Tuesday, November 18, 2008

Minha vida de bárbaro


Nietzsche comparava o homem vivendo em civilização a um animal enjaulado. As regras desse contrato social que assumimos para assegurar a sobrevivência da espécie seriam as grades segurando os impulsos primitivos do homem animal.
O bigode estava certíssimo. Não sei como é com vocês, mas eu tenho um bárbaro reprimido em mim, que volta e meia me assombra os pensamentos.
Às vezes por exemplo, em uma reunião chata, eu me imagino como Conan, no trono da Ciméria, entediado e irritado com a corja de ratos e aduladores que lhe cerca, torcendo por uma batalha.
Aquela garota linda que olhou para você no bar como se você fosse um mendigo? Imagino logo a porretada na cabeça, arrastando-a pelos cabelos até a caverna.
Pitboys que gostam de bater em empregadas? Escalpelados, dentes quebrados, membros arrancados a fio de espada.
Aquele porteiro que se acha o dono do prédio? Degolado.
O tiranete que puxa saco do chefe e destrata os empregados? Impalado.
O vendedor que te enganou? Arranco-lhe a pele com uma faca enferrujada e sem fio.
Mas se há um momento em que o bárbaro quer mais sair de sua prisão, é quando entro em uma repartição pública. Depois de passar horas em filas, guichês, bancos e cartórios.
Ah, destruindo aquelas escrivaninhas baratas a golpes de machado, esmagando crânios com uma clava de pregos, fazendo cabeças rolar na ponta da espada, violentando suas mulheres e filhas, queimando suas casas, jogando sal nas cinzas, arrastando seus cadáveres esquartejados pelas ruas, amaldiçoando seus antepassados, comendo seus fígados crus arrancados a golpes de punhal. E então rir de tudo bebendo cerveja na caveira dos vencidos.
Infelizmente nasci no século, ou no milênio errado.
Nasci entre as grades dessa jaula.
E meu bárbaro interior na verdade se transformou em uma gastrite crônica.
E a maior conquista da civilização para mim é omeprazol.

6 comments:

Anonymous said...

Consigo compreender isso perfeitamente, até porque o meu apelido em Porto Alegre é TEONAN, o Bárbaro... ;-))

Frodo Balseiro said...

Fernando, isso me lembra o filme "Um dia de Fúria", em que Michael Douglas faz muito disso que você desejaria.
Abs

Lelê Carabina said...

Olá Fernando! Normal da natureza do homem ter esta "ira" em seu interior e eu acho que quem não a tem, sinceramente, é um sonso. Entendo perfeitamente e tento controlar a minha "doida" interna quando ando de ônibus de massa (mas "massa" mesmo), eu rogo a Deus para que não vire uma troglodita naquele momento. Um abraço.

Lelec said...

É Fernando, já falei várias vezes, mas repito: sou fã do bom humor com que você enfrenta as agruras da vida moderna. Legal demais esse texto.
Também tenho meus momentos em que quero chutar a gengiva de todo mundo, empalar a atendente de tele-marketing e escalpelar o motorista que dá uma fechada na rodovia.

Abraço,

Lelec

Anonymous said...

Ei Fernando!
Que texto ótimo!!!Rssss
Adorei. Achava que era só eu que tinha esses momentos...

Eu sempre me imagino o Legolas do Sr. dos Anéis, acertando flexadas nos orc's , que no meu caso são os sem terras. Fico aliviada, e então consigo pacientemente, civilizadamente, recorrer a justiça. Então quando chega o dia da audiência eu me sinto o Harry Poter evocando um " spectro patronum" para suportar os Dementadores do INCRA, sabia que tem um procurador do INCRA que é uma mistura de Dementador com Nasgul, essa foi a única definição que encontrei para ele, perto deste sujeito vc não consegue ter um pensamento bom... agente começa a sentir uma tristeza tão profunda! Só mesmo fazendo um esforço enorme para conseguir lidar com eles em audiências. As vezes eu fecho os olhos e tento lembrar da Sininho ou da Barbie!

Abraço

Anonymous said...

Ei Fernando!
Que texto ótimo!!!Rssss
Adorei. Achava que era só eu que tinha esses momentos...

Eu sempre me imagino o Legolas do Sr. dos Anéis, acertando flexadas nos orc's , que no meu caso são os sem terras. Fico aliviada, e então consigo pacientemente, civilizadamente, recorrer a justiça. Então quando chega o dia da audiência eu me sinto o Harry Poter evocando um " spectro patronum" para suportar os Dementadores do INCRA, sabia que tem um procurador do INCRA que é uma mistura de Dementador com Nasgul, essa foi a única definição que encontrei para ele, perto deste sujeito vc não consegue ter um pensamento bom... agente começa a sentir uma tristeza tão profunda! Só mesmo fazendo um esforço enorme para conseguir lidar com eles em audiências. As vezes eu fecho os olhos e tento lembrar da Sininho ou da Barbie!

Abraço