ainda ninguém percebeu isso, tanto que Israel é a única democracia decente por ali...

clabrazil said...

Procurei na Internet uma entrevista com um sociólogo brasileiro genial cujo nome nao me lembro. Obviamente nao achei... mas o que ele dizia é que a Europa, com todo seu ateísmo estaria vulnerável aos fundamentalismos do mundo. Acho religiao uma merda (sou muito abalada por essa questao, nao consigo achar palavra mais elegante para descrevê-la, desculpa!). Fico enfurecida com sua influência, principalmente em assuntos que envolvem a individualidade e se corrompem com a pobreza. Mas tenho que concordar com o sociólogo sem nome que a Europa falha com seu ceticismo religioso.

Quanto a Crash, boa observacao da Deborah. Nunca tinha notado, embora o filme tenha me deixado de queixo caído.

Adoro o blog dos dois, viu?
Beijos,
Cla

Anonymous said...

Sou eclética.
Adoro Bento XVI.
Tento escolher uma religião para seguir, ou odiar, e não consigo.
Todas me fascinam.
Tenho amigos Judeus, mulçumanos e budistas, vivemos todos bem, adoro estar perto de budistas quando o assunto é morte, de judeus quando me sinto culpada com relação a dinheiro. Detesto o Leonardo Bof e a pastoral da terra. Adoro casamento de mulçumanos.
Não suporto a ligação religião política, fundamentalismo, radicalismo. E por fim para dar um nó... acho que religião limita a mente.

Adorei ler este texto seu.